ALIVIO
22171 para Vereador.
Meus amigos, minhas amigas, lanço minha candidatura a
Vereador.
Único político honesto, pois não minto. Não vou fazer
nada, mas quero me aposentar. Por isso candidato-me, pois descobrir que esta é
a única maneira honesta para se aposentar.
Vote em mim nas duas próximas eleições, pois preciso
aposentar.
Por isso, muito obrigado, meu amigo! Muito obrigado,
minha amiga!
Leitura pelo
autor postada no canal do youtube aRTISTA aRTEIRO:
Em português:
Desde antes de meu nascimento minha
família vive em Ipatinga. Mas eu nasci em Coronel Fabriciano, ao lado de onde
moro, Ipatinga. Ficam em Minas Gerais. E eu, quem sou? My name is Watson. Whatson
name. Rirri. Eu sou Watson Cabin. Chamado por muitos de Watson e por alguns de Folha.
Com licença; vou pegar um recorte de
jornal que guardo em Viagem ao Centro da Terra. Com ele em mãos podemos
conversar melhor. – Pausa. – Pronto, podemos continuar.
Nasci duas semanas após a morte de Joelma. Eu em uma
segunda-feira e o incêndio do Edifício Joelma em uma terça-feira. Percebi isso
olhando um jornal velho que achei perdido em uma gaveta. Era o Globo de 02 de
fevereiro de 1974. Ao lado e acima de duas feias fotos em preto e branco está
escrito:
173
mortos no incêndio em SP
Do alto do Joelma jogaram-se ou caíram 21 pessoas
Mas na ocasião eu não percebi nada
disso, claro. E minha família não ficou abalada. Mas penso que deve ter se
comovido na intensidade da distância.
Minha casa não é incomum. Não é
grande. Não é pequena. Não é bonita. Não é feia. É só uma casa no Imbaúbas com
uma sala, cozinha, dois banheiros e três quartos, varanda, área de serviço e o pequeno
quintal em que brincava quando criança e que, adulto, pouco vou. Mas hoje andei
por ele.
Da janela entre minha cama e guarda-roupa
se vê o pé de manga, única grande árvore; à sua direita se vê as flores que
minha mãe planta e à esquerda, a hortinha que meu pai cuida. No guarda-roupa e
principalmente nas cinco prateleiras de madeira tosca em duas paredes de meu
“quarteca” estão meus livros. Poucos. Apenas algumas dezenas; talvez pouco mais
que uma centena.
Olhei pela janela, saí para o
quintal e me sentei debaixo da mangueira carregada de frutas verdes.
Encostei-me a ela, apoiei meu rosto nas mãos e agora conversamos; você e eu.
Do prezinho até à quarta série
estudei na E.E. Dom Helvécio. Do quinto ao oitavo ano estive no Colégio São Francisco
Xavier. O segundo grau aconteceu no Colégio Mayrink Vieira.
Entre os fatos marcantes da minha
vida gosto de lembrar-me de minha sétima série. Onde, como diz Julio Verne, “a
verdadeira viagem começava. Até então as fadigas tinham se sobreposto às
dificuldades e agora estas iam nascer verdadeiramente debaixo de nossos pés”.
Melodramático, não? Mas em grande parte, fato.
Tímido, não tinha amigos e brincava
com meu pé de manga. Ou passava o tempo entre tv e os livros que foram compondo
o meu “quarteca”. Compreendeu? É como chamo o lugar onde durmo com meus livros.
Esforcei muito, cansei até, para ter
gente com quem brincar, mas não conseguia. Mas com treze anos descobri a forma
de ter com quem conversar. Hoje sei que não éramos amigos de verdade, mas na
época foi a melhor coisa que me aconteceu.
Enquanto eu tirava sempre boas
notas, Mário, o garoto grande, somente notas vermelhas. Ele precisava de ajuda
e eu de companhia. Fiz os deveres com ele e alguma coisa aprendeu. Passei cola
para ele e seu boletim azulou. Assim foi na sétima e oitava série. Os amigos
deles conversavam comigo. Acho que sem muita vontade, mas mesmo não tendo muito
o que dizer (eles gostavam de esportes e eu de Português e História) possuía
ouvidos para me escutar.
Mas mudei de escola.
Fui para o Mayrink Vieira.
Fiz vários amigos que até hoje tenho
contato. Coisa boa?
Destaco Luzemar. A menina que me fez
homem e que fiz mulher. Cabelos e olhos negros. Belo rosto. Corpo gostoso.
Como continuava com boas notas me
vali de meus méritos. E conheci Maria do Carmo, Valter, Ricardo, Pedro, José,
Luzemar, outros e outras.
- Como você é magro... Parece uma folha.
– Observou José e Pedro riu. Foram as primeiras palavras que dirigiu a mim e o
apelido pegou. E ficou.
Valter nos chamou para seu
aniversário. Ricardo levou cachaça. Nós sete a bebemos.
Fui embora; Luzemar também.
A gente se encontrou outras vezes.
Ela levava maconha e a fumaça subia para a cabeça antes de sumir no ar.
Até que meus pais descobriram e o
escarcéu que fizeram nos separou. Foi difícil e sofrido. Mas hoje a encontrei na
rua fumando pedra. Estava suja e com machucados no corpo. Pediu-me dez reais.
Dei e sem escarcéu nos separamos. Não foi difícil nem sofrido. Foi um alívio.
E minha maior dificuldade é o alívio
que senti.
En
español:
Desde antes de mi nacimiento mi familia vive en Ipatinga. Pero nací en
Coronel Fabriciano, alrededor de donde vivo hoy, Ipatinga. Se queda en Minas
Gerais. Y yo, ¿quién soy? My name is Watson. Watson name. Jijí. Soy
Watson Cabin. Llamado por muchos de
Watson y por algunos de Hoja.
Con permiso; cogeré un recorte de jornal que guardo en Viaje al Centro de
la Tierra. Con él en manos podremos charlar mejor. – Pausa. – Pronto, podremos
continuar.
Nací dos semanas después de la muerte de Joelma. Yo, en un lunes y el
incendio del Edificio Joelma en un martes. Percibí eso mirando un jornal viejo
que encontré perdido en un cajón. Era de
02 de febrero de 1974, alrededor y arriba de dos feas fotos en blanco y negro
está escrito:
173 muertos en el incendio en San Pablo
Arriba del Joelma se lanzaron o cayeron 21
personas
Pero, en la ocasión no percibí nada de eso, claro. Y mi familia no se
quedó abalada. Sin embargo, pienso que si conmovieron en la intensidad de la
distancia.
Mi casa no es rara. Ni grande. No es pequeña. No es bonita. No es fea. Es
solamente una casa en el Imbaúbas con una sala, cocina, dos cuartos de baño,
balcón y un pequeño patio donde jugaba mientras niño y que, adulto, poco voy.
Pero, hoy anduve por él.
De la ventana entre mi cama y guardarropa se ve el pielde mango, único
gran árbol; a su derecha se ve la flores que mi mamá planta y a la izquierda, el
huertito que mi papá cuida. En el ropero y principalmente en la tosca estante
de mi “habiteca” están mis libros. Pocos. Solamente algunas decenas; tal vez
poco más que una centena.
Miré por la ventana, salí al patio y me senté debajo del árbol cargado
de frutas aún no maduras. Me acosté a él, apoyé mi rostro en las manos y ahora
charlamos. Tú y yo.
Mis primeros años de estudio fue en la escuela Don Helvecio. Mi primaria
fue en el colegio San Francisco Xavier. Mi secundaria se ocurrió en el colegio
Mayrink Vieira.
Entre los factos más importantes de mi vida me gusta recordar mi séptima
serie. Donde, como habla Julio Verne, “el verdadero viaje empezaba. Hasta ahora
los cansancios habían se sobrepuesto a las dificultades y hoy se van a nacer
verdaderamente bajo nuestros pies.” ¿Melodramático, no? Sin embargo, en gran
parte, facto.
Tímido, no tenía amigos y mi pie de mango y yo jugábamos. O pasaba el
tiempo entre tv y libros que fueron componiendo mi “habiteca”. ¿Comprendió? Es
como llamo donde me acuesto con mis libros. Esforcé mucho, hasta me cansé, para
tener gente con quien jugar; pero, no conseguía. Sin embargo, a los trece años
descubrí la manera de tener con quien platicar. Hoy sé que no éramos amigos de
verdad, pero en la época fue la mejor cosa que me ocurrió.
Mientras yo tenía siempre buenas notas, Mario, el muchacho grande,
solamente notas rojas. Él necesitaba de ayuda y yo de compañía. Hice los
deberes con él y algunas cosas él aprendió. Le pasé chuleta y su boletín
escolar azuló. Así fue en los dos últimos años de primaria. Los amigos de él
charlaban conmigo. Pienso que sin mucha voluntad, pero mismo no teniendo mucho
que decir (a ellos les gustaban deportes y yo de español e Historia) tenía
oídos escuchándome.
Pero, cambié de escuela.
Fue al Mayrink Vieira.
Hice varios amigos y hasta hoy hablamos. ¿Cosa buena?
Destaco Luzemar. La muchacha que me hizo hombre y que la hice mujer.
Pelos y ojos negros. Bello rostro. Cuerpo exquisito.
Como continuaba con buenas notas me valí de mis méritos. Y conocí María
del Carmo, Valter, Ricardo, Pedro, José, Luzemar, otros y otras.
- Como es flaco… Parece una hoja. – Observó José y Pedro rio. Fueron las
primeras palabras que me dirigieron y el apodo pegó. Y se quedó.
Valter nos invitó a su cumple. Ricardo llevó cachaça de Brasil. Nosotros
la bebemos.
Me fue de la fiesta; Luzemar también.
Nosotros nos encontramos otras veces. Ella llevaba mariguana y el humo
subía hasta la cabeza antes de sumir al aire.
Hasta mis padres descubrieron y la algarabía que hicieron nos separó.
Fue difícil y sufrido. Pero, hoy la encontré en la calle fumando piedra. Estaba
sucia y todo su cuerpo se quedaba lastimado y herido. Me pidió dinero. Di y sin
gritería nos separamos. No fue difícil ni sufrido. Fue un alivio.
Mi mayor dificultad es el alivio que sentí.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Camila Santos, Rayssa Rangel, Cleiser Coura, Carlos Roberto, Bernardo
Baião, Adler Franz, Patricia Rodrigues, Lenilson Fonsêca, Holoisa Davino, Lucas
Alvisi, Dado Aragon, Renata Sousa, Lucas Lage, Aninha Silva, Mila Eduarda, Marilene
Tuler, Fabio S. Rodrigues, Mikael V. Zeleke y Martínez John.
Recomendo a leitura de:
“Pensar Historicamente”, de João Lucas Nery:
“Bang, Bang, Bang, Prendemos 726212”, de Josué da Silva Brito:
“As Ocupações dos MTST E MST SÃO OS NOVOS QUILOMBOS”, de Vinícius
Siman:
e “Roubos Invisíveis”, deste macróbio que vos fala:
BECHDEL, Alison. Fun Home: uma tragicomédia em família.
Tradução: André Conti. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2007.
Disponível em http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/reportagens/chamas-trageacutedia-em-satildeo-paulo-8838749
Acesso 11 Nov 2015.
VERNE, Julio. Viagem ao Centro
da Terra. Rio de Janeiro: Fase. Cap. 17.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu
blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às
quintas-feiras. É professor de
Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História.
É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da
Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Vinícius Siman.
Escrito na manhã de 15 de novembro de 2015, trabalhado no dia 17 de abril
de 2016; depois em 2017 entre 23 de fevereiro e 26 de março de 2017 e por fim
entre 01 e 10 de dezembro.
Um comentário:
Genial! Quanta sensibilidade e simplicidade em narrar a vida comum! Sou impressionado, querido Rubem, com a sua capacidade de transformar um "espirro" em uma fábula genial. Toda vez que leio um texto seu me sinto transportado para um universo paralelo à Drummond que só pode existir nas Minas Gerais utópicas.
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