Taúbas. Ponto periférico de Ipatinga. Ruas
empoeiradas, raros ônibus, cheiro de chiqueiro. Forró do Badé, que de um lugar
mudou-se para outro. Descemos do ônibus, paramos em um boteco, pedimos uma
cerveja. Dna. Maria nos traz.
Seu Zé – alguém que nunca tínhamos visto – puxa
conversa. Senhor simpático. E nos três minutos antes de ir embora ficamos
sabendo que morou dezoito anos em Portugal. Lá deixou de fumar, mas não parara
com a cerveja. Ele me diz: “Leite fresquinho e queijo novo eu tenho para servir
em casa. É na última porteira. Vá lá.”.
- “Time sem vergonha!” – Canta a torcida do Galo pela
derrota diante do Caldense.
Dna. Maria comemora. Ela não está só. Eu estou. E não
me sinto bem; não por estar só, mas pelo alguém que me acompanha.
Deixo a companhia no boteco e passeio pela rua.
Extensa única rua do bairro. Um córrego a corta debaixo de uma ponte travestida
de estrada.
Na margem direita de quem sobe, dois bancos. Um de
madeira e outro de cimento. Sento. Olho o riacho, sinto seu cheiro. Vejo uma figueira;
apoio-me nela. Subo, sento, fecho os olhos e vejo um poema. Desço, sento no
banco de cimento, olho as águas e escrevo o que vi.
Corre o rio no seu murmúrio
Não há vento balançando as árvores
Gostamos de quem faz o que gostamos
Acho que isso não é amar
Murmúrio do rio
Moto passando
Tempo passando
Árvore não balança com o vento
Murmúrio do rio
Água passando
E eu aqui...
A companhia me encontra, interrompe e vamos ao
casamento que me trouxe.
Entram crianças, padrinhos, noivo e sua mãe,
crianças, noiva e seu pai. As crianças sentam nas bordas do tapete vermelho
condutor dos nubentes ao pastor.
- O casamento é duradouro. Duradouro é o que dura. –
Meu Deus, que profundo... E de quais profundezas veio isso e isto: Casamento é
quando o varão deixa seus pais e se junta a mulher. E só entre eles há
casamento. Nunca entre ele com ele ou ela com ela...
Melhor é pensar em Cajuína, de Caetano Veloso, ou no
Feirarte ou na bateria de Cláudio Castro.
Quem casa quer casa, mas não quero só caso e nem por
isso caso. Nem com quem me acompanha, pois há quem casa, há quem faça casos e
há casos.
Ofereço como presente aos aniversariantes Edgar Soares e
Rita E.M. Rocha.
Recomendo a leitura de:
“Isso não te faz mal? Mal é o que me fazem!”, deste
macróbio que vos fala:
“Um Oriental Chinelar”, de António MR Martins:
“Irma del Águila”, de Gianmarco Farfán Cerdán:
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também
professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto: Apontamentos 01 – Espaço de Convívio (Híbridus).
Manuscrito em 10 de fevereiro de 2018; trabalhado entre os
dias 30 de abril e 01º de julho do mesmo ano.
Um comentário:
Nossa! Como sou fã deste escritor e amigo Rubem, que carinhosamente apelidamos de Rubem MIlk!
Rubem, você tem a característica da sensibilidade literária. Ler seus artigos, contos e todas as suas produções. Ser artista e arteiro como você, faz toda a diferença em um mundo de sons naturais na escrita.
Agradeço o carinho pela dedicação deste pelo meu aniversário, um presente lindo que vou guardar em meu coração para sempre.
Você é nota 100000000000000000!
Beijos e abraços
Rita Eneida
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