segunda-feira, 13 de agosto de 2012

TRAVESTIDO

Em grande parte escrevo ouvindo Bachiana nº 5, de Villa Lobos.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Guilherme A.L. Macedo, Nelma Medeiros, Dilton B. Silva.¹
Ofereço também a todos os participantes da Festa do Conselho Municipal de Cultura de Ipatinga: Santo de Casa Também Faz Milagre (ver imagem). Em especial ofereço: Vitória Soares, Fernando Malaka, Alisson Enner e Gabriel Peixoto.¹

Obax anafisa.



- Essa vai ser na cabeça.
Olho para a voz e vejo uma lâmpada fosforescente e um pedaço de pau nas mãos do sujeito que passa por mim.
Ignoro o homem enquanto um pensamento horrível me invade “Desde que não seja nos meus cachorrinhos...”. Balanço a cabeça espantando tal ideia. Todo ser merece respeito, até os humanos.
Continuo meu passeio matinal e vejo um cachorrinho branco com manchas marrons. Noto que ele manca e depois percebo que é ela. A cadelinha está indecisa se vem até mim ou se deve fugir. Descubro que indo para casa, mas chamando, ela me segue. Por ver suas costelas, dou apenas leite para não forçar seu estômago desacostumado.
Depois faço minhas preces matinais, saio para comprar pão e trabalho no projeto para Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Finalmente começo a lidar com a parte financeira.
Horas mais tarde, quando desço à rua, uma pessoa cuida da cadelinha. Seu nome, fico sabendo naquele instante, é Marcony. Também descubro que é irmão de Vera Tufik, agente cultural em Ipatinga. Ele cuida com custos próprios de diversos cachorros abandonados, inclusive de Ouro e Grandão. O homem nunca viu amizade assim; nem entre seres humanos nem entre cachorros.
- Ôôô!Ôôô! Ôôô! Ôôô! – Uma suave voz aguda canta num galho de árvore. É uma jovem que brinca com os passarinhos. O vento martela um galho num vidro de janela na parede. Tum tum tuum. Tum tuum tum. E as avezinhas: Uuuu! Uum! Uuuu! A mocinha, o vento e os passarinhos cantam Bachiana. Ah! A natureza se rende à bela arte(ficial). Rita Eneida me disse que a história da música registra que Villa Lobos fez a série como uma homenagem a Bach. “São um conjunto de nove obras. Falando de modo simplificado, o compositor buscou uma síntese entre a música brasileira e a estética de Bach. A nº1 foi escrita para orquestra de violoncelos; as números 2, 7 e 8, para orquestra; a nº3 para piano e orquestra; a nº4 em versão pianística e orquestral; a nº 5, a mais famosa, para sopranos e violoncelos; a nº6 para flauta e fagote; e a nº9 para coro a ‘capella’ ou orquestra de cordas”. Nas palavras de Rita repercutindo em mim ouço Bidu Sayão “Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente. \ Sobre o espaço, sonhadora e bela! \ Surge no infinito a lua docemente, \ Enfeitando a tarde, qual meiga donzela \ Que se apresta e a linda sonhadoramente, \ Em anseios d’alma para ficar bela \ Grita ao céu e a terra toda a natureza!”². Quem? Quem sabe que Bidu cantou na Casa Branca para o Presidente e esposa? E que ele, fascinado por sua voz, lhe ofereceu a cidadania estadunidense? Quem sabe que mesmo tendo sido vaiada em seu país natal, recusou o convite dizendo “No Brasil eu nasci e no Brasil morrerei”. Sonho que não se realizou.
Com tudo isso, sento num banco de praça à espera de ônibus. Sem opção ouço duas mulheres conversando. Uma vai para Santa Catarina e sua mãe quer ir junto, mas recusa que seja de avião e nem aceita que levem uma só mala para as duas passarem três dias. Conversa vai, conversa vem e estou ficando com ódio da véia... Uarrarrá! Indo de ônibus a viagem levará várias horas e o preço vai custar três vezes mais. As duas se levantam e o sol me bate desconfortável. Que pena que se foram.
Cumpri o que tinha que fazer. Anoiteceu. Deitei e dormi. Amanheceu.
Susi Piaf, mancando, vem se encontrar comigo e com Haicai, Decidido e Vitório – meus cachorrinhos –. Já não mais temerosa mordisca as mangas de minha blusa. Logo mais Marcony trará remédio para tratá-la. Ficarei sabendo que ele encontrou um cão atropelado repleto de berne nas feridas, mas que, tratado, já abana o rabinho quando o vê. Quando eu souber, sorrirei. E você, sorri lendo isso?
Mudemos de assunto e encerremos nossa conversa.
Que legal! À porta do banco um mendigo pedia esmolas com a mão direita e na esquerda sua latinha de cerveja matinal. E durante o dia, Dalila, a cabeleireira, foi velada. Tão conhecida e muita gente no cemitério, mas poucos para ela.



IMPORTANTE:
Marcony aceita e precisa de colaboradores.
Quem puder lhe ajudar a adquirir rações ou queira adotar Susi Piaf (ou outro cachorrinho) pode procurá-lo: 31-8509-7471

¹ Aos aniversariantes, além do cronto, ofereço também a seguinte mensagem: “Trabalho sempre pensando que é Deus que está trabalhando”.
FUJIWARA, Toshiyuki – Você Será Salvo Infalivelmente – 1ª edição – São Paulo, SP: Seicho-No-Ie, 2005, pág. 204.

¹ Ofereço também a todos os participantes da Festa do Conselho Municipal de Cultura de Ipatinga: Santo de Casa Também Faz Milagre (autoria da imagem: Freddy Cosme). Na festa, uma jovem me pediu que eu desenhasse algo para ela – fui confundido com algum desenhista ou pintor –. Depois de esclarecido, a garota pediu que eu escrevesse algo naquele momento. Mas como escrever exige muito de mim... Disse-lhe “o que eu postar na próxima segunda será seu”. Os amigos que lhe acompanhavam pediram que eu os presenteasse também. Então registro aqui que o cronto pertence aos aniversariantes acima e, igualmente, aos participantes da festa.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 04 e 13 de agosto de 2012.

Bachiana, ouvida na manhã de 07 de agosto nos seguintes endereços:
Sobre Bidu Sayão:

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