Rubem Leite – 26-5-10
A presente estória me invadiu a mente quando ia de minha casa para meu trabalho e ouvia a cada vinte ou trinta metros carros berrando “dingous” políticos.
Era uma vez um Chapéu, uma Ferramenta e um Diploma. Um dia os três começaram a discutir com outros dois e cada um falava assim:
- Eu sou o melhor.
- O melhor sou eu.
- Sou eu o melhor.
- Mentira! Eu sou o melhor.
- Falsa! O melhor sou eu.
- Blasfêmia! Sou eu o melhor.
- Mentira! Você não presta! Eu sou o melhor.
- Falsa! Você não presta! Eu sou o melhor.
- Blasfêmia! Você não presta! Eu sou o melhor.
E assim ficaram discutindo sem parar e acrescentaram:
- Eu sou o melhor porque sou Diploma, a inteligência. E ainda faço caridade.
- O melhor sou eu porque sou Ferramenta, quem trabalha.
- Sou eu o melhor porque sou Chapéu – junta as mãozinhas como em prece – Sou do Alto.
E assim discutiram, discutiram e discutiram sem parar e não contentes, acrescentaram:
Façamos assim: Vamos fazer uma eleição!
Com a concordância de todos mobilizaram mais de cento e setenta mil Cédulas para escolherem o preferido. O Chapéu sendo preterido ficou indignado, moveu as forças de Baixo fez um escarcéu e convocou o Martelo da Justiça, que com três marteladas mais ou menos inutilizou cento e setenta mil Cédulas inocentes. O Diploma ficou na dele, só olhando. O Chapéu e a Ferramenta chiaram, gemeram e choraram no Vale do Aço transformando-o em vale de lágrimas. Então o Martelo cantou “Se gritar pega ladrão \ Não fica um meu irmão \ Se gritar pega ladrão \ Não, não fica um \ Se gritar pega \ ladrão \ Não fica um meu irmão \ Se gritar pega ladrão \ Não, não fica um...”¹. Essas palavras mágicas fizeram todos correrem. Mas só o tempinho de se organizarem deixando confusão e gemidos agonizantes no céu.
Ainda insatisfeitos, esses e outros, expulsaram Panfletos que queriam trabalhar honestamente obrigando-os a mendigarem pelas ruas superpulacionado a cidade com seus maltrapilhos, feios e sujos aspectos.
E agora, meu Deus? E agora?
Agora é esperar o fim do ciclo para uma nova era começar de fartura, paz e sem políticos.
¹"Reunião de Bacana" foi composta por Ary do Cavaco (Ary Alves de Souza) em parceria com Bebeto di São João (Carlos Alberto dos Santos), e lançada em 1980 pelo conjunto ExportaSamba, no festival MPB-80, alcançando, desde então, grande sucesso. O disco do Exporta Samba foi produzido por Gabriel O'Meara, guitarrista, ex-integrante da banda de rock O Peso. O Muçum dos Trapalhões tocava e cantava n'Os Originais do Samba. Essa música foi também gravada pelo conjunto Exporta Samba, no início da década de 1980.