segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NO ÔNIBUS

Madrugada de 09 de agosto, mês do bom gosto.

Ofereço como presente de aniversário à minha querida sobrinha

Priscila Pacheco Leite.


Fui a pé para Coronel Fabriciano, a cidade vizinha. É longe, muito longe para ir sem transporte. Quando eu era mais novo dava conta numa boa, mas, agora, aos quarenta e dois é um pouco mais difícil, mas conseguirei. O que fui fazer lá? Ah! Isso é da minha conta. Não se chateie, por favor, mas é questão pessoal que não entra nessa estória. Noventa minutos andando e cheguei ao Horto, mais meia hora e estou quase na divisa, só mais umas meia hora, e depois mais umas duas ou três horas, talvez quatro, e chegaria na parte urbana que me interessa. Estava cansado. E como dizia, estava no bairro Horto quando vi minha mãe dirigindo um fusquinha. Com tanta coisa para dirigir ela foi pegar logo um fusquinha? E ela nem sabe dirigir. Mas ela apareceu e me levou para Fabriciano. Deixa-me na Praça da Estação. Lá tem uma estátua, parece-me, imitação melhorada da Estátua da Liberdade. Não sei, é o que me parece. Só que diferente e mais bonita. Ou será Themis? Não, Themis fica na entrada do Fórum, em Ipatinga. Não importa. Mamãe desapareceu e fiz o que tinha que fazer e voltei de ônibus.

No ônibus sento-me atrás do motorista e conversamos. Ele deve ter mais de cinqüenta anos, é levemente gordo, bigodudo e é meia careca. Enquanto conversamos deu-me má resposta quando perguntei algo que nem me lembro mais. Ele está estressado. Relevei. Continuamos a conversar. Os passageiros, mais de dez, menos de vinte. Falam sobre futebol. Falam mentiras do Atlético e verdades do Cruzeiro. Gaaaaalooo. Tem até um coelho e dois tigrenses. Mas o Atlético leva a melhor, claro, pelo menos no falatório. Uarrarrá. Continuo a conversar com o motorista. Tiro uma folha de couve da sacola que levo e como. Folha estranha, mastigo e mastigo e não consigo engolir. Incomodado, cuspo-a pela janela. O vento esquisito faz com que um pouco dos pedaços voe até ao motorista. Irritado pega um punhadinho e me joga na cara e ri debochado. É! O cara não está errado, mas não sei se ele está certo. Olho espantado para o sujeito por um segundo e por cinco segundos. Dez segundos, levanto-me e vou para trás em silêncio. Não sei se ele está certo, mas não dá para dizer se está errado. Agora! O riso de deboche! Esse eu sei que está errado. Penso em discutir com o distinto cavalheiro. Decido ser feliz. Mais do que está certo, ter razão, prefiro ser feliz. E, como diz Nena de Castro, “Nada mais digo”.

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