Obax
nafisa.
À mesa da barraca do Marcelo, no FeirArte, os amigos Sargento
Garcia, Rodolfo, Mingau e Wagney. Os oitis ouvem as músicas e escutam as
conversas enquanto saboreiam sol e vento. E eu? Eu só observo junto com oitis e
damas da noite.
- Nós, brasileiros, ouvimos nos últimos tempos muita coisa
sobre Comissão da Verdade, desmilitarização, black blocks, manifestações,
excessos!
- Mas será que um dia existirá de verdade uma comissão da
Verdade para pessoas que estão morrendo nas UPA’s...
- Que é UPA?
- É Unidade de Pronto Atendimento. Como dizia Wagney e eu
completo, será que existirão realmente Comissão da Verdade pelas repetições de
bandidos confessos nas eleições? Será que nos tempos futuros os políticos
poderão proclamar que criaram coisas úteis para o Brasil?
- Será que virão outros tempos?
- No tempo dos militares não havia corrupção. É um papo furado
esse que Militar é tudo escória. Que os policiais, civis ou militares, são
grossos e assassinos de humildes. Só porque um fez algo errado todos são maus...
Quando alguém na empresa onde vocês trabalham comete erro ninguém presta? Eim?
Eim? Eim?
- É! Que importa a
morte de um só, né? – É impressão minha ou era uma vaporosa ironia? Uarrá!
- É! Verdade, Rodolfo!
Meus amigos, não se deixem levar pelas ondas de ilusão criadas pela mídia.
- Afinal, só porque ela
tem poder de persuasão não se deve acreditar em tudo que ouvem. Mesmo que
algumas sejam verdadeiras... Nem tudo é real.
- Sim, sim, Mingau,
falou bem. Marcelo, mais cervejas para nós. Pessoal, nada de achar e proclamar
que tá tudo perdido.
- É! Tamo num tempo
muito tá tudo...
- Rerrê. “Ta tudo é
ótimo!” É isso aí, Wagney! Não acredito que tudo esteja perdido desde que a
gente resolva mudar. É preciso acreditar em pessoas diferentes e com atitudes
diferentes.
- Sim. O que tem de
errado em tatuagem, protestar contra os desmandos políticos, namorar alguém do
mesmo sex...
- Bandido não! Esses
três que você falou, Rodolfo, não possuem atitudes diferentes. São apenas
marginais. Nem devemos protestar na Copa. Se é para fazer merda que seja em
outubro.
- Ah! – Diz Mingau. –
Acho que não devemos votar em alguém só porque a gente conhece ou diz que fez
algo por nós. Provavelmente é por culpa dele que a coisa está desgovernada.
- Sargento Garcia, você
tem meu perdão. Os Militares são realmente patriotas. Fizeram o que tinham que
fazer pelo bem do Brasil. Viva a Ditadura! É preciso crer: Militar no Poder, o
Brasil volta a crescer.
Oriundo de um
passarinho na dama da noite que sombreia a mesa respinga algo na mesa entre
Wagney e o milico a paisana.
- Como vaticinou o
grande Rui Barbosa “Cada povo tem o Governo que merece”. Todo mundo fica
falando mal das ações dos PM’s, mas somos nós que não permitimos o povinho deixar
de trabalhar para falar asneira e reclamar da vida. É preciso ver apenas o lado
bom das coisas. E os políticos mensaleiros? Com a gente no poder não vamos permitir
o povo votar errado. Se é para votar que seja em quem dizemos que pode governar.
Militar no Poder, o Brasil volta a crescer.
- É! Afinal, brasileiro
não deve acreditar que poderá consertar a nação indo para as ruas manifestar. –
Observo-lhe os olhos franzos.
- Disse tudo, Rodolfo.
E que venha a Copa!
- E que venha a Copa! –
Repete Mingau e continua: A pátria será saqueada pela bilionária empresa futebolística,
os políticos corruptos continuarão no Poder e a população? Vai sorrir e manter
o carnaval e o futebol.
- E aí, cambada!
- Benito! Senta aqui
conosco.
- Só um pouquinho
porque estou indo pro Salão do Livro. Tá bão de mais da conta, sô. Do que estão
falando?
Resumem. E os pássaros
não cantam de tanto calor e dormem nas árvores que nos abrigam.
- Rui
Barbosa disse e é verdade! E Martin Luther King falou e disse “É nosso dever
moral, e obrigação, desobedecer a uma lei injusta”. Ainda bem que ele e outros
pensam assim, se não a segregação racial ainda estaria em vigor. Ainda bem que
nós, brasileiros, protestamos; se não continuaríamos sobre a ditadura. O
problema não é protestar, e sim termos que protestar.
-
Ai, Benito! Lição de moral?
-
O triste é termos que bradar, Garcia. E Tiradentes disse “Se todos quiséssemos,
faríamos do Brasil uma grande nação”. E ele foi um dos que insurgiram. E mesmo
assim os milicos se aproveitaram dele e o tornou patrono... Deve está remoendo
nas catacumbas...
-
Lição de moral, Benito? O Rubem diz tanto que detesta isso em literatura...
-
Que lição de moral o quê. É putice com a vida mesmo.
-
Eu não tô gostando de seu assunto.
-
Não, Garcia?! Por quê... Mas tem outra coisa que me enerva também. A corrupção e incompetência que rola, desenrola e nos enrola
nas comissões, passadas e presente, que analisam projetos culturais para Lei
Municipal de (des)Incentivo à Cultura de Ipatinga. Na Secretaria de Cultura
também. Cada projeto aprovado que ninguém merece e cada projeto recusado que
Deus me livre e guarde.
- E corre a boca pequena que certo membro já afamado pela
“bandidagem” está relacionado com cinco ou sete projetos aprovados...
À mesa no FeirArte, os amigos mais os oitis ouvem as músicas
e escutam as conversas enquanto saboreiam sol e vento. E eu? Eu, junto com
oitis e damas da noite, só observo.
Ofereço
como presente de aniversario a:
Marcos T. Faria, Carlos
Alberto, Roseny A.M. Souza, Marcelo Ferreira, Guebel Stevanovich, Deivid Paula,
Sinésio Bina, Renato Gonçalves, Felipe Boanerges, Vinicius Cabral e Márcio F.
Amorim.
E
aos agentes culturais aniversariantes:
Rosângela
F. Sulidade, Léo Coessens, Beto de Faria, Tiago Costa, Geraldo Valentim e Adê
Araújo.
Convido a conhecer o livro URDUME é um ebook de poesias para
exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos
apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite;
publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES.
Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.
Leiam
o texto “Não, desta vez não vou escrever”, de Otávio Silva e “O Homem de Terno”,
de Bispo Filho. Nos endereços
Veja
ainda textos que me inspiraram na criação do meu cronto:
Em
banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas
flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito
entre os dias 04 de fevereiro e 19 de maio de 2014.
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