Rubem Leite – 28-8-08 - arterubemleite@gmail.com
Inspirada em Nári, que espera Maria Flor.
Assim, eu ofereço a fábula à Maria Flor, Nári e João Carlos.
1ª versão (ato de criação):
O Sol fecundou a Noite com seu sorriso. E a Noite gera a Rainha das Flores que breve nascerá fazendo arte para alegrar o mundo.
Uma raposa mafiosa desde já detesta a menina por não querer a alegria do mundo, mas o Galo não permitirá e desde já proclama cantando as más intenções da raposa.
Então a raposa atacou o Galo que subiu para o alto de uma árvore e cantou ainda mais alto avisando o Sol e depois expulsou a raposa com seus bicos e esporas.
2ª versão (1ª modificação):
O Sol Fecundou a Noite com seu sorriso.
E a noite gera a Rainha das Flores.
Que breve nascerá fazendo arte para alegrar o mundo.
Mas nem tudo serão flores para a Rainha das Flores.
Uma raposa mafiosa detesta a menina ainda não nascida.
Detesta, pois ela trará alegria para seus súditos.
Trará prosperidade para o Reino.
E harmonia para o mundo.
A raposa, Bambi é seu nome, tem um plano.
Planeja atacá-la ainda recém nascida.
A babá vai levá-la ao jardim.
Todas as manhãs seu pai lhe dará energia.
Sempre entre oito e dez horas.
Todos já sabem disso.
Depois vai levá-la para a sombra de uma árvore, sua avó.
Acalantada pela mãe da Noite dormirá mais um pouco.
E vai atacá-la quando dorme nos galhos da velha árvore.
Eis o plano da Bambi.
Mas o Galo não deixará.
E desde já proclama com seu canto as más intenções da raposa.
Então a raposa invejosa e má atacou o Galo.
E ele subiu para o alto de uma árvore.
Lá ele cantou e cantou.
E o Sol escutou e se armou.
E o Galo expulsou a raposa com seu bico e suas esporas.
E a Rainha das Flores está salva.
Pronta para nascer, crescer e fazer da Terra o Mundo Ideal.
Fim.
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
5 coisas boas
abaixo email's enviado para meu endereço na revista cultural Nota Independente:
nome: José Estanislau Filho>> mensagem: Seguinte: Clevane Pessoa está antenada nos eventos culturais e > divulgou notaindependente. Parabéns! Também rabisco versos e prosas.Nota > 10 procês. J. Estanislau Filho
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Junior SqL>> mensagem: Opa !! navegando pela internet achei o site de vcs e achei um > maximo,um espaço bacana para produçoes independentes..eu faço parte de um > grupo de videos insanos..coisa que nao é tao normal e raro no > Brasil,queria divulgar os nossos videos aqui se vcs quiserem é claronossos > videos estao em nosso blogsitewww.inutilvideos.blogspot.comdesde ja > obrigado pela atençaoabraço
-----------------------------------------------------------------
Thiago Carvalho>> mensagem: Boa Tarde, sou da acessoria de imprensa da Festa Literária de > Uberlândia, e gostaríamos de fazer a divulgação de nosso evento em sua > agenda. Aí vão os dados:FLU - FESTA LITERÁRIA DE UBERLÂNDIAData: 27 à 31 > de AgostoLocal: Praça Coronel CarneiroMunicípio: UberlândiaOrganização: > Contorno Projetos e AçõesTelefone: (34)3216-2666 / 9996-3087E-mail: > http://www.blogger.com/eb site: http://www.festaliteraria.comno/ site, tem uma > área chamada "Sala de Imprensa", onde há um press release detalhado e > imagens.Aguardo contato.Atenciosamente,Equipe FLU - Festa Literária de > Uberlândia
terça-feira, 19 de agosto de 2008
A VOLTA DA MULHER BARBUDA
Fazia uma luminosa manhã.
Foi assim de repente, tão de repente que não deu tempo de passar na tevê, montada em um cavalo de asas ela surgiu de trás das nuvens e planou no azul do céu como se fosse um disco voador. Todo mundo viu e acreditou. Até mesmo os jornalistas que duvidam de tudo, mas que por motivos etílicos e profissionais vivem à caça de notícias pagas - estes já tinham até a manchete da capa:
A VOLTA DA MULHER BARBUDA
Era branco o seu cavalo. Negra, a cor da mulher; sua pele negra e sedosa era tão linda como a pérola negra do Oceano Índico. E que bunda!
Ninguém duvidaria de tamanha beleza. Finalmente, havia chegado o dia. Mas, o que será que pretendia aquela Deusa Negra e peluda, ao pousar, assim, vestida como veio ao mundo, feito Eva no terreiro de Adão?
No centro da cidade, o povo, abestalhado de tanto apreciar os desfiles de carroças puxadas por pangarés, contratados para fazer a propaganda política do governo de Sucupira, a tudo assistia, estupefato.
Ela desceu do cavalo. Os dedos finos de seus pés tocaram o chão negro do asfalto.
Longas madeixas tapavam-lhe os faróis dos seios túrgidos, e dos pelos de sua gruta lúbrica, à medida que ela avançava pela Avenida Vinte e Oito de Abril, ouviam-se gemidos de "Ui, Ui, Ui". Perfume de gardênia. Suas pernas eram esguias, pernas de amazonas.
Puxando o quadrúpede pelas rédeas, a cavaleira negra dirigiu-se a um menino que vendia ovos cozidos. Chegando à praça primeiro de maio, o populacho fez um círculo ao seu redor. Tem de quê, ela perguntou.
__ Codorna, pata, ornitorrinco, jacaré, galinha e avestruz.
__ E de cobra-coral? Não tem ovo de cobra coral? Pelas barbas do profeta Daniel, que cidade mais atrasada!
__ Não - respondeu o pirralho, tirando a cara de dentro da caixa de isopor e dando de testa com a testa cabeluda daquele mundão de mulher. Por mais que ele se esforçasse, o menino, ele não conseguia desviar os olhos dos olhos penetrantes da esfinge barbuda:
"Como é que eu vou contar para os meus amigos que eu vi uma mulher pelada bem na minha frente e não tive coragem de olhar para os peitos dela?".
E que peitos!
Nua, o corpo negro da mulher, a todos hipnotizava. Mas ninguém saberia dar detalhes de sua beleza, de tão bonita que era a disgramada. Nunca se vira beleza tão estonteante, nem nas revistas masculinas de mulher pelada, nem debaixo das cobertas do Big Brother. Os curiosos não conseguiam tirar os olhos do olhar misterioso da negra desnuda, atraídos pelo brilho de sua beleza interior.
Quem ousaria enxergar a beleza interior de uma mulher nua? E fita-la por dentro, sem maldade, desviando os olhos do pecado, como fazem os fotógrafos da Playboy? Oh, Glória! Por fora toda mulher é igual: bocas, peitos, pernas mãos e xota. Mas por dentro, seria ela uma anja? Ou quem sabe a filha do Cão?
Formou-se um rebuliço; carros paravam, pessoas desciam dos escritórios, lojas e bancos fecharam as portas e em pouco tempo a notícia paralisou toda a cidade; até a sessão da Câmara dos Vereadores foi interrompida, justo no dia em que os edis votavam o projeto que concedia o título de cidadão honorário para o diabo.
De onde veio essa mulher?
É gravação de novela?
O que está acontecendo? Nó, que cavalão! E o bicho tem asas! Será que ele voa?
Se voa?! Eu vi na hora que ela desceu montada nele! Olha lá!, olha lá!, o bicho vai mijar! NÓ!, que é aquilo, Jesus!!! Que piruzão!
Acho que é propaganda de banco.
Não, é a mulher jabuticaba.
Deve ser comercial de aparelho de barba. Cruz em credo! Eu nunca vi tanto cabelo, será que ela é irmã do Toni Ramos?
Que tumulto é este? – perguntavam-se as pessoas.
Alguém saiu correndo, de celular na orelha, gritando "Prefeito, prefeito, a mulher barbuda chegou!".
A polícia apareceu, mas os meganhas, extasiados diante da beleza pura da mulher negra, caíram na farra, misturando-se ao povaréu.
No centro da praça, a deusa de ébano tirou um ovo da axila. Depois, levantou-o com a mão direita, enquanto que com a mão esquerda tapava os pelos negros daquela palavra cabeluda que aflorava bem no meio de suas coxas. Ato contínuo, olhando para o céu ela pronunciou estas palavras:
"Eis o ovo gerador da vida. Quem conservar este ovo, será conservado. Quem desprezar o ovo, pelo voto popular será desprezado".
A claque gritava, pulava e aplaudia:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
"Quem babar neste ovo terá direito a um babador, ganhará um cargo público e poderá contratar todos os seus parentes, e pela baba coletiva será bem recompensado. Quem gorar o ovo, pelo voto do povo será enganado".
Tomando de uma grande frigideira (que ela fez aparecer com um estalar de dedos), avental, escumadeira, touca de cabelo, óleo de cozinha e um fogão, e dançando como uma lamparina no Lago dos Cisnes, ela quebrou o ovo em um prato e pôs-se a preparar uma omelete para cinco mil pessoas.
O povo gritava, maravilhado, antegozando as delícias do aroma que exalava da rica iguaria:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
Ao fim do ato, preparado o repasto, alguém apareceu com dez mil litros de chope em um caminhão pipa. E ela então ordenou que fossem organizadas dez filas de quinhentas pessoas. Depois, num gesto suave, a mulher tirou o avental e a touca de cabelo, ficando novamente nua em pelo, e agradeceu pelo alimento, orando assim:
"Ovai, ovei, ovemos todos nós. Ovo para o pai, ovo para a mãe, ovo para o filho, Ovo para a tia e ovo para João e Maria. Quem de vós seríeis capaz de pronunciar a palavra OVO de trás pra frente em sete idiomas? Ovo no café da manhã. Ovo no almoço e ovo no jantar. Povo, vós não sois galinhas poedeiras! Aves condenadas a viver em gaiolas, comendo qualquer porcaria, a luz da televisão acesa noite e dia em suas cabeças, para serem abatidas aos quarenta e cinco dias? Atentais que o povo não foi feito para o ovo, e sim o ovo é que foi feito para o povo. Por que do ovo viemos, para o ovo em pó voltaremos, e pelo voto do povo renasceremos. É impossível fazer pizza sem quebrar o ovo! Pois eu vim para acabar com este Tempo em que a mentira é servida sem sal, pelo preço módico de um real. Hoje, os políticos não valem um ovo podre na cara. Muitos serão os candidatos, mas poucos terminarão o mandato sem manchas na cueca, graças à Polícia Federal. Irmãos, quantos pintinhos inocentes deixaram de nascer, assassinados ainda na casca do ovo, para matar a fome dos homens? Tenho dito: é chegado o Tempo em que será mais fácil nascer cabelo em ovo do que um candidato a prefeito ser aceito à mesa no Restaurante dos Ratos".
Alguém gritou no meio da multidão:
Vamo pará com este papo furado que eu tô com fome!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
JT PALHARES
jtpalhares
Foi assim de repente, tão de repente que não deu tempo de passar na tevê, montada em um cavalo de asas ela surgiu de trás das nuvens e planou no azul do céu como se fosse um disco voador. Todo mundo viu e acreditou. Até mesmo os jornalistas que duvidam de tudo, mas que por motivos etílicos e profissionais vivem à caça de notícias pagas - estes já tinham até a manchete da capa:
A VOLTA DA MULHER BARBUDA
Era branco o seu cavalo. Negra, a cor da mulher; sua pele negra e sedosa era tão linda como a pérola negra do Oceano Índico. E que bunda!
Ninguém duvidaria de tamanha beleza. Finalmente, havia chegado o dia. Mas, o que será que pretendia aquela Deusa Negra e peluda, ao pousar, assim, vestida como veio ao mundo, feito Eva no terreiro de Adão?
No centro da cidade, o povo, abestalhado de tanto apreciar os desfiles de carroças puxadas por pangarés, contratados para fazer a propaganda política do governo de Sucupira, a tudo assistia, estupefato.
Ela desceu do cavalo. Os dedos finos de seus pés tocaram o chão negro do asfalto.
Longas madeixas tapavam-lhe os faróis dos seios túrgidos, e dos pelos de sua gruta lúbrica, à medida que ela avançava pela Avenida Vinte e Oito de Abril, ouviam-se gemidos de "Ui, Ui, Ui". Perfume de gardênia. Suas pernas eram esguias, pernas de amazonas.
Puxando o quadrúpede pelas rédeas, a cavaleira negra dirigiu-se a um menino que vendia ovos cozidos. Chegando à praça primeiro de maio, o populacho fez um círculo ao seu redor. Tem de quê, ela perguntou.
__ Codorna, pata, ornitorrinco, jacaré, galinha e avestruz.
__ E de cobra-coral? Não tem ovo de cobra coral? Pelas barbas do profeta Daniel, que cidade mais atrasada!
__ Não - respondeu o pirralho, tirando a cara de dentro da caixa de isopor e dando de testa com a testa cabeluda daquele mundão de mulher. Por mais que ele se esforçasse, o menino, ele não conseguia desviar os olhos dos olhos penetrantes da esfinge barbuda:
"Como é que eu vou contar para os meus amigos que eu vi uma mulher pelada bem na minha frente e não tive coragem de olhar para os peitos dela?".
E que peitos!
Nua, o corpo negro da mulher, a todos hipnotizava. Mas ninguém saberia dar detalhes de sua beleza, de tão bonita que era a disgramada. Nunca se vira beleza tão estonteante, nem nas revistas masculinas de mulher pelada, nem debaixo das cobertas do Big Brother. Os curiosos não conseguiam tirar os olhos do olhar misterioso da negra desnuda, atraídos pelo brilho de sua beleza interior.
Quem ousaria enxergar a beleza interior de uma mulher nua? E fita-la por dentro, sem maldade, desviando os olhos do pecado, como fazem os fotógrafos da Playboy? Oh, Glória! Por fora toda mulher é igual: bocas, peitos, pernas mãos e xota. Mas por dentro, seria ela uma anja? Ou quem sabe a filha do Cão?
Formou-se um rebuliço; carros paravam, pessoas desciam dos escritórios, lojas e bancos fecharam as portas e em pouco tempo a notícia paralisou toda a cidade; até a sessão da Câmara dos Vereadores foi interrompida, justo no dia em que os edis votavam o projeto que concedia o título de cidadão honorário para o diabo.
De onde veio essa mulher?
É gravação de novela?
O que está acontecendo? Nó, que cavalão! E o bicho tem asas! Será que ele voa?
Se voa?! Eu vi na hora que ela desceu montada nele! Olha lá!, olha lá!, o bicho vai mijar! NÓ!, que é aquilo, Jesus!!! Que piruzão!
Acho que é propaganda de banco.
Não, é a mulher jabuticaba.
Deve ser comercial de aparelho de barba. Cruz em credo! Eu nunca vi tanto cabelo, será que ela é irmã do Toni Ramos?
Que tumulto é este? – perguntavam-se as pessoas.
Alguém saiu correndo, de celular na orelha, gritando "Prefeito, prefeito, a mulher barbuda chegou!".
A polícia apareceu, mas os meganhas, extasiados diante da beleza pura da mulher negra, caíram na farra, misturando-se ao povaréu.
No centro da praça, a deusa de ébano tirou um ovo da axila. Depois, levantou-o com a mão direita, enquanto que com a mão esquerda tapava os pelos negros daquela palavra cabeluda que aflorava bem no meio de suas coxas. Ato contínuo, olhando para o céu ela pronunciou estas palavras:
"Eis o ovo gerador da vida. Quem conservar este ovo, será conservado. Quem desprezar o ovo, pelo voto popular será desprezado".
A claque gritava, pulava e aplaudia:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
"Quem babar neste ovo terá direito a um babador, ganhará um cargo público e poderá contratar todos os seus parentes, e pela baba coletiva será bem recompensado. Quem gorar o ovo, pelo voto do povo será enganado".
Tomando de uma grande frigideira (que ela fez aparecer com um estalar de dedos), avental, escumadeira, touca de cabelo, óleo de cozinha e um fogão, e dançando como uma lamparina no Lago dos Cisnes, ela quebrou o ovo em um prato e pôs-se a preparar uma omelete para cinco mil pessoas.
O povo gritava, maravilhado, antegozando as delícias do aroma que exalava da rica iguaria:
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
POVO! POVO! POVO! MEU VOTO NÃO É OVO!
Ao fim do ato, preparado o repasto, alguém apareceu com dez mil litros de chope em um caminhão pipa. E ela então ordenou que fossem organizadas dez filas de quinhentas pessoas. Depois, num gesto suave, a mulher tirou o avental e a touca de cabelo, ficando novamente nua em pelo, e agradeceu pelo alimento, orando assim:
"Ovai, ovei, ovemos todos nós. Ovo para o pai, ovo para a mãe, ovo para o filho, Ovo para a tia e ovo para João e Maria. Quem de vós seríeis capaz de pronunciar a palavra OVO de trás pra frente em sete idiomas? Ovo no café da manhã. Ovo no almoço e ovo no jantar. Povo, vós não sois galinhas poedeiras! Aves condenadas a viver em gaiolas, comendo qualquer porcaria, a luz da televisão acesa noite e dia em suas cabeças, para serem abatidas aos quarenta e cinco dias? Atentais que o povo não foi feito para o ovo, e sim o ovo é que foi feito para o povo. Por que do ovo viemos, para o ovo em pó voltaremos, e pelo voto do povo renasceremos. É impossível fazer pizza sem quebrar o ovo! Pois eu vim para acabar com este Tempo em que a mentira é servida sem sal, pelo preço módico de um real. Hoje, os políticos não valem um ovo podre na cara. Muitos serão os candidatos, mas poucos terminarão o mandato sem manchas na cueca, graças à Polícia Federal. Irmãos, quantos pintinhos inocentes deixaram de nascer, assassinados ainda na casca do ovo, para matar a fome dos homens? Tenho dito: é chegado o Tempo em que será mais fácil nascer cabelo em ovo do que um candidato a prefeito ser aceito à mesa no Restaurante dos Ratos".
Alguém gritou no meio da multidão:
Vamo pará com este papo furado que eu tô com fome!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
POVO! POVO! POVO! SEU VOTO VALE UM OVO!
JT PALHARES
jtpalhares
LIBERDADE LIBERTINAGEM
“... eu costuma ter um jeito de sacudir os cabelos para trás que significava exatamente isso: uma tentativa de libertação. Hoje felizmente não preciso mais do gesto. Não, às vezes preciso”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Eu não sou livre. Quem o é?
Tenho muitos momentos de liberdade. O que é bom.
Mas é o verbo ter e não o verbo ser que eu conjugo na liberdade. Não quero ser assim. Não.
Sinto-me livre. O que é verdade. Sou livre de verdade?
Alguém disse que todos são prisioneiros de algo ou alguém. Mas todos são prisioneiros, o que muda é a prisão. Se é verdade, sou meu próprio carcereiro. Ninguém mais e se um dia alguém segurou ou vai segurar as chaves é porque eu as dei.
Nunca fui preso numa cadeia. Não sei como é “morar” lá. Então, deixa-me ver quais são minhas experiências...
Quando eu era menino fui com uma tia na cadeia levar alimentos. Não sei porquê. As paredes mostravam os tijolos. Acho que algumas tinham reboco e talvez até tinta. Mas todas tinham mofo ou umidade.
Os homens, seminus com ar de cansados. Alguns, amargos. Nunca entendi a falta de camisa em todos e porque as bermudas rasgadas, os cobertores imundos, os corpos encardidos pela sujeira e as bocas desdentadas. Mas era assim que todos estavam. E eu com frio. As frutas e o bolo... Creio ser tolice dizer que fizeram a alegria deles naquele momento. O mais certo, talvez, seja que saciaram por alguns minutos a fome da barriga com a sensualidade da boca. E eles pegaram com ânsia, desespero e agradecendo... Nunca soube se eles estavam gratos de verdade e de quê sorriam.
Havia mulheres? Acho que sim. Se aquilo pudesse ser mulher, ou melhor, gente. Tal era a sua aparência andrógena pela imundície e dor na cela. Só. Nada melhor que imundície e dor, principalmente a dor, para androgenizar as pessoas.
Grades marrons avermelhadas pela ferrugem. Na época eram, assim me pareceu, mais grossas que meu pinto. Por que pensei em pinto? Sei lá. Eu acho que nos meus sete ou oito anos eu já tinha alguma tara. Que horror. Eu tão religioso.
Lembro que poucos anos depois eu vi uns desenhos animados da Bete Boope. Já viram que ela só se veste de cinta-liga e outras roupas eróticas? Num desenho, ela fez campanha política ou algo assim e uma de suas propostas era punir motoristas que passando a toda sobre poças d’água molhassem os pedestres acorrentando-os numa banheira repletas de pedras de gelo. Aquilo me deixou excitado por semanas e ainda hoje quando eu me lembro sinto alguma coisa...
Mas onde estou? A gente não estava falando sobre liberdade?
Bem! Então... Não acho que ser livre é fazer o que quiser sem dar a mínima para os outros. Será liberdade atravessar a rua com o sinal fechado? Acho que isso é burrice e não liberdade. Liberdade, penso, é fazer aquilo que vim fazer no mundo. Alguns podem pensar que ser livre é levar uma vida desregrada: gula, luxúria, preguiça, ira. “Pois essa é a tendência natural do corpo”. Ora a tendência natural da faca é enferrujar. Será um “respeito à sua liberdade” deixá-la se perder? A valorização dela e do corpo humano não é se deixar levar, mas sim conduzir ao aperfeiçoamento. Que acha?
Ta conseguindo me acompanhar? Estou falando tantas coisas entrecortadas. Mas...
Seja o que for que me excitaram na cadeia e no desenho animado não me conduzem. E minha prisão não são as taras. Minhas prisões, volto a ponderar, se é verdade que somos todos prisioneiros, são outras. O sexo não é meu motor nem meu combustível. A propósito, dinheiro também não. Falo isso, porque gosto dele. Gosto de sexo também, mas no nosso “mundo, vasto mundo” sou mais movido pela arte que por outras coisas. Por exemplo: A sensualidade me move bem mais. Como disse Caetano “Gosto de sentir a língua de Camões roçar na minha”. Gosto de sentir o que meus olhos percebem. Gosto de sentir o que meus demais sentidos percebem. Creio que quanto mais sinto e percebo o mundo, mais eu tenho material para me expressar. Assim escrevo. Assim interpreto papeis artísticos. Assim conto estórias. Assim a gente conversa.
Liberdade! Tara! Sexo e sensualidade! Tantos cortes. Eu estou assim mesmo. Confuso. E você me acompanha?
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Eu não sou livre. Quem o é?
Tenho muitos momentos de liberdade. O que é bom.
Mas é o verbo ter e não o verbo ser que eu conjugo na liberdade. Não quero ser assim. Não.
Sinto-me livre. O que é verdade. Sou livre de verdade?
Alguém disse que todos são prisioneiros de algo ou alguém. Mas todos são prisioneiros, o que muda é a prisão. Se é verdade, sou meu próprio carcereiro. Ninguém mais e se um dia alguém segurou ou vai segurar as chaves é porque eu as dei.
Nunca fui preso numa cadeia. Não sei como é “morar” lá. Então, deixa-me ver quais são minhas experiências...
Quando eu era menino fui com uma tia na cadeia levar alimentos. Não sei porquê. As paredes mostravam os tijolos. Acho que algumas tinham reboco e talvez até tinta. Mas todas tinham mofo ou umidade.
Os homens, seminus com ar de cansados. Alguns, amargos. Nunca entendi a falta de camisa em todos e porque as bermudas rasgadas, os cobertores imundos, os corpos encardidos pela sujeira e as bocas desdentadas. Mas era assim que todos estavam. E eu com frio. As frutas e o bolo... Creio ser tolice dizer que fizeram a alegria deles naquele momento. O mais certo, talvez, seja que saciaram por alguns minutos a fome da barriga com a sensualidade da boca. E eles pegaram com ânsia, desespero e agradecendo... Nunca soube se eles estavam gratos de verdade e de quê sorriam.
Havia mulheres? Acho que sim. Se aquilo pudesse ser mulher, ou melhor, gente. Tal era a sua aparência andrógena pela imundície e dor na cela. Só. Nada melhor que imundície e dor, principalmente a dor, para androgenizar as pessoas.
Grades marrons avermelhadas pela ferrugem. Na época eram, assim me pareceu, mais grossas que meu pinto. Por que pensei em pinto? Sei lá. Eu acho que nos meus sete ou oito anos eu já tinha alguma tara. Que horror. Eu tão religioso.
Lembro que poucos anos depois eu vi uns desenhos animados da Bete Boope. Já viram que ela só se veste de cinta-liga e outras roupas eróticas? Num desenho, ela fez campanha política ou algo assim e uma de suas propostas era punir motoristas que passando a toda sobre poças d’água molhassem os pedestres acorrentando-os numa banheira repletas de pedras de gelo. Aquilo me deixou excitado por semanas e ainda hoje quando eu me lembro sinto alguma coisa...
Mas onde estou? A gente não estava falando sobre liberdade?
Bem! Então... Não acho que ser livre é fazer o que quiser sem dar a mínima para os outros. Será liberdade atravessar a rua com o sinal fechado? Acho que isso é burrice e não liberdade. Liberdade, penso, é fazer aquilo que vim fazer no mundo. Alguns podem pensar que ser livre é levar uma vida desregrada: gula, luxúria, preguiça, ira. “Pois essa é a tendência natural do corpo”. Ora a tendência natural da faca é enferrujar. Será um “respeito à sua liberdade” deixá-la se perder? A valorização dela e do corpo humano não é se deixar levar, mas sim conduzir ao aperfeiçoamento. Que acha?
Ta conseguindo me acompanhar? Estou falando tantas coisas entrecortadas. Mas...
Seja o que for que me excitaram na cadeia e no desenho animado não me conduzem. E minha prisão não são as taras. Minhas prisões, volto a ponderar, se é verdade que somos todos prisioneiros, são outras. O sexo não é meu motor nem meu combustível. A propósito, dinheiro também não. Falo isso, porque gosto dele. Gosto de sexo também, mas no nosso “mundo, vasto mundo” sou mais movido pela arte que por outras coisas. Por exemplo: A sensualidade me move bem mais. Como disse Caetano “Gosto de sentir a língua de Camões roçar na minha”. Gosto de sentir o que meus olhos percebem. Gosto de sentir o que meus demais sentidos percebem. Creio que quanto mais sinto e percebo o mundo, mais eu tenho material para me expressar. Assim escrevo. Assim interpreto papeis artísticos. Assim conto estórias. Assim a gente conversa.
Liberdade! Tara! Sexo e sensualidade! Tantos cortes. Eu estou assim mesmo. Confuso. E você me acompanha?
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
sem título
Conta Calvinito (José Calvino de Andrade Lima no seu Fiteiro Cultural), que numa sexta-feira à noite, por esquecimento, deixou o fiteiro aberto. Acordou no sábado pela manhã sobressaltado pelo descuido. Saiu de casa às pressas pensando no desmantelo que iria encontrar. Lá chegando, estava tudo do mesmo jeito como deixara na noite anterior. Aos malandros da noite e aos bêbados convictos não interessara a riqueza dos seus livros, a sabedoria impressa dos seus cadernos, a cultura enciclopédica que ali ficara exposta. Tudo estava a salvo. O povo da noite e das ruas não se interessava por aquilo.
(Porque hoje é sábado – por Clóvis Campelo
www.notaindependente.com.br)
- Mãe! Minha barriga ta duendu.
- Num é nada, fio.
- Mas ta duendu, mãe. Será que to duenti?
- Já disse, fio, que num é nada.
- Mas, mãe, será que num é nada istragadu?
- Fio, num tem nada na sua barriga. Se num comeu nada como pode ter argu istragadu? Vem e senta aqui que já vai começar Ovídeo Xô. Depois Vali a pena ver di novu a çeção da tardi.
Esparramam-se pelos buracos do sofá esquecendo as mazelas.
- Mãiê! Estou faminto!
- Mas não tem nem uma hora que almoçamos, querido?
- Mas já estou faminto, mãiê. Estou em fase de crescimento.
- Bem, peça a Creuza para preparar alguma coisa.
- Ah! Vamos ao “shopiiingui” comer no Máqui Dônaaaldiss.
- Depois, queridinho. Agora peça a Creuza para preparar algo no microondas. Depois venha para assistirmos juntos a Sky.
Cada um foi se esparramar no seu quarto desconhecendo as mazelas.
- Mãe, estou com apetite!
- Já? Então pegue uma fruta, querido!
- Não tem doce?
- Tem, mas deixa para mais tarde. Temos banana, laranja e uva. Escolha uma delas.
- É que estou com vontade de comer doce.
- Então ta, mas coma uma fruta primeiro e tire só um pedaço, pequeno, do doce.
- Estou lendo Reinações de Narizinho, mãe.
- É? Gosto muito de Lobato, querido. Conte-me o que já leu até agora.
E ambos vão para a cozinha fazer um lanche enquanto o menino conta.
Quem ali sou eu? E você, quem é? Quem você conhece que se enquadra nas vidas acima?
(Porque hoje é sábado – por Clóvis Campelo
www.notaindependente.com.br)
- Mãe! Minha barriga ta duendu.
- Num é nada, fio.
- Mas ta duendu, mãe. Será que to duenti?
- Já disse, fio, que num é nada.
- Mas, mãe, será que num é nada istragadu?
- Fio, num tem nada na sua barriga. Se num comeu nada como pode ter argu istragadu? Vem e senta aqui que já vai começar Ovídeo Xô. Depois Vali a pena ver di novu a çeção da tardi.
Esparramam-se pelos buracos do sofá esquecendo as mazelas.
- Mãiê! Estou faminto!
- Mas não tem nem uma hora que almoçamos, querido?
- Mas já estou faminto, mãiê. Estou em fase de crescimento.
- Bem, peça a Creuza para preparar alguma coisa.
- Ah! Vamos ao “shopiiingui” comer no Máqui Dônaaaldiss.
- Depois, queridinho. Agora peça a Creuza para preparar algo no microondas. Depois venha para assistirmos juntos a Sky.
Cada um foi se esparramar no seu quarto desconhecendo as mazelas.
- Mãe, estou com apetite!
- Já? Então pegue uma fruta, querido!
- Não tem doce?
- Tem, mas deixa para mais tarde. Temos banana, laranja e uva. Escolha uma delas.
- É que estou com vontade de comer doce.
- Então ta, mas coma uma fruta primeiro e tire só um pedaço, pequeno, do doce.
- Estou lendo Reinações de Narizinho, mãe.
- É? Gosto muito de Lobato, querido. Conte-me o que já leu até agora.
E ambos vão para a cozinha fazer um lanche enquanto o menino conta.
Quem ali sou eu? E você, quem é? Quem você conhece que se enquadra nas vidas acima?
CORREÇÃO - Proxima Edição Espreme que sai Sangue
Caros amigos
Neste sábado e domingo
Dias 16 e 17 de agosto 2008
ás 16:30
Estreia em Bh do espetáculo
"Proxima Edição Espreme que sai Sangue"
Direção Eduardo Moreira
Produção: Cia. Malarrumada
Esperamos vcs., repasse as seus amigos e inimigos tambem ...
" Afinal - Sensacionalista não é o jornal, mas o ser humano"
Abraços com Carinho
Marcelo Oliveira
Cia.Malarrumada
Neste sábado e domingo
Dias 16 e 17 de agosto 2008
ás 16:30
Estreia em Bh do espetáculo
"Proxima Edição Espreme que sai Sangue"
Direção Eduardo Moreira
Produção: Cia. Malarrumada
Esperamos vcs., repasse as seus amigos e inimigos tambem ...
" Afinal - Sensacionalista não é o jornal, mas o ser humano"
Abraços com Carinho
Marcelo Oliveira
Cia.Malarrumada
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
ALMA VENDIDA
Rubem Leite – 25-6-08 – rubemleite@notaindependente.com.br
Imagem: Clarice Lispector, por Loredano.
“... mas escrever é um pouco vender a alma. É verdade. Mesmo quando não é por dinheiro, a gente se expõe muito. (...) Vendo, pois, para vocês com o maior prazer uma certa parte de minha alma”.
(Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo – Editora Rocco)
Ai ai! Escrever qualquer um escreve. Mas o quê e como escrever não é para qualquer um. E eu? Sou qualquer um! Mas amo escrever tanto quanto gosto de ler. E espero que você goste de ler tanto quanto eu. Ou apenas tenha saco. Uarrarrá. Disse isso no texto O Amante. E o repito por ser verdade. Mas meu maior medo é falar muito por não ter nada a dizer.
Na casa onde moro hoje meu quarto deveria ser a sala. “De la ventanita” vejo através da cortina de falsa renda uma árvore que ainda não sei o nome, o muro e o telhado de um vizinho. Mas o que te interessa isso, né?
Acaba de chegar um informativo de uma Vereadora. Aquela que votei na eleição passada. Seu nome é Lene Teixeira. Estou fazendo propaganda para você votar nela? Não! Só estou falando sem dizer o que você tem que pensar. Você sabe em quem votou e o que ele(a) tem feito? Estou sempre procurando saber o que ela tem feito. E não me arrependo de ter votado nela.
São agora 09:20 horas de uma manhã de sábado e um carro passa fazendo propaganda de um verdurão. Por que estou dizendo isso? Porque acho que essas coisas mais incomodam que divulgam. Mas incrivelmente elas funcionam. Será por que as pessoas gostam de quem as faz sofrer? Ou estou exagerando? Estou falando só de mero carro de som?
Os vizinhos da casa que acabei de falar acabam de chegar. A única coisa que sei sobre eles é que só gostam de se envolver com eles mesmos. Pelo menos é o que dizem.
Na tv meu irmão assisti um desenho sobre um dragão.
Agora eu paro para continuar mais tarde.
Oi! Voltei! Estamos agora numa manhã de uma fria e cinzenta quarta feira.
Em Ipatinga aconteceu um festival de teatro. Foi horrível. Não por causa dos espetáculos que afirmo isso e sim por causa dos seus organizadores. Para quem não sabe eu não vou falar o nome do evento nem de seus administradores, desculpe-me! Calo-me não por medo ou algo assim. Eu me silencio por não aceitar fazer propaganda deles. Suspeito que o que eles querem é polemizar para cair na mídia, por isso falaram muita bobagem. Para você ter uma idéia, eles defendem a idéia que o mais importante nas artistas é serem “esculturais” e não a arte.
Tenho três cachorrinhos e um quarto minha sobrinha Thaís deixou aqui. Gosto muito de animais, mas minha mãe, minha tia e eu não queremos mais trabalho. Vi em um de meus e2 (e2 = endereço eletrônico = email) que recebi numa loteria um milhão de dólares. Uarrarrá. Com um milhão de dólares se me perguntarem se eu te conheço eu respondo: Quem? Uarrarrá.
Hoje deve chegar o livro que Claudina Abrantes, Geraldo Valentim e eu estamos publicando. “Brincadeira de ‘Boi” na Região Metropolitana do Vale do Aço”. É o fruto de uma pesquisa que fizemos sobre Cultura Popular. O lançamento será dia 27 de junho. A ironia é que dia 27 estarei em Capelinha MG para um trabalho inadiável. Eu não vou ao lançamento de um trabalho meu. (Para você que me ler, o lançamento já terá passado).
Diga-me: Eu estou dizendo algo ou não estou falando nada? Qual é sua posição?
Beijos e abraços! Inté!
terça-feira, 12 de agosto de 2008
É ESSE O CONFLITO
Página 01
Rubem Leite
rubemleite@notaindependente.com.br
madrugada de 06-7-08
- Linda a festa da PocPoc.
- ...
- Não ta gostando da inauguração da nova sede?
- É uma bela sede. Espaçosa. Cara... Respondo no terraço vendo de um lado as chaminés da fábrica, do outro o Parque Ipanema e no outro o ribeirão. E tendo um copo de vinho caro na mão. Avidão me abraça e não estranho. E não estranho. E não estranho. E não estranho. E não estranho.
Vejo Pablo de costas para a fábrica onde trabalha falando com não sei quem. E, apesar de seu corpo bonito, sinto o nada que geralmente sinto ao vê-lo. Vejo Uelinguintom em paralelo com a mesma meia parede, sorrimos e desço. Ramom também está e não me surpreendo. Já amei Ramom. E já acreditei que ele era “engajado”, cidadão de verdade.
Craudina Abra Antes conversa com Craudinete e Géraldi bate um papo com Dedé Pires. Aproximo. Assistimos divertidos o que alguns atores apresentam. Vamos para térreo e encontramos Margarida.
- Cadê os banheiros?
- Deve ser a sala que está escrito “Mundi”. Entramos ele, eu e Margarida. Havia um cocho e vários sanitários ocupados. Eu e Dedé nos aliviamos, mas ela precisava sentar... então senta na escada e deixa sair um grosso e amarelo jato. E não para. E continua.
- É incrível. Mulher tem um buraco maior pro xixi passar e ainda demora mais que homem.
Página 02
É só isso. Não tem conflito.
Última página
Ou o conflito está em me ver íntimo de Avidão e de sua sede, a PocPoc?
Rubem Leite
rubemleite@notaindependente.com.br
madrugada de 06-7-08
- Linda a festa da PocPoc.
- ...
- Não ta gostando da inauguração da nova sede?
- É uma bela sede. Espaçosa. Cara... Respondo no terraço vendo de um lado as chaminés da fábrica, do outro o Parque Ipanema e no outro o ribeirão. E tendo um copo de vinho caro na mão. Avidão me abraça e não estranho. E não estranho. E não estranho. E não estranho. E não estranho.
Vejo Pablo de costas para a fábrica onde trabalha falando com não sei quem. E, apesar de seu corpo bonito, sinto o nada que geralmente sinto ao vê-lo. Vejo Uelinguintom em paralelo com a mesma meia parede, sorrimos e desço. Ramom também está e não me surpreendo. Já amei Ramom. E já acreditei que ele era “engajado”, cidadão de verdade.
Craudina Abra Antes conversa com Craudinete e Géraldi bate um papo com Dedé Pires. Aproximo. Assistimos divertidos o que alguns atores apresentam. Vamos para térreo e encontramos Margarida.
- Cadê os banheiros?
- Deve ser a sala que está escrito “Mundi”. Entramos ele, eu e Margarida. Havia um cocho e vários sanitários ocupados. Eu e Dedé nos aliviamos, mas ela precisava sentar... então senta na escada e deixa sair um grosso e amarelo jato. E não para. E continua.
- É incrível. Mulher tem um buraco maior pro xixi passar e ainda demora mais que homem.
Página 02
É só isso. Não tem conflito.
Última página
Ou o conflito está em me ver íntimo de Avidão e de sua sede, a PocPoc?
sábado, 9 de agosto de 2008
O inusitado superando o necessitado
Rubem Leite
"Não há mais nada que me fascina do que a idiotice do outros com a lua. Acho chato a redonda, acho tedioso por ser branca".
(Clayton Heringer)
Eu sou bastante ecológico. Cuido o melhor que posso do meio ambiente e sempre procuro conscientizar as pessoas sobre a importância de preservarmos o planeta, afinal, que adianta matar a Terra se vamos juntos com ela? Gosto muito de plantas. Gosto muito de animais também. Gosto de gatos, pássaros e principalmente dos cachorros. Só não gosto de gansos, pois não perco uma oportunidade para afogá-los. Bem, de jardins eu gosto, só não me peçam para cuidá-los.
No fim de 2007 uma paineira imensa abriu seus frutos e espalhou seu algodão por todo o extenso gramado. Ficou, imagino, igualzinho neve. O verde da grama foi encoberto pelos incontáveis fios brancos. Foi um espetáculo. Todos os carros pararam na BR para admirar. Virou um inferno. O trânsito não fluía. Um cachorrinho magro, faminto e de olhos tristes como só os cachorros sabem fazer tão bem se aproximou da balbúrdia e quase virou churrasco. Por causa do cachorro palavrões disputavam com os “Que lindo!”, com os “ohs”.
Alguns anos atrás, na praça 1º de Maio, dois cachorros estavam cruzando quando um bando começa a bater neles com um pedaço de pau. Chega uma mulher e começa a bater no bando com sua Bíblia. Lembrei-me de uma monja tibetana que li sobre ela na revista Seleções e na Irmã Dulce. Três grandiosas pequenas mulheres.
Em meados do ano passado, numas nove horas da manhã de um domingo uma jovem, bem jovem, quase menina me pediu R$1,00. Olhei nos bolsos e achei uns 80 ou 90 centavos e entreguei dizendo “É tudo que tenho” e continuei meu caminho para casa da Claudina, uma colega de teatro. Meia hora depois, quando voltei, a menina perguntou-me “não vai querer?” e só aí entendi. Agradeci e dispensei, apesar de bela. “Carne barata”, pensei.
E ontem, o menino pediu um pastel para a mulher. O olhar com nojo o afasta. A dama volta a comer, mas o fim do pastel não foi para seu bucho. Penso feito ela: a lixeira era mais digna.
É isso que somos? Carne? Pior, carne barata? Não, não pode ser. Recuso-me a posicionar como muitos que acham que a menina seja isso. Como muitos que acham que podem maltratar os animais. Que pensam não haver nada demais na fome. NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! Dizem os cristãos que o corpo é o Templo do Espírito Santo. Dizem os budistas que somos Iluminados. Diz a Seicho-No-Ie que somos todos filhos de Deus. Não sou pedra. Eu sou artista. Tenho sensibilidade. Sou gente!
"Não há mais nada que me fascina do que a idiotice do outros com a lua. Acho chato a redonda, acho tedioso por ser branca".
(Clayton Heringer)
Eu sou bastante ecológico. Cuido o melhor que posso do meio ambiente e sempre procuro conscientizar as pessoas sobre a importância de preservarmos o planeta, afinal, que adianta matar a Terra se vamos juntos com ela? Gosto muito de plantas. Gosto muito de animais também. Gosto de gatos, pássaros e principalmente dos cachorros. Só não gosto de gansos, pois não perco uma oportunidade para afogá-los. Bem, de jardins eu gosto, só não me peçam para cuidá-los.
No fim de 2007 uma paineira imensa abriu seus frutos e espalhou seu algodão por todo o extenso gramado. Ficou, imagino, igualzinho neve. O verde da grama foi encoberto pelos incontáveis fios brancos. Foi um espetáculo. Todos os carros pararam na BR para admirar. Virou um inferno. O trânsito não fluía. Um cachorrinho magro, faminto e de olhos tristes como só os cachorros sabem fazer tão bem se aproximou da balbúrdia e quase virou churrasco. Por causa do cachorro palavrões disputavam com os “Que lindo!”, com os “ohs”.
Alguns anos atrás, na praça 1º de Maio, dois cachorros estavam cruzando quando um bando começa a bater neles com um pedaço de pau. Chega uma mulher e começa a bater no bando com sua Bíblia. Lembrei-me de uma monja tibetana que li sobre ela na revista Seleções e na Irmã Dulce. Três grandiosas pequenas mulheres.
Em meados do ano passado, numas nove horas da manhã de um domingo uma jovem, bem jovem, quase menina me pediu R$1,00. Olhei nos bolsos e achei uns 80 ou 90 centavos e entreguei dizendo “É tudo que tenho” e continuei meu caminho para casa da Claudina, uma colega de teatro. Meia hora depois, quando voltei, a menina perguntou-me “não vai querer?” e só aí entendi. Agradeci e dispensei, apesar de bela. “Carne barata”, pensei.
E ontem, o menino pediu um pastel para a mulher. O olhar com nojo o afasta. A dama volta a comer, mas o fim do pastel não foi para seu bucho. Penso feito ela: a lixeira era mais digna.
É isso que somos? Carne? Pior, carne barata? Não, não pode ser. Recuso-me a posicionar como muitos que acham que a menina seja isso. Como muitos que acham que podem maltratar os animais. Que pensam não haver nada demais na fome. NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! Dizem os cristãos que o corpo é o Templo do Espírito Santo. Dizem os budistas que somos Iluminados. Diz a Seicho-No-Ie que somos todos filhos de Deus. Não sou pedra. Eu sou artista. Tenho sensibilidade. Sou gente!
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
A ODISSÉIA BELO HORIZONTE – II
Rubem Leite – 19 a 22 de janeiro de 2008.
Obras de Bez Batti, retirada no google.
A visão dum Belo Horizonte
Impedida por belos
Prédios maltratados.
Ando pela cidade que tanto amo. Já disse antes que BH sempre me dá ao mesmo tempo dois sentimentos. Tristeza por seus prédios sujos. Alegria por seus lindos prédios. Enquanto passeio reparo que não vejo o horizonte.
E ando e ando e encontro com Kebel. Que felicidade. Gente boa. Ex artista do palco e artista da pena (mas não de dar pena...). E falamos e falamos. E vamos nos ver mais vezes. Mas antes de nos separarmos ele me levou para ver uma exposição de Bez Batti, um escultor especializado em basalto no Instituto Moreira Salles (IMS). Kebel comentou o seu espanto da dificuldade de acesso ao IMS. Parte, por as pessoas olharem para o prédio e não saber o que é isso, “será um banco?”. Muitos devem pensar algo assim. Parte, por olharem para o lugar, olharem para suas roupas e seguirem em frente. Desejo registrar a você que vá ao IMS sem medo de ser feliz.
Heim! Olho pela janela do hotel e “chove lá fora e aqui ta tanto frio. Me dá vontade de te ver” canto olhando para a chuva na frente do prédio frentício.
A visão dum Belo Horizonte
Impedida por belos
Prédios maltratados.
Ando pela cidade que tanto amo. Já disse antes que BH sempre me dá ao mesmo tempo dois sentimentos. Tristeza por seus prédios sujos. Alegria por seus lindos prédios. Enquanto passeio reparo que não vejo o horizonte.
E ando e ando e encontro com Kebel. Que felicidade. Gente boa. Ex artista do palco e artista da pena (mas não de dar pena...). E falamos e falamos. E vamos nos ver mais vezes. Mas antes de nos separarmos ele me levou para ver uma exposição de Bez Batti, um escultor especializado em basalto no Instituto Moreira Salles (IMS). Kebel comentou o seu espanto da dificuldade de acesso ao IMS. Parte, por as pessoas olharem para o prédio e não saber o que é isso, “será um banco?”. Muitos devem pensar algo assim. Parte, por olharem para o lugar, olharem para suas roupas e seguirem em frente. Desejo registrar a você que vá ao IMS sem medo de ser feliz.
Heim! Olho pela janela do hotel e “chove lá fora e aqui ta tanto frio. Me dá vontade de te ver” canto olhando para a chuva na frente do prédio frentício.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
A ODISSÉIA BELO HORIZONTE - I
Rubem Leite – 19 a 22 de janeiro de 2008.
Gente! Tenho que presente pros meus amigos da NI e tem que ser de literatos de Ipatinga. Têm que ser da Nena, da Cida e da trilogia de Marília.
Ligo para Nena e ela não estava.
Ligo para Cida e ela não atende.
Como conseguir o telefone de Marília?
Foi difícil, mas falei com Marília – o pau para toda obra do CLESI* e ela me deu várias obras e mandou dizer pro pessoal que é nossa fã.
Como diz aquela música “Andei, andei...” e chego a tempo na estação. Eu vou de trem.
Mas a odisséia não começou aí. Meses atrás comecei a por na poupança 5% para viagens e mais 55% para outras coisas. Meu suado e merecido dinheiro rende. (Xiii! Um segredinho: moro com mamãe. Ai que meigo. Uarrarrá).
No trem:
Baratinha! Uma ou mais, sei lá! Não consegui reparar na cara. Comigo a pesada mala que carreguei a manhã toda antes de chegar a estação e a pesadíssima bolsa de mão, lotada de livros e tudo mais que eu fosse precisar no caminho. A tv só era ouvida quando o trem parava. Como companheiro de saga: Guimarães Rosa e seu Grande Sertão: Veredas.
Conversei com Guimarães coisas como: “Matei um inseto e ficou um caldo verde. Ê trem balançante num calor assante. Gente e gente e gente mais gente passam e repassam pelo corredor e quase sempre dão esbarrões fortes na gente. Aqui é a estação do Rio Piracicaba? Esse moleque ao meu lado não proeia, né?! Só, olhandor pela janela indo para fora com o olhar”. Aí o Riobaldo me disse: “Confiança – o senhor sabe – não se tira de coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa. De um acêso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, e também, recesso dum modo, a raiva incerta, por perto de não ser possível dele gostar como queria, no honrado e no final. Ouvido meu retorcia a voz dele. Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre”. É Riobaldo, bom amigo, eu cismo com você e seu pai, o velho Guima: “Se a gente fosse livre para amar quem quisesse, e pudesse... Porque não amamos que queremos e sim quem o coração quer... Mas se pudéssemos amar, simplesmente amar, livremente amar... Ao menos quem nossa cabeça não quer, mas nosso coração exige... Seria tão mais fácil. Seríamos tão mais felizes”.
Bem, chegamos a Belo Horizonte. Foi tudo muito bom, mas o melhor mesmo e rivalizando com Grandes Sertões: Veredas foi ter visto dois gaviões. Um a voar e outro pousado num gramado.
Mas acho que os gaviões venceram, raspando, mas venceram.
Bem, chegamos a Belo Horizonte. E fui recebido por um mendigo. “Boa noite”, disse-me enquanto passei por ele. “Boa noite”, respondi num sorriso sincero e nos despedimos com brilhos nos olhos e sorrisos nos lábios.
Depois a gente continua...
xxxxxxxxxx
* Clube de Escritores de Ipatinga
Gente! Tenho que presente pros meus amigos da NI e tem que ser de literatos de Ipatinga. Têm que ser da Nena, da Cida e da trilogia de Marília.
Ligo para Nena e ela não estava.
Ligo para Cida e ela não atende.
Como conseguir o telefone de Marília?
Foi difícil, mas falei com Marília – o pau para toda obra do CLESI* e ela me deu várias obras e mandou dizer pro pessoal que é nossa fã.
Como diz aquela música “Andei, andei...” e chego a tempo na estação. Eu vou de trem.
Mas a odisséia não começou aí. Meses atrás comecei a por na poupança 5% para viagens e mais 55% para outras coisas. Meu suado e merecido dinheiro rende. (Xiii! Um segredinho: moro com mamãe. Ai que meigo. Uarrarrá).
No trem:
Baratinha! Uma ou mais, sei lá! Não consegui reparar na cara. Comigo a pesada mala que carreguei a manhã toda antes de chegar a estação e a pesadíssima bolsa de mão, lotada de livros e tudo mais que eu fosse precisar no caminho. A tv só era ouvida quando o trem parava. Como companheiro de saga: Guimarães Rosa e seu Grande Sertão: Veredas.
Conversei com Guimarães coisas como: “Matei um inseto e ficou um caldo verde. Ê trem balançante num calor assante. Gente e gente e gente mais gente passam e repassam pelo corredor e quase sempre dão esbarrões fortes na gente. Aqui é a estação do Rio Piracicaba? Esse moleque ao meu lado não proeia, né?! Só, olhandor pela janela indo para fora com o olhar”. Aí o Riobaldo me disse: “Confiança – o senhor sabe – não se tira de coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa. De um acêso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, e também, recesso dum modo, a raiva incerta, por perto de não ser possível dele gostar como queria, no honrado e no final. Ouvido meu retorcia a voz dele. Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre”. É Riobaldo, bom amigo, eu cismo com você e seu pai, o velho Guima: “Se a gente fosse livre para amar quem quisesse, e pudesse... Porque não amamos que queremos e sim quem o coração quer... Mas se pudéssemos amar, simplesmente amar, livremente amar... Ao menos quem nossa cabeça não quer, mas nosso coração exige... Seria tão mais fácil. Seríamos tão mais felizes”.
Bem, chegamos a Belo Horizonte. Foi tudo muito bom, mas o melhor mesmo e rivalizando com Grandes Sertões: Veredas foi ter visto dois gaviões. Um a voar e outro pousado num gramado.
Mas acho que os gaviões venceram, raspando, mas venceram.
Bem, chegamos a Belo Horizonte. E fui recebido por um mendigo. “Boa noite”, disse-me enquanto passei por ele. “Boa noite”, respondi num sorriso sincero e nos despedimos com brilhos nos olhos e sorrisos nos lábios.
Depois a gente continua...
xxxxxxxxxx
* Clube de Escritores de Ipatinga
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
ENTRE MANGAS, CAQUIS E BLOG's
Rubem Leite – madrugada de 06-8-08
Amanheceu. No quintal de Ema imensas mangas e à sombra da mangueira conversamos. Entre os nossos sorrisos vou-me embora. Voltarei de noite. No chão do ponto de ônibus visto por cima da bermuda uma calça que tiro da mochila. Ali no Bela Vista, sabe, na rotatória, com aquele comprido prédio que tem uma espécie de cais para carga e descarga das mercadorias para as lojas. Enquanto vestia chegou um sujeito com seu bigode. O cara tem jeito de batalhador estudado, entende? Corpo forte e um livro nas mãos. E o quarentão me pergunta “trocando de roupa?”. Rindo digo qualquer coisa. Depois, um silêncio alimentado pela demora do ônibus. E o silêncio gerou jejum de palavras. Começamos a conversar.
- Sou Benito.
- Pallares.
- Trabalha com quê?
- Trabalho na fábrica.
- Ah, é? Eu sou artista.
- Pintor?
- Não, por que? Falo sorrindo e continuo: Sou artista cênico e literário. E contador de estórias.
- Tem cara de pintor francês.
E rimos.
- Tenho um blog, continua ele. De vez em quando escrevo algo.
- Ah, é? Qual?
- http://artedoartista.blogspot.com.
- Escrevo sempre. As palavras vêm à minha cabeça como se a estuprassem. Não com a violência, mas com a intensidade.
Mais silêncio, ambos pesando as palavras.
- Para onde você vai? Perguntei.
- Para Rodoviária. Vou passar em casa só para pegar a mala e partir.
- Vai passear?
- Passeio. Estou indo ver uns parentes e amigos.
- Onde? Se eu não estiver sendo muito curioso?
- Ubá.
- Tenho parentes lá. Um casal de sobrinhos que mora com a mãe. Talvez você os conheça. A mãe se chama Tiberíades e os meninos, que já estão adultos, PH e Pris. Moram no Caiçara. Conhece?
- Caiçara é um bom lugar, simples, mas de gente boa. Tenho impressão que os conheço. Tiberíades é loira?
- Sim! Enquanto falo aponta-se o ônibus, ele entra e pela janela a gente se despede. Não demora e aparece o meu.
- Marina! Boa tarde, menina!
- Boa tarde! Fala com um sotaque português.
De onde surgiu o sotaque? Pergunto calado.
- Queres entrar?
- Não, obrigado! Só vim pegar os livros.
- Então espere um pouco. Entra e volta com uma caixa.
Agradeço, despeço e volto para casa.
- Que demora de ônibus, sô!
Deixo no chão da sala e saio para comer algo. Não estava a fim de cozinhar só para mim. Mas tem que ser algo barato, penso.
Quando percebo estou no início da estória.
- Se tudo é um círculo vou fazer o que estou com vontade desde o início.
No portão da casa, perto da escumilha e do limoeiro, grito:
-Ema! Chamo entrando pelo portão, sirvo de uma manga e depois vamos dormir, se é que me entende. Depois das mangas comidas Ema me oferece caqui. Ah! Como como caqui. Que tem um cheiro gostoso, pele macia e passando a língua sente-se a promessa do sabor. Quando mordida não reclama feito maçã. Se abre toda desmanchando em delícias, dando todo o seu sabor e seu suco. Desfazendo-se, satisfazendo-me e tornamo-nos um.
Amanheceu. Entre os nossos sorrisos vou-me embora. Voltarei outras noites. A gente se gosta. Mas agora vou escrever. De tarde vou para o teatro e a noite visitarei o blog.
Amanheceu. No quintal de Ema imensas mangas e à sombra da mangueira conversamos. Entre os nossos sorrisos vou-me embora. Voltarei de noite. No chão do ponto de ônibus visto por cima da bermuda uma calça que tiro da mochila. Ali no Bela Vista, sabe, na rotatória, com aquele comprido prédio que tem uma espécie de cais para carga e descarga das mercadorias para as lojas. Enquanto vestia chegou um sujeito com seu bigode. O cara tem jeito de batalhador estudado, entende? Corpo forte e um livro nas mãos. E o quarentão me pergunta “trocando de roupa?”. Rindo digo qualquer coisa. Depois, um silêncio alimentado pela demora do ônibus. E o silêncio gerou jejum de palavras. Começamos a conversar.
- Sou Benito.
- Pallares.
- Trabalha com quê?
- Trabalho na fábrica.
- Ah, é? Eu sou artista.
- Pintor?
- Não, por que? Falo sorrindo e continuo: Sou artista cênico e literário. E contador de estórias.
- Tem cara de pintor francês.
E rimos.
- Tenho um blog, continua ele. De vez em quando escrevo algo.
- Ah, é? Qual?
- http://artedoartista.blogspot.com.
- Escrevo sempre. As palavras vêm à minha cabeça como se a estuprassem. Não com a violência, mas com a intensidade.
Mais silêncio, ambos pesando as palavras.
- Para onde você vai? Perguntei.
- Para Rodoviária. Vou passar em casa só para pegar a mala e partir.
- Vai passear?
- Passeio. Estou indo ver uns parentes e amigos.
- Onde? Se eu não estiver sendo muito curioso?
- Ubá.
- Tenho parentes lá. Um casal de sobrinhos que mora com a mãe. Talvez você os conheça. A mãe se chama Tiberíades e os meninos, que já estão adultos, PH e Pris. Moram no Caiçara. Conhece?
- Caiçara é um bom lugar, simples, mas de gente boa. Tenho impressão que os conheço. Tiberíades é loira?
- Sim! Enquanto falo aponta-se o ônibus, ele entra e pela janela a gente se despede. Não demora e aparece o meu.
- Marina! Boa tarde, menina!
- Boa tarde! Fala com um sotaque português.
De onde surgiu o sotaque? Pergunto calado.
- Queres entrar?
- Não, obrigado! Só vim pegar os livros.
- Então espere um pouco. Entra e volta com uma caixa.
Agradeço, despeço e volto para casa.
- Que demora de ônibus, sô!
Deixo no chão da sala e saio para comer algo. Não estava a fim de cozinhar só para mim. Mas tem que ser algo barato, penso.
Quando percebo estou no início da estória.
- Se tudo é um círculo vou fazer o que estou com vontade desde o início.
No portão da casa, perto da escumilha e do limoeiro, grito:
-Ema! Chamo entrando pelo portão, sirvo de uma manga e depois vamos dormir, se é que me entende. Depois das mangas comidas Ema me oferece caqui. Ah! Como como caqui. Que tem um cheiro gostoso, pele macia e passando a língua sente-se a promessa do sabor. Quando mordida não reclama feito maçã. Se abre toda desmanchando em delícias, dando todo o seu sabor e seu suco. Desfazendo-se, satisfazendo-me e tornamo-nos um.
Amanheceu. Entre os nossos sorrisos vou-me embora. Voltarei outras noites. A gente se gosta. Mas agora vou escrever. De tarde vou para o teatro e a noite visitarei o blog.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Acho as Pessoas Estranhas
Atravesso a praça pensando em sua aparência, a da praça.
- Ôôôô, milico. Miliiiico!
Tem algum militar aqui? Penso. Não vi nenhum.
- É você mesmo, Rubem.
Eu? Penso enquanto procuro quem me chamou.
- Cara, cê tá parecendo um militar.
Juro que não entendi a observação.
- Tá igualzinho a um militar americano no Iraque. Anda em linha reta, como se estivesse indo para a guerra.
Continuo sem entender a comparação.
- Bom dia, André!
- Bom dia, Rubem!
- Como tem passado?
- Bem! Ontem lembrei de quando comia rapadura na casa de sua avó quando ela estava viva.
Eu não me lembro disso apesar de achar lógico não “comer rapadura na casa de minha avó depois que ela não estar mais viva”.
- Lembro o quanto éramos amigos. Lembra? Estávamos sempre juntos. Conversando sobre livros e tudo mais. Lembra?
- Lembro! Falei, mas não falei que na época ele cortou relações comigo porque alguns de seus amigos (?) falaram contra mim. Calei e não diz que ele deu mais crédito aos maus comentários do que “nossa” amizade.
- Tá indo onde?
- Para o GASP.
- Cara tô sumido de lá. Lembra que fui voluntário lá? Por três dias, mas comecei a gostar de ... você sabem quem?
- Sim, eu sei.
- Cara esqueci minha trena no trabalho. Diz examinando os bolsos. Vou ter que voltar. Abraços!
- Inté!
Acho as pessoas estranhas.
Ou eu é que sou estranho.
Como a obra O Alienista (Machado de Assis), que depois de ter prendido todos no manicômio, os soltou por ter chegado à conclusão de que, em minhas palavras, “se todos são loucos e só eu sou normal, então o anormal sou eu”.
Gosto de abraçar quem gosto e gosto de beijar quem gosto. Mas homens não podem.
Os dois amigos vão ao cinema rindo e falando bobagens. Pedro dá um abraço em Paulo. Escândalo. As pessoas olharam boquiabertas.
- Pedro! Não gostei do abraço.
- Mas a gente sempre se abraça.
- É, mas em casa, não na rua com todo mundo olhando e comentando.
- Tá preocupado com a opinião alheia?
- Não gosto que as pessoas pensem que sou viado.
- Você é viado?
- Tá me estranhando, cara?
- Não, mas está tão preocupado...
- O que eu não gosto é de ser alvo de comentários. Faz o seguinte, não me abrace em público. Não quero. Entendeu?
- Ôôôô, milico. Miliiiico!
Tem algum militar aqui? Penso. Não vi nenhum.
- É você mesmo, Rubem.
Eu? Penso enquanto procuro quem me chamou.
- Cara, cê tá parecendo um militar.
Juro que não entendi a observação.
- Tá igualzinho a um militar americano no Iraque. Anda em linha reta, como se estivesse indo para a guerra.
Continuo sem entender a comparação.
- Bom dia, André!
- Bom dia, Rubem!
- Como tem passado?
- Bem! Ontem lembrei de quando comia rapadura na casa de sua avó quando ela estava viva.
Eu não me lembro disso apesar de achar lógico não “comer rapadura na casa de minha avó depois que ela não estar mais viva”.
- Lembro o quanto éramos amigos. Lembra? Estávamos sempre juntos. Conversando sobre livros e tudo mais. Lembra?
- Lembro! Falei, mas não falei que na época ele cortou relações comigo porque alguns de seus amigos (?) falaram contra mim. Calei e não diz que ele deu mais crédito aos maus comentários do que “nossa” amizade.
- Tá indo onde?
- Para o GASP.
- Cara tô sumido de lá. Lembra que fui voluntário lá? Por três dias, mas comecei a gostar de ... você sabem quem?
- Sim, eu sei.
- Cara esqueci minha trena no trabalho. Diz examinando os bolsos. Vou ter que voltar. Abraços!
- Inté!
Acho as pessoas estranhas.
Ou eu é que sou estranho.
Como a obra O Alienista (Machado de Assis), que depois de ter prendido todos no manicômio, os soltou por ter chegado à conclusão de que, em minhas palavras, “se todos são loucos e só eu sou normal, então o anormal sou eu”.
Gosto de abraçar quem gosto e gosto de beijar quem gosto. Mas homens não podem.
Os dois amigos vão ao cinema rindo e falando bobagens. Pedro dá um abraço em Paulo. Escândalo. As pessoas olharam boquiabertas.
- Pedro! Não gostei do abraço.
- Mas a gente sempre se abraça.
- É, mas em casa, não na rua com todo mundo olhando e comentando.
- Tá preocupado com a opinião alheia?
- Não gosto que as pessoas pensem que sou viado.
- Você é viado?
- Tá me estranhando, cara?
- Não, mas está tão preocupado...
- O que eu não gosto é de ser alvo de comentários. Faz o seguinte, não me abrace em público. Não quero. Entendeu?
CONEXÃO
FORUM PERMANENTE DE DISCUSSÃO DA PRODUÇÃO ARTISTICO-CULTURAL BRASILEIRA
Com o intuito de promover a reflexão a cerca das potencialidades da arte e da cultura na contemporaneidade, bem como do fazer e das condições de produção artístico-cultural, no sentido de assegurar a universalização do direito à arte, surge o Conexão, um fórum permanente composto por diversos segmentos artísticos e culturais.
Dando continuidade aos nossos bate-papos sobre cultura, estaremos promovendo um debate sobre o movimento cultural de 68 no Brasil a partir do filme "BARRA 68 - Sem Perder a Ternura" de Vladimir Carvalho.
Com o intuito de promover a reflexão a cerca das potencialidades da arte e da cultura na contemporaneidade, bem como do fazer e das condições de produção artístico-cultural, no sentido de assegurar a universalização do direito à arte, surge o Conexão, um fórum permanente composto por diversos segmentos artísticos e culturais.
Dando continuidade aos nossos bate-papos sobre cultura, estaremos promovendo um debate sobre o movimento cultural de 68 no Brasil a partir do filme "BARRA 68 - Sem Perder a Ternura" de Vladimir Carvalho.
Aguardamos você!!
O Grupo Perna de Palco é um dos coletivos que fazem parte do CONEXÃO.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
São agora 17, digo, 16 minutos para as 05 horas da manhã da primeira segunda-feira de agosto de 2008. Eu acordei sonhando ou pensando nos heróis brasileiros, que são de um desses dois tipos: o ante-herói ou simulacro dos heróis estado-unidenses.
Na verdade acordei com as seguintes palavras na minha cabeça:
Na animação “Beowolf”, que se passa 500 anos depois de Cristo, o principal conselheiro do rei tinha um escravo adolescente que apanhava tanto e por qualquer motivo que me levou à “Brás Cubas”*. Brasinha, o herói (?) da obra, gostava de “brincar” com um escravo, fazendo-o de mula ou cavalo. Ambos cresceram e, não me lembro como, o “eqüino” conseguiu a liberdade e adquiriu por sua vez um escravo que ele usava como montaria. O que me arremessou outra vez à animação. O Cristianismo invadiu a Dinamarca (onde se passa a estória) e o tal conselheiro se tornou persona importante da Igreja e ainda continuava deixando apavorado o escravo, agora um jovem homem todo cheio de cicatrizes. Millôr disse uma vez e eu já repeti suas palavras: “...um homem, digo, um camponês...”. O escravo era um homem? Bem, não importa para nossa conversa. O interessante é que ele agora servia de apoio para seu dono, já velho. Tornaram-se amigos? Rss. Rss. Assim fui levado a pensar numa charge que uma queridíssima conhecida já me descreveu algumas vezes. Ela viu a charge num livro escolar de um de seus filhos e era assim: Numa Cruzada um guerreiro enfia sua espada no coração de um mouro dizendo “Eis a minha caridade cristã”.
Penso numa matéria jornalística que vi alguns anos atrás. O repórter, brasileiro, estava em algum país, não me lembro se islâmico, indiano, asiático ou algum outro. A pobreza era tanta que o repórter ofereceu dinheiro a um pai para comprar um de seus filhos, uma menina. Não por uma noite, mas como escrava. E entre as lágrimas de desespero da adolescente ele a conduziu por algumas centenas de metro e a devolveu ao pai deixando o dinheiro. Alívio. Não para mim. E espero que não para você.
Meus olhos ardem.
Meu nariz escorre.
Sábado eu vi um filhote de cachorro na beira da calçada morrendo. Meu coração doeu.
Já vi uma mulher esfaquear outra, antes das 08 horas da manhã. Meu coração doeu.
Já ouvi uma mulher torturar sua escrava, digo, a filha que adotou. Meu coração doeu.
Já ouvi uma criança ser jogada pela janela e outra ser baleada pela policia. E outra... Meu coração doeu.
Na verdade acordei com as seguintes palavras na minha cabeça:
Na animação “Beowolf”, que se passa 500 anos depois de Cristo, o principal conselheiro do rei tinha um escravo adolescente que apanhava tanto e por qualquer motivo que me levou à “Brás Cubas”*. Brasinha, o herói (?) da obra, gostava de “brincar” com um escravo, fazendo-o de mula ou cavalo. Ambos cresceram e, não me lembro como, o “eqüino” conseguiu a liberdade e adquiriu por sua vez um escravo que ele usava como montaria. O que me arremessou outra vez à animação. O Cristianismo invadiu a Dinamarca (onde se passa a estória) e o tal conselheiro se tornou persona importante da Igreja e ainda continuava deixando apavorado o escravo, agora um jovem homem todo cheio de cicatrizes. Millôr disse uma vez e eu já repeti suas palavras: “...um homem, digo, um camponês...”. O escravo era um homem? Bem, não importa para nossa conversa. O interessante é que ele agora servia de apoio para seu dono, já velho. Tornaram-se amigos? Rss. Rss. Assim fui levado a pensar numa charge que uma queridíssima conhecida já me descreveu algumas vezes. Ela viu a charge num livro escolar de um de seus filhos e era assim: Numa Cruzada um guerreiro enfia sua espada no coração de um mouro dizendo “Eis a minha caridade cristã”.
Penso numa matéria jornalística que vi alguns anos atrás. O repórter, brasileiro, estava em algum país, não me lembro se islâmico, indiano, asiático ou algum outro. A pobreza era tanta que o repórter ofereceu dinheiro a um pai para comprar um de seus filhos, uma menina. Não por uma noite, mas como escrava. E entre as lágrimas de desespero da adolescente ele a conduziu por algumas centenas de metro e a devolveu ao pai deixando o dinheiro. Alívio. Não para mim. E espero que não para você.
Meus olhos ardem.
Meu nariz escorre.
Sábado eu vi um filhote de cachorro na beira da calçada morrendo. Meu coração doeu.
Já vi uma mulher esfaquear outra, antes das 08 horas da manhã. Meu coração doeu.
Já ouvi uma mulher torturar sua escrava, digo, a filha que adotou. Meu coração doeu.
Já ouvi uma criança ser jogada pela janela e outra ser baleada pela policia. E outra... Meu coração doeu.
Mas meu coração se aliviou com uma mulher puxando para seu barraco um rapaz entregue pela polícia a uns traficantes. Que aconteceu à mulher?
Não quero mais ver nem ouvir. Tenho que fazer algo.
E você, já viu e ouviu o suficiente ou “tá bão”.
Apesar de toda minha insignificância eu faço. Sou voluntário numa ong aids (GASP – http://ppgasp.blogspot.com), escrevo e. Só temo que sejam vãs minhas ações. Mas não deixo que o temor me domine. Eu faço, mesmo com toda a força de um beija-flor.
Peço a Deus que não me deixe só.
São agora 37 minutos de cinco horas da segunda-feira.
Voltei. Estamos no benedictus e olhando pela janela do meu quarto vejo um lampião vermelho dando o seu máximo e vejo também beijos vermelhos e róseos dando o seu máximo. A árvore que tem na porta de minha casa está dando o seu máximo. Não vou ficar gemendo num vale de lágrimas. Eu vou sorrir e agir. Vou descobrir a espécie da árvore que me acompanha. Quero saber quem são meus companheiros. Inté!
Não quero mais ver nem ouvir. Tenho que fazer algo.
E você, já viu e ouviu o suficiente ou “tá bão”.
Apesar de toda minha insignificância eu faço. Sou voluntário numa ong aids (GASP – http://ppgasp.blogspot.com), escrevo e. Só temo que sejam vãs minhas ações. Mas não deixo que o temor me domine. Eu faço, mesmo com toda a força de um beija-flor.
Peço a Deus que não me deixe só.
São agora 37 minutos de cinco horas da segunda-feira.
Voltei. Estamos no benedictus e olhando pela janela do meu quarto vejo um lampião vermelho dando o seu máximo e vejo também beijos vermelhos e róseos dando o seu máximo. A árvore que tem na porta de minha casa está dando o seu máximo. Não vou ficar gemendo num vale de lágrimas. Eu vou sorrir e agir. Vou descobrir a espécie da árvore que me acompanha. Quero saber quem são meus companheiros. Inté!
* Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
AMOR
Anteontem.
Impar – Boa noite, amor!
Par – Boa noite.
E os dois se beijam felizes em se verem.
Par – Esqueceu eim!?
Impar – O quê?
Par – Ah! Se eu não tem amasse tanto assim.
Impar – O que esqueci?
Par – Do meu presente. Aqui está o seu.
Impar – Ai! É mesmo. Desculpe. Não trouxe nada.
Par – Sabia! Diz sorrindo e ambos se beijam.
Impar – Espera, que vou ali comprar um algodão doce para você.
Quando prestes a chegar à metade da rua só se vê uma sombra e se ouve alguns sons.
Ontem.
Uma lágrima escorre. Em seu lar os pais brigam mais uma vez e não param nem quando chega a irmãzinha. Par se encaminha para o seu quarto e ao passar pela sala se esbarra na Bíblia que por acaso estava lá. Recolhendo-a do chão repara na dedicatória. Um presente do Padre que celebrou o casamento de seus pais. Mas... Cinco meses depois de seu nascimento. – Uai! Pensa, meus pais se casaram dez meses antes de meu nascimento. Como pode isso? Continua a pensar.
Par – Pai, mãe! O que significa essa data?
Pai – Onde você viu isso, Benito?
Par – Esbarrei nela agora. Não estou entendendo, que significa essa data?
Pai – Mãe, explique você.
Mãe – Em lágrimas: Nós comemoramos o nosso casamento quase um ano e meio depois para que você não se sinta mal por um deslize nosso.
Pai – A gente te quer bem. A você e à sua irmã.
Amanhã.
Caminhando pela rua. Caminhando pela rua. Caminhando pela rua. Caminhando. A ponte! A ponte? Caminhando para a ponte. Caminhando para a ponte. Caminhando. Pulando. Caindo. Molhando. Tentando sair. Afundando. Escuridão e silêncio.
Par – Onde estou?
Enfermeira – Acordou? Que bom! Que tolice. Sai depois de examinar.
O Estranho olha pela porta e sorrir
Enfermeira – Que o senhor está fazendo aí?
Estranho – Só olhando alguém que ajudei.
Enfermeira – Então entra e se apresenta. E o empurra para dentro.
Os dois se olham. Sorriem e continuam se olhando.
Depois de amanhã.
Passeiam pela praça sob o olhar sempre presente de Ímpar que pensa: Dessa vez não esqueci nada... Bem! Quase nada. Completa ao olhar para baixo e ver que esqueceu a cueca. Sorrindo, volta para onde veio.
Impar – Boa noite, amor!
Par – Boa noite.
E os dois se beijam felizes em se verem.
Par – Esqueceu eim!?
Impar – O quê?
Par – Ah! Se eu não tem amasse tanto assim.
Impar – O que esqueci?
Par – Do meu presente. Aqui está o seu.
Impar – Ai! É mesmo. Desculpe. Não trouxe nada.
Par – Sabia! Diz sorrindo e ambos se beijam.
Impar – Espera, que vou ali comprar um algodão doce para você.
Quando prestes a chegar à metade da rua só se vê uma sombra e se ouve alguns sons.
Ontem.
Uma lágrima escorre. Em seu lar os pais brigam mais uma vez e não param nem quando chega a irmãzinha. Par se encaminha para o seu quarto e ao passar pela sala se esbarra na Bíblia que por acaso estava lá. Recolhendo-a do chão repara na dedicatória. Um presente do Padre que celebrou o casamento de seus pais. Mas... Cinco meses depois de seu nascimento. – Uai! Pensa, meus pais se casaram dez meses antes de meu nascimento. Como pode isso? Continua a pensar.
Par – Pai, mãe! O que significa essa data?
Pai – Onde você viu isso, Benito?
Par – Esbarrei nela agora. Não estou entendendo, que significa essa data?
Pai – Mãe, explique você.
Mãe – Em lágrimas: Nós comemoramos o nosso casamento quase um ano e meio depois para que você não se sinta mal por um deslize nosso.
Pai – A gente te quer bem. A você e à sua irmã.
Amanhã.
Caminhando pela rua. Caminhando pela rua. Caminhando pela rua. Caminhando. A ponte! A ponte? Caminhando para a ponte. Caminhando para a ponte. Caminhando. Pulando. Caindo. Molhando. Tentando sair. Afundando. Escuridão e silêncio.
Par – Onde estou?
Enfermeira – Acordou? Que bom! Que tolice. Sai depois de examinar.
O Estranho olha pela porta e sorrir
Enfermeira – Que o senhor está fazendo aí?
Estranho – Só olhando alguém que ajudei.
Enfermeira – Então entra e se apresenta. E o empurra para dentro.
Os dois se olham. Sorriem e continuam se olhando.
Depois de amanhã.
Passeiam pela praça sob o olhar sempre presente de Ímpar que pensa: Dessa vez não esqueci nada... Bem! Quase nada. Completa ao olhar para baixo e ver que esqueceu a cueca. Sorrindo, volta para onde veio.
Escrito na noite de 31-7-08
Imagem de Van Gog
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