domingo, 8 de março de 2020

UM DIA SEREI SILÊNCIO, MAS NÃO HOJE



Larôyê Exu, meu Santo Antônio! Exu é Mojubá! A vós, Mensageiro Exu, meus respeitos! Eu te peço, Exu:
Mensageiro dos Orixás e do próprio Olorum, proteja-me da inveja e do olho gordo; mantenha meus caminhos abertos no amor e nas finanças; oriente minhas palavras escritas e faladas. Larôiê Exu! A vós, Santo Antônio, meus respeitos!


É uma manhã nublada e um pouco fria, apesar de estarmos em março. Nem por isso deixamos de tomar uma cervejinha.
- Belo presente que o Galo deu ontem pra mulherada.
- E pros homens também.
- Um brinde ao Galo.
- Tô fora!
Riem e como a conversa é descontraída muda de rumo mal se dando conta disso.
- Já houve o tempo em que os políticos não discursavam expondo seus ódios e ignorâncias. Contudo, hoje os maiores números de votos vão para a estupidez e para o mal.
- Levitsky, li no livro “Tudo que você precisou desaprender para virar um idiota”, da Meteoro Brasil, disse: candidatos que se demonstram autoritaristas no discurso costumam fazer o que falam quando empossados.
- Sei que Levitsky explicou as quatro etapas para identificar um político autoritário.
- Lembrando que o autoritarista não tem autoridade; só violência.
- Rerrê. Verdade. Mas como dizia, há quatro etapas para saber se o político tem autoridade ou se só é autoritarista: O político rejeita as regras do jogo democrático; seus discursos encorajam a violência; nega a legitimidade da existência de adversários; por fim ele dá a entender que prejudicará seus adversários ou lhes diminuirá a liberdade civil.
- Mas hoje é oito de março e a Sinistra Danares disse que nada há a comemorar.
- Verdade. Não se comemora algo triste. O feminicídio brasileiro é algo ainda assustador. Rubem Leite, em seu cronto Silencio e Trovões, falou: Se as pessoas se assustassem com a mortandade feminina no país como se amedrontam com um vírus com menos casos que hepatite, aids, dengue, zica…
- Quando ele disse isso?
- Domingo passado.
- E a questão do negro e dos gays? Vi recentemente uma postagem no fb dizendo que trinta anos atrás se um menino chamasse outra de “viado” o outro retrucava com uma resposta machista. Mas não disse isso de modo crítico; aliás, quem postou nem deve ter percebido o machismo disfarçado de piada. E nos dias atuais se um menino chama outro de viado é tachado de homofóbico.
- Você fez algum comentário?
- Sim. Algo mais ou menos assim “Também já foi comum chamar alguém de macaco, mas hoje já se sabe que isso não engraçado. Por que seria engraçado chamar alguém de viado?”. Três pessoas curtiram. E dois me responderam. Um falou: “Sempre chamei meus amigos de macacos e nunca faltou risada. Até porque em vez de ficarem ofendidos eles arrumavam um argumento do cu pra zoar de volta”.
- Diz o que Rerregina Senharte falou sobre o pai dela: “Quando conheci Boçalnato encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, que faz brincadeiras homofóbicas, um jeito masculino… que chama brasileiro de preguiçoso e dizia que lugar de negro é na cozinha; sem maldade”¹. Mas e o outro, o que disse?
- Falou que no Espírito Santo é comum chamar o outro de viado assim como em São Paulo chamam uns aos outros de “cuzão”, “arrobando”.
- E não percebe o machismo homofóbico?
- Não. Talvez por não ser homossexual lhe falta empatia e vê tudo como brincadeira. Como Rerregina Senharte afirma ser apenas brincadeira dizer que lugar de preto é na cozinha.




Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eunice Profeta, Lene Teixeira, Jacomar A. Braulio, Gustavo Fernandes e Thiago Vaz.

Recomendo a leitura de:
Ultimada hecatombe”, de António MR Martins:
http://poesia-avulsa.blogspot.com/2020/03/ultimada-hecatombe.html
Escravidão”, vol. 1, de Laurentino Gomes:
www.globolivros.com.br

¹ https://pipocamoderna.com.br/2018/10/regina-duarte-defende-racismo-e-homofobia-da-boca-para-fora-de-bolsonaro-em-entrevista-polemica/
https://veja.abril.com.br/entretenimento/regina-duarte-diz-que-bolsonaro-e-doce-e-homofobia-e-da-boca-pra-fora/
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,homofobia-de-bolsonaro-e-da-boca-para-fora-diz-regina-duarte,70002564696

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
 Cartaz de Rosa Luxemburgo foi tirada do fb;
 Foto do autor pelo autor.

Escrito na manhã de 08 de março de 2020.