Obax anafisa.
Manhã
indecisa. Não sabe se se ensolara ou se nubleia. Saio do hipermercado comendo
uma salada de frutas e quase no seu finzinho, já com os pés na Praça dos Três
Poderes, bem de frente ao coreto “Oi! Me dê um pouquinho”. É um rapaz de
calção, sem camisa e um troço branco envolta dos lábios. Olho para o que tenho
e não dá nem para duas colherinhas. Olho melhor para ele e vejo uma calça
vermelha com lista amarela, uma camisa preta e um colete rubro na grama aos seus pés. Um
palhaço, um artista.
- Vou lá
comprar um para você.
- Oba! Ele
vai comprar pranóis.
Algo marrom-terra
se mexe. Deve ser um ser humano, talvez um homem, não tenho certeza. Compro
duas saladas, dois quibes e entrego para o rapaz que se torna todo sorriso. “Ôôba!
Ele trouxe mesmo. Varão! Que Deus lhe abençoe. – Pega a sacolinha. – E tem
salgadinho também. Varão, que Deus lhe dê em dobro. Qual é seu nome? Eu sou Guebel Stevanovich. – Pega na minha mão. – E
tem pra nós dois. Varão, que o Salmo 73 lhe ilumine. ‘Deus é bom para os puros de
coração’.” No chão, ainda deitado e enrolado por sua coberta, um bigode preto
numa cara comprida. Agradeço as bênçãos e me afasto tendo em meus pensamentos o
termo “varão” e a supervalorização de um gesto simples.
Varão é um
modo de designar o homem do gênero masculino. Porém, em meu entendimento é
esquisito, mesmo sendo bíblico e tudo mais. E no contexto tinha um quê de
elogio por gesto que nada tinha de especial. Interessante mesmo é pensar em Jeová Aguiar , que
sozinho e com recursos próprios, escassos, busca a memória de Ipatinga e região,
mostrando em suas duas mil peças que apesar da história municipal se confundir
com a da Usiminas existe muito mais. Antes já haviam os tropeiros, carvoeiros,
ferroviários, índios.
Hoje existem
usuários de drogas. Caminho com meus cachorrinhos e um motociclista pára no
cruzamento da Uberaba com Sabará e fala “Benito?!”. Levanto a destra em
cumprimento, reconheci a voz. Ele se aproxima, abre o capacete e no seu olhar
tristeza e dor. Quer parar, mas não consegue. Em seus lábios sorriso por me
ver. Em seus ombros meu abraço. Um rapaz bonito que virou, exageros à parte, um
homem carcomido.
Hoje existem
usuários de craque e políticos. E existem varões e viragos – homens dos dois
gêneros – que são piões da Fábrica e há os que resgatam a memória, trabalham
arte, educação, cultura, religião. Dos últimos me refiro àqueles que realmente
trabalham para Deus. Existem eu, você e outros. E também têm cachorrinhos.
Criaturas sempre pré dispostas à curtir a vida; que sabem ser feliz.
Ofereço
aos aniversariantes
João
V. Maciel, Carlos Glauss, Marilda Lyra, Simone Penna, Guilherme Costa, Rubem
Junior, Simone A. Souza.
E
ofereço aos jogadores, administradores, funcionários e, principalmente,
torcedores do Clube Atlético Mineiro. Viva o GAAALOOOOO! VIIIVAAAAA!
Aliás,
no Atlético tem poucos torcedores; o que existe é Atleticano.
Em banto, obax anafisa
significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço
votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre 10 e 20
de agosto de 2012.
2 comentários:
uma bela crônica Rubem, realmente os tempos mudam e sempre temos um leve percepção de que tende para a pior. Mas como O Varão que ajudos aqueles que precisavam sempre existirão pesoas boas.
A Ultima postagem do meu blog, não sei se já viu http://www.surfistadebanzeiro.com/2012/08/e-eu-tambem-sou-unico-para-ti.html
e esse texto que fiz e postei no face. Espero que goste. https://www.facebook.com/notes/ot%C3%A1vio-m-silva/vendido/3519493478207
Meu ultimo post, dessa vez é uma crônica, espero que goste: http://www.surfistadebanzeiro.com/2012/08/vendido.html
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