Ipatinga, 25 de maio de 2010
Caríssimo Bruno
Gostei muito, como já era de se esperar do seu texto. Acho correto o sentimento de gratidão com que encerra seu texto. Pois a vida é gratidão e não ingratidão... Mas não é sobre isso que gostaria de falar.
Penso que cedo ou tarde sempre temos que nos voltar para nós mesmos. Quando adolescente, eu me lembro (Isso foi ontem... Uarrarrá!). Eu sentia necessidade desesperada de ser aceito. Era como vi num desses filmes de décadas atrás do EUA (mas por incrível que pareça, tinha alguma qualidade...). Onde havia uma menina que tinha um pássaro preto de estimação. E como ela amava o passarinho. Era seu único companheiro até que foi adotada e na sua nova família conheceu outras crianças. As coleguinhas vendo o passarinho num toco começaram a jogar-lhe pedras... E a menina também. No início, só olhou. Era grande a necessidade de ser aceita. E maior foi a dor que lhe acompanhou depois... Mas o que quero dizer é que cedo ou tarde acabamos voltando para dentro de nós. Alguns no campo. Outros na religião. Mas sempre a sós com Deus. Nem que seja por algum tempinho... Hoje entendo que só se consegue estar a sós com Deus estando em paz com Ele e só ficamos em paz com Ele estando em paz conosco. Um círculo virtuoso. Nestas mal traçadas linhas reconto o que você diz no quarto parágrafo de seu texto homônimo ao meu atual (seu texto e a ilustração de Tiago Costa em meu “Cronto” é que me induziram este).
Hoje pela manhã (são agora, 13:26h) estive caminhando por uma boa hora de minha casa até o Centro da cidade e outra de lá para casa. E no retorno fiquei matutando a ilustração do Tiagão. Foram muitas as idéias que me vieram e o que compartilho com você (esse você significa Bruno, Tiago e quem estiver me lendo) são essas e não precisamente na ordem que me vieram.
Tiago conseguiu ler meu texto e o rescreveu em imagem não repetindo o que eu disse, e sim criando sua própria estória. Tendo o cuidado de não deturpar (ou seja, destruir, estragar) o que eu fiz e sim recriando. Pois é isso que, acredito, o artista faz – Devora e regurgita –. Não repetindo minhas “imagens”, mas utilizando as suas próprias “palavras”. Por exemplo: No texto conto entre outras coisas o aniversário de um menino que questiona o livro e o seu valor... (para entender o que quero dizer com valor recomendo a leitura do referido texto). Pois bem, Tiago teve a sensibilidade de não simplesmente “desenhar” um bolinho e um menino ganhando presentes ou algo assim, e sim retratar o vôo, a leveza, o “suspense” que são os livros na vida de alguém. Eu não sabia o que poderia vir a sair e ele superou minhas expectativas. Senti-me enlevado.
Para ver a ilustração de Tiago Costa e ler meu Cronto (ambos na coluna Cronista de 5ª da semana passada) assim como o texto de Bruno Grossi (na coluna Na Prancheta de hoje) acesse www.notaindependente.com.br
Rubem Leite.
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