Rubem Leite – 14-15\4\10
- Usa! Usa! Usa! Usa!
- Uga! Usa!
- Uga! Usausa!
Discutem escondidos os três guerreiros apontando a mulher com o casal de adolescente buscando água na fonte. No ataque
- Bra! Bra!
- Afro al!
- Afro as.
- Alas asal.
Os guerreiros prendem os irmãos enquanto a mulher foge desesperada. Arrastam os acorrentados por três dias. Doze são os prisioneiros mais os quatro os guerreiros que se juntaram aos nossos conhecidos. Totalizando – entre guerreiros, escravos e oferendas – quarenta e nove.
Gargalhadas. Piadas. Zombarias. Ofensas. Tapas. Fome. Sede. Cansaço. Desesperança.
Barulho de passos e gritos de guerra chegam de repente assustando.
Trezentas e tantas cabeças armadas até os dentes com pedras e lanças chegam para salvar os dois irmãos.
Gritos. Gritos. Sangue. Sangue. Sangue. Choro. Choro. Dor. Medo. Angústia.
Voltam para casa os trezentos e tantos guerreiros levando os dois irmãos e quinze escravos e oferendas.
E ainda hoje isso se repete nas empresas, nas ongs, nas nações.
E eu? O que ainda estou fazendo aqui?
Corpo verde, azul, amarelo e vermelho, barriga amarela, cada pena do rabo é amarela, verde e vermelha. Um beija-flor. O beija-flor atravessa o pó da Via Láctea osculando cada estrela, polenizando cada orbe. Tudo num átimo no íntimo do meu olho direito. Perfazendo o mesmo na íris esquerda. Moral da estória? Sei lá. Diga-me você. Apenas viajo.
Semente lançada não encontrou o solo. Perdeu-se.
Persisto.
Semente lançada encontrou o solo. Venceu.
Flor em flor germinam em frutos.
Sementes germinam novas flores.
Vejo ao longe um jardim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário