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Rubem Leite.
Escrito entre os dias 18 a 23 de outubro de 2022.
¹ Marcos 10,18.
Foto do autor.
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
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Rubem Leite.
Escrito entre os dias 18 a 23 de outubro de 2022.
¹ Marcos 10,18.
Foto do autor.
"Por o primeiro pé na primeira ausência de mim"*.
Dizem que Victor Hugo, ao ver uma gárgula numa igreja francesa, falou "por que não sou de pedra igual a você". Através de um de seus personagens, José Saramago disse "se o seu coração é de ferro, aproveite-o bem. O meu foi feito de carne e sangra todos os dias.
Quero ler, estou cansado. Quero escrever, estou cansado. Quero ver um filme, estou cansado.
Elogio, brinco, critico, sou mal interpretado. Faço isso e aquilo, não agrado. Fico quieto, em silêncio, sou acomodado. No trabalho meu muito lhes é pouco. Fico sem força para sequer fazer o mesmo.
Queria dizer sobre o professorado: É uma missão mais que profissão, mas não nos veem nem como profissão. Que temos o poder de mudar o mundo, mas não conseguimos nem mudar o estudante. Que somos a elite intelectual da cidade, mas há até quem vota no Boçalnato. Que somos respeitados e amados, mas só gostam de nós enquanto dizemos o que querem e não os fatos - seja comportamental ou acadêmico.
Em casa, os gritos dos vizinhos da frente e meus cães latindo a eles... Sinto-me sem lar, lugar pra ficar nem pra ir.
Muito tempo atrás um pastor chutou um ícone da Senhora Aparecida e nestes últimos dias outros fizeram o mesmo.
Lembro que naquela ocasião Rita Lee comentou o fato dizendo que a agressão foi contra uma mulher negra. Não foi a uma estátua do homem "branco" Jesus.
E o que mudou de lá pra cá?
Não vejo nada.
Neste mesmo dia 12 de outubro de 2022 um grupo bebia cerveja na porta da basílica. Os canecos contiam a figura do Boçalnato. Um disse "deus está aqui e bebo seu sangue" enquanto sorvia um gole os demais aplaudiam.
Um devoto da Aparecida, por uma simples camisa vermelha, escapou de ser linchado refugiando-se na grande igreja.
Boçalnato disse "surgiu um clima ao conversar com três ninfetas bonitinhas" e pediu para ir a casa delas, onde havia outras quinze adolescentes. Todas estrangeiras pobres. Entenda cada um por si o que ele deu a entender. Sendo verdade, não deveria ter "surgido um clima".
- Não foi o que ele disse. - Falou uma colega professora. - Isso é colocar maldade onde não tem.
Nem lhe respondi. Penso na presidente da ONG de acolhimento dessas meninas a explicar que o presidente visitara uma ONG, não uma "casa da luz vermelha".
Mudanças, quais foram? Ou não houve?
Na noite de ontem: um vídeo de tucanos a entrar em um apartamento buscando comida. Os moradores, alegres. Nesta manhã olhei ao meu redor. Árvores, flores, canto de cigarras e pássaros, borboletas. - Soltos. - Mas, igualmente, não faltaram aves engaioladas, cães abandonados, crianças descuidadas e velhos ignorados.
A única espécie capacitada a admirar ocupa tudo, destruindo, aprisionando ao invés de apreciar.
Não sei viver. Por ignorar como não sei conviver.
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Rubem Leite.
* À Beira do Nada, de Clarice Lispector.
Foto do autor.
Escrito entre 09 e 16 de outubro de 2022.
Durante a semana que hoje começou plantarei mudas de jabuticabas, romãs e limão galego. E o céu nublado não é tristeza. É serenidade para refletir. Hoje pode ser um lindo dia se soubermos eleger. Alegria, venha!
Muito falei entre julho de 2018 a junho de 2019 o estranho horror que foi o Nazismo ter como principais apoiadores, diretos ou não, os profissionais da advocacia e os da saúde. E exatamente o mesmo ter acontecido no Brasil no primeiro quarto do século XXI.
Em 2022 se constata que aproximadamente trinta por cento da população continua com ideias fascistas; e a maioria desses nem sabe o que é isso...
Mudando de política para educação.
Semana passada, atipicamente, a diretora, a vice-diretora e uma das duas pedagogas estiveram ausentes. Duas por enfermidade e uma para reunião na Secretaria de Educação.
Aproveitando a sobrecarga:
- O que estão fazendo aí?
- Ah... Nada não professora.
- Raspa fora. - A professora observando que três alunas do nono ano estavam perto do botão de sinal de saída às onze da manhã. - Aqui não é para entrarem sem permissão.
As três então foram de sala em sala:
- Professor, a pedagoga falou para mandar a turma pra quadra.
Foi um caos.
No dia seguinte um professor necessitou voltar para casa ainda na segunda aula por ter adoecido. Não aguentou o descaso dos alunos. E estamos todos - os professores - indo para o mesmo estado.
"Sem luz" é o significado da palavra "a (não, sem) luno (luz)"
Disse acima "mudar de política para educação", mas a verdade é que tudo é política. O que é o comportamento estudantil senão o resultado político de desmonte da educação?
Do ponto de ônibus no bairro Limoeiro, em Timóteo à rodoviária em Coronel Fabriciano e de lá para o ponto de ônibus em Ipatinga muitas pessoas misturavam roupas de diversas religiões e Boçalnato. E nas ruas santinhos separavam a imundície humana, destacando-a e a encobrir a beleza das flores.
Uma das coisas mais amadas por mim é a bandeira do Brasil. O boçalnarismo deixou-me a sequela de, ao vê-la: nos dias que a labirintite me ataca, ter ânsias de vômito e nos outros dias sentir asco. Por Deus, que eu me cure e sinta a paz de seu verde e estrelas; que seu amarelo e em sua "ordem e progresso" retorne o amor.
Um dia depois, segunda-feira:
Observei que ainda sou esperançoso. Achava absurdo um terço da população ser "adepta" à ignorância e ao ódio. Mas constato que, de fato, metade da população é "viciada" no mal.
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Autor: Rubem Leite
Imagens: fotos do autor.
02/9/22