quarta-feira, 8 de julho de 2009

SEMELHANTE ATRAI SEMELHANTE ou NUM DIA

Rubem Leite
02 a 07 de julho de 2009


- Oi! Uma senhora me pára na rua e continua. Qual é a sua religião?
- Seicho-No-Ie.
- Nem sei o que é isso. Fala rindo agradavelmente.
- Aceite essa Revista Pomba Branca e terá uma noção.
- Você é um rapaz maravilhoso. Falei para Rosana que você era um hippie, mas muito gentil. E ela não acreditou, mas você é muito simpático, um bom rapaz mesmo.
- Ah! Obrigado!
- Tiau! Continua a ri agradavelmente enquanto se afasta. Tenho a impressão de que ela é uma senhora que alguns dias atrás estava tendo grande dificuldade de carregar suas sacolas então ofereci ajuda e carreguei metade de sua compra até sua casa.


Num supermercado uma música sertaneja enquanto espero a funcionária passar os produtos para eu poder pagar e ir embora. Começo a rir baixinho enquanto penso “Que voz horrorosa meu Deus. Rarrá. E naquela vez que falei pro Didi que não gosto de música sertaneja por despeito: Quis ser cantor sertanejo, mas minha voz não é suficientemente feia... Rarrá.” E outros pensamentos de deboche me passam à cabeça continuando-me a rir. Pago e me viro para a rua.
- Tá rindo de mim por quê? Fala-me um rapaz que nunca vi na vida e que nem sequer tinha registrado sua presença.
- Eim?!
- Quero ver você rir na minha cara.
- Moço, não estou rindo do senhor. Enquanto falo penso “Sujeito presunçoso. Acha que o mundo está voltado para ele”.
- Acho bom mesmo. Você rir demais.
- Pode achar. E desejo que não me chame de você, pois não somos amigos. E rio bastante mesmo porque sou feliz e estou de bem com a vida. Depois, eu estava rindo era da música e da voz do cantor, que acho horríveis. Falo e penso “Presunçoso ou complexado. Ou os dois. Coitado”. Volto a sorrir enquanto falo: Posso ir? E dou-lhe as costas.
É cada uma que acontece na vida e tem gente que fala que não sabe o que escrever.
Em casa, contando o ocorrido, minha mãe me diz: Você estava com espírito crítico? Um, dois segundos paralisado, pensando, e respondo Sim, é verdade!


E por falar em gente que diz não saber escrever...
De vez em quando alguém me pede para ensinar-lhe a escrever. Acho isso muito estranho. Numa certa tarde, comentando tais pedidos com a poeta e cronista Nena de Castro, ela me disse que o mesmo lhe ocorre e num dia impaciente ela ensinou:
“Primeiro pegue uma folha. Segundo pegue um lápis. Terceiro esfregue a ponta do lápis no papel”. Uarrarrá. Afinal, diz Nena, não se tem como ensinar alguém a escrever e tanto eu quanto ela concordamos que o máximo que podemos fazer é tentar passar como é o nosso penar. Mas eu acrescento os quatro pontos que descobri:
1º) Observar muito o mundo;
2º) Ler muito;
3º) Escrever muito;
4º) Falar sobre o que conhece.
Se quiser maiores detalhes a gente pode marcar um bate-papo informal.


- Rapaz, muito obrigado! Tirei nota dez.
- ...
- Não está lembrado de mim?
- Desculpa, mas não.
- Sou Fábio e a faculdade que estudo deu um trabalho sobre o hiv e algumas semanas atrás estive no GASP com alguns colegas e você nos falou sobre o vírus. Agradeça também ao outro rapaz.
- Ah, sim! Estou lembrando. Que bom que fomos úteis.
- Tudo que você falou, foi fundamental para o trabalho. Fizemos como você fez. Abrimos a camisinha no braço para mostrar que ela estica e não atrapalha em nada a sensação. Enchemos outra e passamos gel lubrificante e depois passamos vaselina para mostrar porque se usa apenas o gel. Mas o mais importante mesmo foram as informações que nos passou através do que nos disse e de todo o material que disponibilizou para nós. Cara, foi dez. Obrigado mesmo.
Enquanto conversávamos notei que um sujeito ficou olhando para nós. Era o patrão do rapaz. Então tratei de me afastar para não criar problema. Mas sai com um semblante feliz. É muito bom ser útil. É também muito bom ser reconhecido.

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