Escrita entre 16 e 17 de janeiro de 2011.
Rubem Leite.
Inspirado no trabalho do desenhista Rodrigo Lima, de SP, que ilustra o nosso cronto;
e nos dois primeiros parágrafos no texto homônimo escrito por Leandro da Silva.
Mas no fim das contas, tudo é por minha conta e risco...
Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos
Marrione Warley (ator) e Rafael Varela (escritor).
Nunca antes havia pensado que viria outra fase tão atemorizante e medonha na minha vida. Já não bastava o orfanato – verdadeira prisão – que experimentei no meu passado? Convivo com alguns amigos... Não! Com alguns colegas, mas vejo-me sempre na caverna da aflição. Adulto, já percorri São Paulo. Agora ando vagando sem rumo pelas ruas de Minas. Belo Horizonte, São João Del-Rei, Tiradentes. Lugares onde conheci gente boa. Mas agora estou
Voltei! É como pensei. Derribar é derrubar, destruir. Quero demolir minha caverna interior da solidão. Ah, desculpa! Que grosseria a minha. Aceita um vinhozinho? É tinto seco. Sim? Não? Fique a vontade enquanto continuamos nossa conversa. Ao deitar para descansar da fadiga do dia, encontro no caminho a senhora solidão, seduzindo-me. Meus sonhos tornaram-se monstros. O que fazer diante deste cenário macabro? Em um dado momento, percebo que meus pensamentos recebem a visita de invasores... Desagradáveis? Desagradável é dizer pouco. Não tenho palavras.
Uma mão de homem me aperta o coração. Olhos de mulheres pelas ruas vão me seguindo e mesmo assim não consigo fugir. Meus amigos... não, meus colegas não se aproximam. Quer ver? Vou ligar para um.
- Olá! Vladimir?
- ...
- Ah! Não? Sabe se ele demora?
- ...
- Na padaria? Comprar pão? Então tá. Tudo bem se daqui a pouco eu ligar de novo?
- Então tá. Adeus.
Mas como eu ia dizendo... Pera aí. Você não fala nada?
- ...
- Então tá.
Mas como ia dizendo. Sinto meu coração apertado por máscula mão e sinto-me perseguido por fêmeos olhos. Que será isso? Esquizofrenia? Olho para o alto e aves voam. Não vejo um “balé”, não percebo suas cores, não reconheço sua espécie. Para mim é tudo abutre rondando minha morte que não vem. Vou ler um pouquinho. – Pega “Uma Paixão em Preto e Branco”, de Roberto Drummond. – Fique à vontade, sim!
Quarenta e seis minutos. Já deu tempo.
- Alô! É o Vladimir?
- ...
- Ah! Não? Ele ainda não chegou?
- ...
- Não minta! Ele é que não quer me atender.
- ...
- Que padaria é essa que leva uma hora para ir e voltar?
- ...
- Primeiro foi um garoto que atendeu e disse que ele foi à padaria e agora a senhora está dizendo que ele está no clube.
- ...
- Mentirosos! É o que são. Adeus!
Viu? Viu? Quero por abaixo minha caverna interior da solidão. Mas não consigo. Por quê? Por quê? Por quê? Só encontro a senhora solidão, seduzindo-me num cenário macabro de sonhos monstruosos. Vou pegar um livro. Você lê comigo?
Passos
Pássaros pintados
Paz de parceiros desconhecidos.
O poema é do autor. Gostou? Eu gostei. Mas o livro não me deu paz. Ajudou... Mas... O que eu busco é o amor ideal, terno, erótico. E a vida me desafia, a pobreza me desespera, de coragem eu necessito. Sou vulnerável, vencido, mas sou guerreiro. “Sou brasileiro. Não desisto nunca”. CHEGA! Não quero mais. – Um choro sem lágrimas. – Se não tenho amigos vou em frente sozinho. Com livros, verdadeiros amigos certos para horas incertas. Quer ver? – Pega outro livro, um folhetim, na verdade, de Bruno Grossi e lê – “O frio ainda reprime meu corpo coberto por um edredom, cachecol, blusa de frio e chapéu. O sol começa a chegar e o programa a acabar. Ouvir estas melodias em meio à Serra é bom demais”. Dá uma esperança, não dá? Se não tenho meu amor eu me amarei. Se não tenho dinheiro para comprar o que quero comprarei o que posso. Se não tenho coragem irei assim mesmo. Mas irei. E vencerei. – Olha para o céu e vê os pássaros. – São andorinhas. Várias! Faremos verão.
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