Ao longo do século XIX, a vida nos territórios
africanos mudava lentamente. A essa altura, uma população mestiça e burguesa,
ainda que em número reduzido, vai se formando nas colônias, reivindicando
melhores condições para essas terras. Aparecem os primeiros assimilados, nome
pelo qual eram identificados os descendentes de portugueses, geralmente
mestiços, nascidos na África, que recebiam uma educação mais formal.
(...)
Em razão desses acontecimentos (protestos violentos acerca de trabalho forçado imposto
por Portugal às colônias), alguns antigos
colonos e brancos que haviam chegado recentemente a Angola conseguem permissão
do regime para invadir os bairros nos quais moravam os negros e ali atacar
qualquer um que considerassem suspeitos. Desse episódio resultaram muitas
mortes, em sua maioria de jovens assimilados – que são justamente aqueles que
se aculturaram, deixando suas raízes negras para frequentar as escolas dos
brancos.
AMORIM, 2010, p. 16 e 20.
Leitura do cronto pelo autor postado no canal aRTISTA
aRTEIRO:
- Sabe, meu amor, li Mario Benedetti dizer... Quero
dizer, não li porque não sou dessas coisas, mas ouvi dizer que, em um conto,
talvez “Datos para el Viudo”, que não existem armadilhas para caçar o amor. E
saber que você gozou, muito, com os rostos suaves de jovens rapazes com grandes
bagos e com as mãos de rudes homens que te apertaram sem sentir verdadeiramente
seu corpo faz com que eu não queira seus carinhos.
- Médico cubano, querido. Forte médico cubano que faz
bem... E me fez tão bem.
- Por que fala coisas assim? – Silencio. – Não me
adianta olhar assim. E nem precisa dizer “quem é você para me julgar”. Eu sou
melhor que você. Ontem seu irmão veio me dizer que aquele magrelo tatuador branco
te torou com seus dreads imensos. Seu irmão! Seu irmão me disse sem perceber ou
sem se importar com o quanto pejorativo foi contigo. Mas eu me surpreendo por
espantar-me com algo assim vindo de um criolo; de algo sem a minha cultura e
elegância viril. Seus lindos olhos já me viram em meus sonhos e já penetrei
seus seios em meus sonhos e em realidade. E digo a você: você fode melhor na
minha cabeça do que na realidade. Está gostando do coquetel? Morango e goiaba. Eu
gosto é de whisky. E minha vara já te perpassou. E hoje só não broxo vendo seu
deboche porque sou muito macho. Deboche! Deboche que eu respondo comendo com
mais sabor uma rã que sua... rarrarrá... perereca. “Jesus be praised!” A última
vez que falei isso eu tinha o quê, dez anos? Não, menos. Mas você é bonita para
meus olhos. Bonita para minhas mãos. Mas sua cultura inexiste e...
- E vai cuidar da sua vida e saia daqui! Que só
idiota te quer.
Foto do
autor: Ipê Branco.
BR 381, entre o Centro e o
Novo Cruzeiro. Ipatinga MG.
Após a explosão, os dois se olham, vão embora e eu lhe
digo:
Olhos no escuro
Pássaros de sons obscuros
Não livre para estar taciturno
Dever absurdo.
- O que esta quadra tem a ver com a fala daquele
casal?
- Nada! E muito! Agora, escuta esta:
O cara está prestes a pular do viaduto.
- Oi! Vi que você está quase pulando.
Os dois trocam olhares.
- Quer ajuda?
- E?
- E adquira uns livros de Paulo Freire, que lhe será
bom.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Camila Oliveira, Hércules Malta, Mary Cordeiro, Igino de
Oliveira, Flávia Frazão, Yasmim Correa, Clara Melo Viana, Joana Sangi, Roselene
P. Andrade, Leila Cunha, Agostinho V. Pereira, Lucimar Inácia e Ricardo Viotti.
Recomendo a leitura de:
“Rebeldia”, de Xúnior Matraga:
“Cura Gay”, de Girvany de Moraes:
A “Pintura Bananeira”, do artista plástico Rafael Cabral:
“Abomináveis Fora Medroso das Neves III”, deste macróbio que
vos fala:
AMORIM, Claudia. A África lusófona: um pouco de história. Cultura e Literatura Africana e Indígena.
Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010.
Rubem Leite é
escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA
aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras. É professor de Português, Literatura,
Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias
do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de
Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos
artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Manuscrito 30 de julho de 2017. Trabalhado entre os dias 25
de setembro e 15 de outubro do mesmo ano.
2 comentários:
Falar do Rubem Leite, é chover no molhado, dispensa comentários.!
Intenso!
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