segunda-feira, 25 de maio de 2015

ILHA ARBÓREA

ISLA ARBÓREA


Obax nafisa.

... e tenho que seguir meu destino. Nasci como uma árvore que grossas raízes prendem à terra.
Dona Benta¹.


Em português

Onde estão as pessoas? Vejo unicamente carros, carros e mais carros. Há também motos. Mas onde estão os homens?
O céu está cinza, as árvores estão verdes, as flores estão amarelas, vermelhas e laranjas, a grama está na terra, os pássaros cantam, as formigas estão em seu afã. E os carros correm e correm. Mas não há gente que eu possa ver.
Não há gente, mas livro não me falta. Não há gente, mas Pessoa não me falta. “Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se na minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino cotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior”².
Mas não há gente... não há gente que eu possa ver. Porém, uma árvore me sombreia e uma pequena borboleta laranja e preta voa ao meu redor, mas ninguém se aproxima de mim. Não há gente.
À minha esquerda, longe, um morro; à minha direita, menos longe, a estação de trem toca sua campainha. À minha frente e atrás está a estrada. Grande até não ter fim.
Estou em uma ilha de grama verde na cidade. No entanto, “navegar é preciso”. Então vou embora.


En español

¿Dónde están las personas? Miro únicamente coches, coches y más coches. Hay también motos. Pero, ¿dónde están los hombres?
El cielo está gris, los árboles están verdes, las flores están amarillas, rojas y naranjas, la hierba está en la tierra, los pájaros cantan, las hormigas están en su afán. Y los coches corren y corren. Pero, no hay gente que puedo ver.
No hay gente, pero tengo libro. No hay gente, pero tengo la persona de Pessoa. “Escribo, triste, en mí habitación quieto, solo como siempre tengo sido, solo como siempre seré. Y pienso si en mí voz, aparentemente tan poca cosa, no encarna la substancia de millares de voces, el hambre de millares de vidas, la paciencia de millones de almas sumisas hecho la mía en el destino cotidiano, al sueño inútil, a la esperanza sin vestigios. En estos momentos mí corazón late más fuerte debido a mí conciencia de él. Vivo más porque vivo mayor”².
Pero, no hay gente… no hay gente que pueda ver. Sin embargo, un árbol me sombrea y una pequeñita mariposa naranja y negra vuela alrededor de mí y nadie me acerca. No hay gente.
A mi izquierda, lejos, un cerro; a mi derecha, menos lejos, la estación de tren suena su campana. A mi frente y atrás está la estrada; larga hasta no tener fin.
Estoy y he estado en una isla de césped verde en la ciudad. Sin embargo, “navegar es necesario”. Entonces me voy.


Ofereço meu cronto aos aniversariantes:
Márcio F. Amorim, Junior A.M. Contreras, Katia G. Paula, Fernando Campos, Rosa Kanesaki e Ivone M. Andrade.

Recomendo a leitura de A Árvore no Meio do Jardim, de Carlos Glauss, no endereço:

¹ LOBATO, Monteiro. Geografia de Dona Benta. São Paulo: Brasiliense, 2000 (Sítio do Picapau Amarelo). 3ª reimpr. da 24 ed. de 1994. Pág. 117.

² GUAZZELLI, Eloar. Eu, Fernando Pessoa em quadrinhos. São Paulo: Peirópolis, 2013 (coleção Clássicos em HQ), pág. 51. Traducción libre (mía) para español.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito originariamente en español y entre los días 19 de junio de 2014 y 25 de mayo de 2015. Perdóname cualquier error de español. ¡Muchas gracias!

domingo, 24 de maio de 2015

A ÁRVORE NO MEIO DO JARDIM

Carlos Glauss

Dedicado ao meu amigo Rubem, que é uma árvore de cidade.


Numa cidade, cheia de carros e pessoas passando de um lado para o outro, havia uma rotatória com uma árvore no centro. E sobrevivia sufocada entre os prédios. Sua resistência era tamanha que fez a copa aumentar e alongou seus galhos para captar melhor a luz do Sol. Dava pra ver nitidamente que a árvore sentia e se esforçava para viver ali. Suas raízes eram grossas como veias de madeira exibidas por cima da grama verde. Se ela tivesse pés, poderia se dizer que era uma “pesuda”, ou melhor uma “raizuda”. A base e o tronco eram largos como uma muralha. Até para subir na árvore era difícil. E quem curtia tudo isso eram os pardais, rolinhas e pombos. Ah! Esses sim faziam da suas copas o melhor dos condomínios! E tinha melhor lugar para fazer um ninho?
Todos os dias, o Sol nascia, por detrás dos prédios e seus feixes iluminavam a árvore que esperava ansiosa pelas nove horas, para finalmente poder captar a maior quantidade de raios solares. Os pássaros brincavam. As formigas e cupins transitavam pela grama.
A árvore solitária tocava uma canção feita com sons de galhos aos ventos e observava: a vida de todos e a correria do dia. Logo veio o pardal, pousou em seu galho e disse:
- Bom dia Árvore-Grande! Sempre ouço sua música dos galhos com o vento! Parece estar bem feliz hoje, não é?
- Bom dia Pardal. Estou feliz com essa brisa sim! Queria mesmo é que chovesse. Mas a gente redescobre formas de ser feliz até com o soprar do vento, não é mesmo? – Sorriu a árvore.
- Verdade, Árvore-Grande. Eu que sei como esse vento ajuda. Tem hora que estou cansado de bater as asas, daí aproveito o vento e uso meu planar! Economizo energia e fôlego para ficar mais rápido. – Sorriu o Pardal – Isso ajuda até na hora de capturar umas tanajuras!
- Ah Pardal, bem que você podia me trazer notícias de uns grãos que lancei no ultimo vendaval. Você voa tão rápido e passa em tantos lugares, bem que poderia me falar daquelas montanhas por detrás dos prédios... Quando eu fui plantada, lembro-me daquelas lindas muralhas verdes, onde se escondia o Sol-Poente... Que saudade! Agora, com esses prédios grandes, nem dá mais pra ver... Lancei minhas sementes ao vendaval e queria saber se elas vão nascer... – Suspirou a árvore melancolicamente.
- Ah sim! Pode deixar Árvore-Grande. Quando eu for até a montanha-verde, trarei notícias. Vou indo caçar mais insetos. Até mais! – E voou rumo às montanhas.
- Até. Despediu a Árvore-Grande enquanto o vento balançava seus galhos.
Logo, antes que o barulho dos carros ao meio-dia aumentasse, um casal de Pombos chegou reclamando da fumaça:
- (Cof, cof, cof) Oi Árvore-Grande? Tudo bem? – Disse um dos pombos em meio à tosse.
- Olá Pombo-Cinza, tudo bem. Está tossindo muito. O que aconteceu? Indagou a árvore.
- Acho que são esses carros... Aumentaram muito nos últimos anos (Cof, cof, cof!). Sai tanta fumaça de carro, caminhão e ônibus, que a gente que voa aqui embaixo, sofre com o ar poluído... Meu avô dizia que era melhor ir para o interior, mas lá nem tem tanta comida pra mim... Prefiro a cidade. Tem lixo de pão, bolo, papel de bala e um monte de coisa que o povo da cidade desperdiça... A gente faz a festa com o lixo da cidade, mas sofre com a poluição. Não é mesmo querida?
- É sim! A fumaça atrapalha muito, mas nossos amigos moram aqui... Acho que a gente não se adaptaria longe deles... A turma dos Pombos-do-Centro é a melhor opção pra gente... – Suspirou a Pomba-Branca.
- (Cof..Cof..Cof) Eu queria poder ser forte como você Arvore-Grande. Você nem passa mal aqui na rotatória. Como você aguenta essa barulhada de carro e fumaça? Indagou o Pombo-Cinza
- Ah, Pombo-Cinza... A gente precisa adaptar às circunstancias. Já tenho muitas responsabilidades aqui. Veja bem, graças a essa rotatória, eu ajudo a melhorar o ambiente dessa cidade cinza e barulhenta. Ao meio-dia, o sol está forte e dou sombra para as formigas, besouros, cupins e minhocas. Além disso, ajudo a refrescar o chão da rotatória e garantir uma melhor umidade no solo para as graminhas e para mim. Quando o Sol está prestes a se pôr, eu abrigo os pardais e rolinhas em meus galhos. Tem dia que até os humanos param por aqui para descansar... Tudo tem seu lugar...Se eu fosse escolher, com certeza queria umas companheiras iguais a mim plantadas aqui. Uma floresta seria algo maravilhoso para esse lugar.
- Nossa, Arvore-Grande! Eu pensava que você ficava só parada, mas você tem mais trabalho do que a gente, né Pomba-Branca?
- É sim! Arvore-Grande é muito resistente e útil. – Respondeu a pomba.
A árvore sorria para os pombos. Eles despediram-se:
- Vamos indo Árvore-Grande. Vamos voar para outro local em busca de algo para comer. Até logo.
- Até.
Os pombos foram embora. Com a buzina dos carros, o transito engarrafava e a árvore fitava um homem pedindo dinheiro perto do semáforo. Estava com roupas sujas. Parava de carro em carro pedindo algo. Eram ignorados por muitos. O pedinte reclamava e praguejava. Atenta a Árvore-Grande o observava. No projetar da sombra, e com o Sol do meio-dia o homem veio até a árvore e sentou-se debaixo dela:
- Ainda bem que essa arvore tá aqui. Sol tá rachando... Tá difícil demais. Ninguém quer dar esmola nessa cidade... Acho que vou ter que meter a fita mesmo. – Falou o homem enquanto tragava um cigarro.
A árvore no silencio fitava seu comportamento. Ela não entendia por que ele não fazia como o pardal e como os pombos e saia para caçar. Também não conseguia entender por que o homem tragava aquela fumaça nociva e tóxica, se o melhor mesmo era curtir a brisa e a sombra. Como boa árvore de cidade, ela permanecia quieta.



Recebido na manhã de 20 de maio de 2015.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O BEM-TE-VI

Obax nafisa.


¿Por qué estaba tan triste su corazón? Primero pensó que era debido a que la historia había permanecido desprovista de cualquier adorno en su recuerdo. No, esa no era la razón de su estado de ánimo, pues él conservaba todas las historias desprovistas de adornos en su memoria. Al contarlas desarrollaba sus pensamientos y daba a sus relatos desnudos el vestido, el pensamiento y el ritmo adecuados. No, solo los malos narradores recuerdan de memoria las historias con todo lo que forma parte de ellas.
SCHAMI, 1989, p. 231


Só de camisa
No meu quarto só
Invejo a lua
Que nuvens alveja.

- Gostou da quadra que escrevi?
- É... Sim! Mas fico feliz por saber que você não desiste da prosa.
Olho em seus olhos.
- Sinto dizer, bem, mas é só assim que a gente melhora.
- Obrigado!
- Não há de quê.
Escolhe uma música e põe no cd. Ouço um minuto e digo: Vou sair agora.
- Aonde vai?
- Por aí.
Pela rua penso: “Vou virar chiclete dentro dessa boca loca”. Eu vi a cena. Arrepiei-me de nojo. No lugar de ouvir a... ah... música? Eu preferiria estar no Tejo com Fernando em um bote português coletivo de gente boa. Será que eu escutei realmente o cara dizer “cu de sorte” na... ah... música? Nem vou tentar decifrar o... ah... conteúdo? Meu Deus! Eu quero ser um “alfaiate recolhendo tecidos orais nos mercados”.
Chego ao Feirarte e depois de passar pelas barracas de artesanato vou até a barraca de coquetéis do Marcelo. La auto me distancio e me olho entre preocupado e curioso com o que veria. Sinto o peso do coração enquanto vejo um bem-te-vi pulsando suas asas sem sair do oiti em que está pousado. E...
- Sai fora, sai fora porque eu saí fora.
Olho para a mesa ao lado. O Feirarte ainda não está cheio. E me atento na mulher que se levanta da cadeira, vai a outra barraca, toca no ombro de um homem, alisa rápido o que o diferencia dela, pega sua mão e o leva para dançar.
Das mesas onde saíram, olhares raivosos.
- Marcelo, faz algo para mim.
- O que deseja?
- Deixo ao seu critério.
- Benito! Que bom te ver. Tudo bem?
- Oi, Cult! Bem. E com você?
- Também.
- Sente-se e me faça companhia. Marcelo, faça algo para ele também.
Entre nossa conversa amena Marcelo me traz uma bebida com cachaça, maracujá e morangos. E para Cult, algo com coco, rum e leite condensado.
- Benito, o que me destaca de outros? – Cult me pergunta após sermos interrompidos por alguém. – Há pessoas que nunca reparei e me reconhecem tempos depois...
- Estavam dando algodão doce. A meu pedido você pegou para nós dois.
- Sim, mas estamos bebendo... Pra que doce?
- Num lugar de beber, algodão doce chama atenção mesmo não fazendo nada; sendo apenas o que é.
- Benito, o que você acha da literatura africana; dos países africanos que falam português?
- Ainda tem gente que pensa que a literatura luso-africana é apêndice da literatura portuguesa. A biblioteca pública municipal de Ipatinga, por exemplo, coloca as literaturas lusófonas da África junto com as literaturas portuguesas. Já apontei isso, mas discordaram de minha indignação. A literatura portuguesa é muito boa, mas só tem em comum com as, igualmente boas, literatura brasileira e luso-africanas a língua.
- Na verdade, Benito, as literaturas da África portuguesa são um desdobramento de um literatura europeia menor. Eles vão construindo a sua cultura a duras penas, meu caro amigo. Porque a literatura de Portugal é, se comparada as praticada nos grandes centros europeus, periférica. Assim, os países de colonização lusitana tem uma literatura fruto de um literatura menor europeia. O que equivale a dizer também que a literatura brasileira é menor. Até porque só copia os franceses. Nada cria.
- A situação política brasileira até meados do século XX era desfavorável e mal vista. Por isso Machado de Assis não conseguiu reconhecimento enquanto escritor universal. Mas com a crescente evolução política, social e econômica brasileira ele passou a ser mais lido pelas grandes potências. Por isso está adquirindo reconhecimento internacional. Além dele temos João Guimarães Rosa e outros escritores valorizados mundialmente. E a escrita de Machado tem mais ligação com espanhola e inglesa. Ao contrário de seus contemporâneos brasileiros, que era francesa. Pode-se dizer que Machado de Assis foi mais influenciado por Cervantes e Shakespeare do que por Camões.
- Olha amigo, não falo isso como se houvesse ou há barreiras e estanques em termos culturais. Na verdade a cultura portuguesa, no geral, é fortemente influenciada pela Espanha, França e Inglaterra. Então o Machado não fugiu à regra. Agora, nos dias de hoje, buscamos criar um cultura nossa, menos lusa e menos europeia. Fizemos isso com a Semana de Arte Moderna de 1922. Não adianta se separar política, cultural e economicamente se ainda estamos ligados a velha Europa. Pior, a Portugal...
- Sobre a questão de copiar não se esqueça do Manifesto Antropofágico... Os seres humanos, todos, são antropófagos. E muitos são antropófagos culturais que regurgitam arte. Quem você acha que tudo cria, sendo que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”? Oswald de Andrade e Antoine Lavoisier falaram muito bem. Shakespeare tirou de sua cabeça as maravilhosas histórias que criou? Não! Só de Romeu e Julieta existem pelo menos cinco versões de outros autores. Algumas até mais antigas que a de Shakespeare. O grande mérito do escritor inglês foi a forma como contou Romeu e Julieta e demais primores. Os Irmãos Grimm criaram de suas cabeças as maravilhosas histórias? Também não. Eles apenas registraram o que antes eram orais. Os grandes méritos deles foram o registro e a forma como escreveram os contos. Os clássicos latinos que chegaram até nós foram inspirados nos clássicos gregos. E apesar de não ter cem por cento de certeza em relação aos gregos, tenho setenta por cento da mais absoluta certeza que os gregos também copiaram o que antes já existia. O grande mérito foi serem primorosos na escrita, na forma que contaram suas histórias.
- Mas o Machado de Assis foi fruto de sua época assim como somos frutos da nossa. Em que ele inovou? Em nada! E Portugal foi e é a periferia da Europa em todos os termos.
- Antes de mais nada afirmo que amo toda literatura lusófona. Fernando Pessoa e, polêmicas à parte, Monteiro Lobato são excelentes. Lobato, por exemplo, mudou a literatura infantil no Brasil; quiçá no mundo. Apesar de ter conservado a forma da época de ver e de viver no mundo, ele inovou na forma de escrever para crianças. Fazendo-a deixar de ser pedagógica para ser arte, literatura de verdade. E Machado de Assis, assim como Shakespeare, Grimm e etc., foi um antropófago literário. Dom Casmurro, por exemplo, tem influência da tragédia shakespeariana “Otelo, o Mouro de Veneza” e enriquecida com a, digamos, pesquisa que fez sobre a psicologia. Não sei se sabe, mas ele era estudioso dos grandes pensadores, principalmente dos de sua época. E tudo o que Machado escreveu literariamente, tempos depois Jung escreveu comprovando cientificamente.
- É... talvez! Mas como você disse, Dom Casmurro foi cópia...
- Eu não disse “cópia” e sim “inspiração”. São duas coisas diferentes. Dom Casmurro não é cópia de Otelo. Não mesmo. Além de ter sido psicologicamente bem mais aprofundada, o desenrolar e o final foram distintos. Em Otelo, Desdêmona foi inocentada no final enquanto nunca saberemos se Capitu era adúltera ou não. Olha que fascinante isso, rapaz! O drama em Otelo teve um fim, mas em Dom Casmurro continuará para sempre. Arrepio-me com isso. Arrepio-me ao pensar que nossa vida nunca será conhecida integralmente pelos outros. Arrepio-me de susto e gozo.
- Estavam bons os coquetéis? – Pergunta Marcelo. – Querem outro?
- Sim! O meu, pelo menos, estava muito bom. Faça outro, por favor. De outro sabor.
- Também gostei. Mais um e diferente também.
- Bem! Que você está fazendo aqui? Por que me deixou em casa e não me chamou?
- Huuum!
Cult e eu nos entreolhamos e o bem-te-vi ri na dama da noite.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Robinson A. Pimenta, Rosangela F. Sulidade, Carlos Alberto, Josmar D. Ferreira, Marcelo Ferreira, Guebel Stevanovich, Léo Coessens, Beto de Faria, Tiago Costa, Deivid Paula, Renato Gonçalves, Geraldo Valentim, Sinésio Bina, Adê Araújo, Alysson Jhony, Filipe Boanerges, Eloy Santos e Vinícius Cabral.

Recomendo a leitura de Dores, de Pedro Du Bois; e Pomar, de Karine Faria. Respectivamente nos endereços:

BRENMAN, Ilan. Através da Vidraça da Escola: formando novos leitores. – 2 ed. – Belo Horizonte: Aletria, 2012, p. 39.
SCHAMI, Rafik. Narradores de la Noche. Madrid: Siruela, 1999.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 15 de junho de 2014 e 18 de maio de 2015.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A HISTÓRIA FICA PARA OUTRA VEZ

LA HISTORIA ES PARA OTRO MOMENTO


Obax nafisa.
Parabéns a todas as mamães, neste e noutro mundo.

- ¿Por qué te pasas la noche contando historias por tan poco de dinero?
- Por lo premio que dan los oyentes: el placer de convertir a leones adultos en niños fascinados. Ningún oro del mundo iguala la dicha de vivir eso milagro en los ojos de los oyentes.
(SCHAMI, 2012, p. 131)


Em português

galo
cantor
sol
despertou
céu
colorido

O início da manhã foi assim. Depois as árvores e o vento conversavam, as flores e as borboletas se beijavam, os pássaros e as frutas se namoravam. No entanto, do meio ao fim, a tarde foi muito chata. O sol quente não deixou ninguém quente. Se é que me entende...
Mas, em tempos passados... Tempos não muito distantes a branca Luana, uma botânica pesquisando as flores do Tocantins, se incomodava pela cultura regional está infectada pela cultura estadunidense. Depois de um curto descanso ela foi ao Rio Tocantins, em um lugar margeado por samambaias variadas e escreveu uma aldravia
rabisco
crian’sol
desperto
 brinca
colorindo
céu

Um barulho. E sentado na pedra no meio das águas estava um belíssimo índio de linda voz, de penas brancas em suas canelas, em seu quadril (escondendo o que ela queria ver), em seus pulsos e, de modo nunca visto pela botânica, em sua cabeça, tampando-a toda.
Ele sorri e Luana também.
- Meu nome é Yujaci.
- Espinho da lua?
Ele sorri, nada até a branca, sai da água impressionando-a.
- Seu… – olha a cintura y ruborizada levanta os olhos – Ah... o cocar esconde sua cabeça quase toda...
Sorrindo, estende-lhe a mão, os dois voltam à pedra e dormem. Mas, no presente ano... O sol quente não deixou ninguém quente.
lagarta
no
coração
elas
querem
asas

- ... aprendi com Dona Flor, uma raizeira e parteira, que água é a mãe da cura e...
- Professor, Yuty, que é aquilo?
- É o boto rosado!
- O que é boto?
- É a palavra brasileira para golfinho de água doce. São raros, acredite. Vê-lo é um presente que recebemos de Urupianga, o deus dos animais. E conhecer um... é uma dádiva para as mocinhas.
- Fale mais sobre o Urupianga, professor. – Pede Rosinha.
- Urupianga é um deus muito bonito, moreno, alto, de ombros largos. E os animais gostam muito de escutar sua voz, acariciar suas costas e trançar seus cabelos.
- E há um deus para as plantas, para as flores? – Pergunta Pedrinho.
- Sim, há. Ele se chama Calamantam, o deus das árvores. Ele é muito tranquilo. E sabem o grande presente que ele dá às plantas? Paciência! Paciência para viverem tranquilas e esperarem o futuro impassivelmente.
- E deus das pedras... Deus das nuvens... Deus disso... Deus daquilo… Deus de… – Perguntam Carlinho, Paulinho, Joãozinho e outros meninos. São crianças de Angola e Moçambique em excursão na Floresta Amazônica.
- Professor Yuty! Fale mais um pouco sobre o boooto, por favor. – Pede Mariazinha.
- É! Fale mais sobre o folclore brasileiro...
- Folclore não, Robinho. Mitologia! Folclore é um modo de menosprezar ou não valorizar a cultura latino-americana. Mas não hoje.
- Ah, professor! Queremos agora...
- Amanhã! Amanhã falaremos mais sobre a mitologia brasileira. Hoje vamos continuar olhando o boto antes que suma. – Passados alguns minutos o boto para de se exibir e brinca de esconde-esconde nas águas. – Ah! Vejam que linda samambaia. E olhem aquela orquídea.  – Enquanto as crianças se encantam, Yuty fecha os olhos, tira o boné, coça o furinho em sua cabeça e, em seu coração, ele vê Luana, sua mãe. Ao mesmo tempo uma chuva de flor de pequi cai sobre eles.


En español

gallo
cantante
sol
despierto
cielo
colorido

La mañana temprana fue así. Después los árboles y el viento se charlaban, las flores y las mariposas se besaban, los pájaros y las frutas se enamoraban. No obstante, la tarde, de su medio hasta al fin, se ocurrió aburrida. El sol caloroso no dejó nadie caliente. Se es que me entiende…
Pero, en años poco remotos… la blanca Luana, una botánica pesquisando las flores del Tocantins, se enfadaba por las culturas regionales brasileñas si infectaren con la cultura de Estados Unidos. En un rato de descanso fue al Río Tocantins, en un sitio marginado por helechos variados y escribió una aldravía
garabato
niño-sol
despierto
juguetea
coloriendo
cielo
Un sonido. Y sentado en una piedra en el medio de las aguas estaba un hermoso indio de linda voz, de plumas blancas en sus canillas, en su cadera (escondiendo lo que ella quería ver), en sus puños y, de modo nunca mirado por la botánica, en su cabeza, tapándola toda.
Él sonreír y Luana también.
- Mí nombre es Iuyací.
- ¿Espino de la luna?
Él sonreí, nada hasta la blanca, sale del agua impresionándola,
- Su… – mira el cuadril y ruborizada levanta los ojos –  ah… el cocar oculta casi toda su cabeza…
- Sonriendo, extiéndela la mano, los dos retornan a la piedra y duermen.
Pero, en el año presente… El sol caloroso no dejó nadie caliente.
oruga
en el
corazón
ellas
quieren
alas

- … aprendí con Dueña Flor, una curandera y partera, que agua es la madre de la cura y…
- Maestro Yuty, ¿qué es aquello?
- ¡El boto rosado!
- ¿Qué es boto?
- Es la palabra brasileña para delfín de agua dulce. Son raros. ¡Crea! Verlo es un regalo de Urupianga, el dios de los animales, para nosotros. Y conocer uno… es una dádiva para las muchachas.
- Hable más sobre Urupianga, maestro. – Pide Rosita.
- Urupianga es un dios guapo, moreno, alto, de hombros anchos. Y a los animales les encanta escuchar su voz, alisar sus espaldas y trenzar sus pelos.
- ¿Y hay un dios para las plantas, las flores? – Pregunta Paco.
- ¡Sí, hay! Él se llama Calamantán, el dios de los árboles. Es mucho sereno. ¿Y saben lo gran regalo que él dona a las plantas? ¡Paciencia! Paciencia para vivieren tranquilas y esperaren el futuro impasiblemente.
- Y dios de las piedras… Dios de las nubes… Dios de eso… Dios de aquello… Dios de… – Preguntan Carlito, Pablito, Juanito y otros niñitos. Son chicos de Uruguay y Perú en excursión en la Floresta Amazónica.
- ¡Maestro Yuty! Charle más sobre el boooto, por favor. – Pide Marietita.
- ¡Sí! Hable más sobre el folclore brasileño…
- Folclore no, Robito. ¡Mitología! Folclore es una manera de menospreciar o no valorar la cultura latinoamericana. Pero no hoy.
- ¡Ah, maestro! Queremos ahora…
- ¡Mañana! Mañana charlaremos más sobre la mitología brasileña. Hoy continuaremos mirando el boto antes que se va. – Pasado algunos minutos el boto no más se expone y juega al escondite en las aguas. – ¡Ah! Vean que lindo helecho. Y miren aquella orquídea. – Mientras los niños se encantan, Yuty cierra los ojos, saca el pequeño sombrero, rasca el agujerito en su cabeza y, en su corazón, él ve Luana, su madre. Al mismo tiempo una lluvia de flor de pequí cae sobre ellos.


Ofereço aos aniversariantes
Nancy N. Maestri, Camila Rodrigues, Janete Reis, Valdir do Carmo, Railson Silva, Marilene Vitor, Rossana Alves, Elisangela Guilherme, Joneisson Araújo, Marceli Pereira e Mariana Mamede.

Recomendo a leitura de Aborto, de Karine Faria:

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

SCHAMI, Rafic. Narradores de la Noche. 6ª ed. Madrid: Siruela, 2012.

Sobre Dona Flor:

Escrito originariamente en español y entre los días 07 de junio de 2014 y 27 de abril de 2015.

He contado con la ayuda de Luis Gonzáles. Pero como él no conoció el texto en la íntegra, se ocurrir algún error la culpa es solamente mía. Entonces, pido que perdónenmelos.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

CHEIRO DE HISTÓRIA

OLOR DE HISTORIA


Obax nafisa.


New widowed is as unripe firewood.
She cries, but she catches fire.

Em português

Você e eu estamos à sombra na barraca do Marcelo. Ao redor tem muitas árvores; umas com flores e outras só com folhas. Mas aaah! Da vegetação vem um cheiro bom de histórias... Ou talvez o perfume venha de uma laranjeira existente em minha imaginação. Todavia, na mesa seguinte, bem à nossa frente, há um homem de trinta anos. Ou mais ou menos. Camisa branca, de mangas cortadas e escrito “Fuck you White Metal”. Seus longos cabelos têm três cores naturais. Preto, marrom e louro. Não me parecem limpos, mas também não estão sem lavar a mais de três ou quatro dias, acho. No fim das contas seu semblante parece um misto de Simpsons e busto medieval da proa de navios.
Roberto quer esquecer o chefe chato que lhe disse ser dispensável. E ele não é e nem se sente inútil. E sabe fazer as coisas. Então dá o seu melhor e canta a vendedora de água de coco que bebe caipirinha. Mulher de pele marrom e falsos cabelos lisos marrons com preto e minha vizinha que perdeu o marido para a penitenciária do Ipaba (MG).
O papo dele a cativa. Arrazoam sobre músicas sertanejas (que ele “gosta”... Rerrê) e aversão ao futebol. Conversam, conversam e falam do capitalismo mais a pobreza de alguns. E falam, falam e conversam até o fim do Feirarte.
E vão para a casa dela. Sem ele saber que fora seduzido e abduzido. Mas só Deus sabe para onde e por quê.


En español

Tú y yo estamos a sombra del quiosco del Marcelo. Alrededor tiene muchos árboles. Unos con flores y otros solamente con hojas. ¡Pero aaah! De la vegetación viene un excitante olor de historias... O tal vez el olor venga de un naranjo existente en mí imaginación. Sin embargo, en la mesa prójima, a nuestra frente, hay un hombre de treinta años. O más o menos. Camisa blanca con mangas cortadas y escritas “Fuck you White Metal”. Su largo pelo tiene tres colores naturales. Negro, marrón y rubio. A mí no parece limpio, pero también no está sin lavar a más de tres o cuatro días, lo creo. En fin de cuentas, su semblante parece un misto de Simpsons y busto medieval de proa de navíos.
Roberto quiere olvidar del aburrido jefe que lo dice ser uno dispensable. Y él no lo es y ni se siente inútil y sabe hacer las cosas. Entonces él da lo mejor de sí y echa un piropo a la vendedora de agua de coco que bebe caipirinha¹. Mujer de piel marrón y falsos pelos lisos marrones con negro y mi vecina que perdió el marido para la penitenciaria de Ipaba (MG²).
La charla de él la cativa. Discuten sobre músicas sertanejas³ (que a él “le gustan”… Jejé) y aversión al fútbol. Platican, platican y hablan del capitalismo más la pobreza de algunos. Y charlan, charlan y platican hasta el fin del Feirarte.
Y se van para a casa de ella. Sin él saber que fuera seducido y abducido. Pero, solamente Dios saber para donde y por qué.


Ofereço como presente de aniversário a:
Mariana Porto, Carol Galdino, Juliano Fernandes, Geane S. Oliva, Tatiane Pereira, Vera L. Buzo, Ju Ferraz, Diogo Henrique, Anul Naull, Newton L. Gomes, Flavio Cezar, Rejane Balmant e Carlos Aldair.

Recomendo a leitura de O rubor que me causas, de Karine Faria; e O Curupira, de Bispo Filho.

¹ Caipirinha (la pronunciación es caipiriña) es una bebida brasileña hecha con aguardiente, limón y azúcar refinado.
² MG es una provincia brasileña. Su nombre es Minas Gerais y es la más rica en cultura e historia.
³ La música sertaneja es un estilo musical brasileño heredado de la “música caipira” y de las modas de violas. Se caracterizan por sus melodías sencillas y melancólicas. Puede ser relacionada con “la música country” por ser conocida como “música do interior”.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre 06 de janeiro de 2014 e 04 de maio de 2015. E por gentileza, perdoa-me qualquer erro de espanhol.