Obax
anafisa.
O
primeiro a pisar o principiozim da rua onde moramos é o pé esquerdo. Já é
tarde, mais de cinco e meia, e a chuvinha tampa o sol que já estava sumido no
fim da rua onde moramos. E Carlos se junta a nós. Paramos para recebê-lo, você
pergunta “Olá! O que deseja?” e depois se mantém em silêncio. Por que o
silêncio? Antes de sua resposta Carlos te refuta:
-
Nada! Só trocar um dedinho de prosa. E vocês, o que sonham?
-
“Eu quero amar o que eu amaria, não o que é”.
-
Boa, Benito! Quem disse isso, você?
-
Não, Clarice!
-
Fez-me lembrar de uma coisa que Arlisson falou. “Hoje a natureza saúda o dia
por mim”.
-
O Toledo?
-
Conhece outro Arlisson que não o Toledo?
-
Huuum... Não, difícil. Rerrê. Gente boa, ele. Mudando de assunto. Tenho um
amigo muito querido que fez péssimas escolhas e até hoje não se encontrou. Em
compensação, tenho outro amigo ainda mais querido que faz ótimas escolhas e
está seguindo um bom caminho.
-
Dois sentimentos antagônicos, Benito. Algum deles sou eu?
-
Não! Você é muito querido, mas estou me referindo a duas outras pessoas. O
primeiro é oito anos mais novo que eu e o segundo tem vinte e sete anos a
menos.
-
Huuum! Interessante, mas ouça o poema Relembranças, de Cida Pinho “Naquela
praça... \ misturas de sons, cores, raças... \ O cheiro das batatas doces,
assadas, \ colore e corta espaços \ trazendo lembranças \ de um mundo
encantado! \ Saudades da inocência \ que há muito se perdeu!... \ Caras sujas,
pés no chão... \ Pássaros alegres \ roubando frutas no quintal! \ Saudades
daquele tempo \ em que os medos \ eram apenas pesadelos, \ fantasmas alados...
\ De repente dá vontade \ dos perfumes do mato... \ Da mexerica “de agorinha” \
colhida no pé... \ Do banho no riacho... \ De quando a gente podia \ brincar de
verdade \ e sonhar acordado!...”.
-
Boa! Agora veja o que Adélia nos diz “Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de
alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo”.
-
E eu digo, encantado por Adélia e Cida, Uma flor de caju \ Entre galhas de
cupuaçu \ Dança com o vento sul \ Eu não me destoo.
-
Quem disse?
-
Eu! Também escrevo coisas, sabia?
-
Sabia! Mas você não sabe o que eu quero.
-
O quê?
-
Alguém.
-
Quem?
-
Um corpo bem feito debaixo do uniforme. Rosto bonito, olhos escuros, lábios
buscadores de parceiros. Vimo-nos e seguimos nossos caminhos contrários,
olhamos para trás, revimo-nos e trocamos um sorriso por uma piscadela.
-
E o silêncio, por quê? – Perguntamos olhando para você.
Ofereço
como presente de aniversario a:
Isabella
Ribeiro, Valdete Val, Antonio Carlos, Yuri G. Rodrigues, Marcone Sousa, André
Graciano e Jorge Horta.
E
aos agentes culturais aniversariantes:
Luzia
di Resende, Michael Cobain e Bispo Filho (José B. Ferreira F.).
Em
banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas
flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Não
sei quando comecei, mas terminei na madrugada de Tiradentes 2014.
¹
LISPECTOR, Clarice. Perdoando Deus.
PRADO,
Adélia. Bagagem. São Paulo: Siciliano. 1993. p. 36.
2 comentários:
Querido!
Que honra receber de presente de aniversário um poema\conto\história....
Adorei! Adorei também a brincadeira com a palavra de outros poetas, a forma como foram inseridos, o novo contexto cria uma outra razão deles existirem.
Parabéns pra você....
Obrigada Rubem... Lisonjeada...
E eu também estou aqui, cheia de ser e quereres... Saudosa de tempos de outrora...
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