Rubem Leite
Os pais Dr. Glauber não eram pobres, mas não chegavam a ser ricos. Então ele amealhou grande parte de sua fortuna com o próprio esforço. Não havia sábado, domingo ou feriado nem Natal, Páscoa ou Dia dos Pais que Dr. Glauber chegasse depois das nove horas ou saísse antes das vinte e uma horas. Era um homem realmente trabalhador, bem sucedido, Capitalista. Porém, trabalhou pouco com sua mulher, Dna. Lilica, apenas o suficiente para ganhar dois filhos: Ricardo e Helmo. Seu objetivo de vida é lucrar e dois filhos é lucro, mais seria prejuízo.
Num belo dia, e como aprendi com Rosana Mont’Alverne, toda vez que alguém diz um belo dia é porque a coisa vai ficar preta. Pois bem, num belo dia Dr. Glauber passou muito mal e quase foi dessa para melhor. Os médicos fizerem tudo que podia e como ele “podia” pagaram os melhores e mais novos tratamentos. Inclusive um experimental com drogas, pedras e energias cósmicas. E deu certo. Após o fim do tratamento nosso setuagenário Dr. Glauber ficou três dias incompletos dormindo e quando acordou deram-lhe alta. Em casa foi recebido com uma festa que só acabou às cinco horas da manhã. Seu melhor amigo, como estava um pouco bêbado (esvaziou sozinho uma garrafa de uísque escocês de R$3.000,00), dormiu num dos quartos de hóspedes.
No dia seguinte, no desjejum (para mim, pelo horário, deveria ser almoço) Dr. Glauber começou a observar algumas coisas que antes lhe passavam despercebidas. Começou a saber o que os outros pensavam. Espantando ouviu o pensamento dos filhos, da esposa, do amigo, do empregado.
– Que merda! A praga do velho não morreu. Escapou.
A voz do sorridente Ricardo lhe assustou.
– Velho fedaputa! Já estava pensando na viagem que iria fazer no Ferrari que sonhei.
A voz do Helmo se fundia com o som “Pai, quer mais um pouco de suco”?
– Ai, que pena! Pensava que finalmente poderia gozar. Gozar a vida. Gozar tuuuudo que sempre me foi negado.
Não estava entendendo porque Lilica disse isso.
– Que foi que disse, querida?
– Nada, Glauber. Estou quietinha como você gosta.
– E eu pensando que finalmente poderia casar com a Lilica e desfrutar tudo isso que eu sempre quis sem depender da boa vontade do velho. Ah! Lilica... Sabe dá melhor que piranha de bordel chique.
Finalmente começou a perceber que ouvia a voz cerebral das pessoas.
– E eu crente que finalmente ficaria livre do velho babão. Acha que só porque moro no Nova Esperança sou vadia.
Essa talvez tenha sido a gota d’água. Dr. Glauber simplesmente se levantou, foi ao escritório e de lá saiu uma hora depois direto para o necrotério autopsiar a bala na cabeça.
Então não era bem verdade que Dr. Glauber só pensava
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