Vale que vale cantar
As flores da terra
As dores da argila
Uma terra que semeia alegria
E de seus filhos colhe valentia.
Vale que vale viver.
Os espinhos são muitos
Mais ainda são os meus bem querer
Os preconceitos são muitos
Mais ainda é a vontade de os vencer.
Não importa, meu Vale do Jequitinhonha,
Todas as dores e espinhos,
Sem você, eu não tenho caminho
De você, tenho carinho
Com você nunca estou sozinho.
Por fim,
Vale, eu amo você.
E que mais há para dizer
Além do meu imenso amor por você?
-------------------------------------
Não sou do Vale do Jequitinhonha, mas muito me encantei com as cidades de Araçuaí, Capelinha e Diamantina, que conheci no primeiro semestre de 2008. Principalmente a sua população, que é maravilhosa.
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Traço Genético CAM
Eu herdei de meus pais o traço genético cam. Sim, pois sou GAAAAAAAAALOOOO de corpo e alma. Ser atleticano vale mais que herança material. Aliás, me perdoem se o toque doer, mas se algum Atleticano tem filho que torce por outro time é porque o adotou ou então... E se alguém de outro time tem filho Atleticano é porque houve evolução da espécie...
“O Galo é uma coisa tão especial e gostosa em nossas vidas que nem precisa ganhar, basta existir”.
(Valdoveu Vitor, citado por Eduardo de Ávila, no jornal Super Notícia, 27-3-08, pág. 02).
“Existem três seres com belo porte: o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém; o Galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai a frente do rebanho” (Provérbios 30, 20-31).
Do imaginário Católico: O Galo Proclamando o Nascimento do Menino Jesus.
O único “palavrão” de Jesus foi uma referência a Herodes: “Vão dizer a essa raposa...” (Lucas 13, 32).
“Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis” (Lucas 13, 34). Lamento de Jesus sobre a infidelidade de Jerusalém.
E o Galo fazendo Pedro refletir, arrepender-se e voltar para Cristo: ... enquanto Pedro ainda falava o Galo cantou e ele se lembrou das palavras de Jesus “antes que o Galo cante você me negará três vezes”, daí ele chorou amargamente. (Lucas 22, 60-62).
Por isso, minha religião é o Atleticanismo.
“O Galo é uma coisa tão especial e gostosa em nossas vidas que nem precisa ganhar, basta existir”.
(Valdoveu Vitor, citado por Eduardo de Ávila, no jornal Super Notícia, 27-3-08, pág. 02).
“Existem três seres com belo porte: o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém; o Galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai a frente do rebanho” (Provérbios 30, 20-31).
Do imaginário Católico: O Galo Proclamando o Nascimento do Menino Jesus.
O único “palavrão” de Jesus foi uma referência a Herodes: “Vão dizer a essa raposa...” (Lucas 13, 32).
“Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis” (Lucas 13, 34). Lamento de Jesus sobre a infidelidade de Jerusalém.
E o Galo fazendo Pedro refletir, arrepender-se e voltar para Cristo: ... enquanto Pedro ainda falava o Galo cantou e ele se lembrou das palavras de Jesus “antes que o Galo cante você me negará três vezes”, daí ele chorou amargamente. (Lucas 22, 60-62).
Por isso, minha religião é o Atleticanismo.
Uarrarrá!
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Romântica
De
Delasnieve Daspet
Quando te vejo fica a pergunta: me vês, também?
Não sou assim - mas pego-me querendo compartilhar contigo
Os meus mais profundos sonhos,
As noites frias e solitárias,
O meu universo interior...
O sangue corre rápido acelerando a pulsação,
E de tanto amor - já não tenho forças para gritar,
E o meu canto se dilui em salgadas gotasQue brilham no meu olhar...
A melodia é mais um lamento do bardo
Que se esconde em seus conflitos internos
Usando-os como escudo, uma defesa, uma arma contra o desamor.
E o poeta se oferece em letras,
Pois o que ele escreve e canta é a dor de sua alma...
Porque não vens com teu olhar afagar minhas noites insones,
Tocar meu corpo,
Brincar comigo,
Sorrir meu riso,
Por quê?
Sou louca, triste, desiludida?
Sou tudo e sou nada?
Sou eu - quando busco em mim
As coisas como são ou como deveriam ser?
Cantando o maior sentimento que existe,
Sou como o sereno que cai na madrugada, Prenunciando o alvorecer...
DD_Campo Grande-MS - 15/09/08
adagio_albinoni-3.wav
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Delasnieve Daspet
Quando te vejo fica a pergunta: me vês, também?
Não sou assim - mas pego-me querendo compartilhar contigo
Os meus mais profundos sonhos,
As noites frias e solitárias,
O meu universo interior...
O sangue corre rápido acelerando a pulsação,
E de tanto amor - já não tenho forças para gritar,
E o meu canto se dilui em salgadas gotasQue brilham no meu olhar...
A melodia é mais um lamento do bardo
Que se esconde em seus conflitos internos
Usando-os como escudo, uma defesa, uma arma contra o desamor.
E o poeta se oferece em letras,
Pois o que ele escreve e canta é a dor de sua alma...
Porque não vens com teu olhar afagar minhas noites insones,
Tocar meu corpo,
Brincar comigo,
Sorrir meu riso,
Por quê?
Sou louca, triste, desiludida?
Sou tudo e sou nada?
Sou eu - quando busco em mim
As coisas como são ou como deveriam ser?
Cantando o maior sentimento que existe,
Sou como o sereno que cai na madrugada, Prenunciando o alvorecer...
DD_Campo Grande-MS - 15/09/08
adagio_albinoni-3.wav
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Assunto: ALERTA para o edital Klauss Vianna
ALERTA GERAL!
No edital do Premio Funarte de Dança Klauss Vianna (assim como no
Miriam Muniz para teatro) a atual administração da Funarte decidiu,
entre outros absurdos que:
3.4. É vedada a participação de produtores, grupos ou
companhias de dança contemplados, seguidamente, nas
edições de 2006 e 2007 do
Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, inclusive aqueles
representados por entidades asssociativas.
Este alerta vem de Tiche Vianna (diretora do grupo
Barracão Teatro, de Campinas), chamando a atenção do Movimento Redemoinho
para a urgência de um posicionamento. Com autorização dela, reproduzo
quase na íntegra sua análise do edital Miryam Muniz, igualmente pertinente
para o edital Klauss Vianna.
"... se todos leram o Edital Miryam Muniz se deram conta da cláusula
que diz que grupos que venceram seguidamente a concorrência nos anos
de 2006 e 2007, não podem se inscrever no edital deste
ano, que acaba de ser lançado pela FUNARTE... nos parece ser contrária a
tudo o que acreditamos e chamamos de continuidade. Entendemos que os
grupos que trabalham constantemente, dentro de princípios e
diretrizes ligadas a permanência do desenvolvimento de seus projetos, sempre
têm propostas de produção e pesquisa. Sendo assim, o Estado seria
justamente um dos meios de se viabilizar a continuidade de seus trabalhos,
desde que estes grupos apresentem resultados à altura dos
benefícios recebidos para sua execução e comprovem ao Estado, a importância
de sua permanência em ação. Da mesma forma, entendemos que se o
Estado reconhece que há uma grande produção teatral que merece
Ser contemplada, Ele e somente Ele, por ser a instituição
competente para este fim, deve buscar meios de aumentar seus recursos para
estimular e manter a existência dos benefícios trazidos à sociedade,
causados por estes produtores teatrais.
A edição do Miryam Muniz deste ano, com esta cláusula de
restrição, impede a inscrição de grupos que foram contemplados
seguidamente em 2006 e 2007 (conforme escrito no edital),
mas também restringe a inscrição aos contemplados em 2006 ou 2007,
ou seja, o edital deste ano não permite a inscrição de nenhum grupo
contemplado por este edital anteriormente.
Toda a luta do movimento e da gestão anterior da
Funarte, através de Antônio Grassi, buscou e conquistou ainda que
precariamente, o direito à continuidade de nosso trabalho, como
reconhecimento de que existem pensamentos e produtores que não se enquadram no
modo de produção mercadológico, porque acreditam em outro modo
de criar e produzir seu trabalho e não porque são incapazes de se
inserir no mercado. Neste caso, também reconhecemos que cabe ao
Estado criar
mecanismos que viabilizem a concorrência entre estes
produtores às verbas públicas.
Nossa pergunta é, qual o sentido de restringir as
inscrições? Um pensamento mesquinho que privilegia restringir ao invés de
multiplicar?
Um pensamento "populista" que privilegia pulverizar, ao
invés de fortalecer?
Esta nova regra, inviabiliza o desenvolvimento de
grupos e produtores que tenham beneficiado o uso público
da cultura, pois entendemos que os projetos contemplados têm que
comprovar sua realização e através disto fornecer parâmetros de
avaliação de sua pertinência frente ao interesse público e da
responsabilidade de quem o realiza. Ora, se um grupo ou produtor se mostra capaz e
seu projeto beneficia a sociedade ele deveria ter, pelo menos, a
possibilidade de continuar o seu desenvolvimento, não?
Fora esta questão conceitual e talvez até ideológica,
existe uma questão que talvez seja assunto da legislação. A
cláusula em questão usa o termo "seguidamente" para restringir os
anos em que houve contemplação. Consultamos a Funarte para saber se isto se
referia a produtores e grupos que foram contemplados dois anos
seguidos ou em um deles e a FUNARTE disse que em qualquer um dos dois anos,
portanto, há um erro na formulação da regra que deixa margem a dúvida
e isto pode ser legalmente questionado..."
MAIORES INFORMAÇÕES:
E nós, coletivos da dança???
-- Hibridus55 31 3821 3513 - www.hibridus.com.brhibridus.mail@gmail.com / enartci@hibridus.com.brAv. 28 de Abril, nº 621, sl. 402 - JG Shopping - CentroIpatinga/MG - BrasilCEP: 35.160-004
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No edital do Premio Funarte de Dança Klauss Vianna (assim como no
Miriam Muniz para teatro) a atual administração da Funarte decidiu,
entre outros absurdos que:
3.4. É vedada a participação de produtores, grupos ou
companhias de dança contemplados, seguidamente, nas
edições de 2006 e 2007 do
Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, inclusive aqueles
representados por entidades asssociativas.
Este alerta vem de Tiche Vianna (diretora do grupo
Barracão Teatro, de Campinas), chamando a atenção do Movimento Redemoinho
para a urgência de um posicionamento. Com autorização dela, reproduzo
quase na íntegra sua análise do edital Miryam Muniz, igualmente pertinente
para o edital Klauss Vianna.
"... se todos leram o Edital Miryam Muniz se deram conta da cláusula
que diz que grupos que venceram seguidamente a concorrência nos anos
de 2006 e 2007, não podem se inscrever no edital deste
ano, que acaba de ser lançado pela FUNARTE... nos parece ser contrária a
tudo o que acreditamos e chamamos de continuidade. Entendemos que os
grupos que trabalham constantemente, dentro de princípios e
diretrizes ligadas a permanência do desenvolvimento de seus projetos, sempre
têm propostas de produção e pesquisa. Sendo assim, o Estado seria
justamente um dos meios de se viabilizar a continuidade de seus trabalhos,
desde que estes grupos apresentem resultados à altura dos
benefícios recebidos para sua execução e comprovem ao Estado, a importância
de sua permanência em ação. Da mesma forma, entendemos que se o
Estado reconhece que há uma grande produção teatral que merece
Ser contemplada, Ele e somente Ele, por ser a instituição
competente para este fim, deve buscar meios de aumentar seus recursos para
estimular e manter a existência dos benefícios trazidos à sociedade,
causados por estes produtores teatrais.
A edição do Miryam Muniz deste ano, com esta cláusula de
restrição, impede a inscrição de grupos que foram contemplados
seguidamente em 2006 e 2007 (conforme escrito no edital),
mas também restringe a inscrição aos contemplados em 2006 ou 2007,
ou seja, o edital deste ano não permite a inscrição de nenhum grupo
contemplado por este edital anteriormente.
Toda a luta do movimento e da gestão anterior da
Funarte, através de Antônio Grassi, buscou e conquistou ainda que
precariamente, o direito à continuidade de nosso trabalho, como
reconhecimento de que existem pensamentos e produtores que não se enquadram no
modo de produção mercadológico, porque acreditam em outro modo
de criar e produzir seu trabalho e não porque são incapazes de se
inserir no mercado. Neste caso, também reconhecemos que cabe ao
Estado criar
mecanismos que viabilizem a concorrência entre estes
produtores às verbas públicas.
Nossa pergunta é, qual o sentido de restringir as
inscrições? Um pensamento mesquinho que privilegia restringir ao invés de
multiplicar?
Um pensamento "populista" que privilegia pulverizar, ao
invés de fortalecer?
Esta nova regra, inviabiliza o desenvolvimento de
grupos e produtores que tenham beneficiado o uso público
da cultura, pois entendemos que os projetos contemplados têm que
comprovar sua realização e através disto fornecer parâmetros de
avaliação de sua pertinência frente ao interesse público e da
responsabilidade de quem o realiza. Ora, se um grupo ou produtor se mostra capaz e
seu projeto beneficia a sociedade ele deveria ter, pelo menos, a
possibilidade de continuar o seu desenvolvimento, não?
Fora esta questão conceitual e talvez até ideológica,
existe uma questão que talvez seja assunto da legislação. A
cláusula em questão usa o termo "seguidamente" para restringir os
anos em que houve contemplação. Consultamos a Funarte para saber se isto se
referia a produtores e grupos que foram contemplados dois anos
seguidos ou em um deles e a FUNARTE disse que em qualquer um dos dois anos,
portanto, há um erro na formulação da regra que deixa margem a dúvida
e isto pode ser legalmente questionado..."
MAIORES INFORMAÇÕES:
E nós, coletivos da dança???
-- Hibridus55 31 3821 3513 - www.hibridus.com.brhibridus.mail@gmail.com / enartci@hibridus.com.brAv. 28 de Abril, nº 621, sl. 402 - JG Shopping - CentroIpatinga/MG - BrasilCEP: 35.160-004
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sexta-feira, 26 de setembro de 2008
25 de SETEMBRO
Hoje acordei sorrindo.
Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. Hoje as cigarras cantaram pela primeira vez no ano.
Hoje desabrochou um botão de uma planta que ainda não havia visto em meu jardim.
Hoje o Sol sorriu para mim e voltou a dormir.
Hoje os transeuntes sorriram mais.
Hoje recebi duas lindas mensagens em meu celular.
Hoje ganhei uma camisa e um dvd.
Hoje fizeram canjiquinha especialmente para mim.
Hoje o Prefeito da nossa indigestão política disse “para mim é Deus no Céu e você debaixo da terra, mas só depois que votar em mim...”.
Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos.
Hoje dialoguei com vários pensantes.
Hoje jantei com alguns pensantes.
Hoje dormi sorrindo.
Hoje os passarinhos da manhã cantaram mais. Mais tempo, mais alegre e mais bonito. Hoje as cigarras cantaram pela primeira vez no ano.
Hoje desabrochou um botão de uma planta que ainda não havia visto em meu jardim.
Hoje o Sol sorriu para mim e voltou a dormir.
Hoje os transeuntes sorriram mais.
Hoje recebi duas lindas mensagens em meu celular.
Hoje ganhei uma camisa e um dvd.
Hoje fizeram canjiquinha especialmente para mim.
Hoje o Prefeito da nossa indigestão política disse “para mim é Deus no Céu e você debaixo da terra, mas só depois que votar em mim...”.
Hoje até os políticos, com suas propagandas volantes, nos violentaram menos.
Hoje dialoguei com vários pensantes.
Hoje jantei com alguns pensantes.
Hoje dormi sorrindo.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
A VIAGEM
Rubem Leite – 21-9-08
arterubemleite@gmail.com
“Não tomo bolinhas. Quero estar alerta, e por mim mesma. Fui convidada para uma festa onde na certa tomavam bolinha e fumavam maconha. Mas minha alerteza me é mais preciosa”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Acabo de sair de casa e me deparo com o pé do morro. Olho para seu tamanho e só vejo uma enorme mancha marrom. Começo a subir seus degraus. Denúncia da interferência humana. No fim da escadaria me deparo com uma árvore emplacada com a inscrição:
“... Árvore da vida! Árvore da esperança ... Visão da escada de Jacó”
Paro. Olho ao redor. Sigo.
A subida está mais íngreme. Vejo uma árvore escorrendo resina. Resignado eu oro. Até a hora de ir embora.
A subida não para. Eu escorrego caindo de joelhos. De joelho eu rezo ouvindo os gemidos das árvores fazendo amor com o vento. Continuo a subida e vejo uma linda mulher. Os mais lindos cabelos negros. Como uma noite estrelada. Paro calado. Seu olhar me faz falar. Duas luas vieram e se foram. Assim nos conhecemos. Na terceira lua nos amamos feito o vento fazendo a árvore gemer. Na quarta lua nos separamos. Volto a subir.
Cinco sóis causticantes me matavam até eu ver os restos humanos de alguém. Um ninguém. Paro medroso. Examino ou viajo? Examino.
Vespas fizeram morada nos restos. Descobri ao mexer cauteloso. Reponho com cuidado os restos à posição que estava e saio correndo. Caio sentado. Volto a correr e caio com o rosto noutra escada escavada. Desmaio.
Desperto na escuridão. É uma casa, acho. Por uma fresta vejo luz. Nada esperto vou até a luz e vejo meu salvador. Forte. Ele me olha sério e em silêncio me aponta uma cadeira à mesa. Ele se levanta enquanto eu me encaminho ao lugar indicado, põe comida num prato e me dá. Como em silêncio. Ele olha pela janela. Em silêncio nos olhamos até sua voz. Grave. Dizer seu nome. Tento falar o meu, mas não me recordo. Perdi meu nome na escalada.
Olho sua pequena casa. Um quarto e a sala-cozinha, onde estamos. Livros. Somente livros emoldurando a porta pela qual entrei e na parede que lhe faz quina à esquerda. Armas em uma parede e na última que olho, vejo o fogão e a porta para fora.
- Posso pegar um livro?
- Pode.
Vou às estantes e demoro a escolher. Pego um de Caio Fernando Abreu.
- Leia para mim. Diz ele e atendo o seu pedido. Uma hora. Duas horas até nos cansarmos.
- Vou dormir.
- Benito.
Ele me olha.
- Lembrei meu nome. É Benito.
- Venha deitar, Benito.
E não dormimos por três luas. E não vimos três sóis. E no quarto sol, após a noite de lua, fui embora com um farnel montado por ele mais dois livros de Clarice Lispector.
Vou morro acima. Terra arenosa. Eucaliptos. Um ipê.
A subida não para até encontrar um pentagrama de troncos caídos de onde escuto um anjo profetizar a vinda do Messias.
- Ele vem com um sorriso de grandes dentes amarelos. Um chapéu na cabeça e um livro preto nas mãos. Vem montado num grande cavalo azul. Suas palavras são de promessas, promessas e mais promessas. Deixa o homem trabalhar. Conclui o anjo.
- Fuja do cavaleiro com a bandeira vermelha no cavalo preto e branco. Ele é o adversário do grande Messias velho. Diz outra voz no pentagrama.
Vou embora. O grande Messias de chapéu me assusta. Vou embora morro acima.
E vejo a grande cidade.
- Vou até ela na estrada poeirenta?
Decido seguir a trilha que já estou e ver onde vai dar. Descubro uma bifurcação.
- Sigo a estreita estrada poeirenta? Ou sigo a larga estrada cheia de pedras?
Sigo a estrada empedrada.
- Ai!
Foi um pedaço da carne de meu pé cortada por uma formiga cabeçuda monstruosa. E só vejo mais e mais formigas se aproximando. As encaro pensando no que fazer. Esmago umas e outras.
- Ai!
Esmago mais outras. Mas o que fazer? Correr é a única coisa que penso e faço. Milhares de formigas avançam até mim. Vez ou outra mais um grito até me deparar com um mar de terra, por onde elas não avançam e eu me perco.
Ouço um canto. O canto de invisíveis sereias aladas. E me sinto voando sobre a imensidão. Sinto orgasmos não sei como nem pelo que provocado. Só podem ser as sereias que anuviam meus sentidos.
Acordo muito longe de onde estava e cinco seres indefinidos lutam comigo até jorrar o líquido da vida que se perde pelo meu peito até o chão. Desfaleço. Após cansá-los com minha persistência eu me desfaleço. Quando acordo, corro dali até me chocar com um gigante amarrado que me ameaça. Suas mãos estão livres e tentam me pegar. No desespero tropeço na alavanca que prende as correntes que lhe detém e o imobilizo com dor.
Quero soltá-lo. Resisto à vontade.
- Talvez seja melhor um gigante acorrentado...
- Seu tolo. É melhor deixá-lo livre.
- Sei não. Pelo menos é o que sempre me disseram. Ele é ruim. Perigoso. Não merece estar solto.
- Ao menos volte aqui às vezes e afrouxe as correntes.
A subida pelo morro é um semi-círculo e me deixa bem diferente de como saí. Bem distante de onde parti. Acaba num nada que é tudo. E de lá volto para casa completando o percurso.
Chego ao meu lar com o canto do galo.
----------------------------------------------
Falando sério! Você acha que depois de uma viagem assim eu preciso de algum alucinógeno? Não! E eu concordo com Clarice, minha alerteza me é mais preciosa. Permite-me ver ao redor para melhor descrever através de minhas artes. Inté!
-----------------------------------------------
arterubemleite@gmail.com
“Não tomo bolinhas. Quero estar alerta, e por mim mesma. Fui convidada para uma festa onde na certa tomavam bolinha e fumavam maconha. Mas minha alerteza me é mais preciosa”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Acabo de sair de casa e me deparo com o pé do morro. Olho para seu tamanho e só vejo uma enorme mancha marrom. Começo a subir seus degraus. Denúncia da interferência humana. No fim da escadaria me deparo com uma árvore emplacada com a inscrição:
“... Árvore da vida! Árvore da esperança ... Visão da escada de Jacó”
Paro. Olho ao redor. Sigo.
A subida está mais íngreme. Vejo uma árvore escorrendo resina. Resignado eu oro. Até a hora de ir embora.
A subida não para. Eu escorrego caindo de joelhos. De joelho eu rezo ouvindo os gemidos das árvores fazendo amor com o vento. Continuo a subida e vejo uma linda mulher. Os mais lindos cabelos negros. Como uma noite estrelada. Paro calado. Seu olhar me faz falar. Duas luas vieram e se foram. Assim nos conhecemos. Na terceira lua nos amamos feito o vento fazendo a árvore gemer. Na quarta lua nos separamos. Volto a subir.
Cinco sóis causticantes me matavam até eu ver os restos humanos de alguém. Um ninguém. Paro medroso. Examino ou viajo? Examino.
Vespas fizeram morada nos restos. Descobri ao mexer cauteloso. Reponho com cuidado os restos à posição que estava e saio correndo. Caio sentado. Volto a correr e caio com o rosto noutra escada escavada. Desmaio.
Desperto na escuridão. É uma casa, acho. Por uma fresta vejo luz. Nada esperto vou até a luz e vejo meu salvador. Forte. Ele me olha sério e em silêncio me aponta uma cadeira à mesa. Ele se levanta enquanto eu me encaminho ao lugar indicado, põe comida num prato e me dá. Como em silêncio. Ele olha pela janela. Em silêncio nos olhamos até sua voz. Grave. Dizer seu nome. Tento falar o meu, mas não me recordo. Perdi meu nome na escalada.
Olho sua pequena casa. Um quarto e a sala-cozinha, onde estamos. Livros. Somente livros emoldurando a porta pela qual entrei e na parede que lhe faz quina à esquerda. Armas em uma parede e na última que olho, vejo o fogão e a porta para fora.
- Posso pegar um livro?
- Pode.
Vou às estantes e demoro a escolher. Pego um de Caio Fernando Abreu.
- Leia para mim. Diz ele e atendo o seu pedido. Uma hora. Duas horas até nos cansarmos.
- Vou dormir.
- Benito.
Ele me olha.
- Lembrei meu nome. É Benito.
- Venha deitar, Benito.
E não dormimos por três luas. E não vimos três sóis. E no quarto sol, após a noite de lua, fui embora com um farnel montado por ele mais dois livros de Clarice Lispector.
Vou morro acima. Terra arenosa. Eucaliptos. Um ipê.
A subida não para até encontrar um pentagrama de troncos caídos de onde escuto um anjo profetizar a vinda do Messias.
- Ele vem com um sorriso de grandes dentes amarelos. Um chapéu na cabeça e um livro preto nas mãos. Vem montado num grande cavalo azul. Suas palavras são de promessas, promessas e mais promessas. Deixa o homem trabalhar. Conclui o anjo.
- Fuja do cavaleiro com a bandeira vermelha no cavalo preto e branco. Ele é o adversário do grande Messias velho. Diz outra voz no pentagrama.
Vou embora. O grande Messias de chapéu me assusta. Vou embora morro acima.
E vejo a grande cidade.
- Vou até ela na estrada poeirenta?
Decido seguir a trilha que já estou e ver onde vai dar. Descubro uma bifurcação.
- Sigo a estreita estrada poeirenta? Ou sigo a larga estrada cheia de pedras?
Sigo a estrada empedrada.
- Ai!
Foi um pedaço da carne de meu pé cortada por uma formiga cabeçuda monstruosa. E só vejo mais e mais formigas se aproximando. As encaro pensando no que fazer. Esmago umas e outras.
- Ai!
Esmago mais outras. Mas o que fazer? Correr é a única coisa que penso e faço. Milhares de formigas avançam até mim. Vez ou outra mais um grito até me deparar com um mar de terra, por onde elas não avançam e eu me perco.
Ouço um canto. O canto de invisíveis sereias aladas. E me sinto voando sobre a imensidão. Sinto orgasmos não sei como nem pelo que provocado. Só podem ser as sereias que anuviam meus sentidos.
Acordo muito longe de onde estava e cinco seres indefinidos lutam comigo até jorrar o líquido da vida que se perde pelo meu peito até o chão. Desfaleço. Após cansá-los com minha persistência eu me desfaleço. Quando acordo, corro dali até me chocar com um gigante amarrado que me ameaça. Suas mãos estão livres e tentam me pegar. No desespero tropeço na alavanca que prende as correntes que lhe detém e o imobilizo com dor.
Quero soltá-lo. Resisto à vontade.
- Talvez seja melhor um gigante acorrentado...
- Seu tolo. É melhor deixá-lo livre.
- Sei não. Pelo menos é o que sempre me disseram. Ele é ruim. Perigoso. Não merece estar solto.
- Ao menos volte aqui às vezes e afrouxe as correntes.
A subida pelo morro é um semi-círculo e me deixa bem diferente de como saí. Bem distante de onde parti. Acaba num nada que é tudo. E de lá volto para casa completando o percurso.
Chego ao meu lar com o canto do galo.
----------------------------------------------
Falando sério! Você acha que depois de uma viagem assim eu preciso de algum alucinógeno? Não! E eu concordo com Clarice, minha alerteza me é mais preciosa. Permite-me ver ao redor para melhor descrever através de minhas artes. Inté!
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
MALARRUMADA
Olá pessoal.
Vocês foram um sucesso na apresentação.
Quero lhes desejar um ótimo sucesso e que a cada dia vocês se desenvolvam para que um dia vocês estejam no topo da pirâmide dos melhores artistas de teatro.
M alarrumada é
A legria é
L indas
A presentações é
R isos é
R itmos é
h U mor e
M uita descontração com
A nimação
D iversão e
A rte para a sociedade
T eatro e
E sperança, esperança é
h A rmonia.
T eatro é
R isos de
h O rror por uma cena ou humor pela graça.
De
Gabriela G.D.S - 09 anos
Para
Grupo Teatral Malarrumada
No canteiro da praça há um ninho de ave.
Acho que são aves.
Bem, tem penas, bicos, asas, mas mamam e se aquecem ao sol como os lagartos.
Eu paro.
Paro e olho.
Eu paro para olhar e vejo que uns poucos param também
E alguns outros apenas olham e continuam indo.
A maioria nem vê.
E o sol está subindo sem sequer dar sinal de ir embora
E as poucas sombras estão se esvaindo.
Está difícil continuar
E todos queremos um pouco de sombra para sentarmos e almoçarmos.
Não sei se vou agüentar ficar mais tempo.
Tenho que trabalhar e não posso ficar olhando aves esquisitas.
Tenho que ser normal.
Mas não quero ser normal.
Quero ver as aves esquisitas na praça.
---------------------------------------------------------------
Inspirado no texto “Dançar no Brasil: vistos de entrada, mestiçagem e controle de passaportes”, de Helena Katz, no livro ENARTCi – setembro 2008, págs. 36-41, promovido pela Híbridus Cia. Dança.
Acho que são aves.
Bem, tem penas, bicos, asas, mas mamam e se aquecem ao sol como os lagartos.
Eu paro.
Paro e olho.
Eu paro para olhar e vejo que uns poucos param também
E alguns outros apenas olham e continuam indo.
A maioria nem vê.
E o sol está subindo sem sequer dar sinal de ir embora
E as poucas sombras estão se esvaindo.
Está difícil continuar
E todos queremos um pouco de sombra para sentarmos e almoçarmos.
Não sei se vou agüentar ficar mais tempo.
Tenho que trabalhar e não posso ficar olhando aves esquisitas.
Tenho que ser normal.
Mas não quero ser normal.
Quero ver as aves esquisitas na praça.
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Inspirado no texto “Dançar no Brasil: vistos de entrada, mestiçagem e controle de passaportes”, de Helena Katz, no livro ENARTCi – setembro 2008, págs. 36-41, promovido pela Híbridus Cia. Dança.
POWER TO THE PEOPLE"Power to the people,power to the people",gritava o radinho de pilhasenquanto você me beijavae o seu beijo tinhaum gosto de goiaba.Era engraçado,mas era verdadee a felicidade erauma tarde de verãona praia do Pina.Power to the people,meu bem,seu beijo erapura adrenalina.Clóvis CampêloRecife, 1985
http://cloviscampelo.blogspot.com
LIÇÃO DE INGLÊS (Ou de AMERICANÊS)
Nena de CastroMrs. Green e Mrs. Whitena varanda,tomam seu chá das 5,à moda inglesa.In the garden,Ted, John e Mary,corados e felizes,brincam with the dog...Mr. Green e Mr Whiteestão no trabalhoproduzindo riqueza,pilares da grande nação.Mrs. Green e Mrs White,sorrisos felizes, suspiram:Tudo é tão perfeito...Enquanto isso, crianças do 3º mundose retorcem de fome e agonizam...Mas , “This is a bookThis is a countryThis is the most perfect way of life”.Afe!“The book is on the table,The sky is so blueAnd life is so good”, (for them)And nós, as alimárias do 3º mundo,mastigamos nossa ração,o pão ázimo da infinda servidão ...
Postado por Nena de Castro - MACUNADRU - http://nenadecastro.blogspot.com
http://cloviscampelo.blogspot.com
LIÇÃO DE INGLÊS (Ou de AMERICANÊS)
Nena de CastroMrs. Green e Mrs. Whitena varanda,tomam seu chá das 5,à moda inglesa.In the garden,Ted, John e Mary,corados e felizes,brincam with the dog...Mr. Green e Mr Whiteestão no trabalhoproduzindo riqueza,pilares da grande nação.Mrs. Green e Mrs White,sorrisos felizes, suspiram:Tudo é tão perfeito...Enquanto isso, crianças do 3º mundose retorcem de fome e agonizam...Mas , “This is a bookThis is a countryThis is the most perfect way of life”.Afe!“The book is on the table,The sky is so blueAnd life is so good”, (for them)And nós, as alimárias do 3º mundo,mastigamos nossa ração,o pão ázimo da infinda servidão ...
Postado por Nena de Castro - MACUNADRU - http://nenadecastro.blogspot.com
Vem aí mais uma edição do
Salão do Livro de Ipatinga
No período de 30 de setembro a 5 de outubro,
Salão do Livro de Ipatinga
No período de 30 de setembro a 5 de outubro,
o Centro Cultural Usiminas receberá o 3º Salão do Livro de Ipatinga.
Com patrocínio da Usiminas, a organização prepara uma programação atual tendo como um dos temas principais o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.
O evento terá entrada franca, uma feira de livros com acervo diversificado, oficinas para crianças, jovens e adultos, apresentações teatrais, exibição de filmes, lançamentos, bate-papos com escritores e contação de histórias.
Neste ano, o Salão do Livro organizará o 2º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil do Vale do Aço, apresentando aos educadores da região temas atuais para o debate e a reflexão, entre eles os novos desafios da literatura e da leitura na internet; a dislexia de leitura: como lidar com as dificuldades de leitura e aprendizagem; e novas práticas de incentivo à leitura.
Fique atento à programação que, em breve, estará disponível no site http://www.saladolivro.com.br/ .
Seminário:
Inscrições abertas para o seminário através do site http://www.salaodolivro.com.br/2008/index.php
Visita Escolar:
Organizada para proporcionar aos alunos uma experiência diferente ao entrar em contato com o mundo dos livros e da leitura, a visita permite aos alunos participar da programação cultural do Salão do Livro, que inclui espetáculos teatrais, oficinas, festival de contos, lançamento de livros e muito mais.A visita, como o próprio nome já diz, é destinada às escolas.
Para participar, os professores devem agendar a visita da escola previamente por meio do telefone (31) 3829-9654.
Oficinas:
Nesta edição, o Salão do Livro de Ipatinga realiza 14 oficinas, com nove temas diferentes, entre os quais estão a conservação de livros, a oficina de massinhas; a arte de narrar histórias; origami (dobraduras em papel); mangá (desenho japonês); cordel e pintura em sumi-e (pintura com tinta e caligrafia – estilo oriental), além de duas atividades sobre o universo dos escritores Machado de Assis e Guimarães Rosa. Destinadas a educadores, multiplicadores, bibliotecários e público em geral, inclusive crianças e jovens, as oficinas pretendem estimular a imaginação e trabalhar as respectivas técnicas. Para participar, os interessados devem conferir a lista no site. É importante destacar que o número de vagas e o tempo de duração variam de acordo com as oficinas.
Oficinas:
Nesta edição, o Salão do Livro de Ipatinga realiza 14 oficinas, com nove temas diferentes, entre os quais estão a conservação de livros, a oficina de massinhas; a arte de narrar histórias; origami (dobraduras em papel); mangá (desenho japonês); cordel e pintura em sumi-e (pintura com tinta e caligrafia – estilo oriental), além de duas atividades sobre o universo dos escritores Machado de Assis e Guimarães Rosa. Destinadas a educadores, multiplicadores, bibliotecários e público em geral, inclusive crianças e jovens, as oficinas pretendem estimular a imaginação e trabalhar as respectivas técnicas. Para participar, os interessados devem conferir a lista no site. É importante destacar que o número de vagas e o tempo de duração variam de acordo com as oficinas.
A inscrição será feita por meio do telefone (31) 3829-9651.
PARTICIPE CONOSCO E SEJA BEM VINDO (A) AO 3º SALÃO DO LIVRO DE IPATINGA!
PARTICIPE CONOSCO E SEJA BEM VINDO (A) AO 3º SALÃO DO LIVRO DE IPATINGA!
Previsão do tempo em Antônio Dias
Caros,
Não pedi licença à minha sobrinha, Larisa, para lhes encaminhar seu desabafo. Ela o fez em ombros amigos, lamentando o que encontrou em Antônio Dias no último final de semana. Já havia sido avisada por sua irmã, Patrícia, que me ligara indignada com mais um acontecimento absurdo em nossa cidade. Cortaram todas as árvores da principal praça da cidade, a Praça Ana Angélica... para fazer uma reforma! Leiam, abaixo, o desabafo! Ela adentrou o delicado terreno da subjetividade para falar das coisas que nos ajudam a nos situar. Uma árvore, um rio, uma curva... Confesso: não vou a Antônio Dias. A não ser em ocasiões muito especiais. Já vi, agi, me indignei, mobilizei, implorei, desabafei, sofri... inclusive ameaças físicas. Milito em outros territórios... muitos outros. Não me surpreendo. De lá espero todo o absurdo possível, infelizmente! Que se cortem árvores, queimem corpos, destruam o patrimônio histórico e cultural, façam usinas hidrelétricas sem se consultar as pessoas, que se cooptem "pessoas sérias e confiáveis". Quando recebi a ligação de Patrícia, indignada com a situação da praça, disse a ela que a única trilha em que acredito para o desenvolvimento das pessoas e da comunidade é a que está sendo aberta, com as próprias unhas, por Elias e Cloenes, dois abnegados artistas de Ipatinga, grandes amigos, que estão fazendo um trabalho silencioso em teatro e dança na cidade. Eles seguem todos os finais de semana para a cidade, voluntariamente, com o apoio de um ou outro... muito pouco pelo que fazem, para encontrarem crianças e adolescentes à espera de uma oportunidade. Esse é o caminho: informação, imaginação, arte, criação, educação, crítica, oportunidade... O longo caminho da mudança de mentalidades... antes que cortem as árvores das nossas cabeças! Só isso pode gerar o estranhamento crítico das bizarras ações como a do corte das árvores. O que esperar de uma Administração Municipal sem vergonha e corrupta como a de lá, senão que se cortem as árvores da praça para ali se INplantar MAIS botecos?
Bebamos todos!
Cláudio
ABAIXO,
CARTA DA LARISA
Caros amigos,
Visitei Antônio Dias na última sexta-feira. Sentimentos: tristeza, indignação, raiva, revolta, impotência.....indignação, tristeza. Podem me perguntar: - Qual é a causa? Respondo: - Coisinha de nada. Cortaram as árvores da Praça Ana Angélica. Só sobrou um Ipê.
Minha velha Antônio Dias com seus 302 anos e onde estão as árvores centenárias? Não as encontrei. A imponente palmeira imperial da praça já não existe. Sei que vão argumentar: - Mas aquela palmeira não era centenária. Sei disso.....era só uma jovem com um pouco mais de 30 anos. Ora, eu ainda não tenho 30 anos. Estou quase lá. Mas, como aquela palmeira acredito que já tenho alguma importância e significado....pelo menos para algumas pessoas e ela para o dito Município.
Então, sentei ali na escada da Igreja e resolvi percorrer na memória os caminhos da minha infância e juventude em busca de verdes sobreviventes. Desde já esclareço que não me refiro aos quintais, matas e zona rural. Seria muito sofrimento! Encontrei algumas espécies como as da lateral e atrás da Igreja Matriz, Praça de São Benedito, “ curva do Madureira”, em frente ao Grupo Escolar e Cemitério, morro do campo, o Ipê – filho único da Pracinha, entrada do Bonfim as margens do rio e o lugar onde há a maior concentração a Praça da Bíblia. Se alguém lembrar de outras faça a gentileza de me informar. Ficarei imensamente agradecida com a boa notícia.
E continuei diante daquele dantesco cenário. Enquanto existe um imenso déficit de árvores (e não só árvore, mas não vou prolongar meu desabafo) nas ruas de “Antony”, candidatos à Câmara Municipal brotam como erva daninha. São inúmeras opções e poucas propostas. Alguns nem sabem qual é a função de um vereador. Outros acreditam que exercer um cargo no Poder Legislativo Municipal significa oportunidade de comprar um terreninho, reformar a casa, financiar um carro ou caminhão. E o que se cortam são as árvores!
E eu, lá sentada....admirando aquela feiúra enquanto o mundo discute e se preocupa com o aquecimento global, o desenvolvimento sustentável e a preservação do patrimônio histórico, cultural e artístico e a atual Administração do Município constrói banheiros e quiosques em plena praça. Já vi praças com coretos, chafariz, estátua, monumentos, bustos, espelhos d água, mas banheiro e quiosque é a primeira vez. Deve ser o progresso?
Então, para vocês que vão votar nas próximas eleições preparem-se para um dia de muito sol e nenhuma sombra. E não esqueçam o protetor solar.
Larysa L. Letro de Brito
Obs: Perdi na última sexta a manha de Antony. Se alguém a encontrar por lá....guarde-a para mim, pois não devo ir votar dessa vez . Perdoe-me meu candidato.
Não pedi licença à minha sobrinha, Larisa, para lhes encaminhar seu desabafo. Ela o fez em ombros amigos, lamentando o que encontrou em Antônio Dias no último final de semana. Já havia sido avisada por sua irmã, Patrícia, que me ligara indignada com mais um acontecimento absurdo em nossa cidade. Cortaram todas as árvores da principal praça da cidade, a Praça Ana Angélica... para fazer uma reforma! Leiam, abaixo, o desabafo! Ela adentrou o delicado terreno da subjetividade para falar das coisas que nos ajudam a nos situar. Uma árvore, um rio, uma curva... Confesso: não vou a Antônio Dias. A não ser em ocasiões muito especiais. Já vi, agi, me indignei, mobilizei, implorei, desabafei, sofri... inclusive ameaças físicas. Milito em outros territórios... muitos outros. Não me surpreendo. De lá espero todo o absurdo possível, infelizmente! Que se cortem árvores, queimem corpos, destruam o patrimônio histórico e cultural, façam usinas hidrelétricas sem se consultar as pessoas, que se cooptem "pessoas sérias e confiáveis". Quando recebi a ligação de Patrícia, indignada com a situação da praça, disse a ela que a única trilha em que acredito para o desenvolvimento das pessoas e da comunidade é a que está sendo aberta, com as próprias unhas, por Elias e Cloenes, dois abnegados artistas de Ipatinga, grandes amigos, que estão fazendo um trabalho silencioso em teatro e dança na cidade. Eles seguem todos os finais de semana para a cidade, voluntariamente, com o apoio de um ou outro... muito pouco pelo que fazem, para encontrarem crianças e adolescentes à espera de uma oportunidade. Esse é o caminho: informação, imaginação, arte, criação, educação, crítica, oportunidade... O longo caminho da mudança de mentalidades... antes que cortem as árvores das nossas cabeças! Só isso pode gerar o estranhamento crítico das bizarras ações como a do corte das árvores. O que esperar de uma Administração Municipal sem vergonha e corrupta como a de lá, senão que se cortem as árvores da praça para ali se INplantar MAIS botecos?
Bebamos todos!
Cláudio
ABAIXO,
CARTA DA LARISA
Caros amigos,
Visitei Antônio Dias na última sexta-feira. Sentimentos: tristeza, indignação, raiva, revolta, impotência.....indignação, tristeza. Podem me perguntar: - Qual é a causa? Respondo: - Coisinha de nada. Cortaram as árvores da Praça Ana Angélica. Só sobrou um Ipê.
Minha velha Antônio Dias com seus 302 anos e onde estão as árvores centenárias? Não as encontrei. A imponente palmeira imperial da praça já não existe. Sei que vão argumentar: - Mas aquela palmeira não era centenária. Sei disso.....era só uma jovem com um pouco mais de 30 anos. Ora, eu ainda não tenho 30 anos. Estou quase lá. Mas, como aquela palmeira acredito que já tenho alguma importância e significado....pelo menos para algumas pessoas e ela para o dito Município.
Então, sentei ali na escada da Igreja e resolvi percorrer na memória os caminhos da minha infância e juventude em busca de verdes sobreviventes. Desde já esclareço que não me refiro aos quintais, matas e zona rural. Seria muito sofrimento! Encontrei algumas espécies como as da lateral e atrás da Igreja Matriz, Praça de São Benedito, “ curva do Madureira”, em frente ao Grupo Escolar e Cemitério, morro do campo, o Ipê – filho único da Pracinha, entrada do Bonfim as margens do rio e o lugar onde há a maior concentração a Praça da Bíblia. Se alguém lembrar de outras faça a gentileza de me informar. Ficarei imensamente agradecida com a boa notícia.
E continuei diante daquele dantesco cenário. Enquanto existe um imenso déficit de árvores (e não só árvore, mas não vou prolongar meu desabafo) nas ruas de “Antony”, candidatos à Câmara Municipal brotam como erva daninha. São inúmeras opções e poucas propostas. Alguns nem sabem qual é a função de um vereador. Outros acreditam que exercer um cargo no Poder Legislativo Municipal significa oportunidade de comprar um terreninho, reformar a casa, financiar um carro ou caminhão. E o que se cortam são as árvores!
E eu, lá sentada....admirando aquela feiúra enquanto o mundo discute e se preocupa com o aquecimento global, o desenvolvimento sustentável e a preservação do patrimônio histórico, cultural e artístico e a atual Administração do Município constrói banheiros e quiosques em plena praça. Já vi praças com coretos, chafariz, estátua, monumentos, bustos, espelhos d água, mas banheiro e quiosque é a primeira vez. Deve ser o progresso?
Então, para vocês que vão votar nas próximas eleições preparem-se para um dia de muito sol e nenhuma sombra. E não esqueçam o protetor solar.
Larysa L. Letro de Brito
Obs: Perdi na última sexta a manha de Antony. Se alguém a encontrar por lá....guarde-a para mim, pois não devo ir votar dessa vez . Perdoe-me meu candidato.
sábado, 13 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
RODA CULTURAL
Cultura & Humanidade
A potencialidade da arte contemporânea na formação do sujeito.
O "RODA CULTURAL" é uma palestra seguida de bate-papo sobre a cultura brasileira, com o intuito de criar uma rede de pensamento crítico-criativo.
A edição deste ano traz um diferencial: serão 4 participantes à mesa, que farão uma exposição seguida de debate em eles e a platéia.
Palestrantes:
Tiche Vianna - Diretora Artística do Barracão Teatro / Campinas
Marcelo Bonês - Diretor do Andante / Belo Horizonte
Edson Santos - Doutor em Literatura / Belo Horizonte
Cláudio Letro - Mestre em Ciências Sociais / Ipatinga
CCU - Centro Cultural Usiminas
dia 25/09 - 19h e 30
Perguntas que Não Querem Calar
Na obra A Guerra dos Mundos, de Wells, o ser humano é tratado pelos marcianos (ou pelo autor?) de inferiores, ou melhor, de pouco inteligentes, animais mesmos, devido a pouca tecnologia que dispúnhamos.
Mas tecnologia ou mesmo conhecimento cultural nos torna melhores (ou piores) que os outros? Justifica-se a invasão dos “USA e abusa” aos países pobres por serem pobres, ou, em outras palavras (no entender de alguns), “ignorantes”? Ignorantes por não terem a riqueza dos conquistadores, diga-se de passagem.
Será que isso me faz campo propício à colonização? Como o Brasil, que de nações livres se tornou colônia, depois Império, depois República e hoje “colônia livre, mas colônia”?
Mais uma vez lanço ao ar perguntas que não tenho respostas...
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Inspirado no texto “Lugar de encontrar o Outro... Mundo! Mundo de encontrar Outro... Outro de encontrar Lugar”, de Cláudio Letro, no livro ENARTCi – setembro 2008, págs. 12 e 13, promovido pela Híbridus Cia. Dança.
Mas tecnologia ou mesmo conhecimento cultural nos torna melhores (ou piores) que os outros? Justifica-se a invasão dos “USA e abusa” aos países pobres por serem pobres, ou, em outras palavras (no entender de alguns), “ignorantes”? Ignorantes por não terem a riqueza dos conquistadores, diga-se de passagem.
Será que isso me faz campo propício à colonização? Como o Brasil, que de nações livres se tornou colônia, depois Império, depois República e hoje “colônia livre, mas colônia”?
Mais uma vez lanço ao ar perguntas que não tenho respostas...
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Inspirado no texto “Lugar de encontrar o Outro... Mundo! Mundo de encontrar Outro... Outro de encontrar Lugar”, de Cláudio Letro, no livro ENARTCi – setembro 2008, págs. 12 e 13, promovido pela Híbridus Cia. Dança.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Seminário O TEATRO E A RUA
Rubem Leite
arterubemleite@gmail.com
Observação introdutória:
O texto abaixo não é precisamente a opinião de Marcelo Bones, Eduardo Moreira e Didi Peres, mas sim fruto de minha pessoal interpretação\compreensão do que eles proferiram nas suas palestras no Seminário O Teatro e a Rua, em Ipatinga – 30-8-08.
Evento promovido pelo Grupo Galpão (BH/MG) numa parceria com o Grupo de Teatro Farroupilha (Ipatinga MG).
No período da Ditadura as produções artísticas caíram, mas no final de 70 e início de 80, o teatro recomeçou a se movimentar, combatendo a televisão alienante. Os artistas usavam o teatro muito mais para se manifestarem politicamente do que para o fazer teatral.
E vinte anos atrás a população tinha uma relação mais íntima com a rua do que hoje. Era uma outra rua...
E o teatro tem muito a ver com a comunidade onde reside. Por isso, é importante os grupos reverem continuamente sua posição na comunidade a qual pertence.
E atualmente, o teatro na rua se divide em várias “tribos”. Pessoas que vieram do teatro, são uma tribo. O mesmo acontece com pessoas que vieram dos circos (malabares); que vieram dos palhaços. Existem também aqueles que vieram dos movimentos populares. Esses últimos têm uma estética e linguagem bem própria e distinta.
Antigamente era plausível aos grupos se manterem através de bilheteria, mas hoje não é possível, devido às leis de patrocínio. E pelo fato de nossa sociedade ainda continuar elitista. Sinal que não basta apenas eleger presidentes. Lula, por exemplo, mesmo vindo do povão, não conseguiu mudar a política. Em resumo: A nossa sociedade nos permite eleger qualquer pessoa, mas impede (ou ao menos dificulta) uma real mudança social; o que reflete nas políticas artísticas. Dando-nos uma sensação de amparo que na verdade está mais próxima de controle estadual e das empresas que patrocinam com dinheiro público. Para quem não sabe: Parte do imposto de renda as empresas poderão investir nas artes. Ou seja, dinheiro que iria para os cofres públicos será utilizado para fazer propaganda da empresa patrocinadora.
Ipatinga, até meados da década de 1.990, tinha três espaços para teatro, mas que estavam “tomados” por determinados grupos. E a estratégia de sobrevivência dos novos grupos era aproveitar os espaços disponíveis, como a rua, por exemplo, e não se limitar a uma única linguagem cênica.
Alguns fatos curiosos:
Sob o palco do Teatro Zélia Olguin está enterrado um padre que muito apoiou a cultura dos negros em Ipatinga; creio que seu nome é Avelino, Padre Avelino;
O CCU (Centro Cultural Usiminas) foi construído no local onde aconteceu o tiroteio do Massacre de 7 de Outubro (1963) a mando da Usiminas que assim reagiu à greve dos seus funcionários.
Para pensar:
Teatro apresentado em praças é teatro de rua ou de praça?
Por que muita gente não tem interesse pelo fazer artístico de/na rua?
Será que a crise do teatro de rua está na falta de ideologia de seus artistas?
E a pergunta que não quer calar: Para que serve o teatro?
Minhas viagens:
As palavras são estranhas. Um palestrante sobre arte disse que nós, brasileiros, somos vira-latas. Em suas palavras não se percebia nada pejorativo e sim referência à má educação dada aos brasileiros na escola. Mas eu dizendo essa afirmação em nome dele vai parecer que o sujeito quis ofender. Então, como expressar suas palavras no tom correto que ele usou se não sou gravador?
Ao contrário das gravuras, quanto mais pobre e campônia, mais belo é o desenho. Quem se encanta com a pintura de uma mansão? Toda gravura que vi assim foram apenas desenhos. Nunca vi ninguém senti-la como arte. E quem não se encanta com a pintura de um casebre?
Assim são as palavras e as imagens.
arterubemleite@gmail.com
Observação introdutória:
O texto abaixo não é precisamente a opinião de Marcelo Bones, Eduardo Moreira e Didi Peres, mas sim fruto de minha pessoal interpretação\compreensão do que eles proferiram nas suas palestras no Seminário O Teatro e a Rua, em Ipatinga – 30-8-08.
Evento promovido pelo Grupo Galpão (BH/MG) numa parceria com o Grupo de Teatro Farroupilha (Ipatinga MG).
No período da Ditadura as produções artísticas caíram, mas no final de 70 e início de 80, o teatro recomeçou a se movimentar, combatendo a televisão alienante. Os artistas usavam o teatro muito mais para se manifestarem politicamente do que para o fazer teatral.
E vinte anos atrás a população tinha uma relação mais íntima com a rua do que hoje. Era uma outra rua...
E o teatro tem muito a ver com a comunidade onde reside. Por isso, é importante os grupos reverem continuamente sua posição na comunidade a qual pertence.
E atualmente, o teatro na rua se divide em várias “tribos”. Pessoas que vieram do teatro, são uma tribo. O mesmo acontece com pessoas que vieram dos circos (malabares); que vieram dos palhaços. Existem também aqueles que vieram dos movimentos populares. Esses últimos têm uma estética e linguagem bem própria e distinta.
Antigamente era plausível aos grupos se manterem através de bilheteria, mas hoje não é possível, devido às leis de patrocínio. E pelo fato de nossa sociedade ainda continuar elitista. Sinal que não basta apenas eleger presidentes. Lula, por exemplo, mesmo vindo do povão, não conseguiu mudar a política. Em resumo: A nossa sociedade nos permite eleger qualquer pessoa, mas impede (ou ao menos dificulta) uma real mudança social; o que reflete nas políticas artísticas. Dando-nos uma sensação de amparo que na verdade está mais próxima de controle estadual e das empresas que patrocinam com dinheiro público. Para quem não sabe: Parte do imposto de renda as empresas poderão investir nas artes. Ou seja, dinheiro que iria para os cofres públicos será utilizado para fazer propaganda da empresa patrocinadora.
Ipatinga, até meados da década de 1.990, tinha três espaços para teatro, mas que estavam “tomados” por determinados grupos. E a estratégia de sobrevivência dos novos grupos era aproveitar os espaços disponíveis, como a rua, por exemplo, e não se limitar a uma única linguagem cênica.
Alguns fatos curiosos:
Sob o palco do Teatro Zélia Olguin está enterrado um padre que muito apoiou a cultura dos negros em Ipatinga; creio que seu nome é Avelino, Padre Avelino;
O CCU (Centro Cultural Usiminas) foi construído no local onde aconteceu o tiroteio do Massacre de 7 de Outubro (1963) a mando da Usiminas que assim reagiu à greve dos seus funcionários.
Para pensar:
Teatro apresentado em praças é teatro de rua ou de praça?
Por que muita gente não tem interesse pelo fazer artístico de/na rua?
Será que a crise do teatro de rua está na falta de ideologia de seus artistas?
E a pergunta que não quer calar: Para que serve o teatro?
Minhas viagens:
As palavras são estranhas. Um palestrante sobre arte disse que nós, brasileiros, somos vira-latas. Em suas palavras não se percebia nada pejorativo e sim referência à má educação dada aos brasileiros na escola. Mas eu dizendo essa afirmação em nome dele vai parecer que o sujeito quis ofender. Então, como expressar suas palavras no tom correto que ele usou se não sou gravador?
Ao contrário das gravuras, quanto mais pobre e campônia, mais belo é o desenho. Quem se encanta com a pintura de uma mansão? Toda gravura que vi assim foram apenas desenhos. Nunca vi ninguém senti-la como arte. E quem não se encanta com a pintura de um casebre?
Assim são as palavras e as imagens.
SEMINALUZ
Seminaluz reúne grandes nomes em Encontro Nacional de Iluminação
De 18 a 21 de Setembro,
De 18 a 21 de Setembro,
Seminaluz realiza o Encontro Nacional em Iluminação e traz para o Vale do Aço especialistas de todo o país
Depois de ter contemplado o arquiteto Tiago Domingues Carvalho, de Coronel Fabriciano e o iluminador cênico Leandro Costa Calixto, de Ipatinga com uma bolsa de estudos no valor de R$1.660,00 (cada), o Seminaluz continua suas atividades neste segundo semestre de 2008 e realiza o Encontro Nacional.
Depois de ter contemplado o arquiteto Tiago Domingues Carvalho, de Coronel Fabriciano e o iluminador cênico Leandro Costa Calixto, de Ipatinga com uma bolsa de estudos no valor de R$1.660,00 (cada), o Seminaluz continua suas atividades neste segundo semestre de 2008 e realiza o Encontro Nacional.
Entre os dias 18 e 21 de setembro, o Vale do Aço sediará um evento que vai reunir grandes nomes na área de iluminação do país, a fim de promover uma discussão acerca dos conceitos e técnicas da iluminação, além de criar espaço de formação e fomento à iluminação.
Durante quatro dias, os participantes poderão conferir palestras e debates sobre a iluminação nas artes cênicas, arquitetura, tv e vídeo, além de uma oficina sobre direção de fotografia e minicurso sobre fibra-ótica e aplicação de LEDs.
Durante quatro dias, os participantes poderão conferir palestras e debates sobre a iluminação nas artes cênicas, arquitetura, tv e vídeo, além de uma oficina sobre direção de fotografia e minicurso sobre fibra-ótica e aplicação de LEDs.
Além disso, vão assistir a apresentação de cenas dos espetáculos em processo de criação com os bolsistas da primeira etapa.
Toda programação é de acesso gratuito com inscrições antecipadas pelo sítio http://www.seminaluz.com
ou pelos telefones 3095-0099 / 9147-0596
O Seminaluz - Arte e Tecnologia é uma realização de Morrison Deolli - Luz e Conceito, com o patrocínio da Usiminas, através da Lei de Incentivo Cultura – MG.
+ Informações:
Morrison Deolli
3095-0099 / 9147-0596
http://www.seminaluz.com/
http://br.mc656.mail.yahoo.com/mc/compose?to=seminaluz@seminaluz.com.br
Produção:
Wenderson Godoy
3821-3513 / 8825-1771
Leila Cunha
8829-9591
Assessoria de Comunicação:
Fabiana Schimitz
http://br.mc656.mail.yahoo.com/mc/compose?to=faschimitz@yahoo.com.br
8817-3124
Onde vamos...?
Você nunca ouviu falar da mulher do algodão, quando você estudava na escola primária?
Toda vez que a gente pedia a Tia para ir ao banheiro, ainda mais se fôssemos sozinhos, os colegas nos assustavam: "cuidado com a mulher do algodão!".
Acho que era a Velha do Algodão. Uma mulher morta, talvez com algodão nas narinas, que dizem aparecia nos banheiros e fazia os moleques mijar de medo.
Era puro terror!
Será que a lenda da mulher do algodão não existe mais nas escolas públicas?
Deus..., onde vamos parar sem lendas e sem medos, sem pique-esconde, sem amarelinha, sem andoleta e "caí no poço"?
Salve,
Carlos Peixoto
Toda vez que a gente pedia a Tia para ir ao banheiro, ainda mais se fôssemos sozinhos, os colegas nos assustavam: "cuidado com a mulher do algodão!".
Acho que era a Velha do Algodão. Uma mulher morta, talvez com algodão nas narinas, que dizem aparecia nos banheiros e fazia os moleques mijar de medo.
Era puro terror!
Será que a lenda da mulher do algodão não existe mais nas escolas públicas?
Deus..., onde vamos parar sem lendas e sem medos, sem pique-esconde, sem amarelinha, sem andoleta e "caí no poço"?
Salve,
Carlos Peixoto
terça-feira, 9 de setembro de 2008
aRTISTA e aRTEIRO
Rubem Leite – 05 a 09 de setembro de 2008
arterubemleite@gmail.com
“De repente – não, não de repente, nada é de repente nela, tudo parece uma continuação do silêncio”.
“E meus dedos não são frágeis. Eu tenho uma força, eu sei. E minha força está na suavidade de meus dedos frágeis e delicados”.
“Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.
Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.
- Você gosta de poesia?
- Gosto!
- Para que serve a poesia?
- ...
- Vai encher sua barriga? Pagar suas contas?
- Ah, não!
- Daí se percebe o quanto ela é inútil.
- Ah, não!
- Como não?
- ...
Na conversa entre o intelectolóide e o vigia da faculdade chega o nosso Benito.
- Concordo que a poesia é inútil.
- Você concorda Benito?
- Sim, Uálassi. Concordo. E digo mais. Nenhuma arte é útil. Todas as manifestações artísticas são inúteis.
- Também as acho fúteis.
- Dá lincença que vou voltar pro trabalho.
- Uai! Pensava que você gostasse de poesia.
- Particularmente, não conheço nada mais útil que uma privada. Mas fútil nenhuma arte é... Por que que toda vez que entra um Governo Ditatorial a primeira coisa que faz é eliminar ou limitar as manifestações culturais?
- ...
- Porque arte e cultura formam e informam.
- Ah! Sabia que de você, um zero a esquerda...
- Zero de esquerda, faça o favor.
- ... de um zero não poderia sair coisa que presta. Sai da minha frente que vou embora.
- Bem Benito, eu gosto de poesia.
Somente sorrisos sem nenhuma palavra.
Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.
- Bom dia, mãe! Bênça!
- Bom dia? Bom dia? Que Mane bom dia!
- ...
- Onde você vai, menino?
- Encontrar uns amigos.
- Fazer o quê?
- Ler uns livros. Estudar.
- Ler! Ler! Ler! Vai trabalhar, vagabundo!
- Estou trabalhando mãe. Estou escrevendo um livro. Montando uma peça...
Ela entra pra dentro deixando Benito falando só e volta:
- Procura aqui! Vamos! Procura aqui. – Joga um montão de jornais velhos no chão. – Vamos ver se acha emprego para poeta? Mostre onde tem trabalho. Ta ouvindo? Trabalho que dê dinheiro. Que encha a barriga. Que pague as contas para artista.
Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.
- Benito? Bom dia!
- Bom dia, Géraldi! A ligação ta ruim.
- É o seguinte. A Kaísha Coconômica está precisando de artista para um trabalho teatral. Aí eu indiquei você.
- Legal, cara. Obrigado!
- Marquei um encontro para você hoje às 16h. Dá procê ir?
- É claro que dá.
- Então até.
- Inté!
Depois de um trabalhão montando seu currículo em páuer pôinti...
- Boa tarde!
- Boa tarde!
- Você é Zé Malandrim? O Géraldi me mandou procurá-lo.
- Sim sou eu.
- Eu trouxe meu currículo – entrega o cd – trouxe uma proposta de trabalho, mas preciso saber exatamente o que a Caixa precisa.
- A Escola Recreação Recreativa quer que a gente conte a história do dinheiro. Daí pensamos em convidar um artista para brincar com eles.
- Interessante.
- Queremos que você vá de segunda a sexta, de manhã, de tarde e de noite.
- Você quer uma estória ou uma apresentação teatral? Porque se for uma estória é só a mim que terá que pagar. Agora se for uma apresentação teatral, penso em mais duas pessoas.
- É? Tenho que pagar? Quanto?
- Só eu? Tenho que pesquisar para criar a estória e mais quinze apresentações... R$3.500,00 no total. Agora, se quer uma apresentação com três pessoas... Deixe ver... Pesquisa, criação e apresentações: R$10.000,00.
- ...
- Ta estranhando os valores? Você pode até encontrar gente que cobre menos, mas alguém com minha qualidade...
- É que pensamos em R$50,00 por todo o serviço...
- ??????? Bem, o meu preço é esse.
- Ah ta! Bem, vamos examinar e depois te daremos resposta.
- Então, até mais.
- Cara! É verdade o que escreveu sobre o mosquito Geraldo? É sobre o Geraldo que a gente conhece?
- Sim!
- Ele passou por tudo aquilo?
- Mais ou menos... Uma parte é ficção...
- As Moscas Zunem é ótimo!
- Ela se vingou dele mesmo?
- Não, aí foi viagem minha. Mas ele realmente é assim mesmo.
- E aí! E o teatro?
- Estou com um trabalho ótimo. Bom cachê... e o melhor. Estou falando daquilo que acredito.
“De repente – não, não de repente, nada é de repente nela, tudo parece uma continuação do silêncio”.
“E meus dedos não são frágeis. Eu tenho uma força, eu sei. E minha força está na suavidade de meus dedos frágeis e delicados”.
“Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.
Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.
- Você gosta de poesia?
- Gosto!
- Para que serve a poesia?
- ...
- Vai encher sua barriga? Pagar suas contas?
- Ah, não!
- Daí se percebe o quanto ela é inútil.
- Ah, não!
- Como não?
- ...
Na conversa entre o intelectolóide e o vigia da faculdade chega o nosso Benito.
- Concordo que a poesia é inútil.
- Você concorda Benito?
- Sim, Uálassi. Concordo. E digo mais. Nenhuma arte é útil. Todas as manifestações artísticas são inúteis.
- Também as acho fúteis.
- Dá lincença que vou voltar pro trabalho.
- Uai! Pensava que você gostasse de poesia.
- Particularmente, não conheço nada mais útil que uma privada. Mas fútil nenhuma arte é... Por que que toda vez que entra um Governo Ditatorial a primeira coisa que faz é eliminar ou limitar as manifestações culturais?
- ...
- Porque arte e cultura formam e informam.
- Ah! Sabia que de você, um zero a esquerda...
- Zero de esquerda, faça o favor.
- ... de um zero não poderia sair coisa que presta. Sai da minha frente que vou embora.
- Bem Benito, eu gosto de poesia.
Somente sorrisos sem nenhuma palavra.
Com sua mochilinha de lado, roupas largas, cabelos grandes, barba.
Lendo, Escrevendo. Escrevendo. Lendo. Escrevendo. Escrevendo. Lendo.
- Bom dia, mãe! Bênça!
- Bom dia? Bom dia? Que Mane bom dia!
- ...
- Onde você vai, menino?
- Encontrar uns amigos.
- Fazer o quê?
- Ler uns livros. Estudar.
- Ler! Ler! Ler! Vai trabalhar, vagabundo!
- Estou trabalhando mãe. Estou escrevendo um livro. Montando uma peça...
Ela entra pra dentro deixando Benito falando só e volta:
- Procura aqui! Vamos! Procura aqui. – Joga um montão de jornais velhos no chão. – Vamos ver se acha emprego para poeta? Mostre onde tem trabalho. Ta ouvindo? Trabalho que dê dinheiro. Que encha a barriga. Que pague as contas para artista.
Olhando. Vendo. Escutando. Ouvindo. Pensando. Sentindo. Sentindo. Sente indo.
Benito. Ingênuo Benito. Que quer ser artista. Que pensar ser poeta.
- Benito? Bom dia!
- Bom dia, Géraldi! A ligação ta ruim.
- É o seguinte. A Kaísha Coconômica está precisando de artista para um trabalho teatral. Aí eu indiquei você.
- Legal, cara. Obrigado!
- Marquei um encontro para você hoje às 16h. Dá procê ir?
- É claro que dá.
- Então até.
- Inté!
Depois de um trabalhão montando seu currículo em páuer pôinti...
- Boa tarde!
- Boa tarde!
- Você é Zé Malandrim? O Géraldi me mandou procurá-lo.
- Sim sou eu.
- Eu trouxe meu currículo – entrega o cd – trouxe uma proposta de trabalho, mas preciso saber exatamente o que a Caixa precisa.
- A Escola Recreação Recreativa quer que a gente conte a história do dinheiro. Daí pensamos em convidar um artista para brincar com eles.
- Interessante.
- Queremos que você vá de segunda a sexta, de manhã, de tarde e de noite.
- Você quer uma estória ou uma apresentação teatral? Porque se for uma estória é só a mim que terá que pagar. Agora se for uma apresentação teatral, penso em mais duas pessoas.
- É? Tenho que pagar? Quanto?
- Só eu? Tenho que pesquisar para criar a estória e mais quinze apresentações... R$3.500,00 no total. Agora, se quer uma apresentação com três pessoas... Deixe ver... Pesquisa, criação e apresentações: R$10.000,00.
- ...
- Ta estranhando os valores? Você pode até encontrar gente que cobre menos, mas alguém com minha qualidade...
- É que pensamos em R$50,00 por todo o serviço...
- ??????? Bem, o meu preço é esse.
- Ah ta! Bem, vamos examinar e depois te daremos resposta.
- Então, até mais.
- Cara! É verdade o que escreveu sobre o mosquito Geraldo? É sobre o Geraldo que a gente conhece?
- Sim!
- Ele passou por tudo aquilo?
- Mais ou menos... Uma parte é ficção...
- As Moscas Zunem é ótimo!
- Ela se vingou dele mesmo?
- Não, aí foi viagem minha. Mas ele realmente é assim mesmo.
- E aí! E o teatro?
- Estou com um trabalho ótimo. Bom cachê... e o melhor. Estou falando daquilo que acredito.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
PARCERIA ARTÍSTICA em BH
Meus caros amigos:
Por motivos diversos,
sinto informá-los que a abertura da exposição
será adiada para o dia 12/10, e se extenderá até 31/10.
Peço perdão a todos pelo imprevisto.
Obrigado pela compreensão,
Obrigado pela compreensão,
Esta é a primeira parceria artística entre Camila Lima e Juan Fiorini.
A exposição será no Parque Lagoa do Nado
(Rua Hermenegildo de Barros, 384, Bairro Itapoã - próximo da Av. Pedro I).
Fazemos, de maneira calorosa, o convite para que possamos compartilhar convosco aquilo de que tanto gostamos: arte.
Abraços,
Juan Fiorini
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
A BEIRA ou GERUSA LEM
Gerusa Lem.
Toda a região era assombrada.
O menino que sumiu à beira do Ipanema. Outro que sumiu à beira do Rio Doce. E quantos à beira do Santo Antônio? Sempre à beira.
O começo foi na beira do Ribeirão Ipanema. A origem do terror.
Brincava o menino. Brincavam outras crianças. Sempre só criança só.
O menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega.
O menino.
E assim foram os outros.
Só um vulto. Grande. Era visto por todas as crianças. Um vulto. Adulto nunca viu. Nunca tinham adultos. Só eu vi.
E Gerusa Lem?
Quinze anos
Decidi que tinha que acabar. Sou irmã do primeiro menino. Os sumiços tinham que parar. Meu filhinho foi ao Santo Antônio. Ouvi sem me mostrar a conversa do menino com os amiguinhos. E sem me mostrar foi com eles. Eu vi um homem. Vi um cavalo. Segui o homem sem me mostrar. Ele estava tão confiante que nem me percebeu. Não percebeu a faca. Não tinha certeza de sua culpa, mas decidi matá-lo. Ele era o culpado.
Três anos e o medo continuava em todos.
Gerusa Lem.
Os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.
Então vou criar uma lenda. Gerusa Lem. Vi meu irmão olhando um cavalo ou era a sombra dele? Não! O vulto era um cavalo. Mas o homem, sim, tenho certeza, só pode ter sido um homem. O homem que matei, que arrastei, que joguei no rio. Tem que ser ele. Se o vulto era um cavalo colocarei Gerusa Lem como quem matou o vulto. Outras crianças voltarão ao rio. Vou com eles sem me mostrar. Gerusa vai comigo. Eu porei um peruca desgrenhada e a deixarei sanguínia. E seus gritos ecoarão nos ouvidos de todos.
Crianças no Ipanema.
Um menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega. Um vulto. Grande barulho. Os meninos gritam. Empurro Gerusa Lem que corre até o vulto. Somem os dois no ribeirão. Silêncio. Quietude.
Voltam para casa.
Fomos salvos? Quem nos salvou? Foi Gerusa Lem, disse o menino da beira.
Cinco anos e os desaparecimentos se extinguiram. Bem! Vez ou outra some alguém, mas é só acidente. Agora temos uma protetora – Gerusa Lem.
Matei minha porca premiada Gerusa Lem. Mas, os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.
----------------------------
Rubem Leite – 25-5-08
arterubemleite@gmail.com
Toda a região era assombrada.
O menino que sumiu à beira do Ipanema. Outro que sumiu à beira do Rio Doce. E quantos à beira do Santo Antônio? Sempre à beira.
O começo foi na beira do Ribeirão Ipanema. A origem do terror.
Brincava o menino. Brincavam outras crianças. Sempre só criança só.
O menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega.
O menino.
E assim foram os outros.
Só um vulto. Grande. Era visto por todas as crianças. Um vulto. Adulto nunca viu. Nunca tinham adultos. Só eu vi.
E Gerusa Lem?
Quinze anos
Decidi que tinha que acabar. Sou irmã do primeiro menino. Os sumiços tinham que parar. Meu filhinho foi ao Santo Antônio. Ouvi sem me mostrar a conversa do menino com os amiguinhos. E sem me mostrar foi com eles. Eu vi um homem. Vi um cavalo. Segui o homem sem me mostrar. Ele estava tão confiante que nem me percebeu. Não percebeu a faca. Não tinha certeza de sua culpa, mas decidi matá-lo. Ele era o culpado.
Três anos e o medo continuava em todos.
Gerusa Lem.
Os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.
Então vou criar uma lenda. Gerusa Lem. Vi meu irmão olhando um cavalo ou era a sombra dele? Não! O vulto era um cavalo. Mas o homem, sim, tenho certeza, só pode ter sido um homem. O homem que matei, que arrastei, que joguei no rio. Tem que ser ele. Se o vulto era um cavalo colocarei Gerusa Lem como quem matou o vulto. Outras crianças voltarão ao rio. Vou com eles sem me mostrar. Gerusa vai comigo. Eu porei um peruca desgrenhada e a deixarei sanguínia. E seus gritos ecoarão nos ouvidos de todos.
Crianças no Ipanema.
Um menino entrou na água. Saiu. Sentou na areia. As crianças corriam no pique-pega. Um vulto. Grande barulho. Os meninos gritam. Empurro Gerusa Lem que corre até o vulto. Somem os dois no ribeirão. Silêncio. Quietude.
Voltam para casa.
Fomos salvos? Quem nos salvou? Foi Gerusa Lem, disse o menino da beira.
Cinco anos e os desaparecimentos se extinguiram. Bem! Vez ou outra some alguém, mas é só acidente. Agora temos uma protetora – Gerusa Lem.
Matei minha porca premiada Gerusa Lem. Mas, os africanos dizem que só uma lenda acaba com outra.
----------------------------
Rubem Leite – 25-5-08
arterubemleite@gmail.com
Encontro de Dança Contemporânea apresenta espetáculos a R$ 1,99 neste final de semana em Ipatinga
A programação do ENARTCi
prevê a apresentação de um espetáculo infantil de dança contemporânea "De Esconder pra Lembrar", da Meia Ponta Cia. de Dança, (BH), no domingo (07/09) às 15h no Teatro do Centro Cultural Usiminas (Av. Pedro Linhares Gomes, 3900 – Shopping do Vale do Aço)
e a presença de Wagner Carvalho, curador do festival "Move Berlim".
Uma das novidades do ENARTCi 2008 será o lançamento do "Caderno ENARTCi", do Hibridus, que traz uma coletânea de textos sobre as edições passadas do evento, fotos, programação e ainda a opinião de alguns parceiros do grupo sobre dança.
No último dia do evento, domingo, às 16h, na Biblioteca Central de Idéias, o Hibridus propõe uma conversa pública sobre o ENARTCi e dança contemporânea com o objetivo de colher impressões e, desde já, pensar nas propostas para o próximo ano.
O ENARTCi é uma realização do Hibridus e tem o patrocínio da USIMINAS através do apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
Mais informações pelos telefones
0xx31 3821-3513 ou 8825-1771
terça-feira, 2 de setembro de 2008
CONTO FANTÁSTICO
Rubem Leite
Estou lendo desde sábado Contos Fantásticos, de Ryûnosuke Akutagawa (editora Z) e O Mensageiro da Concha, de Chitra B. Divakaruni (editora Objetivos), que estou amando mais que o primeiro e ambos são ótimos.
Talvez as aventuras dos dois livros me fizeram aventurar.
Eu, com barba feia me vejo em Istambul sem nenhum dinheiro, sem falar a língua local e com mendigas roupas ocidentais de um país tropical.
Com medo do que poderia me acontecer.
Com fome.
Querendo falar com alguém que me ouvisse e entendesse.
Querendo saber como cheguei em Istambul.
Como estava daquele jeito.
Como voltar para casa.
Andando pelas ruas tentando conversar com as pessoas nos bares (estava com fome, não apetite). Brasil, dizia, apontando para meu peito com as duas mãos. Entende minhas palavras? Em geral só olhavam para mim. Uns com cara feia. Outros, rindo. E a maioria sem expressão ou com cara de “não to entendendo nada”.
Olhava esperançoso para as comidas.
E seus olhares continuavam.
Eu com medo de pedir.
E não me olhavam mais.
Eu era ninguém.
Perambulando de rua em rua parei em bares, restaurantes e rodoviária.
Brasil, apontava para mim. Entende minhas palavras?
Uma mulher olhou para mim e apontou com a cabeça as duas funcionárias da rodoviária.
Elas me entendiam.
Deram-me uma passagem.
Puseram-me num ônibus.
Estou em Ipatinga (MG).
Vejo Nena correndo pelas ruas do Imbaúbas, descendo seus morros e se escondendo em suas casas. Os enfermeiros com camisas de força vão atrás dela. Eu também.
Ouço no vento que está louca. O vento me diz coisas.
Em seu prontuário o Atestado de Loucura começa com uns versos, seus versos. Depois vem o laudo médico. Quatro parágrafos. Em belas, empoladas, enroladas palavras dizendo sempre que ela está louca.
Eu a encontro.
Seu olhar é pânico.
Meus olhos pedem silêncio.
Penso como ela está conseguindo corre com seus pés doentes.
Escondo-me com ela numa vasta moita num jardim doméstico.
Como entramos no jardim?
Vamos descer e ir até minha casa.
Atentos.
Lentos.
Depois, eu sei, não sei como eu sei, a próxima será Cida.
E depois?
Marília? Magali? Aroldo? Romero?
Estou lendo desde sábado Contos Fantásticos, de Ryûnosuke Akutagawa (editora Z) e O Mensageiro da Concha, de Chitra B. Divakaruni (editora Objetivos), que estou amando mais que o primeiro e ambos são ótimos.
Talvez as aventuras dos dois livros me fizeram aventurar.
Eu, com barba feia me vejo em Istambul sem nenhum dinheiro, sem falar a língua local e com mendigas roupas ocidentais de um país tropical.
Com medo do que poderia me acontecer.
Com fome.
Querendo falar com alguém que me ouvisse e entendesse.
Querendo saber como cheguei em Istambul.
Como estava daquele jeito.
Como voltar para casa.
Andando pelas ruas tentando conversar com as pessoas nos bares (estava com fome, não apetite). Brasil, dizia, apontando para meu peito com as duas mãos. Entende minhas palavras? Em geral só olhavam para mim. Uns com cara feia. Outros, rindo. E a maioria sem expressão ou com cara de “não to entendendo nada”.
Olhava esperançoso para as comidas.
E seus olhares continuavam.
Eu com medo de pedir.
E não me olhavam mais.
Eu era ninguém.
Perambulando de rua em rua parei em bares, restaurantes e rodoviária.
Brasil, apontava para mim. Entende minhas palavras?
Uma mulher olhou para mim e apontou com a cabeça as duas funcionárias da rodoviária.
Elas me entendiam.
Deram-me uma passagem.
Puseram-me num ônibus.
Estou em Ipatinga (MG).
Vejo Nena correndo pelas ruas do Imbaúbas, descendo seus morros e se escondendo em suas casas. Os enfermeiros com camisas de força vão atrás dela. Eu também.
Ouço no vento que está louca. O vento me diz coisas.
Em seu prontuário o Atestado de Loucura começa com uns versos, seus versos. Depois vem o laudo médico. Quatro parágrafos. Em belas, empoladas, enroladas palavras dizendo sempre que ela está louca.
Eu a encontro.
Seu olhar é pânico.
Meus olhos pedem silêncio.
Penso como ela está conseguindo corre com seus pés doentes.
Escondo-me com ela numa vasta moita num jardim doméstico.
Como entramos no jardim?
Vamos descer e ir até minha casa.
Atentos.
Lentos.
Depois, eu sei, não sei como eu sei, a próxima será Cida.
E depois?
Marília? Magali? Aroldo? Romero?
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
ARANHA LASCADA
- Na minha rua tem uns tratores escavando e um deles tirou uma estaca do buraco e uma aranha saiu e falou:
- "Ê lasquera, sô!"
- E foi embora nervosa para nunca mais voltar.
Alguns meses atrás, num ônibus, tinha um menininho de uns quatro anos contando tal estória. Seu nome, perguntei-lhe, é Pablo.
- "Ê lasquera, sô!"
- E foi embora nervosa para nunca mais voltar.
Alguns meses atrás, num ônibus, tinha um menininho de uns quatro anos contando tal estória. Seu nome, perguntei-lhe, é Pablo.
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