terça-feira, 6 de setembro de 2011

ORQUÍDEAS BRANCAS

Obax anafisa.


É meio da manhã e olho uma orquídea branca no Parque Ipanema. Uma doida se aproxima e me diz coisas loucas “Aids não tem cura. Ainda bem que não uso silicone”. Sem nada entender e sem muito esforço meu para compreender vejo na orquídea uma possibilidade de presente, não aquela, mas outra, de floricultura. Espero que meu amigo Eddi goste. Domingo foi aniversário do cara. E hoje, dia que posto o cronto da semana, ele está em Juiz de Fora a trabalho. Então volto para casa, enfrento o dia, durmo, acordo, estudo e saio com meus cachorrinhos. Têm alguns poucos meses que o quarteirão onde moro virou hotel de... pensei em vagabundos, mas receio dizer algo pesado, pejorativo e sem necessidade. Dá licença que vou ver nos meus dicionários o que seja, realmente, vagabundo.

Fui.

Voltei.

E, segundo entendi, vai do inconstante e errante ao vadio e sem importância, do nômade ao reles. Voltando ao cronto. O quarteirão onde resido da rua Uberaba, no Centro de Ipatinga, se transformou recentemente em hotel de mendigos usuários de craque. Virei à esquerda da rua Ituiutaba e entrei na rua João Napoleão Cruz, que tem outra placa dizendo que se chama Carlos Gomes. Lentamente surge de trás de mim uma radiopatrulha e me aborda. Não me incomodou. Primeiro porque não foram ríspidos Depois porque não tinha que ficar constrangido por estranhos me ver já que era madrugada. E digam o que disserem às pessoas, ao ver alguém ser abordado, sempre pensam que “deve ter alguma culpa no cartório”. Terceiro, estou num lugar onde trafica e consome muita droga e há outras formas de violência. É claro que um cara barbudo, de bermuda, camisa de mangas compridas às cinco horas da madrugada numa sociedade de aparências é meio esquisito, né. Ainda a abordagem é um meio de observar se tudo está bem e consequentemente de proteger os cidadãos. É como disse Sílvia Silva no Curso de Educação em Direitos Humanos, promovido pela UFOP, a polícia que nos agride é também a que nos protege. Não sei se você reparou ou se na sua cidade tem, mas aqui em Ipatinga é comum ver nas casas uma placa da Polícia Militar dizendo “Rede de Vizinhos Protegido” e tem o eslogam “Você está sendo vigiado”. Assustador, opressor, não? O indivíduo, a família paga à polícia para cumprir o que já recebe do Estado para fazer, que seria proteger os cidadãos. E eu que não tenho uma placa dessas não estou protegido, ou estou menos protegido? São tantas as questões. Mas voltemos à abordagem. Com aquelas chamativérrimas luzes vermelhas no teto do carro me impedindo de ver a cara deles, perguntaram:

- Oncemora?

- Na rua de trás.

- Questazendo?

- Passeando com meus cachorrinhos.

- Aessora?

- Depois de cinco e meia tem trânsito.

Rindo: Tem transto? – E fala algo que não entendo.

- Não entendi, poderia repetir, por favor.

- Num tem medo dissê assaltado?

- Não. Eles quando vêm os cãezinhos não me incomodam.

Rindo: Você estruge neles.

Surpreendo-me com tal palavra. Não me lembro de já tê-la ouvido antes, mas me parece significar mandar atacar. Horas depois olhei no dicionário e vi que significa fazer barulho. Mas respondi aos três policiais na radiopatrulha: Não! Eles são muito pequenos para realmente assustar, mas como também não me envolvo com eles, não se aproximam.

- Cê trabalha?

- Sim! Sou artista.

Riu da minha profissão. Deboche ou amizade, o riso? Penso numa resposta, mas qual é a sua?

- Levantô aessora papassiá conscachorro?

- Levantei para estudar. Faço faculdade. Já estudei e agora saí.

- Estudaessora?

- Sim.

- Estúdadi madrugada, trabáia didia. Cê num dorme?

- Durmo à noite.

- Faz facudade? É? Ondi?

- Pela UnB. Universidade de Brasília. – Imaginando que eles estranhariam eu fazer em Ipatinga uma faculdade de outro estado e estando acordado a essa hora – Tem um pólo dela aqui. Fica no Bom Retiro.

- Ok! Tenhum bom dia e cuidado, viu. Aquié perigôs.

Saem e continuo o passeio. No correr do dia esqueço que existe polícia. Lembrar para quê? Temos tantas coisas boas. Reflito no quanto Vale do Aço está ruim de político. Há algum lugar onde tem político bom ou do bem? Ipatinga teve um entra e sai de prefeitos. E o que a governa hoje obedece a Alequissander Silcaveira. Timóteo está pior, pelo menos no entra e sai de prefeito. Domingo o prefeito de Cel. Fabriciano foi vaiado e até lhe atiraram restos de comida e latas de cerveja ainda cheias... Que desperdício! Frisco Limões respondeu: “Tão achando quistão em Ipatinga ou Timóteo? Eu erro, mas sou macho prassumi. Vão tomar no ‘wonderful’ seus filhos da truta”. Analisando bem, pensar em polícia e político é o “wonderful da truta”. Então hoje comprarei orquídea e mandarei entregar.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você – orquídeas brancas – e

faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Didi Peres, Edmar S. Peres, Chrika de Oliveira, Lourenço Godoi,

Marcone M. Melo, Jamilboali Mattar, Willian Delarte, Silvania W. Paula e Vera Almeida.

São tantos aniversariantes e cada um único em meu coração.

Escrita entre 16 de agosto a 06 de setembro de 2011.

3 comentários:

Chrika de Oliveira disse...

Agradeço as flores deste conto e as pedras preciosas q pude encontrar nele... rs
me fez lembrar Titãs : "Polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia"...As vezes eles são educados, quase dóceis... Msm c o pouco salário e a corrupção q mtas vezes rege, a violência e truculência em certas abordagens é deveras desnecessária...

Chrika de Oliveira disse...

Sobre o show do prefeito... bom.. eu estava lá... rs
c td o grau etílico à cabeça do sujeito não foi de se assusstar q não soubesse colocar bem as palavras, mas eu entendi perfeitamente q ele se referia a política... mas não era o lugar, nem a hora...
Enfim... não ofuscou em nada os verdadeiros shows da noite: a boa comida, 14 Bis, Nenhum de Nós e as pessoas de bem (maioria esmagadora)q foram curtir...

Sonia Frei disse...

Gostei, sim. E gosto docê dimaiiissss.

Sonia Frei