domingo, 1 de dezembro de 2019

BARULHOS E ASAS NEGRAS



Precisamos de pessoas leais à causa
e não de pessoas fieis a partidos.

Deixaram o fusca na rua Uberaba para não pagarem a zona azul de estacionamento rotativo. Afastaram-se por trás do carro sem olhá-lo e sem verem a neblina que os cobria sorrateiramente. 

- Toni, o Poder Executivo no Brasil é historicamente possível por dialogar relação com o Poder Legislativo.
- Mas Boçalnato inverteu isso ao dialogar com o povo, não com o Congresso. Ao mesmo tempo, no Poder Econômico, o Centro está favorável ao Governo atual.
- E isso porque nos governos Lula e Dilma, os mais ricos aumentaram seu recurso, mas menos que em governos anteriores. Ao mesmo tempo em que os mais pobres aumentaram seus recursos e proporcionalmente bem mais que os ricos.
- Mas Cadu, o Brasileiro não aceita a igualdade. É preferível um receber R$5.000,00 por mês enquanto os demais recebem R$1.000,00 do que todos receberem R$10.000,00.
- Para satisfazer essa sandice, no atual governo a distribuição de recursos está voltando ao que era antes do Governo de Esquerda.
- Acho que vale agora o poema de Rubem Leite:
Diz com quantos dinheiros se compra zelo  /  Salário justo, sem perda nem abono  /  Com quantos dinheiros se compra um sono  /  O sossego de dormir sem pesadelo  /  Da paz ser amigo, não servo nem dono
- E este outro poemento do Rubem:
Dizem que Albert Einstein disse  /  “O mal sempre insiste”.  /  Pensam que religiosos pensam  /  Mas deles o bem desiste.
Um momento para pensarem nas palavras e sentirem o silêncio.
- A mídia tem a função de ensinar ao povo que tudo que é privado é bom e tudo que é estatal é ruim. É o neoliberalismo que estão plantando pouco a pouco no Brasil e na América Latina.
- E chamam os professores de doutrinadores sendo que quem ensina coisa errada é a mídia. – Uma pausa para uma leve triste risada. – Para combater o imperialismo a multidão tem que reagir.
- Onde? Onde a multidão vai reagir? No Chile estão dando tiros nos olhos dos manifestantes. Na Bolívia, na Venezuela e no Equador a situação está na mesma intensidade agressiva. Argentina, Uruguai e Brasil estão afundando-se cada vez mais no fumo da ignorância. A América do Sul está sob uma horda neopentecostal. Aliás, estamos cercados por uma legião cristã...
- A multidão, ou seja, o povo age no seu microespaço. Quero dizer no seu local de trabalho ou onde for que atue. Mas o grande embate é dentro do lar já que mais da metade é pobre de direita. 

Pouco depois duas coisas se juntam à neblina: asas negras a cobrirem todo o céu e ruídos ensurdecedores: “Em nome de Jesus... Aleluia... Está amarrado em nome de Jesus... Minha Nossa Senhora... Piedade, Senhor... Ave Maria cheia de graça... Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Oh, glória...”. Este alvoroço cobre quaisquer vozes e clamores e mesmo após o silêncio o fusca enferruja-se lentamente na escuridão social.


Ofereço aos aniversariantes:
Júlia Nathálly, Lorrayne Sancar, Mª Clara Oliveira, Kerley H.M. Almeida, Cleber L. Assis e Ronnaldo Andrade.

Recomendo a leitura deste cronto meu:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens do autor: Fusca.

Escrito entre os dias 25 de maio e 01 de dezembro de 2019.

domingo, 17 de novembro de 2019

EU MORRI. ESTOU FALANDO DE MEU TÚMULO¹



O padé oloonón, Exu e mo juba Ójisé.²


No labirinto das memórias o tempo não conjuga com os fatos. O segundo ano de morte de uma de minhas tias, aquela com quem vivi, passou e não fui ao cemitério. O aniversário de minha falecida avó, mãe de minha mãe e dessa minha tia, passou e não fui ao cemitério.
Estive a pensar:

A casa
– de quem? –
A casa necessita
Reforma no telhado.
Infelizmente ninguém dirá
“Como o gato não subiu no telhado”...
Que falta fará?
Hão de lacrimejar?
Se chorarem será
Pelo que ainda não fez
Não pelo ser.

Em uma manhã após aquela semana meu tio disse que, breve, viria alguém avaliar o apartamento. Um dos donos – ou ele, ou a tia ainda viva, ou os filhos dos falecidos, ou uma certa prima – quer vender o apartamento.
- Coisa que nunca conseguimos antes, mas quem sabe agora... Sua mãe está com alzaime. E nem ela nem a falecida moram mais aí.

O silêncio é uma nuvem no céu.

Vida após a morte?
Sim, o dinheiro fala mais alto que a solidariedade além de nada daqui ir para o Todo.
Não, a solidariedade é muda além de nada daqui ir para o Nada.
Lutar?

Naquela mesma tarde uma de minhas primas me falou:
- Estou pensando muito no Henrique. Tem quantos anos que ele morreu? Eu gostava muito dele e coloquei o nome dele numa missa na Catedral.
- Henrique faleceu em dezoito de agosto de dois mil e um.
- Pouco mais de um mês para o aniversário dele...
Enquanto continua a falar penso nas unhas compridas e pontiagudas dos dedos das mãos de meu irmão. Nos buraquinhos fechados, mas nunca cicatrizados em seu pulso esquerdo. Ferimentos em um pedaço de pele escura e enrugada na pele clara do braço de meu irmão ainda jovem apesar de mais velho que eu.
Seus olhos abertos observavam quem os observava. Todos tentaram fechar seus olhos incômodos. Só eu consegui.
Ao amanhecer o enterro não acontecera. O legista, não sei o porquê, quis refazer os exames. Talvez por ser ele tão jovem e suicida.
Sobre a mesa o corpo completamente nu de meu irmão que, mesmo morto, tinha o pênis perfeito.
Menezes, o legista, e o estudante Matheus, seu assistente, reabriram seu peito em um corte comprido iniciado acima do umbigo e cruzando na parte inferior do esterno duas incisões que iam até a articulação do ombro; um grande Y.
O assistente pareceu-me sorrir ao olhar para a serra, para os braços e pernas do cadáver; pareceu-me lamber os beiços ao cortar com a serra médica a caixa torácica.
No pouco sangue não havia substâncias alucinógenas, o estômago quase vazio. Nada justificava as marcas de corda no pescoço. Por que ainda continua lendo? Só eu sabia e agora você...
Com o olhar triste pela vontade não toda satisfeita, o estudante Matheus fechou o corpo e o legista Menezes liberou para o enterro.

Duas noites após o sepultamento o coração morto bateu uma vez e parou. Minutos depois bateu uma segunda vez. Mais um minuto e duas batidas. Outra pausa até bater lenta, mas continuada.
Suas unhas furaram o caixão, cavaram a terra ate seus olhos verem a lua e seus pulmões respirarem o ar desnecessário.
Fora do buraco observou a cova até esta fechar-se. Deu um passo e parou. Contemplou onde saíra. Sorriu; como se presenteasse ao espalhar a grama numa simulação de vida germinada. Sendo que o que fizera não passara de espalhar a grama trazida pelo olhar até cobrir o lugar que deveria ser o de seu descanso.
Sei disso porque uma semana depois fiz quase o mesmo.
Antes de eu escrever esta história Henrique veio ver-me.
Duas da manhã ele me chamou do telhado da casa ao lado. – Este que você vê, mas no escuro:

Confuso pelo sono e pelo que acreditava ser impossível, saí do quarto e abri a porta da casa. Parecendo flutuar, saiu do telhado e chegou à varandícula. Beijou-me sem entrar em casa. Meu pau ficou duro, mesmo sendo por meu irmão. Gozei. Voltei para cama. Morri.
Fora os hóspedes, em casa ainda há Faire, Ramon, Juli, Janio. A quem presentearei com meu beijo? Um beijo que não reviverá... Não sei. Mas a venda do apartamento não mais será um problema.

Ao contrário dos presidentes do Brasil, Chile, Equador e Bolívia – propagantes da morte viva – o estudante Matheus será um excelente floreador da vida morta. A delícia da morte é real. Quem pensa diferente, que viva longos anos...


¹ Clarice Lispector e a Depressão. Trecho da última entrevista com Clarice Lispector em 1977, concedida a TV Cultura. https://www.youtube.com/watch?v=NkPZkEjGncc&list=LLIH2YzhXzK4qmn97DyBrAbA&index=27&t=0s
² Vamos encontrar o Senhor dos Caminhos, Exu. Meus respeitos àquele que é o mensageiro.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem do autor: Telhado pela janela.

Manuscrito nos dias 07 a 10 de novembro de 2019. Trabalhado entre os dias 16 e 17 do mesmo mês e ano.

domingo, 29 de setembro de 2019

PRISÃO DE CONFRONTO



Prisão de confronto entre vós próprios e os outros.
TANIGUCHI, 2017.

Em Português:


Ignorando a mim e qualquer outro neste mundo o sol não tardará a ser por. Nos minutos que passo olhando-o faço, desfaço e refaço uma quadra.
Ser não é ter nem estar.
Amamos pelo que é
Não pelo que tenha
Nem por onde está.
Da quadra vou para meu celular ouvir a música Catedral na voz de Zélia Duncan. Será o silêncio mais que ausência de sons? Será, penso, sossego e espaço para se autoconhecer. Contudo, estou no mundo; pertenço a dois séculos. “Você tão longe de chegar mais perto de algum lugar (...) No silêncio, uma catedral, um templo em mim (...) Meu coração é secular, sonha e deságua dentro de mim”. Fecho meus olhos.
- Benito!
Olho a pessoa que me usou.
- Oi!
- Que bom vê-lo.
Continuo a olhar a pessoa que me usou. Vejo seu sorriso.
- Tem muito tempo que a gente não se vê. Vamos tomar uma cerveja.
Ainda olhando a pessoa que me usou vejo seu sorriso e sei que me pedirá algo.
- Vamos.
No bar, entre nós dois, a cerveja, os copos e conversas amenas, prosaicas, inúteis.
- Desde que saí de sua casa estou passando muito calor no barraco que aluguei. – Pausa para bebermos um pouco. Em nenhum momento, desde que me chamou, meus olhos desapoiaram dele. – Como você tem muitos ventiladores em sua casa bem que poderia me dar um.
- Cada ventilador de minha casa está em uso. Um para cada quarto. – Com os olhos continuamente pousados nele esvazio o copo. – Como pensei quando me convidou a beber, você só me procura quando quer algo; nunca por afeto.
Furioso ele se levanta e paga a conta enquanto saio do bar.
Abrindo os olhos percebo as nuvens dourando-se. No celular mudo a música para Dança da Solidão na voz de Marisa Monte. Quando só bailo comigo. Algumas vezes em doce compasso e outras em compasso amargo. Mas sempre a visitar os salões do meu museu da memória tentando não me repetir. “Danço eu, dança você na dança da solidão. (...) Meu pai sempre dizia: meu filho, tome cuidado. Quando eu penso no futuro não esqueço o meu passado. (...) Apesar de tudo, existe uma fonte de água pura. Quem beber daquela água não terá mais amargura”. Fecho os olhos para entrar no meu museu:
- Sabe! Essa música me ajudou a sarar a dor de gostar sem retorno.
- Tudo passa. O único permanente é a mudança. – Filosofa um amigo. – Mas pelo menos você se apaixonou. Você sempre disse que nunca se apaixonou...
- Verdade. Nunca me apaixonei e por isso nunca sofri. Nunca pedira pá e chão para enterrar-me.
- Sempre me apaixono e nunca sofri nos términos.
- Talvez porque você tivera reciprocidade.
- É, pode ser. E também nunca fui largado por estar doente.
- Leucemia é pesado...
- Não o justifique fazendo desse adjetivo um advérbio.
- Agora é você o professor de português.
Falei sorrindo e sorrindo me responde:
- Sou do babado fortíssimo, meu bem.
Baixamos os olhos.
- A doença é pesada e por isso ele tinha que te ajudar a suportar o peso.
Outra vez abro os olhos para ver um quase escuro absoluto. E agora escolho para ouvir Mais Uma Vez na voz de Renato Russo. Sem dinheiro para pagar água, luz e, agora, gás. Doente. Violências na escola; perseguição política. Mas estou comigo... No meu museu, bailando. E um raiar de confiança em mim. “Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã. Espera que o sol já vem. (...) Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá. Tem gente que não sabe amar, mas eu sei que um dia a gente aprende. Se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança! (...) Mas é claro que o sol vai voltar amanhã. Mais uma vez, eu sei”. Quando ia fechar os olhos:
- Benito!
- Oi, Cecilia!
- Que está fazendo aí sentado na beira do rio?
No lugar de responder, digo:
- A música de Renato Russo me ajuda quando a situação está terrível.
- Tudo passa. O único permanente é a mudança.
- Grande verdade. Mas estou triste. Meu Brasil está tratando os professores como inimigos. Tem um prêmio nacional que se chama “Educador Nota 10” e a ganhadora foi atacada a tiros por dedicar-se ao ensino.
- É só um momento histórico complicado.
- Deus te ouça.
- No Caralivro tenha baixo o seu perfil para não chamar a atenção. E esperar que passe. “Quando encontrar uma grande oposição, a espere debilitar-se. Aí você avança com resolução!”. Disse Mario Rodríguez Cobos, um filósofo argentino.
- Obrigado, Cecilia, por suas palavras. Muito obrigado!
- Não se desespere e nem se converta a mártir. Os jovens da América Latina te necessitam vivo.
- Obrigado!
- Cuide-se!
- Tento não ser preso. Entretanto, não posso me calar. Nem na sala de aula, nem nos meus contos. – Desvio o olhar para o céu. – Minha vantagem é que sou invisível.
Levanto do barranco e recebo um beijo na testa.
- Benito, você tem que ser inteligente e, se necessário, fazer-se de bobo.
- Verdade.
Digo sorrindo com os olhos molhados. Queria poder rir, mas só consigo chorar.


En español:

PRISIÓN DE ENFRENTAMIENTO


Ignorando a mí e a cualquiera otro en este mundo el sol no tardará a ponerse. En los minutos que le paso mirando hago, deshago y rehago una cuadra.
Ser no es tener ni estar.
Amamos por lo que es
No por lo que tenga
Ni por donde está.
Del poema me voy a mi celular oír la música Catedral en la voz de Zélia Duncan. ¿Será el silencio más que ausencia de sonidos? Será, pienso, sosiego y espacio para auto-reconocerse. Pero estoy en el mundo; pertenezco a dos siglos. “Tú tan lejos de llegar más cerca de un lugar (…) En el silencio una catedral, un templo en mí (…) Mi corazón es secular, sueña y desagua dentro de mí”. Cierro mis ojos.
- ¡Benito!
Miro la persona que mi usó.
- ¡Hola!
- Estoy contento en verlo.
Continúo a mirar la persona que me usó. Veo su sonrisa.
- Lleva un par de días que no te veo. Vamos a una cervecería.
Todavía mirando a la persona que me usó veo su sonrisa y sé que me pedirá algo.
- ¡Sí, vamos!
En la taberna, entre él y yo, la cerveza, los vasos y charlas amenas, prosaicas e inútiles.
- Desde que salí de tu casa estoy sufriendo con el calor en el cobertizo que he alquilado. – Pausa para beber un poco. En ningún momento, desde que me llamó, mis ojos desacotaron de él. – Como tú tienes muchos ventiladores en tu casa me gustaría que me regalase uno.
- Cada ventilador de mi casa está en uso. Uno para cada pieza. – Con los ojos continuamente posados en él vacío mi vaso. – Cómo pensé cuándo me invitó para beber, tú solo me procura cuándo quiere algo; nunca por afecto.
Enfadado él se levanta y paga la cuenta mientras salgo de la cervecería.
Abriendo mis ojos percibo nubes de oro. En mi celular cambio la música para Danza de la soledad en la voz de Marisa Monte. Cuando estoy solo bailo conmigo. Algunas veces en dulce compaso y otras en compaso amargo. Pero siempre a visitar los salones de mi museo de la memoria intentando no me repetir. “Danzo yo, danza tú en la danza de la soledad. (…) Mi papá siempre me hablaba: hijo, ten cuidado. Cuando pienso en el futuro no me olvido de mi pasado. (…) A pesar de todo, existe una fuente de agua pura. Quien la beba no tendrá más amargura”. Cierro los ojos:
- ¡Oye! Esa música me ayudó a sanar el dolor de gustar sin retorno.
- Todo pasa. El único permanente es el cambio. – Filosofa un amigo. – Sin embargo, al menos te apasionaste. Vos siempre has dicho que nunca te has apasionado…
- Verdad. Nunca me apasioné y por eso nunca sufrí. Jamás pidiera “al-coba” para engañarme.
- Siempre me apasiono y nunca sufrí en los términos.
- Tal vez porque tuvieras reciprocidad.
- Es posible. Y también jamás he sido dejado por estar enfermo.
- Leucemia es pesado…
- No lo justifique haciendo de ese adjetivo un adverbio.
- Ahora eres tú el profesor de español.
Hablé sonriendo y sonriendo me contesta:
- Soy de los chismes fuertísimos, cariño.
Miramos al suelo.
- La enfermedad es pesada y por eso él tenía que ayudarte a soportar el peso.
Otra vez abro los ojos para ver un casi oscuro absoluto. Y ahora elijo para oír Una Vez Más en la voz de Renato Russo. Sin plata para pagar agua, luz y, ahora, gas. Enfermo. Problemas en la escuela: persecución política. Pero estoy conmigo… En mi museo, bailando. Y un alboreo de confianza en mí. “Negritud ya vi peor, de enloquecer gente sana. Espera que el sol ya viene. (…) Hay quien está del mismo lado que vos, pero debería estar del lado de allá. Hay quien no sabe amar, pero yo sé que uno día todos aprenderán. Se quieres alguien en quien confiar, confía en ti mismo. ¡Quien acredita siempre alcanza! (…) Es verdad que el sol va volver amaña. Más una vez, lo sé”. Cuando cierro mis ojos:
- ¡Benito!
- Hola, Cecilia.
- ¿Qué haces sentado en orilla del rio?
En lugar de contestar digo:
- Esa música de Renato Russo me ayuda a lograr cuando la situación es terrible.
- Todo pasa. Lo único permanente es el cambio
- Grande verdad. Pero estoy triste. Mi Brasil está tratando a los profesores como enemigos. Hay un premio nacional que se llama “Educador Nota 10”. Y la ganadora fue atacada a tiros por dedicar-se a las enseñanzas.
- Es solo un momento histórico complicado
- Dios la oiga.
- Perfil bajo no llamar la atención y esperar a que pase. ‘¡Cuando te enfrentas a una gran fuerza espera que se debilite y avanza con resolución!’, dijo Mario Rodríguez Cobos, filósofo argentino.
- Gracias por su palabra. Muchas gracias.
- No desesperes ni te conviertas en un mártir. Los muchachos de Latinoamérica te necesitan vivo.
- Gracias.
- ¡Cuídate!
- Intento no ser preso. Sin embargo, no me puedo callar. Mi ventaja es que soy invisible.
Me levanto del barranco y recibo un beso en la frente.
- Tienes que ser inteligente y si es necesario pasar por tonto
- ¡Verdad!
Digo sonriendo con los ojos mojados. Quería poder reír, pero solo consigo llorar.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Gedeon Oliveira, Roberto J.W. Leite, Felipe Valderrama, Renato Gomes e Nei Gomes.

TANIGUCHI, Masanobu. Bem. Canto em Louvor ao Bodisativa Que Reflete os Sons do Mundo. Tóquio: Seicho-No-Ie, 2017.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:      
GOURMELEN, Jacques. Jornal Ouest-France. 06/4/1972
Sobre a foto: Muito mais do que retratar a luta dos trabalhadores contra o Estado opressor, esta foto simboliza o reencontro de dois amigos em posições antagônicas. O jovem, cuja expressão continua a causar comoção mesmo 45 anos depois da data do evento, é o operário Guy Burniaux, um dos líderes dos trabalhadores grevistas que lutavam por um aumento de setenta centavos por cada hora de trabalho; o policial, o qual ele segura pelo colarinho, é Jean-Yvon Antignac, seu inseparável amigo da época de escola. O que ficou registrado, porém, na fotografia de Gourmelen, é o desespero de alguém que se depara com seu amigo lutando ao lado do oponente e é tomado por um momento de fúria e revolta, levando-o a gritar para que o antigo companheiro de escola fosse para cima dele, enquanto o outro permanecia impassível sem sequer levantar o cassetete.   /   A foto que circulou o mundo e tornou-se ícone do embate entre trabalhadores e força policial, representando o autoritarismo do Estado, revela muito mais que isso, é um registro de imensa carga subjetiva, retratando toda a intensidade do embate entre dois amigos cujos caminhos voltam a se cruzar num momento em que ocupam lugares sociais completamente opostos.
Homem pelado no jardim se prepara para o combate – foto do autor.
Luz na Noite – foto do autor
Foto do autor – Vinícius Siman.

Escrito em abril e trabalhado entre os dias 27 e 29 de setembro. Tudo em 2019.

domingo, 22 de setembro de 2019

ÔNUS DO ÂNUS



Vinte e oito anos nada fiz
Agora querem que eu trabalhe
Ser Presidente é uma cesta de abacaxis
Parem de querer que em me rale

“Você quem quis”.
Quando reclamei respondeu-me Deus:
“Tudo muco podre do nariz,
Tu e os filhos teus”.

Falcatrua faço por baixo dos panos
Hoje sei que nasci pra ser milico
Mas me repeliram como o que sai do ânus

Peço arrego, peço pinico
Fiz xixi na cama até os cinco anos
Não me arrependo, meu ‘cébru’ é de mico.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Edvania Oliveira e Fabim Souza.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Do autor – foto de Vinícius Siman.

Escrito no início da manhã de 08 de abril de 2019. Trabalhado no dia de 22 de setembro do mesmo ano.

domingo, 15 de setembro de 2019

FRIA MENTE




El sabor enervante de la rebeldía.
(Medina)

Em português:

A água avança

Afogado por margens
Desafogado em nuvens
Visível sobre a terra
Invisível sob a terra

Gente é quase todo água...


En español:

El agua avanza

Ahogado por orillas
Desahogado en nubes
Visible sobre la tierra
Invisible sub tierra

El humano es casi todo agua...



Ofereço como presente aos aniversariantes:
Barbara Brasil, Cecilia Marchesi, Gabriel Weep, Wenderson Godoi, Paulo A. Matlombe, Wolmer Ezequiel, Jaqueline Rocha, Cassia Tavora e Érikis Sena.

Recomendo a leitura de:
“A Consistência do Seu Perfil”, de Antonio MR Martins:
“Y No Pudieron Matarlo”, de Samuel Rodriguez Medina, citado por Javier Villanueva:

Figuras de linguagem são palavras que criam novos significados para um texto, dando mais expressividade a ele.
Metáfora é uma figura de linguagem com característica de semelhança. Quer dizer, há uma relação de semelhança entre a palavra e o que ela representa.
Exemplo:
Século das Luzes (A expressão “século da luzes” se refere ao iluminismo do século XVIII, movimento intelectual que valorizou a razão. Esta, por sua vez, é relacionada com a iluminação do conhecimento.
Metonímia é uma figura de linguagem com característica de ‘contiguidade’, que é o mesmo que proximidade. As figuras de contiguidade substituem um elemento por outro porque eles são próximos.
Metonímia é o uso de uma palavra para representar algo muito próximo a ela. Acontece, por exemplo, quando o nome de uma marca representa o produto, quando uma parte substitui o conjunto todo, quando a causa se refere ao efeito.
Exemplos:
Tomei nescau (a marca representa o produto: chocolate).
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas (Neste verso de Drummond, pernas substitui todo o corpo, a pessoa; poderia ter dito: pessoas brancas pretas).
LOPES, Karina. 26 figuras de linguagem – o que são, exemplos, resumos. Disponível https://geekiegames.geekie.com.br/blog/figuras-de-linguagem/ . Acesso 15 Set 2019.

Juli Cabral – revisão em espanhol.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Ribeirão Ipanema  foto do autor;
Rubem Leite – foto de Girvany de Morais.

Escrito na tarde de 04 de abril 2019. Trabalhado ainda no mesmo ano, entre os dias 10 e 15 de setembro.