Iria-me embora para Ratanabá
Porque aqui sou inimigo do rei
- um boçal sem igual -
Lá teria quem eu quisesse
Na casa que escolhesse
Mas como não é Brasil
Quem escolheria
Tinha que escolher-me também.
A verdade, porém,
Lá e cá
Reciprocidade é rara.
Em Ratanabá
Teria a felicidade que aqui não há
A existência seria aventura
Mas desventura está nos dois lugares
Quem crê é inconsequente
Paz só tem os dementes.
Em Ratanabá teria tudo
Seria outra civilização
Menos antiga que a Terra
Mais antiga que a humanidade
E quando eu estivesse mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite tivesse
Vontade de me matar
Não me esqueceria
Sou inimigo do rei
- o boçal sem igual -
Tal qual aqui não teria
Quem eu queira
Quem me queira
Ratanabá não existe
Como não existe
Cérebro funcional
Na cabeça do rei:
Messias sem milagre
A zombar de quem não respira
A comemorar CPF cancelado
Principalmente dos bem mais velhos
E cujo filhos
- Todos zero
01, 02, 03, 04
E, para o rei boçal,
A menos que zero
A 05 -
Todos educados
A não se casarem
Com negros
A tirar até o último centímetro
Dos povos originários
A surrar
Os meios 'gayzinhos'
Ratanabá não existe
Tal qual Brasil pra toda gente.
Só me consola
Ter aos meus
Olhos, ouvidos, narinas, língua e pele
A fauna, os livros e a flora.
E não preciso fugir pra Ratanabá.
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Rubem Leite
O que sinto e penso não sei a quanto tempo escrevi na manhã de 17/7/2022.
Foto do autor.
Um comentário:
Uau!@
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