18 de setembro de 2010.
Ofereço como presente de aniversário aos queridos
Marisa Alija, Maraiana Sanches, Clênio Magalhães e Antônio Ademir da Silva.
Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum. – Tum.
Estávamos, minha mãe e eu, no estacionamento do hipermercado e enquanto falávamos e escutava a espaços regulares o som “tum” que foi se ampliando de volume ou melhor, foi se aproximando. A compra já foi feita e agora só no próximo mês. Na automática curiosidade olhei e vi um homem batendo com uma lata na cabeça de um menino de uns treze anos enquanto iam embora. O garoto não reagia. Simplesmente andava de cabeça erguida, o que, a meu ver, facilitava o ataque. E o homem, mais ou menos da minha idade, quarenta e dois, nada falava. Só batia.
Vi os dois se aproximando. Vimos os dois passando por nós. Vimos os dois se afastando e sempre com o “tum ... tum”. Eu imóvel olho a cena. Boquiabertos os vemos se afastar. Para que se envolver? Quantas vezes já vi na fila do caixa rápido um e outro abrir um bombom e o comer deixando o papel na prateleira. Ou tomar um iogurte enquanto faz a compra e deixar a embalagem numa gôndola qualquer. Afinal por que não fazer? Para que se envolver? Somos uma nação cristã.
Mas eu não sou cristão. Tenho muito amor a Cristo para ser um.
- Ei! Ei!
E os dois andam com o “tum”.
- Ei homem!
Eles finalmente param. O homem olha para mim. O garoto só olha para frente.
- O que você quer?
- Para com isso.
- Cuida da sua vida.
- Cuido mesmo. Pode parar agora, por favor.
- Ah! Vai te catar. – E voltam a andar.
- POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA. POLÍCIA.
E o garoto só olha para frente.
Finalmente a polícia chega. Se inteira da confusão. Cuida dos dois e volto para casa trêmulo de nervoso. Ambos, minha mãe e eu, assustados.
Compra do mês seguinte.
Após a compra paramos na lanchonete elegante do hipermercado. Sentados tomamos um refrigerante e comemos algo.
- Com licença!
Olhamos. É o homem. Começo a me sentir nervoso. Raiva e acuado.
- Escutei o nome da senhora. – Fala para minha mãe e continua – E me lembrei dos dois. – Olho desconfortável. Parte por receio e parte maior pelo atrevimento do sujeito. Ele conclui – Quando era adolescente meu pai me batia muito e nos deixava com fome por um ou dois dias. Uma tarde, após três dias sem comer a senhora me deu comida. Nunca comi tanto quanto naquele dia. Nunca me senti tão grato quanto naquele dia. Por isso fiquei calado... e não vou fazer nada. Adeus.
Diz e se afasta. E eu não soube o que dizer, nem sequer falar. Então me calo.
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