quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

TIGELA ARREGATEIRA

Rubem Leite

Escrita em 28-9-98

Mexida em 21-01-10


Uma tigela andava festeira, arregateira pela casa pulando aqui, dançando ali, fugindo do serviço e fazendo seus colegas, os vasilhames, rirem. Ê tigela danada, sô! De tanto bordejar e se esquivar de ser útil – só queria aproveitar, nunca doar – acabou caindo e partindo-se em três. Coitada da tigela. Ninguém mais queria saber dela.

A empregada vendo-a caída se espantou “Uai! Como ela foi parar no chão”? – disse com sua voz grave. Pegou-a e a levou para a lixeira.

A tigela partida, chorando, rezou a Deus pedindo perdão por suas estrapolias e sinceramente arrependida, tomou a decisão de ser uma boa tigela se derem outra chance a ela.

No momento em que a empregada levantou a tampa da lixeira e ia jogá-la fora chegou a patroa. Ela estava ocupada aprendendo artesanato quando sem mais nem menos decidiu parar e ir à cozinha. Vendo viu o estado da tigela pensou se deveria joga-la fora, mas decidiu adequar hora, lugar e pessoa. Então pegou a tigela, colou as partes quebradas e pintou com tinta envelhecida. A tigela ficou boa outra vez e ainda ganhou o charme e a beleza de coisa antiga.

E como nossa amiga tigela cumpre a palavra empenhada decidiu ser feliz de verdade sendo útil à humanidade.

Nenhum comentário: