Escrita em dezembro de 2010.
Entre o meio da manhã do dia 11 de dezembro e o início da manhã do dia 13.
* Ensinamento de Masaharu Taniguchi.
Ofereço com presente de aniversário aos meus queridos
Gerci Santos, Mayron Engel e Alison Weler.
E à minha mais nova seguidora: Lúcia Ramos.
O primeiro era um rapaz estranho. Se é que era um rapaz. Bastante gordo, bastante branco. Cabelos loiros descoloridos. Tatuagem estranha, quadriculada, azul, vermelha e amarela no braço direito. Bermuda dins e camisa azul brilhante. Mochila carregada de chaveiros de bichinhos, cubos, garrafas de refrigerante e muitos outros badulaques. Todo mundo viu, reparou mesmo. Ele veio e se foi. Sem falar com ninguém, sem ouvir ninguém, sem prestar atenção em ninguém.
A segunda era uma negra bonita. Calça comprida verde florida. Blusa laranja florida. Carnuda. Curvilínea. Alta. Não que eu tenha reparado. Rarrá. Mas que ela era bonita e gostosa, era. Ou parecia.
O terceiro era um homem feio. Dentes feios. Gordo, baixinho, branco e feio. E estrangeiro. Viu-me olhando para a negra.
- Son todas unas ordinarias.
- Quê?
- Las negras son todas unas putanas, perras.
- Como?
- Tuercas todas las negras. Y sucio y asqueroso son todos los negros.
-
- Raza maldita. Todos los negros son repugnantes. Solamente piensan en dinero. Vagabundos, inútiles, inmundos. La desgracia de la humanidad. Todos los negros tienen que morir. ¿No es así? ¿De acuerdo?
- Não! Não concordo e não é verdade. “La soberana del Brasil es una negra”. Nossa Senhora Aparecida.
Saio e o quarto era uma “vóche pachitóza” num botequim
- Quando se bebe cachaça não pode tomar água porque, as duas juntas, água dá cirrose.
Tudo isso numa só manhã. Tudo me fazendo pensar. Mas o que mais me fez pensar foi, é, o nascer do sol. Primeiro, um rasgo de nuvem dourado, depois uma nuvem amarela com o dourado, depois várias nuvens douradas, amarelas e laranjas. E logo, nuvens douradas, amarela, laranjas e uma nesga rubra que cresce bola vermelha que se adoura. É o que mais me move.
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