EL RATO
SILENCIOSO
Potira
itapitanga.
Em português
Hoje
o céu é uma dama da alta sociedade em um fim de noite de gala. Um lindo vestido
negro com nuances em cinzas e prata, sem nenhum brilho. Um chapéu combinando,
com rendinhas lhe cobre a cabeça e os olhos. Visíveis, só o sorriso da boca
lunar e uma pintinha estelar à direita no queixinho. O sorriso some um instante.
Na
terra, Humberto de Campos, um homem que viveu no período Império e República,
escreveu uma história que, após uns vinte anos que li, reconto segundo minhas
memórias e com algumas mudanças.
Uma
jovem bailava com seu namorado. E ela pergunta:
- O
que você mais gosta em mim?
Ele
diz “Tudo”.
- Ai,
vai, diga uma coisa em especial. Insiste a moçoila, que se chama Helena.
-
Bem, suas mãos... – Responde Soares, que é como se chama o rapaz. – Elas são
pequeninas.
-
Muito?
-
Muito! Microscópicas!
Helena
fica espantada, surpresa. Nunca tinha ouvido essa palavra. É que frequentou
escolas sem estudar a contento e também que em sua casa se ouve, assiste e lê
apenas Bolsonaro, Crivella, Kalil, Malafaia, Veja, Globo... E fala:
- Com
licença, querido. Vi meu velho professor e quero matar a saudade.
Enquanto
Helena sai Soares vê uma garota sentada com um livro. Ele não sabe, mas ela o
observou o tempo todo. No momento, porém, a menina estava, ainda, no prólogo de
um livro e meditava nas palavras “Acho que estavam preocupados que me avô me
contaminasse com algum delírio incurável do qual jamais iria me recuperar – que
essas fantasias de alguma forma estivessem me infectando contra ambições mais
práticas”¹.
- O
que você está lendo? – Pergunta apenas para puxar assunto com um rabo de saia com
quem depois possa dormir.
- Um
livro que me recomendaram.
Soares
toca no livro para ver a capa causando nela um arrepio que ele não percebe.
- Sou
Soares e você?
-
Marcela...
- Vi
o filme. Até que gostei.
- O
trecho que me chamou atenção até agora me faz pensar no capitalismo que dá a
ilusão de que trabalhamos para ganhar o dinheiro que nos permita viver para
termos o que quisermos.
-
Ilusão? Como assim?
- Com
o salário, o trabalhador compra roupas, calçados, comida, paga as contas para
quê?
-
Para tê-los...
-
Essa é a ilusão. – Olhando para o rapaz que não lhe acompanha o raciocínio – o
dinheiro para comida é para podermos trabalhar, não é nem dá para comprarmos o
que queremos sempre que temos vontade. As roupas e os calçados também são para
trabalharmos; e a moda que muda sem parar é para sempre comprarmos e comprarmos
mesmo tendo roupas em bom estado. Os remédios são para o mesmo fim. As contas
também... Se um trabalhador – um pedreiro, por exemplo, ou mesmo um médico, ou advogado,
engenheiro – ficar sem trabalhar ele passará fome. Apenas um por cento da
população brasileira é realmente rica. Todos os outros noventa e nove por cento
dos brasileiros são pobres.
- Eu
não sou pobre...
- Não
se irrite, por favor. Mas deixa-me explicar. Rico é quem consegue viver mesmo
sem nada produzir. Pode até trabalhar, mas consegue viver, e bem, sem estar
empregado. As pessoas acham a palavra “pobre” muito vergonhosa porque
simplesmente não entendem que não é sinônimo de fracassado, mas sim de quem
trabalha para viver.
Os dois
se olham por uns segundos enquanto a lua pisca um olho e ela volta a falar:
- Então,
se um trabalhador estiver desempregado passará fome. Apenas um por cento da
população brasileira, e o mesmo no resto do mundo, talvez até menos que isso,
não precisa trabalhar, pois realmente é rica. Todos os demais são pobres.
-
Então você está dizendo que, na verdade, pagamos para trabalhar?
-
Exato e... – Enquanto Marcela conversa com Soares, voltemos para Helena:
-
Professor Marinho! Que bom que o senhor veio à minha festa.
Conversam
algumas banalidades e, não aguentando mais, pergunta:
-
Professor! O que é “miscroscóspisco”.
- A
senhorita deve estar querendo dizer “microscópico”.
- Sim,
professor. O que é microco... microscópico?
- É
relativo ao microscópio...
- E o
que é isso, professor?
- É
algo que faz as coisas crescerem...
A
jovenzinha põe um dedinho na boquinha, depois olha demoradamente para as mãos,
sorri, volta para os braços no amado e diz para Soares: “Safadinho”.
O
lunar sorriso some um instante, mas volta minguante.
En español
Hoy el cielo es una dama de alta sociedad en un
fin de noche de gala. Un lindo vestido negro con matices en gris y plata, sin
ningún brillo. Un sombrero combinando, con randitas cubriendo la cabeza y los
ojos. Visibles, solo la sonrisa de la boca lunar y una lunar estrella a la
derecha en la pera. La sonrisa sume un ratito.
En la tierra, Humberto de Campos, un hombre que
vivió en el período Imperio y República brasileña, escribió una historia que,
pasados veinte años que a leí, recuento según mis memorias y, sin echar dados
falsos, pongo nuevas cosas.
Una muchacha bailaba con su novio. Y ella
pregunta:
- ¿Qué te gusta más en mí?
Él responde “¡Todo!”.
- Ay, va, diga una cosa especial. Insiste la
mozalbeta, que se llama Helena.
- ¡Vale! Sus manos... – Contesta Soares, que es
el nombre del muchacho. – Ellas son pequeñitas.
- ¿Mucho?
- Mucho. ¡Microscópicas!
Helena se queda espantada, sorpresa. Nunca había
escuchado esa palabra. Es que en su casa solamente consumen tele basura,
revista basura, música basura… ¿Libro? ¡Jamás! Y habla:
- Permiso, cariño. Vi mi viejo maestro a quien extrañaba
mucho y por un ratito quiero hablarle.
Mientras Helena se va Soares echa un vistazo en
una muchacha sentada con un libro. Él no sabe, pero ella lo observó el tiempo
todo. Sin embargo, en el momento la niña estaba, aún, en el prólogo del libro y
meditaba en las palabras “Pienso que estaban preocupados que mi abuelo me
contaminase con algún delirio incurable de cual jamás volvería a me recuperar –
que esas fantasías de alguna manera estuviesen infectándome contra ambiciones
más prácticas”¹.
- ¿Qué lees? – Cómo las muchachas siempre lo
dejan de pichinga pregunta solo para promover conversación y, quien sabe,
después se quedaren en pleno canchis canchis.
- Un libro que me recomendaron.
Soares tocó en el libro para ver la capa
echándola un estremecimiento que él no percebe.
- Soy Soares, ¿y tú?
- Marcela…
- Vi la peli. No es mala…
- Hasta ahora la parte que me está haciendo
pensar me recuerda el capitalismo que da la ilusión de que trabajamos para
ganar dinero y así vivir comprando todas las cosas que nos apetecieren.
- ¿Ilusión? ¿Cómo así?
- A través de su salario, ¿para qué el trabajador
compra ropas, calzados, comida, paga las cuentas?
- Para tenerlos…
- Esa es la ilusión. – Mirando el muchacho que no
le acompaña el raciocinio – El dinero para comida es solo para trabajar; con él
no es posible comprar todo que deseamos siempre que nos dé la gana. Las ropas y
los calzados también son únicamente para trabajar; y la moda que cambia sin
cesar es para comprar y comprar mismo teniendo ropas en buen estado. Las medicinas
son para el mismo fin. Las cuentas también… Si un trabajador – un albañil, por
ejemplo, o mismo un médico, o abogado, ingeniero – quedarse desempleado él se
morirá de hambre. Solamente un por ciento de la populación del país es
realmente rica. Todos los otros noventa y nueve por ciento de los habitantes
son pobres…
- No soy pobre…
- No se quede aburrido, por favor. Pero, déjame
explicar. Rico, o sea, mucho adinerado, es quien puede vivir mismo sin nada
producir. Puedes hasta trabajar, pero consigue vivir, y bien, sin estar
empleado. A las personas nos le gusta la palabra “pobre”; piensan que ella es
vergonzosa, solamente porque no entienden que nos es la misma
cosa que fracaso ni sinónima de pelado. En verdad, pobre es quien trabaja para
vivir.
Los dos se miran en un rato silencioso hasta ella
volver a hablar:
- Entonces, si un trabajador estuviere
desempleado se quedará hambriento. Solamente un por ciento de la populación del
país, y el mismo en el resto del mundo, tal vez hasta menos que eso, no necesita
trabajar, pues realmente es adinerada. Todos los demás son pobres.
- Entonces, estás diciendo que, en verdad,
¿pagamos para trabajar?
- Exacto y… – mientras los dos charlan, volvemos
a Helena:
- ¡Maestro! Me encanta que ha venido en mi
fiesta.
Charlaron algunas banalidades y, no aguantando
más, pregunta:
- Maestrito, ¿qué es miscroscóspisco?
- La señorita debe estar queriendo decir
“microscópico”, ¿no?
- Sí, maestrito. ¿Qué es microco… microscópico?
- Es relativo al microscopio…
- ¿Y qué es eso, maestro?
- Es un aparato que hace las cosas crecieren…
La jovencita pone un dedito en la boquita,
después mira largamente sus manos, sonreí, vuelve para los brazos del amado y
dice para Soares: “Descaradito”.
La lunar sonrisa sume un instante, pero vuelve
menguante.
Ofereço como presente aos
aniversariantes
Roda Alda, Dayane Andrade, Andre
Brytto, Amauri Krus, Eduardo R.L. Toledo e Izabela Azevedo.
Recomendo a leitura de “Eu
sei quem sou e para onde quero ir”, de Cinara Aline; “Laço”, de Xúnior Matraga;
e “Cada um por si”, deste que vos fala. Respectivamente nos seguintes
endereços:
¹ RIGGS, Ransom. O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças
Peculiares. Tradução: Edmundo Barreiro e Marcia Blasques. 4ª ed. São Paulo:
Leya, 2015. Página 08. Traducción libre de Rubem para español.
Pindinga y canchis canchis Ver http://www.wikilengua.org/index.php/Jerga_juvenil/Per%C3%BA
Escrito entre 22 de junho de
2014 e 06 de novembro de 2016.
Um comentário:
E a Marcela...pervertida!
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