Obax anafisa.
“Orientar o olhar para as pedagogias diferenciadas ou cooperativas significa compreender que elas só têm força se provocarem, no espírito do aluno e no dos professores uma outra construção de sentido. O sentido do trabalho, dos saberes, das situações e das aprendizagens escolares é algo construído com base num conjunto de valores e representações e numa situação de troca de interações”¹.
“a prática real da sala de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são diferentes, experiências de vida são distintas, perfis cognitivos e conhecimentos são diversos”¹.
Sábado de manhã, muito de manhã, uma vaquinha, minha vaquinha branca com manchas pretas anda pelas ruas do Centro de Ipatinga. Um estouro de carro a assusta e ela entra na empresa Linnet, na frente de um trator que, surpreso, a persegue. Entre risos consigo salvá-la.
Mas
O humano é um ser vário. Cada qual com sua posição no mundo, que lhe permite ver de um modo único. Cada qual com sua história pessoal que lhe permite contar estórias pessoais. Cada qual com uma educação\formação diferenciada moldando-lhe de modo exclusivo. Portanto, o modo de ensinar não pode ser único para todos. Por mais parecidas que sejam duas pessoas sempre há distinções entre elas.
Assim, eu, enquanto artista-educador, entendo que o aluno (seja da educação formal ou alguma outra) não pode assistir aulas sem modificar algo em si e muito menos possa encerrar o ano letivo do mesmo modo que começou. E minha referência a mudar não é apenas conhecer melhor a gramática, ortografia ou técnicas de redação (no caso do português, por exemplo). É desenvolver-se enquanto ser em paralelo aos conhecimentos da matéria\disciplina. Assim eu faço. E entre minhas formas de trabalhar (dou aulas de iniciação teatral para adolescentes) ministro jogos e exercícios que desenvolvem os sentidos, as emoções, as sensações; que proporcionam a reflexão e discussão. O que chamo de jogo é um diálogo com o outro e exercício é uma conversa consigo mesmo; já as sensações são as percepções mais físicas, e emoções são as percepções sentimentais.
Por que os “monólogos corporais” (exercícios)? Porque o auto conhecimento e a auto aceitação são a chave para uma vida mais feliz, mais construtiva. Quem não se conhece nem se aceita não se abrirá para o outro, para o diferente. Por que os “diálogos corporais” (jogos)? Porque é a saída da teoria da convivência ou da aceitação do diferente (de como é outro) para a prática lúdica das mesmas.
Mesmo dando aulas de iniciação teatral nada me impede de trabalhar outras formas de perceber o mundo e de como se expressar. Por exemplo, ensinei haicai e colhi resultados agradáveis. Primeiro, ensinei as técnicas; depois fiz com que olhassem a paisagem (fomos para um pequeno parque próximo de onde dou as aulas) e se deixassem levar pelas emoções\sensações; por fim criassem o haicai. Abaixo, compartilho uma mostra do que criaram.
Sombra é vazia
Corrente para esconder
Vive no vazio
(Luan Luna).
Lago grande largo
Sensação de liberdade
Faz-me refletir.
(Mariana Oliveira).
Encerro nosso diálogo afirmando que toda disciplina escolar não deve ser vista em separado das demais. É preciso que o professor reconheça e aceite isso para poder ensinar os alunos como conectar uma informação com outra. Vejo que nossos jovens não sabem fazer isso. E nem são preparados a pensar... Apenas guardam, para depois perder, informações vazias e inúteis. Exemplo: quando ministrei aula sobre haicai nenhum dos adolescentes tinha a mais vaga lembrança do que eram sílabas tônicas e átonas. Foi preciso um esforço extra para entenderem o que eram e como usar tal informação. Ao perceber que eram sílabas “fortes” e “fracas” conseguiram transformá-las em informações ricas de possibilidades e úteis para uma criação artística. Também é preciso que os alunos não esperem que o professor os ensine, que o mundo os salve. É preciso que sejam ativos, que decidam fazer a diferença. Que vão e vençam!
Entre risos consigo salvar a vaquinha e a levo para casa. Na verdade, um apartamento. Subimos a escada. Vou para meu quarto e ela para a área transformada em curral. E você pergunta o que é isso? Que texto sem sentido é esse, com vaca e arte-educação? Desculpe. É como estou depois de um semestre na faculdade. Confuso e doido.
Escrito entre 13 e 19 de dezembro de 2011.
Ofereço como presente de aniversário à
Luciana A. Dalenda, Mayron Engel, Alison W. Martins, Dulce Araújo, Vander L. Devidé, Izauro T. Amorim.
Ofereço também à equipe sub-17 do Clube Atlético Mineiro que conquistou dia 17 de dezembro de 2011 o tricampeonato “Future Chanpions”.
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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você
O cronto e a ilustração são nossas flores para você
e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.
¹ ANDRÉ, Marli (Org.) – Pedagogia das Diferenças na Sala de Aula – Campinas, SP: Papirus, 1999 – (série prática pedagógica) – capítulo: O Projeto Pedagógico e as Práticas Diferenciadas: o sentido da troca e da colaboração, da pedagoga Laurizete F. Passos, páginas 108 e 110.