"O bolsonarismo quis a guerra, e agora terá que arcar com a derrota. E isso exigirá um árduo trabalho coletivo em várias frentes: Justiça, educação, comunicação, saúde mental… Ou a guerra seguirá latente e pronta para eclodir em toda a sua violência, enquanto for mantida essa relação amigo-inimigo estabelecida pelo bolsonarismo"¹.
_ Gente! - Depois de um tempo falando coisas aleatórias e sentados no teatro de arena proximo a biblioteca pública de Timóteo Douglas puxa um assunto. - Vocês acham que em algum momento acontecerá um Apocalipse zumbi?
- Sim! Teve um Apocalipse zumbi no Brasil que começou em 2018 e dura até hoje.
- O quê?
- É só uma piada. Estou falando do povo que é fã do Boçalnato... É gente sem cérebro.
- Fiquei mais tranquila, Benito. - E Nilma dá uma risadinha.
_ Sem cérebros, mas letais, pois são uma horda.
_ Cara. Isso é SUA opinião. E não tem nenhuma evidência. E a maioria opina o contrário, pois são gostos. - Douglas toma o assunto. - E estamos falando de mortos vivos, não de política.
_ Não Douglas. Não é opinião sem fundamento. É fato. A maioria elegeu Lula.
_ Esse aí ganhou por meio porcento. Não é maioria. A diferença foi insignificante. Devia ter um terceiro turno. Mas a gente tá falano de zumbi, não de política. Respeito sua ideia política, mas discordo. Vamos parar por aqui. - Pausa constrangedora. - Adeus. Êxito em seu 2023.
Benito e os outros trocam olhares. Alguns estão sem graça, mas não dizem nada. Recebendo a frieza, Benito se levanta e vai embora.
Em casa, pelo watzap:
_ Oi, Benito. Como estão as coisas no Brasil? E você está bem? - Fala em espanhol e respondo na mesma língua:
_ Não sei se ficou sabendo, mas aconteceu ataques terroristas no Brasil. Veja um pouco do que fizeram. - Mostra um vídeo.
_ Horrível. Quem fez isso?
_ Em 08 de janeiro de 2023 os três Palácios da República - Palácio do Congresso Nacional, Palácio da Justiça e Palácio do Planalto - foram alvos de ataques terroristas no segundo domingo de 2023. Esfaquearam e quebraram obras de arte, janelas, computadores, rasgaram documentos, jogaram um crucifixo no chão, tiraram da parede o brasão da República, defecaram por toda parte, destruíram presentes recebidos desde o Império por governos de outros países, roubaram uma das cópias da Constituição de 1985 com assinatura dos parlamentares e diziam "vamos rasgar a Constituição", agrediram policiais, jornalistas, cavalos aos gritos de "louvado seja Deus". Isso com o planejamento, ou aval ou financiamento do governador e do secretário de Segurança do Distrito Federal, de militares, de certos parlamentares, agronegociadores e...
_ A verdade que aí está pior do que aqui, na Argentina. A esquerda bandida culpa outros pelo que eles mesmo fizeram.
Incrivelmente não me surpreendo pela fala dela. Mas fiquei triste assim mesmo. Contudo eu disse:
_ No caso do Brasil é a direita maluca...
_ Por que diz direita maluca? Está ofendendo a todos nós que somos de direita.
_ A direita no Brasil entoa o Hino Nacional para pneu de trator, pede para extraterrestres intervirem no Brasil, coloca bombas em aeroportos, postes... Não está com a cabeça funcional. Voltando ao que eu estava falando: No caso do Brasil é a extrema direita maluca que destruiu tudo. Ela é tão imbecil que filmou e colocou nas redes sociais ela mesmo depredando tudo. Disseram seus nomes enquanto se filmavam cometendo os crimes.
Cansado em lançar pérolas aos porcos se despede e faz uma caipirinha de saquê, pega dois livros que acabou de comprar. Um deles é "Limite Branco", de Caio Fernando Abreu e vai para seu jardim.
"A primeira coisa que notou quando passou os olhos pela sala de aula foram uns cabelos louros, presos a um corpo que, no primeiro momento, não chegou a definir. Pareciam soltos no ar, tomados de vida própria, desligados de qualquer cabeça. Só um pouco mais tarde, raciocinando vagamente que aqueles cabelos deveriam pertencer a alguém, complementar um par de olhos, um nariz, uma boca, duas mãos e todas essas coisas -- só depois de chegar a esse pensamento foi que Maurício voltou-se devagar, outra vez, para ver melhor"².
Ao começar o segundo parágrafo o watzap volta a chamar nosso protagonista. Era o advogado boçalnariano que, sabe-se lá porque, enviou um vídeo com cortes onde o presidente fala de Floriano Peixoto para sindicalistas. A montagem não diz nada além de citar o dito cujo.
_ Floriano Peixoto morreu tem muitos, muitos anos. Por favor, onde esta o discurso sem cortes nem montagens.
A resposta foi apenas um monte de "kkkkkkkk".
Estou cansado, desanimado, acabado.
Eu jovem queria sabedoria
Passa o tempo
Uma, duas, três... décadas
Eu hoje só não quero ignorância
Sou bobo! Pateta?
"O esperto vence com úlcera".
O bobo não sabe nem quer saber.
É só tolerância e paciência.
Estou uma parede gretada.
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Texto e foto de Rubem Leite.
¹ Leonardo Mendes.
² ABREU, Caio Fernando. Bruno. Limite Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. P. 119.
Pensado e trabalhando entre 18 e 22 de janeiro de 2023.
Um comentário:
Muito bom!!
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