Feliz aniversário, Ipatinga! Amo-te!
E espero que consiga sair viva da cova que cavastes.
Para isso, aja: “Não trocarei minha dignidade por
minha liberdade”. (Lula, 26/4/19).
Névoa? Líquido? A atmosfera do sonho é algo que não
sei nomear. Pelo menos os dos meus sonhos e este em especial.
Leio em chinês – língua que desconheço – uma frase.
Modifico sua poesia e faço a aldravia:
permeio
encanto
fino
entre
as
escritas
Do sonho me despertam meus cães para que os deixe
sair. Após o esforço e sem vontade saio da cama sem ainda ver o sol alienado ao
horário de verão. Horário este que o senhor Presidente Boçalnato decretou a
morte. Quem diria que alguma coisa quase boa ele faria... Mas como dizia,
decretou a morte, não o fim do horário de verão, pois dele só o extermínio...
Depois do banheiro a padaria. Na rua, alaranjadas
nuvens de sol cobrem com falhas o horizonte ainda suavemente escuro. Emoção
instantânea.
- Psiu! Psiu! Oi! Psiu! Oi! Psiu! Psiu!
A paralela avenida que leva ao Pq. Ipanema está às
escuras; não sei a causa. Nela um vulto me chama. Queria ignorar, mas talvez
seja alguém que me importa.
- Psiu! Psiu! Oi! – Pisca o isqueiro várias vezes. –
Oi! Psiu! Psiu!
Espero até o vulto tomar forma. Homem alterado não
sei por qual substância.
- Do que você gosta?
Conheço os possíveis significados, mas me faço de
ingênuo.
- Dos meus cães.
- Só dos cães? – Uns segundos de pausa. – E de meter?
Rosto bonito, corpo interessante, mente ruim.
- Não, obrigado!
Dou as costas para as nuvens de luz e para o homem a
ignorá-las.
- Você é muito pudico, Benito. – Ouço do ar.
Em casa, tomando café, ouço pedaços da entrevista do
ex-Presidente Lula. Tanto ele disse.
“Obsessão de juntar um trilhão à custa dos
aposentados... Para juntar um trilhão coloque o povo no orçamento da união,
gere emprego, gere crédito para as pessoas; tire todos os ‘penduricalhos’ e o
povo paga apenas o principal no banco. Aí as pessoas voltam a poder comprar. Um
pais que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera renda!?!
Quer pegar do aposentado e do velhinho um trilhão?!?”.
“Quando sair daqui estarei com o pé na estrada pra
junto com esse povo levantar a cabeça e não deixar entregar o Brasil aos
americanos; acabar com esse complexo de vira-lata. Nunca vi um presidente bater continência para
bandeira americana. Nunca vi um presidente ficar dizendo ‘eu amo os Estados
Unidos’. Ame a sua mãe, ame o seu país. Alguém acha que os Estados Unidos vai
favorecer o Brasil? Americano pensa em americano em primeiro lugar, pensa em
americano em segunda lugar, pensa em americano em terceiro lugar, pensa em
americano em quinto e se sobrar tempo pensa em americano. E fica os lacaio
brasileiro achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem
que fazer alguma coisa por nós somos nós. Acabar com o complexo de vira-lata,
levantar a cabeça. A solução dos problemas do Brasil está dentro do Brasil.”.
Entretanto, a única coisa que Boçalnato replicou, de
tudo que o Lula falou, foi justamente a mais irrelevante.
“O que não pode é esse país estar governado por esse
bando de maluco. O país não merece isso e, sobretudo, o povo não merece isso.”,
disse Lula. E a resposta: “Pelo menos não é um bando de cachaceiro. O Lula,
primeiro, não deveria falar. Ele falou besteira.”.
Termino o café e converso com o autor.
- A população deveria ser resistência e não apenas
repetir esse refrão – “Somos resistência”. Lutar contra uma versão tupiniquim
de algum nazifascismo ou uma versão aprimorada e piorada da Ditadura de 1964 a
1985.
- Você e eu somos insignificantes e, por isso,
invisíveis. Então talvez a nossa resistência pouco valha...
- Mas ainda assim lutamos. Não só passivamente
resistindo, mas ativamente a lutar.
- Duas pessoas apenas o mundo não vê, mas uma
multidão...
Saímos para a rua e a cada rosto que olhamos a gente
vê o cotidiano alheamento popular. Os brasileiros parecem narcotizados;
envoltos em alguma atmosfera inominável. Há que descobrir o que se desconhece e
fazer poesia da verdade nua.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
José C. Neto, Térsio Greguol, Deusdeth J. Amorim e Mariana
Porto.
Recomendo a leitura de:
“Moderação Carnal”, de António MR Martins:
Sobre o discurso do ex-Presidente Lula:
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo
domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura,
Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Nuvens do amanhecer – foto do autor.
Rubem – foto de Vinícius Siman.
Manuscrito e digitado na manhã de 18 de janeiro de 2019;
trabalhado entre os dias 16 e 28 de abril do mesmo ano.
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