segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O CANTO DO GALO


Obax anafisa.
Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo!
¡Adiós, Año Viejo! ¡Feliz Año Nuevo!


Em português:

“Tudo me fala e entendo: escuto as rosas \ e os girassóis destes jardins, que um dia \ foram terras e areias dolorosas, \ por onde o passo da ambição rugia; \ por onde se arrastava, esquartejado, \ o mártir sem direito de agonia” (MEIRELES).


Coocoquêêê! – Com o primeiro canto do galo abro meus olhos. Tudo está embaçado no próximo minuto ou minuto e meio. – Cococoóóó! – Eu me espreguiço longa, lenta e deliciosamente. – Cooococoocó! – Já enxergando melhor eu me levanto. – Cocoricó! – Olho o brilho maravilhoso do sol entre as nuvens. Maravilho-me!
Horas depois.
“Foge comigo, Mulher Maravilha. Foge, foge, larga o Super Homem” coaxa Tchê Garotos¹.
- Benito, ¿que es sino? – Falo comigo mesmo.
- Sina é querer ler a escritora Cecília Meireles ou ouvir os músicos Vivaldi, Bricoleur e o casal Frei, mas escutar aquilo. – Aponto com a cabeça para a caixa de som. – Meu Deus, só não peço a morte porque não me é permitido agonizar. Tenho que ter coragem, enfrentar e vencer.
- Marcelino! Uma caipirinha, fraca, por favor, porque sou forte feito a árvore verde e marrom que suporta as tolices sobre suas raízes.
- ¿Usted es fuerte?
- Tenho cães e livros e toda sua energia me dá conforto. E tenho família. Portanto, sim, sou forte.
- ¡Usted está es borracho!
- Estou bêbado, estou bêbado e o trem de minério passa gritando – assim traduzo seus maquinários ruídos com a mesma sagacidade que traduzo seu espanhol: “RIQUEZA PRA QUÊ?”, diz o comboio.
- Sus versos son si rima. Sin embargo, ¿rima para qué? Usted es desentonado.
- Sai, abelha! – Grito quando pousa em minha mão e meu grito se cala quando a pétala do falso pau-brasil cai em meu braço esquerdo. Não sou da Direita e me aproximo da Esquerda sem ser algo nem nada.
- ¡Usted estás borracho, muy borracho! Griten las piedras: ¡usted estás borracho!
- Mas por que gritarem as pedras? Não me importa, eu não me calo. Eu escrevo!
- ¡Basta ya! No le oiré ni voy hablar más. Mejor leer.
- Melhor sair.
Atravessando o FeirArte penso no primeiro canto do galo e traduzo para mim mesmo suas palavras...
- ¿Usted entiende los gallos?, Benito.
- Você de novo? Sim, compreendo! É porque eu sou um galo! Sou homem forte e valente. Ele disse “Que socorro o quêêê!” e também sua segunda frase foi “Sou lindo!”.
- ¿Qué más dice él?
- “Sou guerreiro!” E por fim: “Sou bravo!”.
- ¡Ji ji ji! ¿Usted es valiente, guerrero y bravo? ¡Ji ji ji!
Em uma loja na avenida olho meu rosto na vitrine e depois repito Cecília Meireles: “recompunha as coisas incompletas: \ figuras inocentes, vis, atrozes, \ vigários, coronéis, ministros, poetas”. Somente assim me calo: Recompondo as coisas incompletas em mim. Ou tentando.


En español:

“Tudo me fala e entendo: escuto as rosas \ e os girassóis destes jardins, que um dia \ foram terras e areias dolorosas, \ por onde o passo da ambição rugia; \ por onde se arrastava, esquartejado, \ o mártir sem direito de agonia” (MEIRELES).


¡Coococááá! – Con el primero canto del gallo abro mis ojos. Todo está empañado en el próximo minuto o minuto e medio. – ¡Cococoóóó! – Yo me desperezo largo, lenta y deliciosamente. – ¡Cooococoocó! – Ya viendo mejor yo me levanto. – ¡Cocoricó! – Miro el brillo maravilloso del sol entre las nubes. ¡Me maravilla!
Horas después.
“Huye conmigo, Mujer Maravilla. Huye, huye, deja el Super Hombre” croa Tchê Garotos¹.
- Benito, o que é sina? – Hablo conmigo mismo.
- Sino es querer leer la escritora brasileña Cecília Meireles u oír los músicos Vivaldi, Bricoleur y la pareja Frei pero escuchar aquello. – Apunto con la cabeza para el altavoz. – Dios mío, sólo no pido la muerte porque no me es permitido agonizar. Tengo que tener coraje, enfrentar y vencer.
- Marcelino! Una caipirinha², flaca, por favor, porque soy fuerte fecho lo árbol verde e marrón que soporta las tonterías sobre sus raíces.
- Você é forte?
- Tengo perros y libros y toda su energía me da consuelo. Y tengo familia. Por lo tanto, si, soy fuerte.
- Você está é bêbado!
- Estoy borracho, estoy borracho y el tren de mineral pasa gritando – así traduzco sus maquinarias ruidos con la misma sagacidad que traduzco su portugués: “¿RIQUEZA PARA QUÉ?”, dice el tren.
- Seus versos são sem rima. No entanto, rima para quê? Você é desentoado.
- ¡Salga, abeja! – Grito cuando posa en mi mano y mi grito se calla cuando la pétalo de lo falso palo-brasil³ cae en mi brazo izquierdo. No soy da Derecha y mi aproximo da Izquierda sen ser algo ni nada.
- Você está bêbado, muito bêbado! Gritem as pedras: Você está bêbado!
- ¿Mas porqué gritaren las piedras? No me importa, yo no me callo. ¡Yo escribo!
- Chega! Não vou lhe ouvir nem vou falar mais nada. É melhor ler.
- Mejor salir.
Atravesando el FeirArte pienso en el primero canto del gallo e traduzco para mi mismo sus palabras...
- Você entende os galos, Benito?
- ¿Usted de nuevo? ¡Si, comprendo! ¡Es porque yo soy un gallo! Soy hombre fuerte y valiente. Él dice “!Que socorro naaada!” y también su segunda frase fue “!Soy lindo!”.
- Que mais ele disse?
- ¡Soy guerrero! E por fin: ¡Soy bravo!
- Ri ri ri! Você é valente, guerreiro e bravo? Ri ri ri!
En una tienda en la avenida miro mi rostro en la vitrina y después repito Cecília Meireles: “recompunha as coisas incompletas: \ figuras inocentes, vis, atrozes, \ vigários, coronéis, ministros, poetas”. Solamente así me callo: Recomponiendo las cosas incompletas en mí. O intentando.


Ofereço aos aniversariantes.
Joaquim Tiago, Gilberto Weber, Nathy Costa, Gustavo A, Spada, Eva García de Otro Mondo, Maximiano Lagares, Renan F, Brasil, Samanta Bela, Sarah Helena,

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
En banto (una lengua africana), obax anafisa significan flores y piedras preciosas. O texto es mis flores para usted y hago votos de que encuentre en él piedras preciosas.

Escrito entre 09 e 31 de dezembro de 2012.

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. 16ª edição – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. Cenário. (Observação: Não traduzi para o espanhol a obra de Cecília Meireles porque não me sinto ainda capacitado para tamanha ousadia).
¹ Para alguém que queira saber mais sobre isso (fazer o quê, né?): http://www.vagalume.com.br/tche-garotos/mulher-maravilha.html
² Caipirinha (lea “caipiriña”) es una bebida brasileña mucho conocida internacionalmente. Sus ingredientes son “cachaça” (bebida alcohólica semejante a tequila, pero hecho con caña), limón, azúcar refinado y helo.
³ Palo-brasil, o como se dice en Brasil, “pau-brasil”, es lo árbol que dio nombre al país.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

TÃO IMPORTANTE COMO OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS, É DESCOBRI-LAS¹


Obax anafisa.

Feliz Natal!
¡Feliz Navidad!


Em português:

A escola do morro, por precisar de alguém para dirigir uma peça de teatro, me convidou por indicação de um dos professores. Fui bem recebido pelo diretor, levado à sala que trabalharia sob o aroma da cantina e deixado lá com dez ou dúzia de adolescentes. No terceiro encontro vi pelos corredores um magro chato de caneta, bloquinho e conversando ao celular.
- Sei! Nina de Kastro, com k, foi seqüestrada. Que mais? Ah! Grande poeta... Mas encontrar poeta dá ibope? Ah! Intelectual. Sei! Mas intelectual... Por que vamos procurar sarna para coçar? Tem certeza? Afinal, pensante... quanto menos, melhor.
- Com licença! De que você está falando?
- Estou ocupado agora. Dá licença! – Diz “dá licença” como se dissesse “sai”, dá-me às costas e continua a falar no aparelho.
Entro na sala e dou minha aula até sentir uma vontade desesperada de ir ao banheiro. Faço o que não costumo: Deixo os alunos e vou me aliviar. Banheiro mais próximo... na sala do diretor. Eu em pleno alívio quando entra a vice. Esqueci a porta aberta. Sem graça, fecho-a feito um quase dançarino ou, mais parecido, um ginasta. Lavo as mãos, respiro, abro e saio. Ela está lá. Olhando para mim.
- Desculpe!
- Tudo bem! Foi pela necessidade.
- Não costumo deixar aberta.
- Tudo bem! O que é bonito é para ser mostrado.
- Desculpe! – Pera aí, o que ela disse? Penso, e ela com voz séria e olhar divertido diz: Está na hora de voltar à sua sala.
- Já vou. Com licença.
O magro chato falava com alguém da faxina quando eu lhe disse que conheço a Nina. Ele pega gravador e me senta à mesa de refeição.
- Seu nome?
- Benito Bardo Junior.
Digo não entender porque a seqüestraram. Ela não é rica. O sujeito insiste nisso como possível motivo para seqüestro. Então lhe digo que, segundo palavras frequentes da poeta “Pela graça de Jesus e bênção de Deus nunca me falta nada” e que apesar de não saber nada sobre sua conta bancária não imagino dinheiro como causa do sumiço.
- O que você faz aqui? – Persiste no assunto.
- Estou ajudando a professora de arte a dirigir uma peça.
- Por quê?
- Também sou artista.
- Artista? Também...
- Sim! Sou escritor, poeta, diretor e professor de teatro.
- Sei... Um intelectual!
- Prefiro o termo pensante.
- Dois intelectuais... e poetas... Muitas coisas para pensar... concordar... discordar... Discutir! – Depois de me observar fria e silenciosamente por um longo tempo ele me manda sair. Na porta sinto minha espinha gelar com seu olhar para minhas costas e...
Onde estou? Por que preso nessa cadeira?


En español:

La escuela del morro, por necesitar de alguien para dirigir un espectáculo del teatro, me convidó por indicación de un de los profesores. Fui bien recibido pelo director, levado al aula que trabajaría debajo del aroma del refectorio y dejado allá con diez o docena de adolescentes. En el tercero encuentro vi por el pasillo un delgado molesto con estilográfico, cuadernillo y conversando al teléfono móvil.
- ¡Sé! Nina de Kastro, con k, fue secuestrada. ¿Que más? ¡Ah! Grande poeta... ¿Pero encontrar poeta es bueno para nosotros? ¡Ah! Intelectual. ¡Sé! Pero intelectual... Mas, es como se dice “Quien ama el peligro, en él perece” o sea ¿Por que vamos preocupar con intelectuales? ¿Tiene certeza? Al fin, pensante... cuanto menos, mejor.
- ¡Con permiso! ¿De que usted está hablando?
- Estoy ocupado ahora. ¡Da licencia! – Dice “da licencia” como se hablase “salga”, ignórame y continúa a hablar en el aparato.
Entro en la aula y doy lección até sentir una voluntad desesperada de ir al bañero. No acostumbro hacer pero no aguanté, entonces dejé mis alumnos y me fui aliviar. Bañero más prójimo... en la directoria. Yo estaba en pleno alivio cuando entra la directora adjunta. Olvidé la puerta abierta. Sin gracia, la cierro hecho un casi danzarín, o más parecido, un gimnasta. Lavo las manos, respiro, abro e sayo. Ella está allá. Mirándome.
- ¡Perdóname!
- ¡Todo bien! Fue por la necesidad.
- No acostumbro dejar abierta.
- ¡Todo bien! Lo que es bonito es para ser exhibido.
- ¡Perdóname! – ¿Lo que ella dice? Pienso, e ella con voz seria e mirada divertida habla: Está en la hora de volver a su aula.
- Ya voy. Con permiso.
El delgado molesto hablaba con alguien de la limpieza cuando yo le dice que conozco la Nina. Él pega magnetófono y me sienta a la mesa de comida.
- ¿Su nombre?
- Benito Bardo Junior.
Digo no entender porque fue secuestrada. Ella no es rica. El sujeto insiste en eso como posible motivo para secuestro. Entonces le digo que, según palabras frequentes de la poeta “Pela gracia de Jesús y bendición de Dios nunca me falta nada” y que a pesar de no saber nada sobre su cuenta bancaria no imagino dinero como causa do desaparición de mi amiga.
- ¿O que usted hace acá? – Persiste en el asunto.
- Estoy ayudando la profesora de arte a dirigir un espectáculo.
- ¿Por qué?
- También soy artista.
- ¿Artista? También…
- ¡Si! Soy escritor, poeta, director e profesor de teatro.
- Sé... ¡Un intelectual!
- Prefiero el vocablo pensante.
Habla para si mismo, entre los dientes:
- Dos intelectuales... y poetas... Muchas cosas para pensar… concordar… discordar… ¡Discutir! – Después de mí observar fría y silenciosamente por un largo tiempo él me manda salir. En la puerta siento mí espinazo helar con su mirada para mis espaldas y...
¿Adonde estoy? ¿Por qué estoy preso en esa silla?


Ofereço aos aniversariantes.
Juliana Novaes, Alison W. Martins, Jhoyce Oliveira, Natalia Coutto, Éderson Caldas, Artur Freitas, Tatiana C.S.V. Brandão, Pedro H. Souza, Kívia Kiara.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 10 de outubro e 24 de dezembro de 2012.

O título é uma frase do delicioso texto de DOMINGUES, Thiago – Quando Nasce a Hora – retirado do sítio Palavras e Gavetas na manhã do “fim do mundo” de 2012:

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CAMINHOS DO RIO


Obax anafisa.


Em português:

O antigo caminho do rio
Já foi aqui, agora não é mais
Tento rir, mas não, mal sorrio
Já vi e já senti coisas demais.

É aquela velha história
O rio... o rio nunca passa duas vezes...
Assim porque lutar por glória
Se mudo todos os dias, todos os meses.

Escrever para ser memória?
Em vida pouco tenho e nada sou
E quero dinheiro e vitória.

Escrevo porque sou palavra
Também sou antigo caminho do rio
Que na arte se lava e se lavra.

Em espanhol:

El antiguo camino de lo río
Ya fue aquí, ahora no es más
Intento reír, pero mal sonrío
Ya vi y también sentí cosas demás.

De nuevo aquella vieja historia
El río… el río nunca pasa dos veces…
Así porque luchar por tanta gloria
Mudo todos los días, todos los meses.

¿Escribir para ser sólo memoria?
Poco tengo y soy nadie en la vida
Deseo dinero y quiero victoria.

Hermano, escribo porque soy palabra
Y soy antiguo camino de lo río
Que en la cultura se lava y si labra.


Ofereço aos aniversariantes.
Amanda K. Nobre, Fábio S. Rodrigues, Wyllon Jheffer, Gerci Santos, Nadieli Sathler, Joe Arthuso, Renata Matos, Clayton Heringer e Mayron Engel.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 13 e 17 de dezembro de 2012.
O soneto me foi inspirado pelas palavras que Alano Barbosa me disse sobre o meu cronto Cacto, postado 10-12-12 no aRTISTA e aRTEIRO. Obrigado, Alano.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CACTO


Obax anafisa.


É a avenida Londrina, no bairro Veneza. Meu irmão e um cunhado seu bebem em um bar. Uma mesinha bonita, de ferro, branca. Ao redor, para dar charme, muro alto de madeira e algumas samambaias e arbustos. Vendo-os, entro sorridente e sérios eles me dizem “Você é desagradável”. Não, eles dizem mais docemente, gostam de mim: “Você não é agradável”.
- Lembra da brincadeira da profissão?
Pelo rosto digo que não.
- Médico... e depois diz uma coisa não simpática (lembremos que eles gostam de mim, não usam a expressão pesada: antipático), Cozinheiro... e algo não simpático.
- Lembro! – Digo com um sorriso tolo.
- Por isso o dono do boteco perto de casa disse que não lhe quer mais lá. E também porque está devendo.
Levanto, despeço-me e saio consciente que eles diziam mais com aquilo. Não era do botequim que falavam.
À minha frente o sol cora o céu.
Subo o morro da rua Niterói para visitar uma amiga.
- Luci Ana, está?
- Não!
Seu pai ia descer para lhe dar um recado. Ofereço-me para entregá-lo já que eu ia lá para baixo mesmo. Aliviado o idoso me diz e volta para dentro enquanto me afasto.
À minha frente o céu vermelho tem um toque laranja.
Matutando minhas dívidas fantasio como saudá-las e atravesso o Campo do bigode e entro na avenida Livramento. Algumas mulheres, moças e meninas vestidas de indianas ciganas havaianas vão começar uma dança. Eu as reconheço. O público aumenta vertiginosamente. Passo por elas enquanto se apresentam, admirando-as contorno todo o público e vou-me embora ouvindo a música.
- “Convoquen a la Guarda Nacional para dar fin a lo peligro mortal. Un pasional pájaro carpintero a las puertas de lo Poder Público Municipal puede atacar la caradura de aquellas terribles personas”. Uma das dançarinas saiu despercebida de sua formação e me assustou se posicionando à minha frente para me dizer tal profecia, metáfora ou o que não tem sentido e desaparece.
À minha frente o céu vermelho tem um toque laranja e azul marinho.
Eu sou a favor do vício desenfreado. Sou um tarado por livros. Não vivo sem eles. E estou “desencaminhando” muitos jovens com tamanho defeito. – Pensando assim eu não sinto o peso em minha cabeça.
- Usted es malo, mucho malo. ¡Un ofensor de menudos con los libros, a través de su arte, un transmisor del virus de la libertad! ¡Uajajá! – Depois do riso, a seriedade – ¡No olvide de nadie! ¡Todo es lo usted! – A artista apareceu no último raio do sol, disse e sumiu na noite.
Um aluno meu disse que parou de usar entorpecentes porque começou a ler livro depois que tanto falei deles para sua turma. Fiquei muito contente quando ele me disse isso, assim, do nada e sem outro motivo além de compartilhar sua alegria. Não me esqueço de tudo que sou e à minha frente a noite emoldura a lua minguante sobre um cacto com sua bela amarela flor rugosa ou rústica.


Ofereço aos aniversariantes
Biblioteca Leitura e Olhares, Rayssa Rangel, Éldison M. Paravidino, Chimeni Lins, Camila Santos, Nubia Teodoro, Renata Sousa.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Embasado num sonho escrevi entre os dias 02 de novembro e 10 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ALHEIO


Obax anafisa.

Cronto inspirado no conto Bárbara no Inverno, de Milton Hatoum, do livro Aquela Canção: 12 contos para 12 músicas (vários autores) – São Paulo: Publifolha, 2005. Delicioso livro que ganhei de presente de Carlos Glauss. Obrigado!


Sol de início de novembro.
“E me vingar a qualquer preço”. A voz de Zélia Duncan não ultrapassava os ouvidos de Lázaro e Cláudia. Seus cérebros gravaram nas retinas a queda de Bárbara, registraram a calçada manchar-se de vermelho. E só. As fezes saíram com a explosão do impacto, mas lentamente a urina se misturou ao sangue. Não foi nem um pouco a cena bonita de A Morte do Leiteiro, de Drummond. Na rua poucos viram a tragédia, mas muitos farejaram a desgraça e foram se saciar. Na Praça Dona Maria do Dízimo, Veneza II, pássaros variados cantavam ignorando um cocô humano aos pés de uma árvore no meio da praça de pinheiros. Ignoraram até a morta poucos metros adiante. Enquanto o monturinho servia de salão de festas para moscas, nos prédios as janelas foram se abrindo e as casas se esvaziando. Pouco a pouco e passo a passo os urubus foram chegando com seus burburinhos eróticos para o cadáver que sorria sem pensar que tudo partiu dela para o fim de tudo. Zélia ainda cantava “Só pra provar que inda sou tua” quando o casal se afastou da janela. Não as falaram. Pegaram o que precisavam. Foram para a rua. Foram embora.
O sol de meados de novembro ardeu terrível, meus pés pisaram as pedras na terra seca fazendo um barulho que já ouvi em filmes, mas que nunca eu tinha vivido. É tão desconfortante sentir tanto.
Mas o sol de final de novembro quase não apareceu. Nem quando à minha frente uma mulher se agachou diante de dois grandes sacos de salsicha, rasgou um, cheirou e comeu o bastão laranja-acinzentado que tirou. Generosa, ofereceu ao vira-lata que passava. Mas somente as moscas degustaram o seu repasto.


Ofereço como presente de aniversário
Alejandro Vera, Marcelo Vieira, Welington G. Silva, Claudiney de Sá, Lorrayne Carvalho, Regina T. P. Simao, Sergio Lopes e Ana F. R. Santana.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre os dias 28 de outubro e 03 de dezembro de 2012.