sábado, 31 de outubro de 2020

DIAS DE SOL, DIAS DE CHUVA

Em algum dia do primeiro semestre de 2019 os quatro membros da família se reuniram para uma discussão séria. Era uma manhã de sol.


Sou Reinaldo, viúvo pela segunda vez e pai do restante na reunião.

Pai biológico do Ricardo, aposentado por invalidez. Esquizofrenia moderada.

A noite eu preparava os medicamentos de nosso filho.

Minha primeira esposa se chamava Custódia. Embriagada, morreu num acidente.


Algumas noites eu queria sair para festejar; e podia?


A segunda esposa, Edna, já falecida no dia dessa reunião, teve um filho do primeiro casamento. E o garoto se chama Ignis.

A mãe se separara do primeiro marido quando se cansou de apanhar.

"Era um dia de sol." Costumava dizer.


Três anos após a separação, Edna e eu nos conhecemos e em pouco tempo passamos a morar no mesmo apartamento e a gente se casou no cartório de Registro Civil, na Rua Belo Horizonte, Centro de Ipatinga. Foi uma manhã de chuva.

Nós quatro vivemos juntos por três anos.


Nesses três anos o garoto me tratava como intruso e protetor da mãe; sempre com medo dela apanhar de novo.

Irritante, mas nunca realmente desaforado, causava coceiras em minhas mãos... Mas nunca chegamos ao ponto...

Com a morte por câncer de Edna, Ignis tornou-se oficialmente filho.


Algumas noites eu queria sair para festejar, mas...


Após um dia de sol, depois da morte de Edna, nosso relacionamento melhorou.

Parte pelo fim do medo de ver a mãe machucada. Parte por eu ter ficado com ele, mesmo tendo já dezesseis anos.


Com dezoito anos Ignis conheceu Érica e foi assim que voltamos a ser uma família de quatro membros.

Enquanto isso perdi o emprego.

Passamos um ano vivendo da pensão do Ricardo e de meus bicos.

De noite, chorei algumas vezes no meu quarto. De manhã era difícil ter força para levantar, mas ajuntava coragem.


Na reunião que iniciamos esse meu desabafo declarei, mortificado de vergonha, minha incapacidade de mantê-los e necessitava ajuda.

"A gente vai embora para facilitar para o senhor." Disse-me Ignis.


Mas não era o que eu queria ouvir.

Agora que acha que não precisa mais de mim, abandona-me?

Mas me calei.

Dores fortes guardo para mim. Só as pequenas deixo explodir.


Contudo, não foram embora. Não que eu saiba o porquê.

Érica falou algo?

Meu rosto mostrou o que calei?

Ele pensou melhor?


A noite preparei o medicamento do Ricardo.


Três meses depois, numa tarde nublada, arranjei emprego e tudo melhorou.


Algumas noites eu queria sair para festejar.


Érica tinha saído de casa para morar conosco porque apanhava muito da mãe, fazia sozinha todo o serviço da casa e com alguns meses de namoro descobrira que gostava do Ignis. Isso num dia de sol.


Em uma manhã chuvosa de sábado, ao levantar da cama, caí sobre ela respirando nada bem e com o coração acelerado.

Onze da manhã, ao não me verem preparando a comida, foram ver o que estava acontecendo.

Chamaram o SAMU.

No hospital constataram que era um ataque de pânico.

Um psiquiatra diagnosticou que eu sofria de depressão e ansiedade.

O bom foi que com o uso de remédios pude trabalhar sem precisar notificar a empresa.

Não havia mais direitos trabalhistas nesse novo governo.


Eu gostaria de chorar, mas depressão não é tristeza. Contudo, estava sempre sem ânimo e com respiração afoita.

O que disfarçava no trabalho mostrava em casa.

Nós quatro moramos juntos por dois anos após o diagnóstico.

Toda noite eu dava os remédios para Ricardo.


Numa manhã de chuva Ignis me pediu uma bolsa de viagem.

Nessa tarde o sol estava forte; um verdadeiro mormaço. E Ignis me falou que estava indo embora.

Fiquei calado sem saber o que dizer ou perguntar. Só com o coração doendo.

A sete da noite ouvia os trovões enquanto Érica me dizia:

"Mamãe está doente e precisa de mim..."

A velha estava com depressão...

Nesse instante chegou uma caminhonete para levar as coisas deles.


Eu queria chorar, mas raras são as lágrimas para pessoas no meu estado.

Mas o coração não; a dor ultrapassou a depressão.

Sem respirar preparei os medicamentos de Ricardo.

Deitei e dormir sem respirar.

Todavia teria que cuidar do Ricardo. Então no dia seguinte acordei e me levantei de novo.



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Rubem Leite

31 de outubro de 2020.

domingo, 25 de outubro de 2020

O SER HUMANO É BARRO


 

É dito 'a liberdade e os direitos de um terminam quando começam o de outros.



Tudo tem limite; até a liberdade de escolha. Mesmo que algum masoquista queira fazer-se escravo de algum sádico isso lhe é negado. E ambos serão levados a tratamento psiquiátrico.


Um caso diferente é quando alguém é enganado e é feito de escravo por algum 'esperto'.

Uma mulher de baixa instrução ignorava seus direitos e foi mantida como escrava por uma série de famílias de pessoas de bem; famílias muito cristãs e de muitas posses.

Essa situação começou no século XX e só foi descoberta no meio da primeira quinzena do século XXI ( https://m.leiaja.com/noticias/2020/06/26/domestica-de-61-anos-mantida-como-escrava-e-resgatada/ ).


A agropecuarista Família Quintão; também composta por políticos em Ipatinga e Belo Horizonte, tem incontáveis denúncias de escravidão. Isso nos séculos XX e XXI. Além de dezenas de processos em outras áreas ( https://www.jusbrasil.com.br/processos/nome/28016662/sebastiao-de-barros-quintao ).

E seu principal apoiador é Naerdielo Rocha, candidato a prefeito 2021-2024; tendo como vice Cassinha. Esta, enquanto vereadora, sempre se demonstrou contra o povo e favorável aos poderosos.


Uma família oriental mudou-se para USA e levou consigo uma escrava anunciada como emoregada. Mas na prática não recebia salário, era castigada física e moralmente.

As crianças, filhas dos senhores, cresceram e quando os pais morreram libertaram a mulher. Mas isso, reforço, só quando os pais não mais poderiam ser punidos por seus crimes.

A mulher, por sua vez, já não sabia mais como ser livre. E ao lhe darem dinheiro (salário) ela olhava o maço de dinheiro e o colocava numa gaveta; sem saber o que fazer com ele. Sua mente já estava modelada.


Ainda em USA, um presidiário com bem mais de sessenta anos, que passara quarenta anos ou mais na prisão ficou apavorado com a promessa de liberdade condicional.

O que faria lá fora? Como fazer amizades novas com pessoas que não são como ele? No presídio ele tinha ocupação laboral todas as manhãs, mas e lá fora?

Para não ser solto, atacou colegas e carcereiros. Sua mente já estava modelada.


Flordelis responde em liberdade, com apenas uma tornozeleira, por seus crimes de assassinato, pedofilia e outros.

E ainda vai à igreja pregar e mostra para o público o descaso por seus crimes e pela tornozeleira 

Como há quem vai ouvi-la falar de Deus?

Vai quem já tem a mente modelada.


E você?


E eu, no que estou moldado?

Não sabia fazer amigos quando criança e adolescente. Quando jovem comecei, apenas comecei a acostumar-me. Adulto parei de procurá-los e encontrei. Talvez. Mas tendo-os não, gosto Mais da solidão.

Solidão é o que não tenho.

Como tenho amigos minha casa está sempre cheia e gosto disso.

Mas ficar sozinho no meu quarto é meu lazer. Ou tendo a companhia de meus cachorros, livros, doces e frutas é um prazer bem maior.


E você, em que foi modelado? Tem coragem de observar-se?

"Cristo, não me permita de Ti separar-me" (Anima Christie). Esse anseio de estar com Ele não é por fé. Esse anseio é pelo medo da liberdade. Esse anseio é pela prisão, pois já se deixaram moldar-se.


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Rubem Leite


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Ofereço como presente aos aniversariantes:

Matheus Bragança, Eremita G. Fernandes, Nathan Graves, Nena de Castro e Jane K.S. Gonçalves.

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Manuscrito entre 01:35 e 02:04 da madrugada de 20/9/20.

Trabalhando na manhã de 24 de outubro de 2020.

domingo, 18 de outubro de 2020

AGORA É COM VOCÊ

 


 

Dia 15 de outubro foi o Dia do Professor.

 

Quem puder, escute a música O Sol, cantada por Jota Quest:

https://www.youtube.com/watch?v=hoNA77ICrr4

 

Outra vez o dia surge. Levanta-se e prepara o café.

- Bom dia, senhor Benito! Favor comparecer a escola amanhã, dia 04 de junho, para uma conversa com o diretor e a equipe pedagógica no horário de oito ao meio dia. Favor confirmar o horário da vinda.

Assim estava na mensagem de watzap e o professor respondeu: “oito horas está bom para mim”.

No dia seguinte, as seis da manhã, sai para a reunião. Na rua onde mora Benito é conhecido pelos usuários de crack como Professor.

- Quero falar com o senhor, Professor. – Diz uma mulher segurando uma garrafinha com cachaça e um “dragão” apagado.

Ai. Não quero falar com ninguém. – Pensa, mas ouve.

- Aquele ali é meu filho.

Aponta para um rapaz a uns cinquenta metros atrás de nós.

- Ele é aquilo ali.

Aponta para nossa frente e só vejo asfalto, calçada, uma árvore, uma casa. Nada fora do normal.

- O senhor tem que salvar ele.

Benito não tem a mínima ideia do que ela fala nem do que espera dele. Abraça a mulher. Abraça forte, apesar do perigo do covid. Ela beija sua testa. Professor não pensa mais no risco de infecção e intensifica o abraço. E se vai.

Às oito horas estavam o professor, o diretor, mas não a equipe pedagógica da escola. No lugar estavam duas representantes da SME (Secretaria Municipal de Educação).

- O senhor está sendo acusado de chamar seus alunos de ignorantes; acusado de dizer que o governo não quer o real aprendizado dos alunos; acusado de tornar público o que acontece.

Acusado!?!

Benito responde as acusações. O diretor replica, as representantes da SME se mostram neutras. Benito responde às réplicas. O diretor insiste. Benito desanimado aponta desmandos da direção. No final tudo se resolve e saem. O frio dos corações e dos brilhos dos olhos se refletem nos sorrisos calorosos...

Em casa, ao ler A Poda Necessária, escrito por Rubem Leite em outubro de 2019, Benito rememora 2018:

Era uma vez um jardineiro que viu uma figueira inútil e com quase trinta anos sem nada produzir, apesar de consumir todos os nutrientes do solo.

Esta figueira, além de inútil e roubalheira, era fofoqueira e encrenqueira. Frutificava asneiras a torto por ser de direita.

Então o jardineiro pensou “isso tem que mudar” e cortou a roseira de flores vermelhas.

Entardeceu, anoiteceu e amanheceu.

No dia seguinte uma estudante do nono ano, portanto não sua aluna, pergunta:

- Oi! O meu professor de português fala muito no quanto o senhor lê e por isso pedi a minha prima, que é sua aluna, o seu número de watzap. É que ganhei um livro chamado Vidas Secas, de um tal de Graciliano Ramos. O livro é bom? É que não estou acostumada a ler...

- Eu li esse livro pela primeira vez quando tinha a sua idade, acho; e não gostei. Eu era de direita e não queria algo que me mostrasse a realidade. Quase trinta anos depois o li pela segunda vez. Eu já era de esquerda e não mais temia os fatos, a verdade. Vidas Secas se mostrou um dos melhores livros que já li.

- Então... Será que vou gostar?

- Não! Se tem medo da realidade e prefere os mitos das igrejas e as regras da direita; apesar de ser pobre.

- Não sou pobre. Sou classe média.

- Filha! Seus pais, se ficarem um ano sem trabalhar, conseguirão manter uma vida confortável?

Ela se cala mordendo os lábios e de olhar voltado para dentro de si.

- Então seus pais, assim como eu, só têm uma coisa para vender: o trabalho. Isso faz com que seja mais fácil diminuir o que temos do que aumentá-lo. Classe média é pobre com um pouco, bem pouco, mais de recursos.

Observa os olhos da garota para continuar:

- Mas, e isso é importante, gostará muitíssimo de Vida Secas se tiver coragem de abrir os olhos para ver o que olha. Você é covarde ou corajosa?

- Professor... Não sei o que pensar... O que sou?

- Converse com o senhor Matheus, seu professor de Português, e com o senhor Emílio, seu professor de História. Eles poderão dizer melhor o que falarei agora. Sem me referir a literatura, mas ao conhecimento científico, digo que a História se modifica de acordo com quem a conta e de como é contada. Vi um filme chamado “Drácula: a história nunca contada”, dirigida por Gary Shore. No filme o príncipe da Transilvânia aparece praticamente como bom; que se sacrificou transformando-se em vampiro para salvar a família e o povo. Por que digo isso? Para que você se pergunte como foi o período colonial e imperial? Quem conta essa história? Como eram os povos nativos? Quem conta essa história? Como era contato, o relacionamento entre nativos, portugueses e africanos? Como essa história é contada? Como foi a transposição para República? Como é contada? Como foi a ditadura? Como foi o período “democrático”? Como é o atual governo? Quem conta? Como são contadas?

Uma pausa e continua:

- Ao ler qualquer livro pergunte quem está contando; foi quem venceu ou foi o outro lado? É preciso ousadia para isso. Você é covarde ou é corajosa? Decida!

E encerra a conversa. Agora é com ela.

Sai de casa e...

- Professor! Meu filho é aquilo ali. Mostra algo invisível.

Benito pensa “O ser humano é autodestrutível. Não exatamente um suicida, mas come o que não deve, bebe, fuma pedra, relaciona-se com as piores escolhas.”. Mas o que faz é outra vez abraçar a mulher. Em silêncio se afasta e entra em casa. Lá escreve: “Ah, se houvesse o soma  /  Não mais sentiria dor  /  Não seria artista ou professor  /  Só uma pedra, um ser em coma”.

 


Olha pela janela e não tendo nada relevante para ver pega um livro. Lá vê pela primeira vez o nome Antonieta de Barros. A ser eleita a um cargo político no Brasil, foi a terceira mulher e a primeira negra. Entre muitas coisas relevantes, criou o Dia do Professor. O que lhe faz pensar nas palavras da professora Janete Reis, que lhe indicou essa leitura: “Ignorarmos o nome dela e todos os seus feitos é uma das muitas injustiças que precisam de correções”.

Marca a página onde parou e larga o livro na cama. Olha pela janela pensando nas eleições municipais daqui a três semanas. O que Ipatinga escolherá? Retroceder conservando o atual prefeito? Ficar como está ao mudar-se para outro de direita? Tentar avançar um passo escolhendo o pt? Esforçar-se para dúzias de passos votando no PCB ou PSOL?

O povo vê o problema na figueira, mas corta a roseira; reconhece os inúteis como patrimônios a serem preservados.

Tão difícil saber o que o povo fará; mas há muitos empenhando em abrir-lhe os olhos. Por isso há livros como Versos Ácidos do Vale do Aço.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Leila Cunha, Emilio Fleitas, Sarah Silveira, Lucas Portuense e Luiz C. Santana.

 

Recomendo a leitura de:

“O Preço de uma Denúncia” e “Pau-Soja”, ambos de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/7086225?fbclid=IwAR05u4W_FmJc_qWmkD5ZJjzjznz2Qm5-JtDND2cOWu49XnMVBKPMSREnJGc

https://www.youtube.com/watch?v=hoNA77ICrr4

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha.

Pela janela: foto do autor.

Foto do autor pelo autor.

 

Escrito entre abril e outubro de 2020.

domingo, 11 de outubro de 2020

CABEÇA OCA OFICINA DAS IDEIAS DOS OUTROS

  

12 de outubro:

Dia de Nossa Senhora Aparecida;

Dia da Criança no Brasil.

 

“Solano López, acuado e sem meios de se defender, usou como escudo mulheres, crianças, velhos e adolescentes, que foram trucidados sem piedade pelas tropas brasileiras. Os números são imprecisos, mas alguns historiadores falam mais de 100 mil mortos, entre 10% e 15% da população paraguaia, de 1 milhão de habitantes nessa época”¹.

 


- Dieciséis de agosto es el Día de los Niños en Paraguay. Esa fecha es pelo genocidio de chicos que los soldados brasileños allá hicieron en el período Imperio. Eso porque en el siglo XIX Paraguay era el único país Suramericano a desarrollarse tecnológicamente. Para Inglaterra eso era malo y ordenó a Argentina, Brasil y Uruguay a pelear con Paraguay. Y por eso Paraguay jamás volvió a quedarse de pie. Y el Conde D’Eu, yerno de Don Pedro II, cometió inúmeras barbaries.

- ¿Quién es el culpable por poner críos en la guerra? ¿Y por qué Solano puso civiles en la línea de defensa? ¿Por qué Solano huyó mientras debería entregarse? El culpable es él y no los soldados brasileños.

- Piensa: Es tan simplista y pueril decir esas cosas… Es tanto odio al otro… Pero habla: ¿Usted votó en quién para presidente?

- Bozalnato.

- ¡Sabía! – Piensa pero no contesta.

- ¿Por qué?

- Porque me gustaría que el amor y respeto fuesen comunes; que no justificasen genocidio culpando el gobierno adversario.

- ¡Es un tonto, un imbécil!

- Lo sé. Lo sé. Solamente tontos e imbéciles son artistas o profesores. Incentivo a mis alumnos a estudiaren y no buscaren respuestas en otros ni de otros. No hablaré más. Sin embargo, se conoces algo que justifique asesinatos de pibes quien sabe mi corazón no se cambie a piedra. Pero por ahora todavía es de carne y sangra.

 


- Dezesseis de agosto é o Dia da Criança no Paraguai. – Diz Benito. – Essa data é pelo infanto-genocídio que soldados brasileiros lá fizeram no período Império, em 1870.

- Por que isso aconteceu? – Pergunta-me H.M.

- No século XIX o Paraguai era o único país Sul Americano a desenvolver-se tecnologicamente. Inglaterra não gostou da concorrência e mandou Argentina, Brasil e Uruguai entrar em guerra com Paraguai. Infelizmente por causa da guerra Paraguai nunca mais se reergueu. Nessa guerra, sob o comando de Conde d'Eu, o Brasil cometeu inúmeras barbáries.

- Esperavam que os vinte mil soldados adotassem as seis mil Crianças em meio a uma guerra? – Diz A.M.

- Não esperava isso. O que eu gostaria é que os soldados não chacinassem crianças, principalmente com excesso de crueldade. Também gostaria que os soldados não chacinassem as enfermeiras paraguaias, outra vez com excesso de crueldade. Essas foram apenas duas das muitas ações não condizentes com guerra dos soldados brasileiros. – Benito diz, mas o que pensa é: Mas seria lindo se houvesse amor para adotar e respeito para dar...

- Quem levou Crianças pra guerra a defender os próprios interesses?

- A.M., faça uma pesquisa. Não creia em mim. Pesquise sobre o que as crianças paraguaias estavam fazendo no Paraguai... Informe-se como foi a matança. Espero que não seja capaz de justificar crueldades.

- O senhor não respondeu a pergunta. – A.M. insiste. – Quem levou essas crianças para a linha de frete de uma guerra?

- Filho. Tenho dito tanto e o senhor não me crê. Por isso tenho-lhe sugerido pesquisar. Não é por má vontade; é para que o senhor creia ou corrija-me partindo de fatos. – Diz Benito, mas pensa: Justifica um genocídio culpando o governo inimigo...

- Ou não tens argumento para um debate ou não quer um confronto de ideias. Não vejo outra resposta para a sua evasividade.

- A.M., já ouviu falar em Laurentino Gomes? Mais importante, já estudou algum livro dele? Caso sim, parabéns. Recomendo que reestude. Caso não, estude-o.

- Ah ta... O genocídio foi causado pelos soldados Brasileiros, e não pelo imperador maluco do Paraguai que colocou toda a nação dele e suas famílias na linha do fuzil...

- A.M., o único país na América a ter imperador foi o Brasil. O senhor, no lugar de ater-se à História e aos fatos, quer culpar as vítimas e inocentar os soldados e o Brasil. Recomendo que não creia em mim, mas que faça uma pesquisa tendo um mínimo de três fontes diferentes.

- Todo ditador é um imperador... Aquele que impera sozinho, que faz de sua vontade a lei... Onde não há democracia... É no sentido figurado que falo de Francisco Solano López. Coloque na conta dele todos os civis que morreram em combate. Foi ele quem os colocou na linha de frete pra combater.

Essa de chamar ditador de imperador é disfarçar a falha na própria ideia... – Benito pensa enquanto E.C. intervém:

- Toda e qualquer Guerra revela a pior parte do ser humano. O que os soldados brasileiros fizeram ao olhos de hoje é condenável; colocar crianças no campo de batalha também. Sob o ponto de vista militar e à luz da época as crianças estavam armadas, portanto eram alvos inimigos.

- Exatamente, E.C. – A.M. diz sorrindo. – E, Benito, Paraguai tinha cento e cinquenta mil soldados. Como saber ali no meio quem era quem?

- O senhor não sabe distinguir homem de mulher, criança de adulto? – Suspira e lê: “... Um massacre. O conde foi descrito por alguns historiadores como criminoso de guerra, que degolou prisioneiros desarmados e executou a sangue-frio mulheres, crianças e adolescentes na caçada final a Solano Lopes”¹.

- E por que Solano não se entregou quando suas linhas de defesa, composta por civis que ele coagiu e colocou a força, foram vencidas? – A.M. insiste. – Por que continuou fugindo e espalhando ainda mais violência? Parece o Imperador Louco do Japão... Que continuou mandando seus civis, jovens e crianças para o penhasco ao não se render a uma guerra perdida... Não mudemos as peças do jogo de posição... Sabemos o que realmente aconteceu.

Benito apenas pensa: É tão simplista e pueril dizer isso. E tanto ódio ao outro. Com certeza ele justifica o armamento da população.

- A.M., o senhor votou em quem para presidente?

- No Mito, claro. Mas o “que tem alhos com bugalhos”?

Sabia! – Benito pensa enquanto E.U. deixa de só ouvir:

- Li ontem o relato dos desmandos do Conde D'eu. Que ser abominável. E o senhor justifica a bomba atômica no Japão?!? – E canta:

Pensem nas crianças

Mudas telepática

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada².

 


- A.M., sou professor e por isso tenho incentivado ao senhor estudar. Recomendo também que leia bastante literatura brasileira. Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza. Que tal comprar e ler a antologia Versos Ácidos do Vale do Aço!?! Mas enfim, estude! Faça boas leituras! E evite buscar respostas de/em outrem. – Pausa alguns segundos. – Mas confesso que me cansei. Não se ofenda, por favor. Mas nada mais falarei. Contudo, se achar algo que justifique o assassinato de crianças... mostre-me. Quem sabe eu não me venha a ter um coração empedernido.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Sanchez Tomas, Rayane Soares, Maria Fernanda, Shirley Maclane, Gely Fantine, Julio Cabral, Hércules Malta e Camila Oliveira.

 

¹ GOMES, Laurentino. A Redentora. 1889: como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil. São Paulo: Globo Livros, 2014. P. 160.

² MORAES, Vinícius. Rosa de Hiroshima.

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Da Batalha de Ñu: https://www.hoy.com.py/nacionales/a-150-anos-de-la-hazana-de-ninos-paraguayos-como-se-dio-la-heroica-batalla-de-acosta-nu

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha;

Do autor pelo autor.

 

Escrito e trabalhado entre os dias 16 de agosto a 11 de outubro de 2020.

domingo, 4 de outubro de 2020

O HOMEM RECRIOU DEUS A SUA IMAGEM E SEMELHANÇA

  

 

“Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios”. (Salmo 90, 08). É o amor bíblico desejando o bem aos concorrentes.

 

“Si las lenguas tienen derecho es, antes que nada, porque tienen derechos las personas que las hablan. Las palabras saben mucho de derechos humanos”.

(Javier Villanueva)

 

Flor colhida

Homenagem em vida

Descontido sentimento

Beleza num momento.

E

Minhas retinas

Desanimadas das rotinas

Prendem-me numa tribuna

Mas cerradas

Contemplo flores de sibipiruna.

Pois

Árvores choram flores

Abrigam pássaros

Quando estes voam

Elas florescem.

Entretanto

Nós, artistas,

Temos corpo humano

Mas somos fadas e diabos.

 


O que sinto e percebo é mais que isso. Mas é só o que consigo mostrar.

Vamos do verso à prosa.

 

Estou desacreditado com a Esquerda de Ipatinga.

No lugar de Robinson Ayres e Daniel Cristiano se unirem cada um ficou num canto. O que faz/fez essa desunião é ego, é vaidade? É algum tipo de jogo sujo? É “farinha pouca meu pirão primeiro”?

Na eleição extemporânea (2018) Daniel foi muitíssimo bem votado; suas chances de tornar-se prefeito estariam no ápice; mas ele ficou como candidato a vereador.

Quem deixa Robinson Ayres, com o histórico que ele tem, para apoiar Naná Pedregulho, um declarado apoiador do Boçalnato, está com terrível confusão mental.

Há quem diga que Naná está fazendo tudo pela lei Aldir Blanc. Fazendo algo? No máximo falando que apoia. Da mesma forma que lançou um edital para cultura que muitos que não observam a História se deixaram enganar e até agora não viram nem nunca verão o dinheiro dos projetos aprovados.

O Pedregulho disse ter lutado contra a pandemia, mas é frouxo. Não aguentou a pressão dos que se acham empresários e capitalistas da cidade e abriu lojas, feiras livres, o shopping. Só manteve fechado o Parque Ipanema e o Feirarte. E mesmo assim já os reabriu.

- É para não sofrer “impítima”. – Disseram-me.

 Dura na queda é a Dilma que preferiu aceitar o “impítima” a entrar na história como corrupta, antidemocrática, fraca e covarde. Ou vai querer comparar a pressãozinha dos pseudos capitalistas de Ipatinga com as forças nacionais e internacionais que ela enfrentou?

E por eu ter falado na Dilma já estou até escutando os imbecis me gritarem “petêêêê”. A esses não respondo porque não se conversa com ruminantes.

Sobre a Esquerda não falo de João Magno porque quando foi prefeito o que ele pode fazer contra a classe artística e outras classes ele fez. É outro covarde. Menos que o Naná, mas continua sendo frouxo.

E é para mim uma decepção Sávio Tarso sujar-se unindo ao João. Só não me espanto porque Sávio sempre apoiou Rosângela Reis; o que o torna um de direita que ainda não saiu do armário.

Como me disse Claudina Abrantes: “Não digo que alguém seja boa pessoa porque todo mundo é boa pessoa; pelo menos até que se prove o contrário”. Enquanto gente, não digo que João e Sávio sejam boas pessoas porque enquanto seres humanos nada vi que prove o contrário. O que falo é da administração do João e das coligações/apoios do Sávio.

E para pensar, candidatos que valem o voto popular:

Maura Gerbi, Lene Teixeira, Gabriel Miguel e Daniel Cristiano para vereadores. Robinson Ayres e Diego Arthur para prefeitos. Duas opções para prefeito e quatro para vereadores. Não estamos desprovidos de opções, pois nesses nomes não há o “rouba, mas faz”...

E quem sabe, na eleição de 2024, tenhamos boas candidatas a prefeitas ou LGBTQI+...

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Fabiola Brito, Carlos A. Silva, Roberto Passos, Divan Macedo, Luciano G. Botelho e Fernanda Lima.

 

Recomendo a leitura de:

“Las Palabras Saben Mucho”, de Javier Villanueva:

http://javiervillanuevahistoria.blogspot.com/2020/09/las-palabras-saben-mucho-luis-garcia.html

Versos Ácidos do Vale do Aço” é uma antologia poética que nasceu do desejo de tornar o vale menos cinza. A obra foi escrita por dez poetas. Apoie a literatura e encha sua vida de poesia!

Pré-venda:

http://wa.me/553198986-5821

Onde Aqui Rebentamos”, de Wil Delarte. Esse livro celebra o poder das criações. Uma história de amor se desenha ao fundo e por dentro, invocando a alma das palavras, onde tudo é síntese, movimento e explosão, vida e rebentação.

Pré-venda:

https://trovoar.lojaintegrada.com.br/pre-venda-onde-aqui-rebentamos-i-willian-delarte?fbclid=IwAR3Q0xlRt7B476VuZnJwraG-pSVy1qZT52fMgJGB6bIMsOheejRtgvm9K1o

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha.

Sol sobre o telhado e atrás da árvore: pelo autor.

Foto do autor pelo autor.

 

Escrito entre 20 de setembro e 04 de outubro de 2020.