segunda-feira, 19 de novembro de 2012

AVES CARNICEIRAS


Obax anafisa.

Viva a Bandeira do Brasil! Viva a Pátria!

“experimentações dos fracassos ... por entender que elas foram mesmo as responsáveis por nos desestabilizar, perturbar e gerar as crises necessárias para nos mudar de direção e demarcar inaugurações (de) nossa história”¹. (GODOI).


O rio corre. É o Ribeirão Ipanema à margem do Iguaçu defronte do pedaço com Jd. Panorama e Pq. Ipanema. À beira rio grama ou capim bem verde, algumas flores brancas. Tem também umas amarelas, outras vermelhas e o passado no presente.
- O todo é muito mais que a mera soma das partes. – Disse Thiago Alixandre em um grupo de agentes culturais no encerramento do 10º ENARTCi em um diálogo no espaço da Hibridus. Ele continuou – Aquilo que é permanente assim é porque não é imutável. Resiste porque se adapta. O permanente é mutável.
- Autonomia é capacidade, e dou ênfase na palavra capacidade, extrair do ambiente informações, criar reservas delas para se manter, ou melhor, para explorar cada vez mais e eficientemente novas informações. – Alguém acrescentou ao diálogo e mais gente disse diversas coisas igualmente interessantes.
O Ribeirão Ipanema corre. À beira rio grama ou capim bem verde, algumas flores brancas. Tem também umas amarelas e outras vermelhas. Na margem um grupo de aves carniceiras destrincha algum bicho. Uma abre suas asas e pula para outra ave. Parece não se contentar com seu lauto almoço. De tempos em tempos outra faz o mesmo, querem tomar o que outra pegou. O passado no presente e o segundo no primeiro.
Uma moto surge por trás e pára ao meu lado. Pelo visor do capacete belos olhos escuros num rosto masculino perguntaram-me sobre meus cachorrinhos. O que na verdade quer saber é se eu era usuário de craque. Talvez porque eu fui um magrelo às cinco horas da manhã num ponto de consumo. Talvez por outro motivo. Quem sabe? – perguntou-me: Cê num tem vício nenhum mesmo? Respondi: Meu único vício são os livros. Sou tarado por eles². Dia ou dois depois nos esbarramos no hipermercado no Centro de Ipatinga. Os olhos vívidos me percorreram lentamente, o uniforme apressado sumiu lá dentro e seu rosto se esvaiu de mim.
O Ribeirão Ipanema corre. À beira rio grama ou capim bem verde, algumas flores brancas. Tem também umas amarelas e outras vermelhas. Sobre a grama e entre as flores, um bicho morto. Lindas flores enfeitam o podre. O podre enfeia as flores. Aves carniceiras, políticos e humanos destrincham descontentes com o que tem e tomam o que é do outro. O vento trás o cheiro para mim, engasgo e meu quase vômito se interrompe por sons de um carro dobrando corrido uma esquina e vêem sobre mim. Aves carniceiras disputam o que sobrou.


Ofereço aos aniversariantes
Lúcia Santos, Sávio Tarso, Nary Farias, Elias Moreira Jr, Vitor Cruz, Stefanny Késsya, Nanda Sales, Sula Valgas, Esdras Aurélio e Eder Meiros.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre os dias 09 e 19 de novembro de 2012.

ENARTCi 2012. Encontro existente em Ipatinga MG para mostrar e discutir a arte, os artistas e suas ações e reações. “O ENARTCi assume seu papel de criar pontes, de atravessar territórios e de construir relações”¹.

¹ ENARTCi – Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga. Wenderson Godoi no texto “Tão precioso quanto difícil”, diria Espinosa.

² Mais informações sobre esse parágrafo veja o cronto: http://artedoartista.blogspot.com.br/2012/11/jejum-da-fome.html

Um comentário:

Nanda Sales disse...

"Lindas flores enfeitam o podre. O podre enfeia as flores." Isso diz muito de Ipatinga pra mim... Adorei o texto... Muito obrigada! Confiro sempre! bjs