Obax anafisa.
Foi uma manhã
estafante essa. – Pensa depois que chegou à praça perto do local de trabalho. –
E acho que não vai melhorar. Olha para a grama a sua frente e tira o paletó escuro
sobre sua camisa verde bebê.
- Tome!
- Am! Quero
uma de vinte.
- Toma logo e
não me enche.
- Como? Só
quero vinte reais.
- O senhor
está me achando com cara de caixa eletrônico de pobre, daquele bairro onde mora?
Isto se aquele lugar tivesse dinheiro que não fosse roubado.
- Quê? Mais
respeito com as pessoas, seu... Ah! Não me interessa. Não vou brigar nem me
envolver. Só preciso de R$20,00.
- Recuso-me a
sujar minhas engrenagens, a macular a santidade do templo que é este
equipamento – eu –, com... não vou falar essa mixaria. E contente-se por eu não
lhe dar R$100,00. Ah... Rirri. O senhorrr não tem, não é? Ridículo!
- Quero vinte
reais.
- Já disse
que não. Se quiser miséria procure outra máquina.
Mexe na
gravata ainda pensando no banco. Nem tinha percebido direito o sujeito que
passou em direção ao quiosque. Era um cliente. Seguiu a travessia do homem até
seu olhar se encontrar com as flores rosadas da escumilha.
- Estou
preocupado e chateado.
- Com o quê?
- Sabe aquela
situação chata onde mandam a gente escolher, algo como “ou eu ou ele”?
- Hum, sei
como.
- Pois é,
Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro estão exigindo
que eu escolha um deles para ler primeiro, mas não estou conseguindo. Que
fazer? Quero todos... Um harém de livros. Já pensou?
Do banco ao
lado dois homens de meia idade conversam. Mesmo não querendo, ouve e quase se
diverte. Mas transfere sua atenção para a estátua de um político que não fez
saneamento básico, nem asfaltos, nem escolas, nem centro culturais ou de
esporte, mas fez praças abandonadas e fontes que não funcionam e acertava na
loteria todas as semanas. Belo busto debaixo das amarelas flores de acácia. Olha
as horas no celular.
Eu, a-cre-di-to!
Eu, a-cre-di-to! Eu, a-cre-di-to! Eu, a-cre-di-to! A exclamação ultrapassou as
distâncias como o frio que veio do Sul. Ambos dando arrepios. Para alguns,
gostosos, para outros, de horror. O início era nada, depois um grito longo,
anseios, outro grito prolongado, angústia atrás de angústia, um erro bom, um
acerto bom, acerto ruim, acerto bom, acerto ruim, acerto bom, acerto ruim,
acerto bom. Acreditou.
Pensou no
jogo de ontem e tira uma goma de mascar do bolso, põe na boca e mastiga com
educação. Pelo menos isso tem. Olha as horas, estica os músculos do braço, arruma
a gravata, veste o paletó e volta para onde não quer.
No fim do dia
entregará no ônibus a nota de vinte, o trocador lhe deixará passar, vai sentar
e o funcionário lhe organizará o troco. O ônibus andará, andará, andará e nada.
Vai olhar para saber o porque da demora e “Cinco... dez... quinze... vinte
centavos”. Conseguirá rir, um pouquinho. Então chegará a casa, verá novela,
jantará a comida por necessidade e a esposa sem vontade. Depois vai dormir e o sol
vai florir.
Ofereço como presente de aniversário:
Anilton Reis, Victor do Carmo, Rogério Pires, Eliberto Campos, Freddy
Cosme, Martín Ramirez, Cioli F. Rodrigues e Camile Gracian.
Estou contente! Em breve o ebook bilingue (espanhol-português) de
poemas URDIDUMBRE – URDUME. Espero que adquira e creio que vai gostar.
Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é
minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre 20 e 29 de julho de 2013.