segunda-feira, 2 de agosto de 2010

ASAS PÚRPURAS – DE UM BEIJO ALÇANDO VÔO e SUCATA HUMANA: CAMPO DE REFUGIADOS

por Nena de Castro e Marilia Siqueira Lacerda

(Deixai toda esperança, oh vós que entrais!
Canto III - 9 – Inferno - A Divina Comédia, de Dante Alighieri)

Sob o canto do vento
e das folhas caídas
– qual asas púrpuras de
um beijo alçando vôo –
precipito lânguidos desejos
onde as palavras
são pássaros fugazes
que cativam e seduzem.

Faço planos por razões
fragmentadas e inconfessáveis
para o cair das manhãs...

(– nas reticências busco
o ponto inatingível do infinito).

Concedo-me escolhas

despida de ânsias e medos

(– qual céu azul mirando-se

no espelho das águas)

com o entusiasmo de alma
rica de poesia e sentimento.

Naquele terrível lugar, não há brisa que acaricia, só vento quente que traz a peste. Naquele lugar não voam nem cantam pássaros, a não ser os corvos imaginários que, em revoada, fazem sombra para a Morte. Naquele lugar, antessala do inferno, portal do Haden, jazem seres quase espectrais, envoltos em mantos esfarrapados e dor. Ali a luz do sol não é alento, e a noite multiplica os terrores. A sede devora, a pobreza devora, a desesperança mata. Ali não há risos de crianças, nem vozes de mães em canções, só desespero e dor. Amontoados como animais, doentes esquálidos esperam que o mundo “cristão” lhes mitigue a fome, lhes dê liberdade, resgatando-os para a vida! Nada, além de bravatas, nada além de reuniões de poderosos, onde muito se discute sem vontade de agir, nada, além dos versos doridos dos poetas que cantam a dor.


2 comentários:

Leticia Duns disse...

Nossa que lindo !!!

Gosto especialmente desta obra, me encanta o canto V do Inferno, quando puder, dê uma analisada, é o mais belo (em minha opnião)!

Gostei muito da análise !

Abraço !

Leticia Duns disse...

Ahhhh, Adorei a foto com o Sketchbook, que bom que gostou !

Abraço, Le.