QUÉ ME ATERRORIZA
Em português
- Estão
todos vocês em uma sala fechada, sentados em vossas carteiras particulares com
um papel de prova virado ao oposto. E um lápis. Na parte de frente está escrito
os vossos nomes e a parte oposta está em branco. Há apenas uma pergunta, e uma
única resposta é solicitada. Ela está entre vocês... Ninguém pode falar com o
guarda que está vos controlando, ninguém pode responder ou falar nada, excepto
a resposta. Há alguma pergunta?
- O que é cartão de saldo da Unitel ou Movicel que você
me falou ontem?
- Rsrs... Pra tu não tem valor. São as recargas
telefônicas de Angola; Unitel e Movicel são as operadoras de rede.
- Rerrê
- Kkkk, mas tentas responder.
- Oncotô? Ou melhor: Oncetá?
Na caixa de mensagens do Facebook aparecem seis
interrogações: ??????? e o interlocutor pergunta: “Ah! ‘Oncotô’ e ‘Oncetá’, o
quê são isso?”.
O leitor atento (ou seja, você), antes de eu
responder ao meu interlocutor, contou as interrogações e achou sete. Rubem,
corte um. Ordena-me. Dou um suspiro e elimino o último ponto de interrogação,
deixando só os seis afirmados: ??????.¹ Agora posso respondê-lo:
- Rerrê. No Brasil tem um estado que se chama Minas
Gerais (é o estado onde nasci e vivo). Nós, mineiros, temos algumas
peculiaridades na fala oral. E uma dessas peculiaridades é o ódio ao “d” nos
gerúndios. Portanto, jamais falamos “cantando, comendo, sorrindo”; nós falamos “cantano,
comeno, sorrino”. Outro costume nosso é emendar e aglutinar as palavras durante
a fala; assim, oncotô é “onde que eu estou?” e oncetá significa “onde você está?”.
- Há... Huuum. Ok. Estou em Angola.
- Rerrê. Sim, mas a pergunta que se faz a quem é
levado para um lugar assustador como aquela sala é essa: sabe onde está? Se bem
que, na verdade, não deverão perguntar nada... É mais assustador nos deixar na
ignorância.
- Tu estás em um centro de pesquisas e eres a
cobaia...
- Rerrê. Acho que vou criar uma história de terror “partino”
da sua.
- Kkkk, algo parecido é o que quero.
- Então tá. Vou escrever uma história de terror:
Em
uma típica manhã de um típico dia letivo em uma escola típica:
-
Gente! Verbo é o que permite um diálogo; que ocorra a comunicação. Por exemplo,
se digo “homem”, “apartamento”... E aí? São apenas palavras. Mas se digo, por
exemplo, “O homem saiu do apartamento” ou “O homem grita no apartamento” ou
ainda “O homem fugirá do apartamento” comuniquei algumas coisas, aconteceu uma
conversa, um diálogo. Entenderam?
-
Sim, professor!
-
Então, no primeiro e segundo parágrafos do texto Galinha ao Molho Pardo, de
Fernando Sabino, tem quantos verbos?
“Tem
vinte e três, professor!”. Diz uma aluna e outro intervém: “Não, tem treze”.
“Oceis tão tudo errado. É vinte e um”, fala o terceiro estudante.
Abro
a boca.
-
Não, são oito os verbos. E desconsiderando os que se repetem, quais verbos
estão no passado?
-
É pra dizer a quantidade de verbos que estão no passado, professor?
-
Não. Não quantos, mas quais são eles.
-
Era... Tinha...
- Um...
-
Quase...
- Gabiroba...
Abro
a boca tentando respirar.
-
Não, não. “Era” e “tinha” estão certos. Mas “um” é numeral. Já “gabiroba” é uma
fruta. Se não a conhece é só prestar atenção no texto: “... um pé de gabiroba,
um pé de goiaba branca”; quando lá fala em pé de goiaba já dá para saber que
gabiroba é fruta. E “quase” não é verbo; é advérbio. Não existe o verbo
“quaser”, ou você fala “eu quaso, ele quase, nós quasemos”?
-
Não, professor!
-
Que bom! Os advérbios têm ligações com verbos, mas não são verbos. Advérbio é palavra
invariável que expressa uma circunstância do verbo ou a intensidade da
qualidade dos adjetivos ou reforça outro advérbio e, em alguns casos, modifica
substantivos. Eles podem ser de lugar, de tempo, de modo, de negação, de
dúvida, de intensidade e de afirmação. “Quase” exprime uma intensidade.
-
Intensidade, professor?
-
Sim, intensidade!
-
Que é isso, professor?
-
Intensidade? Vejam: “O quintal de nossa casa era grande, mas não tinha
galinheiro, como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo”. Neste trecho
da memória literária que Fernando Sabino escreveu dá para perceber que “quase”
tem o mesmo sentido de “praticamente”; ou seja, de um grau próximo ao máximo:
“quase toda casa” pode ser dito “praticamente todas as casas”. O trecho que
lemos fornece e fortalece a ideia de que muitas casas tinham galinheiro; quero
dizer, intensifica, aumenta, amplia e faz crescer a ideia de quantidade de
casas com galinheiro.
-
Aaammm!
-
Então, quais são os verbos?
-
O verbo, professor, é “galinha ao molho pardo”.
A
boca nem tenta se abrir porque não entra mais ar nos meus pulmões.
- Mas... Isso não é história de terror!?
- Meu filho! Para um professor, passar por isso é
ainda mais aterrador que estar em uma sala fechada, sentado em carteira
particular com lápis e papel de prova virado ao oposto. Tendo nela o nosso nome
com apenas uma pergunta onde se tem que responder apenas uma resposta. E cujas Secretarias
de Educação do país, do Estado e do Município estejam invisíveis entre nós e
sejam visivelmente os guardas que nos controlam e que nada podemos falar, que
eles realmente ouçam e/ou não nos punam com demissão. E os alunos são os
algozes que nos fazem sofrer por nosso desejo e dedicação de compartilhar o que
sabemos e não termos quase ninguém que receba nossas palavras.
En Español
-
Están todos en una sala cerrada, sentados en vuestros pupitres particulares. En
él hay un papel de prueba virado al opuesto. Y un lápiz. En la parte de frente
está escrito los vuestros nombres y la parte opuesta está en blanco. Hay
solamente una pregunta, y una única respuesta es solicitada. Ella está entre
vosotros… Nadie puede hablar con el guarda que los controla, nadie puede
contestar o hablar nada, excepto la respuesta. ¿Hay alguna pregunta?
-
¿Qué es tarjeta de saldo de la Unitel o Movicel que me charló ayer?
- Rsrs…
Para usted no hay valor. Son las recargas telefónicas de Angola; Unitel y
Movicel son las operadoras de red.
-
¡Jejé!
-
Kkkk. Pero, intente responder.
- ¿Doncontoy?
O mejor: ¿Dontutá?
En la
caja de mensaje del Facebook aparecen seis parejas de puntos interrogantes: ¿?¿?¿?¿?¿?¿?¿? Y el interlocutor pregunta: “¡Ah! ‘Doncotoy’ y
‘Dontutá’, ¿qué son esos?
El
lector atento (o sea, tú), antes de yo contestar a mi interlocutor, contó las
interrogaciones y encontró siete. Rubem, corte un. Ordéname. Doy un suspiro y
elimino la última pareja de punto interrogante, dejando solo los seis dichos:
¿?¿?¿?¿?¿?¿?.¹ Ahora puedo responderlo:
-
Jejé. En Brasil hay un departamento llamado Minas Gerais (Es donde nací y
vivo). Nosotros, mineros, tenemos algunas peculiaridades en el habla oral. Una
de esas peculiaridades es el odio a la “d” en los gerundios. Por lo tanto,
jamás hablamos “cantando, comendo, sonriendo”; charlamos “cantano, comeno,
sonrieno”. Otra costumbre nuestra es emendar y aglutinar las palabras durante
el habla; así, “doncontoy es “¿adónde que estoy?” y “dontutá” significa
“¿adónde tú estás?”.
-
Huuun… Ok. Comprendo. Estoy en Angola.
-
Jejé. Sí, pero, la pregunta que se hace a quien es llevado para un lugar
asustador como aquella sala es “¿Sabe dónde estás?”. Pero, pensando bien, no
hablar nada, dejándonos ignorantes de nuestro destino, es más asustador.
- Está
en un centro de pesquisas y es la cobaya…
-
Jejé. Pienso que me voy crear una historia de terror “partieno” de la tuya.
-
Kkkk, algo parecido es lo que quiero.
-
Entonces, así sea. Escribiré una historia de terror:
En una típica mañana de un típico
día lectivo de una escuela típica:
- ¡Mis alumnos! Verbo es lo que
posibilita un diálogo; que ocurra la comunicación. Por ejemplo, si digo
“hombre”, “calle”… Son solo palabras. Sin embargo, si digo, por ejemplo, “El
hombre salió de la calle” o “El hombre grita en la calle” o aún “El hombre huirá
a la calle” he comunicado algunas cosas, aconteció una plática, un diálogo.
¿Entendieron?
- ¡Sí, maestro!
- Entonces, en los primer y segundo
párrafos del texto “Pollo con Salsa Marrón”², de Fernando Sabino, ¿hay cuántos
verbos?
“Veintitrés,
maestro”, habla una alumna y otro interviene: “no, hay trece”. “No sean tontos;
es veintiún”, charla el tercero estudiante.
Abro la
boca.
- No, son
ocho los verbos. Y desconsiderando los que si repiten, ¿cuáles verbos están en
el pasado?
- ¿Es para
decir la cuantidad de verbos que están en el pasado?, maestro.
- No, no
cuantos. Quiero que digan cuales son ellos.
- Era…
Tenía…
- Un…
- Casi…
-
Gabiroba…
Abro la
boca intentando respirar.
- No, no.
“Era” y “tenía” están correctos. Pero, “un” es numeral. Ya “gabiroba” es una
fruta. Si no la conocen por ser brasileña y no existir acá es solo prestar
atención en el texto: “… un pie de gabiroba, un pie de guayaba blanca”²; cuando
la habla “pie de guayaba” es posible percibir que “gabiroba” es fruta. Y “casi”
no es verbo; es adverbio. No existe el verbo “casir”, ¿o hablas “yo casio, él
casi, nosotros casimos”?
- ¡No,
maestro!
- Los
adverbios tienen ligaciones con los verbos, pero no son verbos. Adverbio es palabra
invariable que expresa una circunstancia del verbo o la intensidad de la
cualidad de los adjetivos o refuerza otro adverbio y, en algunos casos,
modifica sustantivos. Ellos pueden ser, entre otros, de lugar, de tiempo o de
intensidad. “Casi” exprime una intensidad.
-
¿Intensidad?, maestro.
- ¡Sí,
intensidad!
- ¿Qué es
eso?, maestro.
-
¿Intensidad? Miren: “El patio de nuestra casa era grande, sin embargo no tenía
gallinero, como casi toda casa de Belo Horizonte en aquél tiempo”². En este
trecho de la memoria literaria que Fernando Sabino escribió es posible percibir
que “casi” tiene el mismo sentido de “prácticamente”; o sea, de un grado
próximo al máximo: “casi toda casa”. El trecho que leemos fornece y fortalece
la idea de que muchas casas tenían gallinero; quiero decir, intensifica,
aumenta, amplía la idea de cantidad de casa con gallineros.
- ¡Aaah!
- Entonces, ¿cuáles son los
verbos?
- Los verbos, maestro, son
“pollo con salsa marrón”.
La boca ni intenta abrirse
porque no entra más aire en mis pulmones.
- Pero…
¿¡Eso no es historia de terror!?
- ¡Hijo
mío! Para un maestro, pasar por eso es aún más aterrador que estar una sala
cerrada, sentado en pupitre particular con lápiz y papel de prueba virado al
opuesto. Teniendo en ella nuestro nombre y una sola pregunta donde hay que
responder una solo respuesta. Y cuyas Secretarías de Educación del país, de las
provincias o departamentos y de las ciudades están invisibles entre nosotros y sean
visiblemente los guardias que nos controlan y que nada podemos hablar, que
ellos realmente oigan y/o no nos punan con demisión. Y los alumnos son los
atormentadores que nos hacen sufrir por nuestro deseo y dedicación de
compartirles nuestros conocimientos y no tener casi nadie que reciba nuestras
palabras.
Ofereço aos aniversariantes
Denise Mª Silva, Gedeon Marques, Dani Gomes, Wander Santos, HdeZz Gibraan, Nelson
M. Esfinge, Carlos Glauss, Teo Lima, Fabiane Borges, Marilda Lyra, Simone Penna
e Armindo M. Noma’s.
Recomendo a leitura de Ode Interino, de Josué S. Brito; de Federico
García Lorca y el Hotel Excelsior, hoy Castelar, de Javier Villanueva. Respectivamente:
¹ Referência ao capítulo “Emília resolve escrever suas
memórias. As dificuldades do começo”, do livro Memórias da Emília. Obra de
Monteiro Lobato.
²
Traducción libre del texto brasileño “Galinha ao Molho Pardo”, de Fernando
Sabino.
Sobre o advérbio “quase” pesquisei nas seguintes fontes:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-adverbio-quase/22743
MICHAELIS: Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008.
MICHAELIS: Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008.
Escrito em 28 de setembro de 2015. Na noite de 03 de junho
de 2016 foi reescrito. E entre os dias 30 de julho e 14 de agosto foi
retrabalhado.
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