Rubem Leite
23-01-10
“Quem construiu a Arca de Noé eram amadores e quem construiu o Titanic eram profissionais”.
Frase que ouvi não sei onde nem de quem.
Escrevo ouvindo instrumentais
Valsa para Uma Rosa e principalmente
Lay All Your Love on Me – Abba.
O escritório estava cheio de trabalho, mas o dinheiro não estava entrando.
- Preciso de mais um empregado para dar conta, mas como pagá-lo? Se não contrato o escritório não dará conta e se contratar não sei como pagar...
- Com licença! Acabo de me formar em Contabilidade e estou procurando experiência e emprego... Será que o senhor me contrataria? Prometo me dedicar.
Esse rapaz caiu do céu. Pensa o dono da contabilidade. E o contrata.
Um mês.
E o serviço do rapaz não rende grande coisa.
- Acho que vou mandar embora aquele folgado. – Diz para o outro empregado, técnico em contabilidade, que já estava na firma a vários anos.
- Companheiro! Você precisa se empenhar mais, cara. Se não o patrão te manda embora.
- Estou tentando, mas não estou conseguindo.
Eu, que estou escrevendo penso, não sei, que ele não consegue porque não estudava e tem diploma por pagar em dia a faculdade. Se é que você me entende...
- Bem, companheiro! Eu vou te ajudar. Tudo que não souber me pergunte discretamente que eu te ensinarei.
E assim fizeram. Mas mesmo assim o novato não estava dando conta de fazer sua parte. Por isso o veterano ficava até tarde ajudando e algumas vezes, umas poucas, fez sozinho.
Outro mês. E outro. E outro. Seis meses. Um ano.
O escritório foi satisfazendo seus clientes. O patrão examinando os trabalhos constatou que o novato produziu mais. Mais que todos. Sorrindo lhe deu um aumento. Vinte por cento. O veterano produziu o mesmo que sempre. Sério lhe despediu.
Desempregado, foi para a casa com uma sede. Na metade do caminho uma igreja e um boteco. Igreja. Boteco. Igreja. Boteco. Igreja. Boteco. Igreja. Boteco. Igreja. Boteco.
Chorando entra na igreja. Uma lágrima. Outra lágrima. Lágrima. Lágrima. Lágrimas.
O Preletor fala “Quem nunca fez algo que não foi visto? Quanta dor ao ver outro ser reconhecido não por si, mas pelo que outro fez. Beber? Chorar? Que fazer? Seguir
Levanta com um sorriso. Vai para casa. Pensa. Pensa. Pensa. Pensa. Pensa a noite toda.
No quartinho de despejo da casa alugada um velho carrinho de mão com roda furada. Leva ao borracheiro. Compra couve na horta comunitária. Compra alface. Taioba, salsa, cebolinha. E sai.
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