Obax nafisa.
Oh,
é tanto!
Que
não dou conta.
Seguro
um pranto
Não
solto as pontas.
Com
a quadra penso na vida que estou levando. Dois irmãos com câncer. Trabalhando
muito, recebendo pouco. Sub emprego com sub salário. O sol e a lua no céu e o
carro de meu contratante debaixo e entre os dois.
-
Bôache nôichete!
Cumprimenta-me
com voz pastosa. Olhos vermelhos, corpo bambo, fedor de cachaça com falta de
banho. De agora em diante não vou mais fazer onomatopeia, mas, por favor, não
se esqueçam de como é fala do caboclo.
-
Minha muié tá ali na prefeitura e tâmu quereno ...
Parei
com a onomatopeia, mas conservo o português não padrão do sujeito.
-
... comprá dois marmitéquisse. Cada um no supermercado custa R$6.50. A gente
tâmu precisano de dois real.
-
Ieu quero é cachaça, isso sim. – Diz baixinho um colega dele que não se
aproximou.
-
Poisantão, podemo contá cum sinhô? É dois real.
-
Não!
-
Num intendi.
-
Não, não vou lhe dar nenhum dinheiro.
-
I einquê cê vai ficá mais rico inundá? Eim? Eim?
-
A riqueza é minha, não é sua. Não te interessa.
-
Num intendi. A riqueza é sua, num é minha, numinteressa?
Entre
o espanto e a lamentação do sujeito bocejo vistosamente.
-
Ocê vai é morrê a míngua, seu...
O
contratante sai do banco, entra no carro, dá meu pagamento, traz-me à minha
casa e se vai sem olhar a lua nem o sol.
Ofereço
como presente de aniversário a
Willian
Garcia, Whêsdras Henrique, Alessandro Castro, Carol Campos, Creuza Melo,
Claudio Miranda, Wenderson Godoi, Mateus T. Sousa, Francisco P. Araújo, Wolmer
Ezequiel e Thiago Domingues.
Escrito em 23 de agosto de 2014. Mexido e
remexido entre 12 e 15 de setembro de 2014.
2 comentários:
Você é maluco beleza e escreve muito maravilhas. Gostei
Grande Rubem! Esse foi ótimo pra fechar a minha madrugada com chave de ouro!
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