ou ESTE TERCEIRO DIA ATÉ HOJE NÃO VEIO
Escribir por necesidad
Porque es también denuncia el oficio
Para ubicar los espejos cara a cara
Y vernos en el silencio que escogimos
Escribir para que nos crucifique la historia
Hacer que grite y llore y nos deshonre
Para que no quede en el olvido
Escribir para nombrar a los culpables
Para nombrarnos uno a uno tras el vidrio
Porque hacen falta los versos y la bronca
Porque lo hemos dejado morir en la calle
Y de
frio.
(Coronel¹).
Se alguém for falar mal de mim, não o faça
pelas costas. Chame a mim, pois sei coisas terríveis sobre mim que a maioria
nem imaginaria.
Diz Benito Bardo Junior. É importante
separar as coisas. Rubem escreve o cronto, mas quem vive e conta a história é
Benito.
Política e religião é o assunto da
conversa e o que segue é após algumas dezenas de minutos após se sentarem num
quintal em Belém do Pará.
- Anteriormente falei ao senhor que aqui
em Belém temos o caso do deputado Éder Mauro Cardoso Barra e do delegado
Marivaldo Pamplona da Silva, mais conhecido por Marivaldo do Pirarucu. Éder e
Marivaldo realizavam juntos um esquema de nomeação de familiares, agiotagem,
contrabando e grupos de extermínios.
Diz o professor Ariano, o Mouro. Ele para
um pouco, olha pra lua enquanto bebe um gole de cerveja e continua:
- Inclusive o documento “‘Relação de
devedores da União que financiaram campanhas eleitorais de candidatos ao cargo
de Deputado Federal’ emitido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
Procuradoria-Geral Adjunta de Gestão da Dívida Ativa da União, Coordenação-Geral
de Estratégias de Recuperação de Créditos” comprova que Marivaldo tem uma
dívida não previdenciária financiando o candidato a deputado Eder. Prenderam o
delegado e encontraram muitas provas dos crimes cometidos pelos dois. Mas em
menos de seis horas, “não se sabe como”, um delegado conseguiu cem mil reais
para pagar sua fiança. E ambos estão soltos.
O assunto muda parecendo não ter nenhum
anexo com o a fala acima.
- Quando eu era jovem praticava uma
religião. Até que ainda a respeito. Não a sigo mais porque não creio mais que
religiões religam o ser humano a Deus. Essa religião ensina: “só existe o bem
porque Deus criou apenas o bem e não criou o mal; e só Deus pode criar. O mal é
apenas uma ilusão, uma fantasia humana.”. Acho que ainda acredito nisso... Não
sei.
Benito interrompe sua fala para beber sua
cerveja e observar a castanheira banhada pela lua. E continua:
- Mas o que quero dizer é o quanto me
chocava ao ouvir no catolicismo o Salve Rainha “degredados filhos de Eva
gemendo e chorando num vale de lágrimas”. Eu sempre dizia “não sou um degredado
filho de Eva. Sou um filho de Deus e não vivo num vale de lágrimas. Vivo no
Vale do Aço; vale de gente forte feito aço”. Porque no Leste de Minas, onde
moro, tem o município de Ipatinga que fica no Vale do Aço. A microrregião tem
esse nome porque minha cidade tem uma importante indústria de aço bruto e na
cidade próxima, Timóteo, há uma indústria de aço inox.
Benito interrompe sua fala outra vez. Bebe
mais um pouco e, sem olhar para nada nem ninguém, continua:
- Bem, fui crescendo, crescendo não só em
tamanho, mas em idade, em feridas e fui observando as coisas. O ser humano é o
lobo do homem. Ainda creio ou acho que acredito que na Imagem Verdadeira o que
Deus criou não se desfaz. Mas temos um apego enorme a ilusão. Não sei dizer
estou falando certo, mas me dói muito... É muito doloroso pra mim saber que o
ser humano ininterruptamente prefere o mal ao bem. Talvez eu esteja exagerando
ao dizer continuamente. Mas se não é sempre é quase sempre. E não quase nunca.
Não sei viver, pois é doloroso demais ser gente. Não sei viver, pois não há
sociedade, mas sim alcateias. Mas ainda tento. Tento através das minhas aulas;
que pelo menos alguns consigam ser pessoas de bem e não apenas de bens. – Ri
amargo. – Quando escrevo e denuncio tudo isso espero que as pessoas parem e
pensem e tentem “não vamos fazer mais isso. Vamos modificar”. Não sei vou
conseguir. Acho pouco provável, mas ainda assim resisto.
Para passar o período natalino e de troca
de ano estamos Benito, eu, Girvany de Morais, Glaussim e sua família no quintal
da casa de Ariano, no Belém do Pará. E foi aí que o até então calado Glaussim
diz:
- Não gosto de refutar Deus em
pensamentos. Acho que Ele é muito mais que isso. O que penso é: “buscamos a
aceitação de um Deus bondoso e esquece que Ele fez o mundo, o universo, as
possibilidades de bem e mal”. A árvore que estava no centro do Éden é uma
alegoria para o bem e para o mal. É uma parábola para a escolha humana. A escolha
de pegar o fruto e entender sobre o bem e sobre o mal.
Interrompe sua fala para beber e olhar as
pessoas nas outras mesas. Enquanto isso Benito diz:
- Mas será que buscamos um Deus conosco,
um Deus bondoso?... – Olha a todos ao redor da mesa até fixar-se na lua acima
da castanheira. Só aí continua: Creio que a busca geral é o Deus belicoso...
Glaussim pensa um instante e retorna ao
seu raciocínio:
- O paraíso e o inferno são a mesma coisa.
Quem torna tudo um inferno são as pessoas com suas escolhas assim como quem
consegue florear a própria vida a transforma num paraíso. Enquanto muitos
soltaram bombas em Nagasaki e Hiroshima outras tomavam seu café... É terrível.
Mas tudo é escolha dos homens que governam e das pessoas que aceitam os
governos impostos.
Bebe outro gole e retorna:
- Essa árvore – olha a castanheira sob a
lua –, a do Jardim do Éden, está na terra, na superfície de nossas mentes e
buscar sua seiva é procurar o que nos move, a alma máter. Se a pessoa consegue
de alguma forma enriquecer e olha ao lado e vê a miséria dos demais... É aí que
a pessoa descobre quem ela é.
Benito pega o celular, procura uma charge e a mostra aos amigos:
- A paz pela guerra é a ideia de vida
“amelricana”. Numa aparente mudança de assunto:
- Em Ipatinga temos muitos prefeitos
caçados nesses últimos seis anos. O prefeito Nardielo Rocha, que ficará até 31
de dezembro, está respondendo a uma dezena de processos. Ele é aquele que foi
eleito por dizer que o adversário iria, nas escolas, acabar com banheiros para
meninos e banheiros para meninas; ficando um só banheiro para todes usarem na
hora do recreio. Foi eleito em nome de Jisuis. Ah! Sinceramente estou cansado
de religiões. Mas diz aí, Ariano. O tal delegado está solto? Está trabalhando?
O que está acontecendo com ele? E o deputado, continua no cargo? Vai
candidatar-se de novo? Quais são as notícias que temos em relação a esses dois cidadãos de bem.
- O deputado está em franca campanha.
Começou a andar pelos bairros de Belém. Como deputado federal deveria estar em
Brasília... Agora, o delegado tem ligações estreitas com grupos de
extermínios... Esses dois sabem fazer política. Prendem um grupo de
traficantes, divulgam nos jornais e o povo os crê salvadores da pátria. Sendo
que, na verdade, apenas acabaram com aqueles que pararam de lhes dar propinas.
Glaussim retoma a palavra:
- O mundo é instável. Seja
geograficamente, seja humanamente. Vemos os movimentos das placas tectônicas,
das quedas de meteoritos que este mundo não foi feito para ficar em paz. De
tempos em tempos surgem formas absurdas de homens-deuses como os faraós, Júlio
César, Gengiskan, Hitler, os presidentes dos Estados Unidos e o nosso
Boçalnato.
- Parece que uma nuvem negra vem se
aproximando com uma tempestade... – Diz Ariano. – Não consigo engolir essas
coisas. É muito difícil. Não consigo engolir mesmo.
Girvany é um bom ouvinte e por isso só
agora dá o seu parecer:
- Alguém já ouviu falar em crimes nas
comunidades indígenas? A Bugra, de Nena de Castro, nos mostra: Eles não são
perfeitos, claro. Mas qual é a proposta de comunidade deles? Uma coisa que eles
não têm, mas na nossa é essencial, é a competição. Não falo de competição
esportiva, mas sim de capital. Aqui, se um trabalha oito horas para conseguir
construir uma boa casa outro trabalha doze para construir algo melhor.
Come um pouco e continua:
- Acompanhada por Nena, Flávia Frazão nos
diz: “Não é uma ridícula questão de luta do bem com o mal.”. As sociedades onde
as desigualdades não existem ou são muito poucas a proposta é viver em
comunhão. – Uma breve pausa e: Temos que lembrar que as pessoas são frutos das
ideologias.
- É! E como disse Paulo Freire: “Não
existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão
é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”. O presidente, pela milésima
vez desdizendo o que disse fez um arremedo de plano de governo para vacinação
do covid. Na primeira vez do plano os professores estariam em segundo lugar na
prioridade de vacinação, mas mudou de ideia e nos colocou em último lugar junto
com os presidiários. Minha fala não objetiva desmerecer as pessoas desprovidas
de liberdade, mas sim em nos colocar no mesmo patamar de quem comete crimes. –
Diz rindo: E tem presidiário ofendido por ter sido colocado no mesmo nível do
professor...
Perdão!
Sobre o Natal e o
ano novo:
Estou deprimido
demais para desejar algo que não acredito ser possível estes anos: feliz.
Mas
Desejo do meu
coração que tenham tido um Natal...
E quem tenham
força e coragem para passar por 2021.
Espero que tenham
tido uma boa preparação para o renascimento do Emanuel, o Deus Conosco, para
que Ele cresça em 2021.
Mas
O povo que num
domingo Lhe proclama “Hosana nas alturas” na sexta lhe proclama “Crucifica-O!”.
Em 2016 Ele foi
golpeado.
Em 2017 foi
sabotado.
Em 2018 Jesus foi
cuspido e esbofeteado.
Em 2019 Ele foi
agredido e ferido de morte.
Em 2020 Ele foi
morto...
Mas vejamos se em
2021 Ele ressuscita e cresce.
Mas
Como isso poderá
fazer-se?
Quem é Jesus, o
Cristo, o Emanuel? O que se faz com Ele?
Mateus 07,12. Mateus
07,21-23. Mateus 18,01-14. Lucas 24, 07.
Ofereço
como presente à aniversariante Liala Coelho.
Talvez
em 2021 não ofereça meus textos a ninguém em especial.
Recomendo a leitura de:
“Versos
Ácidos do Vale do Aço”, deste macróbio que vos fala e de nove outras grandes vidas.
Comprar um exemplar é, primeiro, beneficiar seu cérebro; depois apoiar a
arte/literatura local. Meu watzap é: +5533998034325.
¹
Silvia Martínez Coronel é uruguaia e vive em Montevideo; é colunista na empresa
Periódico La Brecha; é docente de Literatura; é crítica de Arte; e é escritora.
Coronel crê e incentiva “Dê de presente um refúgio. Um livro é companhia porque
aquele que lê nunca está só.”. Ela repete a fala de Laura Martínez Coronel: “A
criação tem o eterno poder de derrotar a morte”.
Sobre
vacinação dos professores:
GALVANI,
Giovana. Governo descumpre promessa e
retira professores da fase dois da vacinação. https://www.cartacapital.com.br/educacao/governo-descumpre-promessa-e-retira-professores-da-fase-2-da-vacinacao/?fbclid=IwAR3P_cANtgGAP2n5wOURpab3__nmZoS3PWlPASYTxHr5dKoIHonwYXhw2JY
Acesso 18 Dez 2020
Veja
Saúde. Como é o plano de vacinação contra
a Covid-19 do governo federal. Disponível https://saude.abril.com.br/medicina/como-e-o-plano-de-vacinacao-contra-a-covid-19-do-governo-federal/?fbclid=IwAR3w7s7YyruWFeG3j_iIgilLtbGtHOFlImASx_HNSyAxkHs4Z92b9H3q-EQ
. Acesso 18 Dez 2020.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas
gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a
Literatura).
Imagens:
Charge: pela
internet.
Versos Ácidos
feita pelo autor.
Escrito
na manhã de 14 de julho partindo de uma conversa por watzap. Trabalhado entre
os dias 21 e 25 de outubro; e encerrado entre os dias 23 e 27 de dezembro. Tudo
em 2020.