Uma névoa... Não! Muito pequena
para ser névoa. É gás. O vento cada vez mais forte não dispersou o gás que
tinha, reparei, uma forma... Uns dois metros de altura, uns cinquenta ou
sessenta centímetros no seu meio, seu alto quase tem um separação... como se
fosse uma quase esfera pequena acima da parte ovalada... No ar, indo de uns dez
a cinquenta centímetros, subindo, descendo, o gás. Uma parte à sua esquerda se
destaca sem se desprender erguendo como se fosse um braço. O corpo gasoso, sim,
só pode ser um corpo, e vivo, deslizou pelos vários metros que nos separava.
Percebi uma forma levemente humana e quanto mais se aproximava, mais sólida parecia
se tornar. Um corpo de homem. Parou com os pés no chão tão próximo de mim que
se erguesse outra vez seu braço me tocaria. O medo que me silenciou começou a
se esvair abrindo a minha boca e ele me disse
- Não se assuste. Está perdido?
Respondo para uma coisa dessa?
Você responderia?
- Não se assuste. Posso te
ajudar a encontrar o caminho para onde quer ir.
- Muito obrigado! Mas não
precisa se incomodar.
- Não é incômodo. Vem! Vem!
Não saio do lugar então ele vem
até mim. Dou um passo para trás. Ele não para.
- Não precisa ter medo. O
caminho é por aqui.
Fala passando por mim. A luz da
lanterna quase não o pegando mais sigo-o.
- Meu nome é Guino. O seu?
Guino é bem mais alto que eu. E
adulto. Branco, cabelos pretos. Rosto comprido. Calça preta, camisa branca. Não
é feio. A única coisa que assusta é um gás se solidificar...
- Ah! Meu nome é Breno.
Enquanto andamos, Guino não
parou de falar sobre a noite, a floresta, livros (acho que viu o que estava
comigo), mulheres, animais. Comida. Não sei porque resolvi olhar para ele
através do meu espelho que peguei no meu farnel. Na mesma hora ele se virou
pela primeira vez para me olhar e se vê. Seus olhos se avermelham de ódio, seu
rosto estava horrível, suas mãos... duas garras e seus dentes enormes. No
espelho, sob sua forma transparente ele me abraça. Beija meu pescoço. Meu pênis
erige-se enquanto meu corpo amolece. Foi a melhor coisa do mundo. É a melhor
coisa do mundo.
Em português:
Na Argentina e no Uruguai os casais trocam
doces e juras de amor, pois é o Día de San Valentín; o dia dos namorados destes
e outros países. Mas esta história não se passa fora, mas dentro do Brasil.
Aqui o dia amanheceu nublado e neblinado;
algo meio avermelhado, meio cinza. Isso em todos os estados e municípios do
país. Em todos!
Guino é do poder econômico e todos do poder
econômico, são como Guino. Com mais de quatro anos de planejamentos e
estratégias, Guino e seus semelhantes, assumem o poder político.
Com a venda das águas brasileiras; desgaste
do saneamento básico; tomada das reservas indígenas; extermínio da população do
MST; uso indiscriminado de agrotóxico da Bayer, Monsanto, BASF, Dow
AgroSciences, Du Pont, Syngenta e a mais popular e perigosa: Roundup; queimadas
no Pantanal mais as queimadas e desmatamentos na Amazônia. Não se pode esquecer
dos desenvolvimentos de empresas de ônibus e, principalmente, de caminhões; com
o desvio de dinheiro para maquinários ecológicos ou menos poluentes compraram
os mais baratos, mais nocivos e com tecnologia ultrapassada; o descuido com a
FIOCRUZ, com o Butantã, com as Universidades Federais; a recusa em comprar
vacinas contra covid-19. O não gasto em desenvolvimento foi contabilizado, mas
ficaram nos bolsos dos empresários.
Guino e seus pares somados aos quase cinquenta
e oito milhões de Párias criaram o clima nublado, neblinado e vermelho
acinzentado fazendo a danação da nação. Disse antes que isso aconteceu em todos
os municípios do Brasil; mas aqui cabe uma correção. Nuvens e neblinas não obedecem
às fronteiras. Para os padrões humanos elas têm organização aleatória. Há
partes do Oceano Atlântico cobertas e partes costeiras descobertas. Há cidades
antes das fronteiras com países Sul Americanos e há cidades nessas nações
cobertas pelo mal.
Sim, pelo mal. Explico-me se ainda não
entendeu (o que acho pouco provável).
Na epígrafe já foi muito bem explicitado
que Guino é um vampiro. Já falei dele em outras histórias. E agora ele tomou
posse do Brasil.
Durante os anos de preparação os alimentos
para os humanos foram garantindo pelas indústrias de agrotóxicos; cuja renda
maior passou a ser a venda de sementes geneticamente modificadas. Nada
saudáveis, mas tornam o sangue mais saboroso.
E agora a luz que chega ao território
nacional é ineficiente para controlar os vampiros. Uns poucos mil vampiros,
cinquenta e oito milhões de semivampiros (estes são os Párias); e no Planalto
Central o Escatológico assinando documento e não dizendo coisa com coisa
desviando a atenção.
O ataque começou assim:
No correr do dia treze de fevereiro de 2021
o céu formou um pálio cobrindo parte da Terra do Sol.
Às 3:33 da madrugada do dia quatorze, Guino
deu seu grito de guerra ecoado pelos outros vampiros.
Os Párias despertaram. Saíram de sua zona
de falsa consciência para sua natureza de inconsequente inconsciência.
Atacaram, destroçaram seus pais, avós, seus
filhos, netos, seus maridos ou esposas. Depois foram aos vizinhos.
Em pouco tempo duzentos mil mortos. Quatro meses
depois já eram meio milhão; e o número a crescer exponencialmente.
Um exemplo:
O advogado Sá Teixeira ainda dormia quando
o eco vampírico despertou o gene ruim. Suas pupilas avermelharam, sua íris
ficou amarela e a esclerótica, arroxeada. Os caninos dobraram de tamanho,
arquearam como dentes de serpentes e afinaram como agulhas com um sulco por
onde escorre os venenos.
O primeiro veneno é paralisante,
anestesiante e contrastando com eficiência sensibiliza os genitais excitando-os
mesmo sem toques. Assim, o vampiro suga o sangue, come a carne da presa sem
este reagir.
Após algumas vítimas o Pária consegue
controlar-se o suficiente para imobilizar a presa, alimentar-se sem destroçá-la
e inocular o segundo veneno.
Para produzir o segundo veneno o Pária
necessita de sangue e carne para suas glândulas digestivas produzirem uma
espécie de vômito que vai para a boca e diluindo-se forma a saliva. As gengivas
absorvem o veneno e através dos dentes modificados transforma a vítima em outro
Pária. Uma vez lançado o veneno transformador a fome retorna para destroçar
novas presas. Assim é formado o ciclo.
O advogado Sá Teixeira e sua mulher, uma
médica, passaram pelo mesmo processo. Ainda dormindo os olhos, os dentes, os
órgãos digestivos, as mãos e unhas se modificaram nas poucas horas antes do que
seria o nascer do sol.
Abriram os olhos juntos, olharam-se e não
se reconheceram. Rosnaram um para o outro, mas não servindo de comida saíram da
cama.
A mulher foi para o quarto ao lado e o
marido para a cozinha.
No quarto, duas crianças e na cozinha a
sogra preparava o café.
A velha deu um leve grito de surto, mas
empurrada para a parede recebeu a mordida. Ficou vendo o genro acabar com seu
sangue e arrancar partes de seu pescoço, seios flácidos e braços. Foi gostoso
como orgasmos múltiplos.
A criança mais perto da porta não gritou;
paralisada antes de assustar-se. Sem conseguir abrir os olhos sentiu seu sangue
molhar a cama enquanto sentia um prazer desconhecido.
O som da carne destroçando-se acordou a
criança da outra cama ao mesmo tempo que o pai ia para o quarto do filho
adolescente.
O grito da criança acordou o irmão no outro
aposento e chamou a atenção da mãe.
A criança tentou correr e o adolescente
quis avançar para o pai sem saber o que lhe esperava.
A criança quebrou a janela ao ser jogada
contra ela e o sangue jorrou pelos cortes; atiçando a Pária.
O adolescente sentiu seu pau e se assustou
com o tesão sem sentido pelo pai. Morreu sem entender porque seu pai o devorava
e porque ejaculava.
Sem mais ninguém na casa o casal saíra
desvairado à rua. Em algumas casas acontecia o mesmo e outras casas eram
invadidas.
O céu cinza e o ar nublado não eram
percebidos pelos Párias e as presas não tinham tempo de observá-las.
No Brasil e no mundo há outros grupos não
humanos. A maioria não é parasita; como os bruxos, sacis, curupiras...
Saci.
Vampiros não ousam enfrentá-los. Se estes
não indestrutíveis também não são presas fáceis. Os Párias não dispõem de
razão, mas não atacam os não humanos por instinto.
Os não humanos não se envolvem nos negócios
dos vampiros. Porém desta vez o clima intervém no seu habitat.
A primeira medida que tomaram foi a criação
de redomas com consistência de bolhas. E mesmo nos centros urbanos o ar é bom,
a neblina não é tóxica e quando o céu se nubla é a natureza em um de seus
momentos.
A segunda medida tomada foi não entrar em
guerra. O planeta se cuida mesmo sem gente humana ou não humana. Em verdade, o
planeta não necessita de gente. Os não humanos sabem disso e deixam a natureza
fluir. Enquanto ela se equilibra os não humanos criam campos urbanos ou
silvestres para eles, para os animais, plantas e humanos que os encontrar.
Meses depois do Valentim da Morte em um
acampamento, humanos e não humanos festejam a lua no céu limpo.
Lima e Barreto se beijam debaixo de um caramanchão.
Uma mulher passa perto deles e bate a cabeça num enfeite. Rindo, Barreto diz
“só mesmo humano para não diferenciar lata de flor”.
O tempo não para e não sobra mais humanos
fora dos acampamentos mágicos. Do Brasil não resta muita coisa então Guino vai
de país em país da América Latina e depois para a parte Norte do continente. Os
Párias vão se inanindo à extinção. Após o fim da América quais serão os
próximos países? O que sei é que o mundo não precisa de gente...
O planeta continua se cuidando (é por isso
que o mundo permitiu os parasitas, para limpar-se). Um dia a vida como foi até
o século XXI não mais subsistirá. Parasitas se extinguem com a morte do
hospedeiro. O que será dos vampiros? Dos Párias já sabemos, mas dos
conscientes? De qualquer modo a Terra está tranquila.
Os não humanos estão igualmente tranquilos.
Se a natureza os selecionar continuarão no que disse Antoine Laurent Lavoisier.
Principales partes en español:
CONDENACIÓN DE LA NACIÓN
Guino es
del poder económico y todos del poder económico son vampiros. Tras años de
planes y estrategias Guino y sus pares asumen el poder político.
Con la
venda de las aguas brasileñas; desgaste del saneamiento básico; tomada de las
reservas indígenas; exterminio de la población de las reformas agrarias; uso indiscriminado
de pesticidas de la Bayer, Monsanto, Basf, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngemta
y la más popular y peligrosa: Roundup; quemadas en el Pantanal más las quemadas
y derribada de Floresta Amazónica. No se puede olvidar del desarrollo de
empresas de autobús y camiones; del desvío de dinero para la ecología; ni del
descuido con la FIOCRUZ, con el Butantan, con las Universidades públicas; la
recusa en comprar vacunas contra el covid-19…
Guino y sus
iguales más los casi cincuenta y ocho millones de Parias crearon el clima
nublado, brumoso y rojo grisáceo haciendo la condenación de la nación.
En los años
de preparación los alimentos para los humanos fueron garantizados por las
industrias agrícolas; cuya renta principal era la venda de semillas
genéticamente modificadas. Nada saludables, pero tornan la sangra más rica.
Con la luz
que ahora llega al territorio nacional es ineficiente para controlar a los
vampiros unos mil vampiros, cincuenta y ocho millones de semivampiros (eses son
los Parias); y Brasilia el Escatológico firmando documentos y nunca dando pie
con bola descarrilla la atención.
El ataque
empezó así:
En el
correr del día trece de febrero de 2021 el cielo fue cubierto por una pabellón
a empanar el Sol.
A las 3:33 de la
madrugada del día catorce, Guino hizo el grito de guerra que despertó a los
Parias. Ellos salieron de su zona de falsa consciencia para su naturaleza de
inconsecuente inconsciencia.
Atacaron,
destrozaron sus padres, abuelos, hijos, nietos, maridos, esposas… Después a los vecinos. En un rato,
doscientos mil muertos. Cuatro meses después ya eran quinientos mil muertos y
el número a crecer exponencialmente.
El eco del
grito vampírico despertó el gene malo; enrojeció la pupilas, las iris amarillaron
y la esclerótica se quedaron moradas. Los colmillos doblaron de tamaño,
arquearon como dientes de serpientes y afilaron como agujas de donde salían los
venenos.
El primer
veneno es paralizante, anestésico y provoca sensibilización y excitación de los
genitales. Así el Paria chupa la sangre y come la carne sin la presa reaccionar.
Tras un par
de víctimas el Paria consigue controlarse el suficiente para inmovilizar la
presa, alimentarse sin destrozarla e inocular el segundo veneno.
Para producir
el según veneno el Paria necesita de sangre y carne para sus glándulas
digestivas produjeren una especie de vómito que va para la boca y diluyéndose se
forma la saliva. Las encías absorben el veneno y a través de los dientes
modificados convierte a la víctima en otro Paria. Una vez lanzado el veneno cambiante
el hambre retorna para destrozar nuevas presas. Así es formado el ciclo.
No Brasil
hay otros grupo no humanos. La mayoría nos es de parásitos; como los brujos,
los sacís, los curupiras…
Curupira.
Porque son
inteligentes los vampiros no los enfrentan. Y por instinto los Parias también
no los enfrentan. Y los demás no humanos no se involucran en los asuntos de los
vampiros. Sin embargo, ahora el clima interviene en sus reinos.
La primera
medida que tomaron fue la creación de redomas con consistencia de burbujas con
la capacidad de limpiar la polución y virus.
La segunda
medida tomada fue no entrar en guerra. El planeta se cuida mismo sin gente
humana o no humana. En verdad, el planeta no necesita de personas. Los no humanos
saben de eso y dejan la naturaleza fluir. Mientras ella se equilibra los no
humanos crean campos urbanos y silvestres para ellos, para los animales,
plantas y, si los encuentran, para los humanos.
Meses después
del Valentín de la Muerte en un acampamento, humanos y no humanos, festejan la
luna en el cielo limpio.
El tiempo
no para y no hay más humanos fueran de los acampamentos mágicos. De Brasil no
hay mucha cosa más y por eso Guino se traslada de un país a otro en toda
Latinoamérica hasta ocupar todo el continente, de Sur a Norte. Los Parias se
van muriendo de inanición. Después de América, ¿cuáles países y continentes se
han de morir? No sé, pero el mundo no necesita de personas…
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Faire (Amnon K. Oliveira), Jaydson Sousa, Salomão A. Costa, Vilma
Zeferino e Feliciana Saldanha.
BORGES, Helena (o Globo). Estudo
mapeia as dez empresas que dominam o mercado de agrotóxicos no mundo.
Disponível: https://actbr.org.br/post/estudo-mapeia-as-dez-empresas-que-dominam-o-mercado-de-agrotoxicos-no-mundo/17568/
. Acesso 22 Fev 2021.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e
Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Saci: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/trick-ou-treat-dizia-o-saci-polarizacao-do-dia-das-bruxas.phtml
Curupira: https://dana.com.br/social/nossos-projetos/lendas-brasileiras/curupira/
Autor: Vinícius Siman.
Na madrugada de 14 de fevereiro de 2021 tive o sonho ruim que deu
origem a este cronto. No hospital Municipal de Ipatinga, acompanhando minha mãe,
escrevi o manuscrito enquanto ela descansava. Dia 16 de fevereiro ela falece
por parada cardíaca súbita motivada pelo convid-19. O cronto foi digitado e
trabalhado entre os dias 22 de fevereiro e 20 de junho do mesmo ano.