sexta-feira, 25 de julho de 2008

SHAKESPEARE, DO TEXTO AO PALCO

Observação: O texto abaixo é fruto do que apreendi da Oficina que Aimara Resende ministrou em Ipatinga no mês de julho de 2008. Não tendo ela nenhuma responsabilidade pelo conteúdo do mesmo.
Espero que goste!

Na Inglaterra, o povo era obrigado a assistir as Missas. A Nobreza ficava em seu interior e o povo, do lado de fora. Isso influenciou bastante o Shakespeare, pois como as missas eram longas e obrigatórias, aconteciam comércios, os pivetes faziam a festa e etc. O que permitiu a ele apreender bem as passagens bíblicas, que ele bastante utilizou, assim como as ações e reações das pessoas no dia-a-dia.
Uma grande diversão inglesa era ir aos domingos ver os loucos. E assim ele também aprendeu bastante, permitindo criar ótimos personagens.
É muito provável que ele tenha assistido teatro ambulante. O teatro na Idade Média era nas Igrejas até que foi expulso, surgindo assim os atores ambulantes.
Shakespeare era um gênio, mas foi também o fruto de sua época. Além do que já foi falado acima, ele teve estudo, apesar de não ser nobre, mas também não era povão. Em sua cidade havia boa escola pública, aberta a todos da cidade (mas não aos camponeses), e ele como filho de um dos doze conselheiros teve fácil acesso a ela. Mais tarde se tornou Prefeito.
Como os papéis femininos eram feitos por rapazinhos não haviam grandes cenas de amor. Sendo todas as cenas de amor eram verbais.
Shakespeare criou muitas personagens embasadas em pessoas que realmente existiram. Como ele não era historiador e sim teatrólogo a cronologia não tinha muita importância; mais interessante era contar como a história afetava o ser humano, do que a época que alguém nasceu e morreu.
Shakespeare não acreditava muito no amor. Era extremamente irônico, o que “deslocava” tudo. As críticas dele não eram ao amor e sim à idealização do amor, do amor romântico.
Shakespeare não é de difícil leitura, como alguns pensam e também ele não deixou textos originais, pois todas as suas obras pertenciam à Companhia. Além disso, e mais importante, existem várias versões confiáveis, o que impede a declaração de que seja o que ele escreveu. E isso interfere profundamente numa montagem, pois acontecem diferenças marcantes nas versões. Assim, um tradutor deve afirmar que utilizou a versão x ou y.
Tragédia: Início que desperta curiosidade; desenvolvimento em torno do representante de um grupo (geralmente um nobre); desenvolvimento em torno da falha trágica (desmedida, uma característica pessoal que lhe conduzirá ao fim trágico. Aí está a diferença do Drama, que não exige a desmedida). Para Shakespeare, a última fala, é da personagem de maior hierarquia. A tragédia se centra numa elite. E o fim é sempre trágico.
Comédia: A comédia se centra no povão; tem sempre pelo menos um casal de apaixonados, não precisamente romântico; tem que ter alguém para atrapalhar o casal romântico; sempre o final é feliz. A peça pode ser sombria, mas acaba bem.
Ele não costumava colocar tragédia nas comédias, mas tinha o hábito de fazer o inverso: colocar momentos de bom humor nas tragédias. O que chamamos de Alívio Cômico. Provavelmente para mostrar sua crença de que a vida não é só tragédia.
O teatro medieval era moralista, cristã, o que lhe dava como característica a ausência de personagens humanos para ter no lugar “corporificação de idéias”, ou seja, eram o bem e os vícios.
A tragédia em Hamlet se desenvolve quando ele assume seu nome, “sou Hamlet, o Dinamarquês”, o que torna tal fala mais importante que “ser ou não ser”. Uma interessante polêmica surgiu sobre um trecho no ato 1, cena 1, onde Bernardo diz que uma estrela arde. Como a visão que se tinha na época era que estrelas eram “buracos” no céu e que elas eram frias será que Shakespeare usou arder, brilhar ou algo assim? Depois surgiu outra dúvida, se ele se referia à estrela ou sobre a guerra que estava acontecendo na peça. O consenso foi que a fala de Bernardo era sobre estrela e ele usou o termo queimar.
A obra A Tempestade permite uma leitura, e acertada, colonialista. Boal fez, segundo Aimara, uma versão muito interessante, bela e profunda da peça. Próspero pode ser comparado ao colonialista e Calibã, o colonizado rebelde.


Machado de Assis é de uma ironia e humor inseparáveis. Sua leitura é fundamental.Na Comédia Delarte não havia um autor para as peças, o que existia eram personagens. O mais importante eram as situações e não as falas.

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