segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O ROXO ROUXINOL AFROUXA O ARREIO DO DIA

Obax nafisa.


Conta um conto pra mim?
Me dá uns dois conto?
Tem um quinto?
De canto ou de conto?

Quantos contos custa? 
Quinta contaria?
E quando cantas?
Contas comigo?

GLAUSS

O céu madrugal está carregado de nuvens cinza e em uma pequena árvore escuto o mesmo canto de um pássaro que sempre ouço quando passo lá. Mas já é tarde, há muitos trabalhadores indo a sua faina. Não penso em recomendar-lhes uma dieta que li em algum lugar “Comece o dia com sorriso e o encerre com muito obrigado”. Guardo-a para mim. Dois olhos piscam. Paro atento e eles se afastam. Eram dois vagalumes fazendo hora extra na cidade industrial.
O tempo avança sem pressa porque ele sabe que a tudo consome. Tanto caminho e nada encontro. Cansado, entro em um hotel diante de uma praça e o olhar do funcionário no balcão me incomoda. Sento-me assim mesmo em uma poltrona da recepção.
- Deseja algo?
- Espero alguém. – Invento.
- Huum!
O tempo não para. E o gerente:
- Bom dia! O senhor deseja algo?
- Só espero alguém.
- Sinta-se à vontade. Se o senhor quiser algo, uma água ou café, poderá encontrar naquela mesinha.
- Ah! Obrigado!
O tempo continua e eu me levanto para beber água. Ao me levantar minha maleta se abre e o que tinha dentro há muito virou pó e se espalha como névoa pelo saguão.
- Sinto muito! – Digo para o funcionário.
- Huum!
- Tudo bem, cavalheiro. – Fala-me o gerente e pede ao funcionário: Chame o pessoal da limpeza e diga-os para trazerem-nos pá e vassoura, por favor.
- Deixa que eu limpo.
- Tudo bem, senhor.
Os funcionários aparecem e mesmo liberado ajudo a recolher. O gerente também. O funcionário, de cara amarrada, volta para seu posto. A fim de abafar o vazio e disfarçá-lo para mim mesmo volto a sentar esperando quem não virá.


Ofereço aos aniversariantes
Chrystian Stocler, Fernando Pires, Andreia Bragança, Thaís L. Macedo, Antonio Netto, Vera Almeida, Ivone Piló, Alexandre Farah, Edinaldo Felipe, Graça Costa, Raul F.M. Leite, Bras Sarb, Gloria Silva, Bill Ferreira, Lilian Farias, Andriza G.S. Neto, Marcelio O. Sousa, Celma Anacleto, Iuri Cupertino e Isaac Andrade.

Recomendo a leitura de Segura o Trem (ou Efeito Estufa), de Ricardo Evangelista:

GLAUSS, Carlos. Contagem ou cantagem. Disse-me ele: “Dedico o conto ao meu amigo Rubem Leite, que por diversas vezes fez me rir com seu regionalismo e personalidade forte na escrita de trocadilhos”. E eu compartilho com todos os meus leitores o delicioso texto.

Em banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


Escrito entre os dias 12 de maio de 2014 e 26 de janeiro de 2015.

2 comentários:

Glaussim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glaussim disse...

O mais interessante sobre esse conto é que quando um acidente acontece em um ambiente empresarial e tentamos ajudar corrigindo a situação nova, os funcionários nos fuzilam com os olhares como se aquilo não fosse dever deles. Nem cabe falar da visita inoportuna, pois ela está dentro de um contexto de liberdade ao que está acessível, mas o que incomoda e a hostilidade daqueles que facilmente se ofendem ao ter o momento de ociosidade ameaçado ou interrompido