domingo, 29 de novembro de 2020

SÓ SE DÁ PRA ALGO AO EXPERIMENTAR A ARTE


“No acaso não acredito

Meu mordomo é Jesus

Pedi a Deus pra ser rico

E o peso do isopor na cruz”.

(Glaussim, Indiferença).

 

Era uma vez um anjo, desses que vivem na luz e nunca vieram à Terra. Até que chegou o grande dia. Mas esta história é mais pro final. Por enquanto falemos de sua experiência celeste.

De princípio não se deu pra ciência, pra filosofia nem para as exatas; não se deu pra nada, nada. Até que experimentou a arte.

 


Sem nenhuma ligação com os parágrafos acima ou abaixo digo que uma noite vestiu-se de ouro. Pôs uma saia de finas correntes e o Belo deu o ar de sua graça.

Gostou do teatro, da dança, do circo e compreendeu a ciência. Gostou da literatura – em prosa e verso – e filosofou. Gostou das pinturas, esculturas, fotografia, cinema e destrinchou a matemática e outras exatas.

Outra vez sem ligação com o que já foi dito ou será – exceto sobre a áurea veste – Vestiu-se outra noite – noite aqui na Terra, pois, como disse no princípio, este anjo só conhecia a luz. – Argenta veste em finas correntes e o Belo fez morada.

E foi na música que se deu pra tudo, tudo. Aprendeu com Bach, Vivaldi, Beethoven, Villa Lobos e veio ao planeta guardar novos músicos.

Conheceu e inspirou, entre tantos outros músicos do Vale do Aço, MG, Adê Araújo, Rubens Ramalho, Cleverton Nunes, Nívea Paula. A cada um destes e outros ajudou a produzir boas obras.

 


Outra vez sem ligação com o que já foi dito ou será – exceto sobre a luz –. Este anjo só descobriu as trevas quando conheceu Wagon Bágri. E este é o ponto central de nossa história.

Wagon é um músico de SP, estado-capital da boçalidade nacional. A princípio nosso anjo dedicou-se arduamente a orientá-lo e logrou alguns sucessos. Bágri experimentou vários grupos até montar um que durou uma década. Fazendo-o ter renome regional.

Infelizmente o rapaz foi interessando-se por drogas e se desinteressando pela arte. O anjo lhe aconselhou muitíssimo, mas Wagon, um cabeça de bagre, não lhe deu ouvidos.

Começou com algumas bem leves, mas foi perdendo a moderação e hoje é traficante e satanista.

Como traficante está envolvido com o crime organizado. Uma das mais temíveis facções: a RCC. Sendo um dos líderes locais da RCC promove guerrilhas contra outras facções; a IURDE é uma delas.

Essas facções sempre a promover mais vítimas e a conduzir o povo – principalmente os jovens, os mais desinstruídos ou ignorantes mesmo – às trevas muitas vezes irretornáveis.

É eleitor, apoiador e promotor de Boçalnato. Sobre isso não se precisa dizer mais nada, pois os fatos já dizem por si: é satanista burrista extremista. Adorador de pato amarelo... Quanta descapacidade.

Ainda quando era um neófito da destruição abandonou um amigo quando soube que ele poderia estar infectado pelo hiv. Mais tarde agrediu membros e comunidades inteiras de LGBTQI+.

Declarou seu amor pela ignorância ao insistir em usar termos corrigidos pelo Ministério da Saúde e pela OMS:

Não mais se diz homossexualismo, mas sim homossexualidade, pois o primeiro sugere fanatismo ou enfermidade e o segundo mostra que é característica do indivíduo. Não se diz aidético, mas portador ou doente de aids. O primeiro estigmatiza e o segundo socializa.

Covid-19 não é gripezinha ou resfriadinho, mas doença grave. O uso de máscara é essencial por ser solidário; mais protege o outro que a si.

- Nûmi importa o que dizem o MS nem a OMS. Meu cébru équi dicidi, ô meuô.

Entre essas e outras ações macabras o anjo não teve outra opção além de deixá-lo. Afinal existe alguma possibilidade do livre arbítrio existir...

O anjo voltou a dedicar-se aos músicos do Vale do Aço, pois estes sabem produzir qualidade.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Professora Iara, Júlia Nathálly, Lorrayne Sancar, Lauriene Pina, Paam Caetano, Patrick Castro, Art Ndf e Kerley H.M. Almeida.


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Recomendo a leitura de:

A antologia VERSOS ÁCIDOS DO VALE DO AÇO:

São dez os autores e um deles é este macróbio que vos fala. Para comprar seu exemplar pode procurar-me pelo watzap: 33998034325.


Imagens:

Anjo, por Erika Aviles;

Versos Ácidos, pelo autor.

 

Início da criação madrugada de 01 de agosto. Trabalhado entre os dias 25 e 29 de novembro. Tudo em 2020.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

DIA DE DEIXAR INCONSCIENTE (ou mortos) OS PRETOS

versos DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

 

 

Vitório

Seguiu a corrente dos inocentes.

A mais forte de todas

A mais fraca de todas.


 

Carolina María de Jesús miró preocupada por el agujero en la pared que servía de ventana y vio las más cercanas chozas; todas inmundas. Vio todavía un trozo del cielo gris que no anunciaba lluvia, pero retrataba el alma de acero bruto de Ipatinga.

Ella se levantó de la silla y fue a su único estante de libros; un fondo falso en el armario donde guardaba comida. Armario chico, pues solo ciudadanos tienen espacio para almacenar comida suficiente. Agarró su viejo Memorias del Cárcere, miró otra vez el agujero en la pared en búsqueda de algún chismoso, buscó un trozo subrayado y le leyó a sus hijos:

“… retrasando a los niños. El acto de retrasarlos era necesario.  Sin eso, como se poderían aguantar políticos zafados y generales analfabetos”.

Por eso insisto que aprendan algo. Para pudieren luchar contra los político y con las milicias. ¡Sepan! Nunca se dejen engañar. Todos que se aprovechan del Nombre de Dios para alcanzar algún cargo político es porque tienen como único plan de gobierno beneficiarse a sí mismo e a los Poderes Económicos; nunca al pueblo. Lo mismo puede decirse de los militares.

Miró el agujero en la pared. El buraco servía como ventana.

- Conocí su padre en la última elección municipal. Dos años después fue la última elección para presidente, gobernadores y para los legislativos estaduales y federales.

Miró por la “ventana”:

- Sabéis que no hay más partidos políticos; excepto el Alianza Por Brasil, número 38, pues era el número del calibre de la arma más conocida en Brasil. En 2019 Bozalnato creó un tablero con el número y nombre del partido. El tablero fue hecho con cartuchos de balas. “Pueblo armado, pueblo feliz” esa era y es la idea del partido. Sin embargo, APB pasó a ser el partido único en 2025. Desde entonces no hay más diferencias entre legislativo, ejecutivo y judiciario. No hay más concejales, diputados, senadores ni jueces. Es el presidente, el gobernador y el alcaide que ejecutan y bajo su comando hay dos víceles; uno se hace legislador y el otro de juez.

Mirando por ventana Carolina continúa:

En la Alemania Nazi dos profesiones si destacaron al apoyo al gobierno: los abogados y los médicos. Hoy la historia se repite. Aquellos que tienen mucho dinero no necesitan abogado; pero los pobres reciben uno para condenarlo. Y somos negros, hijos, somos negros. Por eso estudien, pues estarán solos. Los médicos no nos examinan con cuidado; de tu salud tendrán que cuidarse solos y luchar para conseguir alguna medicina. ¿Y creen que los abogados harán mejor? Será cada uno de vos contra ellos.

Guardó el libro, encostó en la pared el estante disfrazado de armario de comida y volvió a sentarse.

Los concejales, diputados y senadores no perdieron sus empleos, pasaron a ayudar en los juicios y creaciones de leyes. Siempre obedeciendo a los gobernantes de la ciudad, estado y país. Entonces jamás olviden: la derecha es contra-pueblo y la izquierda es pueblo. El centro no es contra ni a favor del pueblo, mucho al contrario… Y quien habla eso no soy yo; es la Historia, son los hechos.

Por la ventana no se escuchaba ni se veía nada ni nadie.

- En el discurso de pose, Gugudadá platicó “Salud y educación no serán privatizadas. Garantizo a todos.”. Su primero año de gobierno reformuló el sistema educacional y de salud. El año siguiente, para ser atendido en las unidades de salud cada familia debería pagar anualmente seiscientos reales parcelados en doce veces. En 2023 la mensualidad aumentó para setenta y cinco reales. – Carolina quería beber agua para tranquilizarse, pero se lo hiciera sus hijos se quedarían sin agua. Entonces continuó con la boca seca. Para estudiar el precio eran veinticinco reales en 2022 y cincuenta reales en el año siguiente. En 2024. Pensando en los votos del pueblo no aumentaron las mensualidades. Sin embargo, nunca más ocurrió otra elección municipal y Gugudadá continua alcaide hasta hoy.

En 2023 Bozalnato entregó Brasil a los cuidados de EEUU. Bozalnato es solo un presidente títere. Educación, salud, energía eléctrica, agua, saneamiento… – ¡Todo! – es privado. Dos años después nuestra moneda pasó a llamarse Dólar Brasileño. Y los derechos civiles fueron extintos. Lo mismo ocurrió en fechas distintas con toda América Española. Latinoamérica ahora es conocida como South American Trash.

A cada charla Carolina miraba se veía algo por el agujero en la pared. Pero no pensara que la ligarían a su marido “desaparecido” un par de días atrás.

Del nada, sin ningún señal que no fuera el silencio en el gueto. Silencio que la familia no percibiera. Y silencio en gueto es peligroso… La puerta es derribada por grandotes con uniforme de la legalizada milicia.

De Carolina, gritos de miedo y rabia. Alboroto de los móviles, platos, ollas siendo rotos. Un puñetazo en Carolina se siguió a descubierta de los libros.

De los hijos, gritos de dolor y miedo. Sus ropitas viejas amarillaron de orina.

Vitorio, el perro viejito y ciego, flaquito por la edad, gruño agresivamente para los intrusos que no veía. Uno de los brutos le pateó y lo estrelló en la pared; dejando rotos sus frágiles huesitos, rompiendo órganos y haciéndole salir sangre por la boca. La carcajada del monstruo fue el único sonido que salió de ellos.

Carolina fue llevada sangrando no se sabe donde.

Los niños, lastimados, fueron llevados a la Casa de los Huérfanos de Terroristas. ¿Será necesario decir que terrorista es el nombre que reciben los militantes de los derechos humanos?

Y la pregunta que Carolina se hiciera anoche, o dos semanas pasadas, antes de empezar ese cruento: “¿Mi hijo estudiaría o trabajaría?”. Usted ya tiene la respuesta. Y las dudas que ella tenía acerca del destino del marido Carolina descubrió en el propio cuerpo.

Domingo arreglaron la choza para nuevos miserables. Lunes cambió una nueva familia. Por curiosidad el marido se llama Juan Pablo Sastre y la esposa Symone de Buvoar.

 

Para bem ler este cronto recomendo, se possível, que leia ou releia:

Não sei como viver:

http://artedoartista.blogspot.com/2020/11/nao-sei-como-viver.html

Marco do saneamento (primeira parte do cronto abaixo):

http://artedoartista.blogspot.com/2020/11/marco-do-saneamento.html

 

Carolina Maria de Jesus olhou preocupada pelo buraco na parede que servia como janela e viu os mais próximos barracos; todos imundos. Viu ainda um pedaço do céu cinza que não anunciava chuva, mas retratava a alma de aço bruto de Ipatinga.

Ela se levantou da cadeira e foi à sua única estante; um fundo falso no armário onde guardava comida. Armário pequeno, pois só cidadãos têm espaço para armazenar comida suficiente. Pegou seu velho Memórias do Cárcere, olhou outra vez para o buraco na parede a procura de algum alcaguete, buscou um trecho sublinhado e leu para os filhos:

“... emburrando as crianças. O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam aguentar políticos safados e generais analfabetos”.

- Por isso insisto que aprendam algo. Para poderem lutar contra os políticos e com as milícias. Aliás, nunca se deixem enganar. Todos aqueles que se aproveitam do Nome de Deus para eleger-se é porque tem como único plano de governo beneficiar a si mesmo e aos Poderes Econômicos; nunca a população. O mesmo pode ser dito de militares.

Olhou para o buraco na parede. O buraco que servia como janela.

- Foi no dia quinze de novembro de 2020 que conheci seu pai. Estávamos na mesma fila eleitoral. A última para prefeito e vereadores. Dois anos depois foi a última para governador, presidente e para os legislativos estaduais e federais.

Olhou bem para os filhos e continuou:

- E quem foi que o povo escolheu? Podíamos votar em Robinson Ayres, pelo PSOL, em Diego Arthur, pelo PCB ou até em João Magno, pelo PT. Estes partidos não existem mais; foram proibidos pelo atual governo. Mas não, nenhum deles fora eleito. Verdade seja dita, se a esquerda tivesse ganho teria que enfrentar o Poder Econômico Internacional... – Uma pausa acrimoniosa. – E o que o povo escolheu? Gugudadá! Do PSL. Como covarde que é e seguidor do exemplo do Boçalnato foi em um único debate e nada soube responder. Apenas gaguejava. Depois disso fugiu de todos os outros debates e só discursava em rádios; dizendo mentiras de forma agressiva. Era um medroso e continua o mesmo poltrão.

Olhou pela “janela”:

- Como vocês sabem, não há mais partidos políticos; exceto o Aliança Pelo Brasil, número 38, pois era o número do calibre da arma mais conhecida no Brasil. Em 2019 Boçalnato criou uma placa com o nome e número do partido feitos de cartuchos de balas. “Povo armado, povo feliz” essa era e é a ideia do partido. Mas APB só se tornou partido único em 2025. Vocês também já sabem que não existem diferenças entre legislativo, executivo e judiciário. Não há mais vereadores, deputados, senadores nem juízes. É o presidente, o governador e o prefeito que executa e baixo seu comando há dois vices; um se faz de legislador e o outro de juiz. 


Olhando pela “janela” Carolina continua:

- Na Alemanha Nazista duas profissões se destacaram no apoio ao governo: os advogados e os médicos. Hoje a história se repete. Quem tem muito dinheiro não precisa de advogado; quem é pobre recebe um para condená-lo. E somos pretos, filhos, somos pretos. Por isso estudem, pois serão vocês, sozinhos. Os médicos não nos examinam direito; vocês terão que tratar-se sozinhos; lutar para conseguirem algum remédio. E acham que os advogados farão melhor? Serão vocês contra eles.

Guardou o livro, encostou na parede a estante de livro disfarçada de armário de comida e voltou a sentar-se.

- Em 2020 o povo podia ter pensado em Maura Gerbi, Lene Teixeira e Daniel Cristiano para vereadores. As duas primeiras, apesar do histórico de luta pela sociedade foram recusadas. Daniel foi o segundo mais votado (1990 votos), mas não pode assumir porque o importante era a legenda, o grupo que fazia parte, não o candidato ou sequer a quantidade de votos recebidos. Em contrapartida, uma tal de Maressa Cristina, que teve zero votos, ficou como suplente. – Ri acre e: Nem ela votou nela... Maressa tinha apenas o ensino médio completo. Sua proposta de governo era “O Pai enviou o Filho para ser o Salvador do Mundo. Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus o fará comandar onde está. Eu confesso! Deus está em mim e por Ele farei o povo cristão. Exterminarei os budistas, os hereges muçulmanos e os demoníacos macumbeiros”. Maressa continuou sem estudar. Não assumiu o cargo de vereadora, mas desde 2022 é a professora de Religião da Escola São Francisco Xavier, no bairro Cariru. Na minha época professores tinham baixos salários e eram desrespeitados. Mas hoje é profissão para atender rico. E ai de quem tentar ensinar quem não pode pagar. Eles desaparecem...

Olha para o velho cachorrinho que ganhou do marido quando casaram, sorri por um segundo e retoma a palavra.

- Ah, filhos! Já falei só Deus sabe quantas vezes os nomes dos escolhidos pela cidade. Os monstros foram dois do PP: Chiquinho (com 2009 votos) e Vevê (Avelino Cruz); dois do PSD: Ley do Trânsito (com 1930 votos) e Daniel; dois do Cidadania: Fernando Ratzke (com 1773 votos) e Toninho Felipe; uma do Patriota: Professora Mariene (com 1682 votos); dois do PSC: Coronel Silvane Givisiez (com 1672 votos) e Wellington da Floricultura; um do DEM: Ademir Cláudio (com 1466) votos; um do PSDB: Hermínio Bernardo (com 1057 votos); um do Pode ou Podemos: Tunico (com 1033 votos); um do PSL: Zé Terez (com 776 votos); os partidos PTC e Avante tiveram, no total três vereadores: Ney Professor (com 1232 votos), Vianei e Nivaldo Antonio; e um do PNN: Adiel Oliveira (com 1387 votos). Estes e outros sujos continuam até hoje.

Ficou alguns segundos em silêncio para os filhos digerirem tudo o que ela falara.

- PTC e Avante eram partidos de Centro-Direita. Ou seja, por cima do muro, ou contra o povo ou ambas as coisas.

Sua voz ficou rouca de angústia, mas não parou:

- Digo ainda, filhos, que em 2017 e 2020 Adiel Oliveira, Márcia Perozini, Toninho Felipe, Ademir Cláudio, Paulo Reis, Vanderson Autotrans, Andrade, Franklin Meireles, Gilmarzinho, Luiz Márcio, Adiel Oliveira, Jadson Heleno, Cassinha Carvalho, Masinho, Rogerinho, Tunico, Adelson Fernandes, Avelino Cruz, Fábio Pereira, Chiquinho, Gustavo Nunes, Rominalda Paula, Nilsin Transnil, Toninho Felipe e Ley do Trânsito se demonstram inimigos do povo ao aprovarem o aumento da taxa de esgoto, apoiaram uma moção de aplausos ao Boçalnato entre outras barbaridades. E eles ou seus filhos continuam assumindo cargos diversos.

- Em 2020 Cassinha tentou sem conseguir eleger-se vice-prefeita junto com Nardielo Rocha; e Chiquinho teve o maior número de votos para vereador. Mas o que vocês nunca devem se esquecer é: A direita é antipovo. O centro ou o centrão não são contra nem a favor do povo; muito pelo contrário... – Outro riso ardido.

- A esquerda é povo. A direita é antipovo. E quem diz isso não sou eu; é a História, são os fatos. Ipatinga só elegeu duas vereadoras da esquerda, ambas do PT: Cecília Ferramenta; não era grande coisa, mas pelo menos não era da direita. E votou, o que foi muito bom, em Cida Lima, professora que não usou seu cargo, sua profissão para enganar o povo: “vote em mim porque sou professora!”. Quem faz isso, aproveitar-se do cargo ou profissão, é militar e padres ou pastores. A Cida teve 1734 votos. Imagine o que aconteceram com elas nos anos seguintes...

- Em sua posse, dia primeiro de janeiro de 2021, Gugudadá declarou entre outras coisas: “Só saúde e educação não podem ser privatizados. Mas podem ser subsidiados. Prestarão o serviço e receberão do meu governo. E eu as garantirei ao povo.”. E quantos otáries creram nisso e repetiram sorridentes. Porém, em 2021 a Secretaria de Educação de Gugudadá dedicou-se em reformular o ensino e o mesmo fez a Secretaria de Saúde. Em 2022 foram implantando o sistema de subsídio educacional e o da saúde.

Engoliu um soluço e continuou.

- Para ser atendido nos postos de saúde cada família deveria pagar anualmente seiscentos reais; parcelados em doze vezes. Cada atraso no pagamento tinha juros e multas. Em 2023 a mensalidade passou a ser de setenta e cinco reais. – Carolina queria beber água para se acalmar, mas se fizesse isso os filhos ficariam sem. Então continuou com a boca seca: Para estudar, o povo colaborava com a – rarrá – simbólica quantia mensal de vinte e cinco reais para cada filho. Em 2023 a quantia simbólica mudou para cinquenta reais. Em 2024, pensando em reeleição, conservaram os valores da saúde e da educação. Eleição que nunca aconteceu e Gugudadá continua prefeito até hoje. Os vereadores perderam os seus cargos, mas continuam recebendo salário para ajudarem o prefeito e os vices em seus governos...

- Como a maioria absoluta das cidades votou na direita em 2020 e o mesmo fizeram os estados e o país em 2022. E, notem bem, estas foram as duas últimas eleições permitidas no Brasil. A direita entregou tudo, absolutamente tudo, aos Poderes Econômicos internacionais.

Em 2023 Boçalnato entregou o Brasil aos cuidados dos Estados Unidos. E o suposto fantoche que era, oficializou-se. A educação, a saúde, a energia elétrica, a água e o saneamento... – Tudo! – Passou a ser claramente privado. Dois anos depois nossa moeda passou a chamar-se Dólar Brasileiro. Os direitos civis foram cancelados.

- O que aconteceu aqui não foi fato isolado. A América espanhola sofreu os mesmos golpes e toda a América Latina passou a ser conhecido no mundo como South American Trash ou SAT.

A cada fala Carolina olhava pelo buraco na parede. Mas não pensara que a ligariam ao seu marido “desaparecido” alguns dias atrás.

Do nada, sem nenhum sinal além do silêncio na favela... Silêncio que passara desapercebido pela família. E o silêncio na favela é perigoso... A porta é arrombada por grandalhões com o uniforme da legalizada milícia.

De Carolina, gritos de medo e raiva. Barulho dos móveis e utensílios sendo quebrados. Um soco em Carolina seguiu-se à descoberta da estante com livros.

Dos filhos, gritos de dor e medo. Suas roupinhas velhas amarelaram de urina.

Vitório, o cachorro velhinho e cego, magrelo pela idade, rosnou agressivo para os intrusos que não via. Um dos brutos lhe deu um chute que o chocou na parede; quebrando seus ossos frágeis, rompendo órgãos e fazendo sair sangue pela boca. A gargalhada do monstro foi o único som que saiu deles.

Carolina é levada sangrando não se sabe para onde.

As crianças, machucadas, são levadas para a COT – Casa dos Órfãos de Terroristas –. Será necessário dizer que terrorista é o nome que dão aos militantes dos direitos humanos?

E a pergunta que Carolina se fizera na noite anterior, ou duas semanas atrás, antes de iniciar este cronto: “Meu filho estudaria ou trabalharia?”. Você já tem a resposta. É só pensar um pouco... Assim como as dúvidas sobre o que acontecera ao marido Carolina descobriu no próprio corpo.

Domingo arrumaram o barracão para novos favelados. Segunda-feira mudou uma nova família. Por curiosidade o marido se chama João Paulo Sastre e a esposa Symone de Buvoar.

 

 

Ofereço como amargo presente aos aniversariantes:

Rubens Ramalho, Edilaine S. Peres e Gunther Estebanez.

 

Recomendo a leitura de:

“Jornal Patriotal”, de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/7114580?fbclid=IwAR2DX10ansT1XPKogsukNPt9pJUJ8FHrPUJij2BSrnc2q5uXnr4lcaZe4i8

Versos Ácidos do Vale do Aço” é uma antologia poética que nasceu do desejo de tornar o vale menos cinza. A obra foi escrita por dez poetas. Apoie a literatura e encha sua vida de poesia!

Pré-venda:

http://wa.me/553198986-5821

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem:

Aliança pelo Brasil:

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/alianca-pelo-brasil-tera-numero-38-nas-urnas-e-pode-so-disputar-em-2022-diz-bolsonaro.shtml

Foto do Vitório, por Erika Aviles.

Não me recordo o ano que “adotei” Vitório; ele já era adulto, mas jovem, mas não sei a idade dele; creio que uns doze anos. Era brincalhão, sem ser bagunceiro, mais para tranquilo. Gostava de dormir sozinho no sofá e passar as manhãs e tardes perto de mim.

No início deste ano levei-o à veterinária que cuida dos meus cãozinhos, pois ele estava muito magro e com catarata. A médica disse que a magreza era por ser velhinho e não fazia sentido operar a catarata: era perigoso pela idade, a visão é pouco importante para cães e por tudo isso seria um desperdício ou gasto desnecessário de dinheiro. Doeu-me!

Sempre saia de manhã, no almoço e de tarde com ele, Florbela e Federico; este último morreu de velhice agravada pela leptospirose na manhã de 12/5/20. Chorei.

Ontem alguém esqueceu o portão da rua aberto e Vitório saiu sem ninguém perceber; cego foi atropelado. No meio da rua manchas de sangue; com dor e medo, imagino, arrastou-se até a calçada e morreu. Preciso dizer como me sinto?

Coloquei-o nessa história como homenagem. Talvez inútil homenagem, mas meu coração quer que saiba como ele era enquanto existiu.

 

Escrito entre os dias 20 e 22 de novembro de 2020.

sábado, 14 de novembro de 2020

NÃO SEI COMO VIVER

  

En un charco de agua en la acera un hombre se lava las manos, se lava la cara, bebe el agua.

 

Tal vez hasta me amen, pero no creo que me quieran y no espero eso. Más, sé que soy visto como embaucado por casi la totalidad de las personas. Sé que muchos que vivieron en mi casa solo desfrutaban de las comodidades.

De todos los que vinieron y de todos los que todavía vendrán me es indiferente los sentimientos de ellos por mí y los recibo por fraternidad; más, es porque son artistas callejeros. Esa es la verdad. Los quiero sin buscar reciprocidad.

Acepto las diferencias de costumbres, ideas y comportamientos. Sin embargo, se son dañosos los tiro a la calle.

El deseo de este tonto es colaborar con las artes callejeras. También con los artistas; pero más que a los artistas apoyo a las artes. Pero nunca me olvido que solo existen artes por causa de los Artistas que la producen; por eso recibo y valorizo los artistas. Mismo que mi cara parezca a de un necio.

 

Un adicto me pide para fritar un paquete de chorizo. Lo frité. El olor era nauseabundo. Le di al tipo y no sé se hice mal o bien. La comida estaba podrida pero el tipo estaba hambriento. ¡Hambriento! No era apetito. No sé qué es hambre, sino el apetito sin esperanza. Qué es peor, ¿dar aquella comida o dejarlo con hambre? No consigo elegir cuál de mis acciones sería mejor: recusar o hacerlo.

 


Dentro do ônibus em Coronel Fabriciano vejo uma poça d’água na calçada. Nela um homem lava as mãos, lava o rosto e bebe sua água.

Durante o caminho até Ipatinga penso e repenso:

Não acredito que me amem e não espero isso. Mais, sei que sou visto como otário por quase a totalidade das pessoas. Sei que muitos que viveram em minha casa apenas se aproveitaram das comodidades. É-me indiferente os sentimentos deles por mim e os recebo por fraternidade e por serem artistas de rua. Gosto deles e não busco reciprocidade. Aceito as diferenças de costumes, ideias e comportamentos. Mas se são perniciosos os retiro de casa.

Este tolo só quer colaborar com as artes de rua. Também com os artistas; mas mais do que aos artistas apoio às artes. Contudo, nunca me esqueço que só existem artes por causa dos Artistas que as produzem; por isso recebo e valorizo os artistas. Mesmo que minha face pareça de um bobo.

Ao colocar a chave no portão de minha casa um usuário de crack me pediu para fritar um pacote de linguiça. Olhei para aquele pacote com uma cor horrorosa, um cheiro... Desinteressante.

Fritei a linguiça.

Meu Deus! O cheiro era insuportável; três vezes tive que ir ao banheiro para tentar vomitar. Vomitar é muito difícil para mim. Como minha garganta é estreita é muito difícil regurgitar. Além de ser uma agonia insuportável porque não consigo respirar.

A linguiça foi frita.

Levei para a pessoa. Não consigo atinar se fiz mal ou se fiz bem. Porque aquela comida estava podre, mas uma pessoa que está faminta... Faminta! Não é apetite... Nunca passei fome; não sei o que é fome.

Já fiz jejum! Mas jejum... em poucas horas se encerra. E mesmo se quiser pode-se burlá-la. Mas fome é apetite sem esperança.

Seria pior dá-lhe aquela comida que não podia estar boa em hipótese alguma ou deixa-lo com fome? Não consigo decidir o que teria sido pior. Se minha ação teria sido melhor recusando ou se foi pior fazendo.

Não consegui almoçar.

Soaram palmas no momento que peguei “Onde Aqui Rebentamos”, de Willian Delarte¹. Com o livro na destra fui ver quem me chamara. Sorrindo abri a porta e na sala-cozinha conversamos bebendo cerveja. Após as amenidades ele me diz:

- Lembro de lhe falar um dia de minha admiração pela sua escrita e sua produtividade. Confesso que não dou conta de acompanhar todo seu processo de escrita. Algumas vezes por ser muito efusiva e outras pelas muitas coisas que estou lendo e fazendo. Mas sempre que posso leio um pouco do que você produz.

Não digo nada além de levantar meu copo como num brinde e beber um gole da cerveja. E ele retoma a palavra:

- Admiro sua hospitalidade e o cuidado que tem com tantos... Praticamente estranhos em sua casa. Admiro sua generosidade. Admiro sua escrita.

- Agrada-me muito, muito mesmo, que goste do que escrevo. Quanto às pessoas que moram ou hospedam aqui não vejo generosidade alguma. Estou sendo sincero; sem nenhuma humildade, seja ela verdadeira ou falsa. Eles estão aqui porque é a forma que tenho de apoiar a arte. Para mim a arte é mais importante que o artista. Mas só existe arte porque tem artista. Então, recebendo-os estou apoiando as artes. É isso e não uma generosidade. É uma forma de colaborar com a melhoria do mundo. Não é generosidade, é divulgação da arte, ampliação da cultura. A arte e a educação são essenciais para mim. Acho que por isso trabalho com essas duas áreas: professor e artista, pois ambas são fragmentos da cultura.

Paro um pouco de falar, ambos bebemos um gole e retomo a palavra.

Minha arte é através da literatura; que apesar de serem consideradas diferentes... Dizem: “Arte é uma coisa e literatura é outra”. Mas a base das duas é o poiesis; aquilo que modifica a alma, que nos mexe. Então não vejo generosidade alguma; vejo apenas atuação! Talvez fraterna e solidária, mas não bondade e menos ainda caridade. Detesto esta palavra: caridade. Todos que dela se valem nada mais sentem que vaidade.

Minha boca silencia um pouco para nossos olhares dialogarem. Cantarolo um trecho de Sonífera Ilha “descansa meus olhos, sossega minha boca.²” e continuo:

- Vejo apenas atuação para que a arte avance e as pessoas prosperem na educação e com a literatura. É isso que trabalho.

Levanto-me da cadeira e vou a uma de minhas estantes. Pego o livro Memórias do Cárcere, busco um trecho sublinhado e o leio quando encontro:

“... emburrando as crianças. O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam aguentar políticos safados e generais analfabetos”.

- Por isso escrevo e leciono. Para que não precisemos aguentar políticos safados. Amanhã será eleição municipal. E o que o povo ipatinguense escolherá? A esquerda em uma dessas pessoas: Robinson Ayres pelo número 50, Diego Arthur, pelo 21 ou João Magno, pelo 13; um desses para prefeito? Maura Gerbi, Lene Teixeira e Daniel Cristiano para vereadores?

Pego um pequeno cacho de uvas na mesinha onde estamos e entre uma e outra digo:

- Ou escolherá a direita em candidatos dos partidos apoiadores do Boçalnato, que apoiaram o fim dos direitos trabalhistas, a privatização das águas e outras mazelas: Podemos (19), Patriotas (51), PSL (17), PSDB (45), PTB (14), PSC (20), Cidadania (23), MDB (15), DEM (25), PL (22), PSD (55), Novo (30) ou PP (11)?

- A esquerda é povo. A direita é antipovo. E quem diz isso não sou eu; é a história, os fatos.

Cada um pegou um pedaço de queijo para fazer algo enquanto pensa.

- Benito, quando falo em hospitalidade e cuidado com os artistas e com as artes isso você tem. Abrir sua casa e comprometer sua liberdade, sua intimidade. Tenho uma certa hospitalidade, mas prezo demais meu espaço. Quando falo de generosidade digo cuidar do mundo, das pessoas, da arte. Você diz que não é humilde, mas tem a essência dos poetas e dos místicos. Coisas que, enquanto psicólogo, sempre estudei.

O portão se abre e pela escada sobem os outros moradores calando nossos assuntos. A conversa agora é sobre o dia que tiveram.

 

 

Ofereço como presente a aniversariante Reny Aparecida,

 

Recomendo a leitura de:

“Homenzinho”, de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/poesias-do-social/7109500?fbclid=IwAR3BHHu8Pz5g8cC2ABE_ST4Rb_Ie_TYYUBUBVjPDBIjPBBx0VjqCiYnSN10

 

¹ Mais informações sobre como adquirir o livro: https://www.facebook.com/wdelarte

² Titãs: https://www.youtube.com/watch?v=T4zkb05tkms

 

Escrito entre doze e quinze de novembro de 2020.

domingo, 8 de novembro de 2020

MARCO DO SANEAMENTO

 A eleição "amelricana"

É a sensação contemporânea.


- Cidadão tem a ver com cidade -


Nossas eleições municipais

Não têm espaço nos jornais.



O final do ano de 2035 tem o céu particularmente cinza. Não tanto pelas nuvens do período de calor, mas principalmente pela poluição da Usiminas,  da Cenibra e da Arcilor Mittal.

O Leste mineiro não é a exceção à regra nacional, mas é excelente marcador da política instaurada em 2016, agravada entre 2019 e 2022 e continuada - sempre com o avanço das regressões - desde então.


Três noites sem dormir.

Quinta-feira o marido foi manifestar em frente a prefeitura Municipal de Ipatinga.

Poucos voltaram para casa. E o marido dela é um dos desaparecidos.

Nos telejornais e "feiqueneus":

"Baderneiros terroristas...".


Duas noites insones. No sábado Carolina Maria de Jesus levantou cedo como sempre. Foi ao balde aliviar-se e, sem poder lavar-se, fez o café ralo e acordou os filhos.

- Tem pão, mãe?

Perguntou a caçula.

- Não! Quatro pães custa dois mil dólares.

Em 2025 a moeda nacional passou a chamar-se dolar brasileiro. E na resposta à filha a umidade dos olhos enganou sem disfarçar a amargura dos olhos.

- Tomem o café pra gente estudar.

Até a adolescência de Carolina a educação podia ser pública. Ao contrário da mãe, os filhos não têm acesso à escola. Isso é só pra quem pode pagar e menos da metade da população atinge o patamar mínimo para luxos como educação, médicos, remédios, água limpa e saneamento.

E um dos fatores essenciais para chegar a esse nível está no nível de melanina.


Ah! Quantes acreditaram no discurso:

"Só saúde e educação não podem ser privatizados. Mas podem ser subsidiados. Prestam o serviço e recebem do governo, que as garantirá ao povo.".

Disseram Boçalnato, Zemagogo e outros governadores, deputados; e repetiram muites otáries.


Zemagogo conseguiu privatizar a CEMIG - agora Customig - na noite de 31 de dezembro de 2020.

O Cruzeiro indo pra série C era algo muito presente na cabeça de Atleticanes, cruzeirenses, nos demais torcedores mineires e fãs do futebol no Brasil inteiro.

No Brasil as eleições municipais de 2020 foram eclipsadas pela eleição para presidente nos Estados Unidos. O queridinho do Boçalnato, os Republicanos (extrema direita), ou os Democratas (uma esquerda de direita).

Ganhou o Democrata, mas como o argentino Daniel Paz mostrou em uma de suas charges, a diferença entre esses dois partidos é:

Los dos te bombardean igual, pero los demócratas después se sienten un poco mal.

Em Ipatinga a esquerda dispunha de Robinson Ayres (PSOL), Diego Arthur (PCdoB) e João Magno (PT) como candidatos a prefeito. E para Vereadores, Maura Gerbi, Lene Teixeira, Gabriel Miguel e Daniel Cristiano.

E no município deste cronto, quem foi eleito? Algum da esquerda ou algum da direita?

Se foi a esquerda teve que enfrentar o Poder Econômico internacional.

Se foi a direita entregou a cidade a esse mesmo Poder Econômico. Mas, verdade seja dita, não entregou de graça. Ganhou bastante pra isso. Ganhou muito dos centavos destinados ao "South American trash".

A COPASA fora privatizada em novembro de 2021. Agora seu nome é Copossepaga. Para isso, Zemagogo se aproveitou da preocupação do povo em ver o Atlético ir da primeira posição para a terceira na reta final do Campeonato Brasileiro.

Naquela época e hoje, o povo com os olhos no pão das festas e no circo do esporte não viu nem vê as coisas acontecerem.


Carolina é exceção. Todes preocupados em conseguir comida e água não se preocupam com a falta de escolas e assim que fazem cinco anos põem os filhes para trabalhar de sete as dezessete; não mais jovens nem por mais tempo porque é só o que permite a legislação brasileira.

Ela só os deixa na parte da tarde.

"Vocês têm que saber ler, escrever e calcular para saírem daqui. Literatura e História permitem pensar e ver. Conhecimento possibilita agir e não apenas reagir.".

Esse é o resumo do longo discurso que repete sempre. Um detalhe é o amargo que sente quando fala 'literatura' porque a literatura brasileira deixou de ser impressa e publicada antes de seu casamento. Só se permite o que se produz nos Estados Unidos. E História, assim como tudo o mais que ensina, é o que aprendeu na escola e tem nos cadernos que, felizmente, guardou.

A propósito, Carolina se casou não por vontade, mas para proteger-se dos estupros culposos, como reza a Nova Constituição Brasileira. Onde o homem é a vítima e a mulher é a criminosa.

Mas ela teve sorte. O marido não era violento e, para gosto dela, era ativista. E no momento principal deste cronto o medo e o orgulho pelo marido estão presente.

Por regra do casal ambes se alternam para segurança dos filhos. Quando é a vez dele ir a protesto ela fica.


- Mãe!

Disse o mais velho.

- O novo patrão me falou hoje que se a partir da semana que vem eu não for de manhã também não precisarei ir a tarde...

Quando na noite de sexta-feira Carolina foi dormir ela não se deitara só. Sem o marido na cama teve - como péssimos amantes - o desaparecimento do marido mais essa declaração.


E agora? Carolina sabe que o cansaço do primogênito será tanto que o garoto não aguentará estudar.

E há o poderoso discurso recorrente: estudar é só para gente.

Algo que o imaginário popular fixou foi "pobre não é gente; é bicho. E para comer que ainda se tem dente.".

Ela sente que o filho já se entregara a essa corrente.

E o filho do meio, doente?

E como conseguir um pouco mais de água para o luxo de três banhos por semana?


Comida, água limpa e remédio no barraco de zinco é o que precisam.


Agora é com você, que está a ler.

Estando na posição de Carolina Maria de Jesus, seu filho estudaria ou trabalharia? E por quê?



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Rubem Leite

Manuscrito na manhã de 06/11/20 e trabalhado até o meio da manhã de 08/11/20.

Imagem:

https://sindservsbc.org.br/noticias/voz-do-trabalhador/quando-tudo-for-privado-seremos-privados-de-tudo/

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Ofereço o cronto como presente aos aniversariantes:

Martha Gonzáles, Diego Arthur, Paola S. Charquero, Onofre J. Lima, Mirta Meza e Arline Salazar.


Recomendo a leitura de:

"Aviso no Muro", de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contos/7105637

Do livro de antologia "Versos Acidos do Vale do Aço", pre venda com Roberta Rocha:

+553189865821

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Agradeço ao boçalnariano que me ofereceu o mote ao questionar-me "por que a esquerda votou contra o Marco do Saneamento?". Algo que eu ignorava completamente o que seria. E que as mídias não nos comunicaram. Falando quase exclusivamente da eleição dos gringos...

Agradeço muito mais a Girvany de Moraes e Carlos Glauss. Estes dois foram essenciais para minha compressão do horror que é a Lei 14.026/2020 que visa privatizar a água e o saneamento no Brasil.

Essa fatídica lei (14.026) foi aprovada pelo atual presidente do Brasil.

A privatização da água aconteceu na Colômbia e em alguns países europeus. Em todos esses lugares funciona a regra "Tem dinheiro tem direito!". E em todos esses países a água não está sendo devidamente tratada e nem o saneamento básico está acontecendo. Exceto para os com muito, mas muito dinheiro.

No Amapá a indústria fornecedora de energia elétrica é parcialmente privada. Quase metade pertence a uma empresa europeia.

O estado ficou quase em sua totalidade sem energia, água e combustível por 72 horas. O governo do Amapá está buscando estatatizá-la para resolver o problema. Veja:

https://monitormercantil.com.br/amapa-estatal-eletrobras-consertara-apagao-de-empresa-privatizada

https://www.sinprodf.org.br/empresa-privada-que-administra-energia-eletrica-deixa-amapa-no-apagao/

https://www.google.com.br/amp/s/epbr.com.br/eletrobras-assume-suprimento-emergencial-de-energia-no-amapa/