domingo, 26 de agosto de 2018

IRONIAS NÃO SÃO FLORES



Em português:

Sexta-feira de linda noite de lua e nuvens. 

De sua varanda olhava as nuvens vestindo a noite. E ouviu sem saber de onde um uivo bonito, mas não percebeu, subindo a rua, como que dançando, a voz, o uivo. Fechou os olhos para sentir o vento suave e ver dentro de si a lua fora. Não percebeu a escalar a parede o dançarino uivante. Mas sentiu o abraço carinhoso, quente e forte. Deliciou-se com os arranhões em sua pele. Gozou com a mordida. No início da manhã de sábado acordou feliz. No meio da tarde sentiu dor ao descobrir a PEC 95 que põe em cheque A Declaração Universal dos Direitos Humanos ao congelar por duas décadas recursos na Educação, Saúde e diversas outras áreas. No fim da noite desceu a rua para uivar. Mas não só.
Domingo foi ao Feirarte e, entrando na ironia, a mentira comemora algo insólito. A humanidade é pela verdade. Saindo da ironia: Hoje é Páscoa. Ressurreição de Cristo. Depois de uma noite dolorosa Ele ressurge. Voltando à ironia: Loiro de olhos de raposa... Não! Dela saindo de novo: Não e não. Era de pele marrom, íris preta, laterais branca. Preto e branco: Um Galo!
Marley Tal canta e seu violão encanta. Não sabe os nomes das pessoas na guitarra, no baixo e no teclado; ignorá-los lhe incomoda, mas realmente desconhece.
Ele está consigo. Vontade de chorar no momento, distante. Vontade de não ter se levantado da cama; de não acordar antes.
Está consigo e lhe acompanham Paulo Freire, James Baldwin e João Cabral de Melo Neto. Eles lhe consolam. Seus filhos Poesia Completa e Prosa, Giovanni e Pedagogía del Oprimido brincam no Feirarte vazio. Jogo do GAAAAALOOO com rarrarrapozinha. Marley torce distorcido; Marcelo também, mas os drinques destes são bons e as músicas daquele também.
La humanización y la deshumanización son inconclusas. El hombre es algo mutable, nunca exacto. ¿Cuál es la vocación del hombre si no la humanización?
Freire lhe diz com outras palavras e ele se pergunta: humanizar quem?
- Fale de você!
- Como?
- Fale de si. Você só fala dos outros.
- Eu sou alguém? E sendo eu alguém, falando de outros falo de mim ou falo só dos outros?
- Não sei...
- Nem eu sei. Mas falo do ser humano. Sendo eu um ser humano... O que sou? De quem falo?
- Não sei.
Marley Tal canta: “O amor tem sabor para quem bebe a sua água”.
- Sua alma, ela é quente?
- O quê?
Uma cadela branca de médio porte anda buscando restos. Deu-lhe o que comer. Agora não a vê. Mas quantos restos há para pessoas? Por que não compartilhar? Sua ignorância é tanta que não consegue responder. Imagina, mas não sabe. Melo Neto diz: “Uma chuva fina   /   caiu na toalha   /   molhou as roupas   /   encheu os copos.   /   Esfriou os corações”. E ele se pergunta se é a chuva que nos deixou frios.
De sua mesa olha as pessoas comendo, bebendo, andando, trabalhando, indo ou saindo dos banheiros, falando... Falando, mas quem conversa? Dialoga consigo, com seus pares, com os livros? Com ansiedade espera as quatro semanas que faltam para uivar bonito. E seu uivo diz muito.


En español:

IRONÍAS NO SON FLORES


Viernes de linda noche de luna y nubes. 

De su balcón miraba las nubes vistiendo la noche. Y escuchó sin saber adónde un aullido bonito, pero no percibió, subiendo la calle, como que bailando, la voz, el aullido. Cerró los ojos para sentir el viento suave y ver dentro de sí la luna fuera. No percibió a escalar la pared el bailarín aullante. Pero, sintió el abrazo cariñoso, caliente y fuerte. Se deleitó con los rasguños en su piel. Gozó con la mordida. Al inicio da la mañana de sábado despertó feliz. Al medio de la tarde sintió dolor al descubrir la PEC 95 que pone en jaque La Declaración Universal de los Derechos Humanos al congelar por dos décadas recursos en la Educación, Salud y diversas otras áreas. Al fin de la noche bajó la calle para ulular. Sin embargo, no solo.
Domingo fue al Feirarte y, entrando en la ironía: la mentira conmemora algo insólito. La humanidad es por la verdad. Saliendo de la ironía: Hoy es Pascua. Resurrección de Cristo. Tras una noche dolorosa Él resurge. Volviendo a la ironía: Rubio de ojos de zorro. ¡No! De ella saliendo otra vez: ¡No y no! Era de piel marrón, iris negra, laterales blancos. Negro y blanco: ¡Un Gallo!
Marley Tal canta y su guitarra encanta. No sabe los nombres de las personas en las guitarras eléctricas, en el bajo y en el teclado; ignorarlos le incomoda, pero realmente desconoce.
Está consigo. Ganas de llorar en el momento, distante. Voluntad de no tenerse levantado de la cama; de no despertarse antes.
Está consigo y le acompañan Paulo Freire, James Baldwin y João Cabral de Melo Neto. Ellos le consuelan. Sus hijos Poesia Completa e Prosa, Giovanni y Pedagogía del Oprimido juegan en el Feirarte vacío. Partido del Gaaaaallooo con los zorritos-tos-tos. El aliento de Marley es macilento; el de Marcelo también, pero los aperitivos de esto son buenos y la música de aquél igual.
A humanização e a desumanização são inconclusas. O homem é algo mutável, nunca exato. Qual é a vocação do homem se não a humanização?
 Freire le dijo con otras palabras y se pregunta: ¿humanizar quién?
- ¡Habla de ti!
- ¿Qué?
- Habla de ti. Sólo hablas de los otros.
- ¿Soy alguien? Y siendo yo alguien, ¿hablando de los otros hablo de mí o hablo solamente de los otros?
- No sé…
- Yo tampoco. Pero hablo del ser humano. Siendo yo un ser humano… ¿Qué soy? ¿De quién hablo?
- No lo sé.
Marley Tal canta: “El amor tiene sabor para quien bebe su agua”.
- Su alma, ¿ella es caliente?
- ¿Qué?
Una perra blanca de medio porte anda buscando restos. Le dio. Ahora no la ve. Pero, ¿cuantos restos hay para las personas? ¿Por qué no compartir? Su ignorancia es tanta que no sabe responder. Imagina, pero no sabe. Melo Neto dijo: “Una lluvia fina   / cayó en la toalla   /   mojó las ropas   /   llenó los vasos.   /   Resfrió los corazones”. Y se pregunta si es la lluvia que nos ha dejado fríos.
De su mesa mira las personas comiendo, bebiendo, andando, trabajando, yendo o saliendo de los baños, hablando… Hablando, ¿pero quién conversa? ¿Dialoga consigo, con sus pares, con los libros? Con ansiedad espera las cuatro semanas que faltan para ulular bonito. Y su aullido dice mucho.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Ronal Faria, Federico RazaPerro y con retraso (perdón): Carlos Glauss.

Recomendo a leitura de:
“Lula: ‘sebastianismo’ ou ‘fato-maldito’ do Brasil burguês?”, de Javier Villanueva:
“SOS”, de Girvany de Morais:
“Contra si”, de Carlos Glauss (Glaussim):

Revisión gramatical en español: Julian Cabral.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Vestido da Noite (Vestido de la Noche) – Fotos do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito no domingo de 01 de abril de 2018. Digitado em 22 de maio; trabalhado nas duas línguas entre os dias 24 e 26 de agosto do mesmo ano.

domingo, 19 de agosto de 2018

QUAL AMARGO É SALUTAR





Em português:

- Oi! U sinhô pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
Não olha nem vê a quem pede e talvez por isso não responde.
- Oi! Assinhora pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
Esta diz não sem olhar e com maus modos.
Em Ipatinga não me recordo de crianças pedindo comida ou dinheiro. Pelo menos não no Centro, bairros arredores e menos ainda nos nobres. E esta pedinte já tem ao menos trinta anos.
- Oi! Ussinhô pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
- Não. Mas se quiser, pago seu almoço.
Pensa um momento. É melhor aceitar ou recusar o dinheiro não recebido para a pedra? Este desfecho deixo para sua imaginação.

- O senhor pode me dá um real? Quero tomar um café...
Quase nove da manhã uma jovem de menos de vinte anos, acho, pede. Ele dá uma moeda e ela dá...
- O senhor pode me dá um real?
Dia atrás de outro, hora sim, duas ou três horas não ela aborda os homens que passam perto do extenso mangueiral entre o Centro e o Novo Cruzeiro. Eles dão uma moeda e ela dá...
- O senhor pode me dá um real?
Olha seus bolsos e encontra quase noventa centavos. Entrega e continua seu percurso. Minutos depois volta e:
- O senhor não vai querer?
Só aí, depois de olhar alguns segundos para a garota, percebe que este era o valor a ela dado; por ela ou por outros. Agradece, mas diz não.
- Ai! Agora se faz de santinho... – Há quem o julga assim. Sobre isso só digo uma coisa: Não digo nada.

Perto da noite em uma rua, um casal bate palmas num portão.
- A senhora pode dá comida pra nóis?
- Não! – A porta da cozinha de fecha.
Meio dia em outra rua, o casal bate palmas num portão.
- A senhora pode dá comida pra nóis?
- Não! – A porta da cozinha se fecha e a da sala não se abre.
Não sei se é verdade, mas dizem que de onde pouco sai pouco entra. A realidade, porém, afirma: quem assim crê o faz apenar para receber, para ter. Se é fato, não sei; mas é o que mais se vê.
Perto da noite em outra rua, o casal bate palmas no portão.
- O senhor pode dá comida pra nóis?
Fechar a porta, eis a resposta da casa de portas e janelas trancadas.
Em outro bairro o sol já está perto, mas a noite ainda não se corou. Um sujeito abre a porta da cozinha de seu apartamento e se surpreende com as flores de seu pezinho de boldo. Depois abre o portão e vê o casal usuário de pedra em situação de rua abraçado na calçada do outro lado da rua.
- O senhor pode dar comida para ela? Comida, não pão e café. É que tem dois dias que não se alimenta direito e o bebê... – a barriga dela está proeminente e a dele ronca – pelo menos isso a gente quer dar a ele.
Não há dúvida. Volta e esquenta a comida para os dois.
Depois faz o que há que se fazer.
  


Na volta, diante do motelzinho:
- Vámu namorá?
É a cantilena mais comum da rua Sabará.
- Não, obrigado!
- Ussinhô num é chegádu?
Sorrindo se afasta pensando em flores e comparando o amargo do boldo com o amargo das pessoas.


En español:

CUÁL AMARGO ES SALUDABLE


- ¿Usted puede medá una platita para yo comer?
No mira ni ve a quien lo pide y tal vez por esto no contesta.
- ¿Usted puede medá una platita para yo comer?
Esa dijo “no” sin mirarla y sin cortesía.
En Ipatinga no me recuerdo de niños pidiendo comida o dinero. Al menos en el Centro, ni en los barrios alrededores y aún menos en los nobles. Y esta limosnera ya tiene al menos treinta años.
- ¿Usted puede me da una platita para yo comer?
- No. Pero si quieres, pago el almuerzo.
Piensa un momento. ¿Es mejor aceptar o recusar el dinero no recibido para la piedra? Esta conclusión dejo para su imaginación.

- ¿Usted puede me da una moneda? Quiero desayunarme…
Casi nueve de la mañana una joven de menos de veinte años, pienso, pide. Él saca una moneda de su bolsillo, le da y ella da…
- ¿Usted puede me da una moneda?
Día tras otro, hora sí, dos o tres horas no ella aborda a los hombres que pasan cerca de la extensa plantación de pies de mango entre el Centro y el Novo Cruzeiro. Elles sacan una moneda, le dan y ella da…
- ¿Usted puede me da una moneda?
Busca en su bolsillo y la encuentra. Entrega y continúa su camino. Minutos después vuelve y:
- ¿Usted no quiere?
Solamente ahí, después de mirarla un par de segundos, percibe que este era el valor a ella dado; por ella o por otros. Agradece, pero dice no.
- ¡Ay, caray! Ahora se hace de santo… – Hay quien lo juega así. Sobre eso solo digo una cosa: No digo nada.

Cerca de la noche en una calle, una pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para ella y yo? – Habla con acento extranjero.
- ¡No! – Ella contesta mientras la porta de la cocina se cierra.
Medio día en otra calle, la pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para nosotros?
- ¡No! – La mujer responde mientras la puerta de la cocina se cierra y de la sala no se abre.
No sé si es verdad, pero dicen que de donde poco sale poco entra. Sin embargo, la realidad, afirma: el tipo que así cree lo hace solamente para recibir, para tener. Si es un hecho no lo sé, pero es lo que más se ve.
Cerca de la noche en otra calle, la pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para ella y yo?
El hombre cierra la puerta, esta es la respuesta de la bella casa de puertas y ventanas cerradas.
En otro barrio el sol ya está cerca, pero la noche aún no se sonrojó. Un tipo abre la puerta de la cocina de su apartamentito y se sorprende con la flor del boldo. Después abre la puerta de la calle y ve la extranjera pareja adicta de piedra en situación callera abrazada en la vereda del otro lado de la calle.
- ¿Usted puede dar comida para ella? Comida, no pan y café. Es que hay dos días que no nos alimentamos adecuadamente, pero el nene… – la barrica de ella está bien visible y a de él ronca – Al menos eso queremos dar a él.
No hay duda. Vuelve y calienta la comida para los dos.
Después hace lo que hay que hacer.
  


Al volver, delante del hotel de profesionales del sexo:
- ¿Vamos “noviar” un rato?
Es la cantilena más común de la calle Sabará.
- No, ¡gracias!
- ¿No te gustas?
Sonriendo se aleja silenciosamente pensando en flores y comparando el amargo del boldo con el amargo de las personas.


Ofereço como presente às aniversariantes Marilda Lyra e Marcia Regina.

Recomendo a leitura de:
“Eleição 2018: Plano de Governo de Alckimn, Mais do Mesmo”, de Josué S. Brito:
“Que Queremos Desses Caras?”, de Glaussim (Carlos Glauss):

Al leer la publicación abajo, de Gonzalo Schnieper, me puso a pensar y durante la semana escribí el cuento arriba. Primero en portugués y después lo trabajé en las dos lenguas. Él la publicó en su pared de fb al fin de la mañana de 12 de agosto de 2018:
¿Os habéis preguntado alguna vez cuánto tarda una vida humana en desaparecer? Lo que tardan el resto de conciencias en olvidarla.  /  Somos una sociedad que se miente a sí misma a través de un reflejo inverosímil en la ficción norteamericana. Así, vemos en las películas a "hombres hechos a sí mismos" saliendo adelante con el mero impulso de su voluntad. Y tendemos a pensar, probablemente para aliviar nuestra laxa conciencia, que aquel que duerme en ese cajero "pudo haber elegido". Y no entendemos que nuestra vida no es una película, que solo pende de un desvencijado balancín fabricado con suerte y apoyos que se puede venir abajo en cualquier momento.  /  Volviendo a la alienación mediática, nos alegra ver comedias de situación en las que todos los vecinos de un edificio forman una comunidad en la que prima el apoyo y la amistad. ¿Cómo se llaman tus vecinos? Cada núcleo familiar es una célula de egoísmo cerrado al mundo. Quédate fuera por cualquier circunstancia y es como el juego de la silla. Verás a todo tu entorno sentadito, encontrando acomodo, y tú de pie, mirando como bobo.  /  Alejándonos de ese núcleo familiar desinteresadamente protector (también interesado, pero en otra dimensión en la que no voy a entrar -supervivencia del propio grupo-), el aglutinante de esta sociedad es el interés. En el momento en que te sientas débil por atravesar un mal momento, el interés de los demás hacia ti desaparece. Sin apoyos, sin contactos, sin resultar interesante, no hay un equilibrio cósmico que te brinde lo que necesites, que te empuje, que te anime, que te valore. Te hundes, y lo mejor que puede pasarte es que pierdas la razón y deambules enajenado por la calle, o de pueblo en pueblo. Pero en la mayoría de los casos no se pierde la cordura, se mantienen la consciencia y la inteligencia intactas. Simplemente te vas hundiendo y hundiendo, y sientes una mezcla de culpa y vergüenza que te impide mirar al resto de viandantes a los ojos. Y total, el resto de viandantes tampoco te miran, has acabado desapareciendo, aunque creías que esto a ti no te iba a ocurrir, porque eres muy trabajador, pura voluntad, un todoterreno, con estudios, con idiomas, hasta tenías cierto don de gentes. Pero llegó un golpe de mala suerte, todas las puertas se cerraron, y lo imposible acabó ocurriendo. Eres el hombre invisible, perteneces a la casta de los intocables, no te catalogan en ningún colectivo vulnerable, no tienes renta mínima de inserción, no tienes nada, no eres nada. Has desaparecido.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem:
“Indiferencia”, de Javi Matoses.
Flor e Amargo – Foto do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Escrito entre os dias 13 e 19 de agosto de 2018.

domingo, 12 de agosto de 2018

O ESCURO É UMA BOA TELA PARA O SILÊNCIO DIALOGAR



The dark is good screen for silence dialog.
I’m not a man who fell asleep.

Em português:
Leitura do cronto pelo leitor no canal aRTISTA aRTEIRO:




Nuvens cinza molduram um rasgo na noite. Não sei qual lua ocuparia o céu. Mas as nuvens pesam meus olhos e um pensamento vizinho aos meus me afogam em ondas de um riacho imóvel.
- ¿Tienes canas?
À interrupção imagino meu rosto e me vejo como estou. Cabelos cortados rentes e a barba um pouco crescida, quase toda branca.
- Sim, tenho. Por quê?
- Paco lo tienes.
Olho o rapaz e não percebo nada grisalho.
- Es una broma. Él tiene solo veinte años.
Não compreendo a piada. Seu humor não tem sentido para mim; já devo estar velho. Melhor é olhar a noite; o escuro é uma boa tela para o silêncio dialogar.
A noite corre e a manhã seguinte também. Ocupado em meu quarto, a tarde vem e no seu meio alguém que gosto muito bate palmas no portão. Enquanto conversamos:
- Quando cheguei e te chamei, um rapaz me atendeu. Pensei: “Finalmente ele achou um garotão.” E você me diz que é só um hóspede...
Que faríamos eu e um garotão? Exatamente; só isso que você pensou. Estes três que viu em minha casa pensam que sexo é só penetração, e só eles penetrando... ou recebendo sexo oral, não realizando-o. Gostam de passar noites, dias inteiros se “fritando” em “doces”. E o LSD que penso e curto é Lendo Sem Descanso. Mas estes sequer pegam em livros. Riem de comédias gratuitas, não de conteúdo. Que faríamos após o imaginado?
Assim ajuízo e respondo:
- Só hóspedes até irem embora.
Sopro estas palavras e bebo mais um gole de chá de hortelã com gengibre pensando em Luiz Ricardo que não vende mais seus doces no Feirarte. – O que isso tem a ver com o assunto da conversa? Nada! – Sua avó vai para a França e a venda da barraca se fez necessário para três meses fora. Por que três meses? Para quê? Perguntas que me calei.
- Não sou um homem que adormeceu. – Digo e penso: Mas gostaria tanto disso.
Diante dessa palavra enigmática o assunto muda e falamos sobre coisas simples e do que temos feito durante o tempo que esteve fora. Ouço vindo da rua os pássaros a cantar, mas ele não percebe.


En español:
Lectura del croento por el autor en el canal aRTISTA aRTEIRO (minuto: 04:05):

EL OSCURO ES UNA BUENA PANTALLA PARA EL SILENCIO DIALOGAR




Nubes grises molduran un rasgo en la noche. No sé cuál luna ocuparía el cielo. Pero las nubes pesan mis ojos y un pensamiento vecino a los míos me ahogan en olas de un riachuelo inmóvil.
- Você está grisalho?
A la interrupción imagino mi rostro y me veo como estoy. Pelos cortados al ras y la barba un poco crecida, casi toda blanca.
- Sí, estoy. ¿Por qué?
- O Zé também tem.
Miro el muchacho y no veo ninguna cana.
- É brincadeirinha. Ele só tem vinte anos.
No comprendo la broma. Su humor no tiene sentido para mí; ya debo está viejo. Mejor mirar la noche; el oscuro es una buena pantalla para el silencio dialogar.
La noche corre y la mañana siguiente también. Ocupado en mi pieza, la tarde viene y en su medio alguien que me gusta mucho llama al portón. Mientras charlamos:
- Cuándo llegué y te llamé, un muchacho me atendió. Pensé: “Finalmente él encontró un guapo”. Y tú me dices que es solo un huésped…
¿Qué haríamos un guapo muchacho y yo? Exactamente; solamente eso que pensaste. Estos tres que vio en mi casa piensan que sexo es solo penetración, y solamente ellos penetrando… o recibiendo sexo oral, no realizándolo. Les gusta pasar noches, días enteros sintiéndose brujos del cornezuelo de centeno¹. Y el LSD que pienso y me gusta es Leyendo Sin Descanso. Pero estos siquiera agarran un libro. Ríen de comedias gratuitas, no de contenido. ¿Qué haríamos tras al imaginado?
Así pondero y contesto:
- Solamente huéspedes hasta volvieren a viajar.
Susurro estas palabras y sorbo más un trago de té de buena hierba con jengibre pensando en Luiz Ricardo que no vende más sus dulces en el Feirarte. - ¿Cuál es la ligación de eso con el contenido de la plática? ¡Nada! – Su abuela va a Francia y la venda de la barraca de feria fue necesaria para tres meses fuera. ¿Por qué tres meses? ¿Para qué? Preguntas que me callé.
- No soy un hombre dormido. – Digo y pienso: Y me gustaría mucho eso.
Delante mi enigmática palabra el asunto se cambia y platicamos cosas sencillas y do que hemos hecho durante el tiempo que estuvo fuera. Oigo viniendo de la calle los pájaros a cantar, pero él nada percibe.


Ofereço como presente à aniversariante Denise Silva.

Recomendo a leitura de:
“Agasalho”, de Bispo Filho:
“A Desejada II”, deste macróbio que vos fala:
“Part-Idas”, de Gely Fantini. O livro pode ser adquirido através do email: gelyfantini@gmail.com

Parte de minha inspiração se deve aos poemas “As Amadas” e “A Poesia Andando” da segunda edição do livro Poesia Completa e Prosa, de João Cabral de Melo Neto. Editora Nova Fronteira, publicação de 2007.

¹ CHEDIAK, Dayana. El Alucinante Cornezuelo de Centeno. Disponible https://www.arsenalterapeutico.com/2017/06/19/el-alucinante-cornezuelo-de-centeno/ . Acceso en 10 Ago 2018.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Nuvens Rasgando a Noite (Nubes Rasgando la Noche) – foto do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito no domingo de 11 de março de 2018. Digitado em 22 de maio; trabalhado entre os dias 10 e 13 de agosto do mesmo ano.

domingo, 5 de agosto de 2018

DOLOROSAS ENTRELINHAS



O meu ofício é ser poeta, / não sei se é destino / ou condição. / Escrevo em linhas retas, / as minhas linhas tortas, / e tenho como timoneiro / o meu coração, / que nas dolorosas entrelinhas, / procura extirpar / as dores do mundo.
MORAES, Girvany. Sina. Disponível http://socosealivios.blogspot.com/2018/07/sina.html Acesso 05 Ago 2018.

Em português:
Leitura do texto pelo autor no canal aRTISTA aRTEIRO:


Pela abertura da porta vejo as roupas dependuradas, qual bandeiras a mostrar que a vida podia ser um eterno feriado nacional. Ai, Orestes Barbosas e Silvo Caldas, obrigado por me darem palavras para o que sint...
- Benito, onde descerei em São Paulo?
- No Terminal Tietê.
- Ietê?
- Não. Tietê.
- Ietê.
- T-I-E-T-Ê.
- Ietê.
- T-I-E-T-Ê. Tietê. T-I-E...
Observo a cara do sujeito e...
- Você tem toda razão. Sou mesmo um imbecil. Esforço em ajudar; em não o deixar perder tempo buscando na internet o que não existe. Sendo que poderia permitir prejudicar-se não encontrando ou, pior, não sei, ir a um lugar só Deus sabe onde.
Não querendo justificativas nem desculpas, dou as costas e saio pensando: “Sua família não gosta de ouvi-lo em pequena parte por ser artista de rua e em grande parte pelo prazer que sente em irritar e zombar”.


En español:

DOLOROSAS ENTRELINEAS

Lectura del texto por el autor en el canal aRTISTA aRTEIRO – minuto 02:43:




Por la abertura de la puerta veo las ropas colgadas, cuales banderas a mostrar que la vida podía ser una eterna festividad nacional. Ay, Orestes Barbosa y Silvio Caldas, gracias por dar a mí palabras para lo que sient…
- Benito, ¿dónde me bajaré en San Pablo?
- En Terminal Tietê.
- ¿Ietê?
- No. Tietê.
- Ietê.
- T-I-E-T-Ê.
- Ietê.
- T-I-E-T-Ê. Tietê. T-I-E…
Observo la cara del tipo y…
- Tienes toda razón. Soy un verdadero imbécil. Me esfuerzo en ayudarlo en muchas cosas; en no dejarlo perder tiempo en internet buscando algo que no existe. Siendo que podría permitir perjudicarse no encontrando o, peor, no sé, ir a un sitio solo Dios sabe dónde.
No queriendo justificativas ni excusa, le do las espaldas y me salgo pensando: “A tu familia no le gusta oírlo en cierta medida por ser artista callejero y en una medida mucho más grande por el placer que sientes en irritar y mangar”.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Siomar Queiroga, Teuler Guimarães e Vera Tufik.

Recomendo a leitura de:
“‘Pois sou mais feliz que você, pois estou gozando’ – 120 dias em Sodoma e a paródia do teatro de poder do Antigo Regime”, de Sued:
 “A Desejada”, deste triste macróbio que vos fala:
O blog “Cinzas do Sol:

Tristemente dias 06 e 09 de agosto deste ano completam 73 anos que as Bombas de Hiroshima e de Nagasaki foram lançadas:
MORAES, Vinicius de. Rosa de Hiroshima. Disponível https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49279/ . O cantor é Ney Matogrosso. A letra:
“Pensem nas crianças / Mudas telepáticas / Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas mulheres / Rotas alteradas / Pensem nas feridas / Como rosas cálidas / Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa / Estúpida e inválida / A rosa com cirrose / A anti-rosa atómica / Sem cor sem perfume / Sem rosa, sem nada”.
Traducción libre del autor: “Piensen en los niños / Mudos telepáticos / Piensen en las niñas / Ciegas inexactas / Piense en las mujeres / Rutas alteradas / Piensen en las heridas / Como rosas cálidas / Pero, oh, no se olviden / De la rosa de la rosa / De la rosa de Hiroshima / La rosa hereditaria / La rosa radioactiva / Estúpida e inválida / La rosa con cirrosis / La anti-rosa atómica / Sin color sin perfume / Sin rosa, sin nada.”.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
A Porta é Serventia da Casa (La Puerta Es la Utilidad de la Casa) – foto do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Escrito em português na noite de 07 de maio de 2018. Trabalhado nas duas línguas e no mesmo ano, entre os dias 02 e 05 de agosto.