segunda-feira, 20 de agosto de 2012

VARÕES E VIRAGOS


Obax anafisa.



Manhã indecisa. Não sabe se se ensolara ou se nubleia. Saio do hipermercado comendo uma salada de frutas e quase no seu finzinho, já com os pés na Praça dos Três Poderes, bem de frente ao coreto “Oi! Me dê um pouquinho”. É um rapaz de calção, sem camisa e um troço branco envolta dos lábios. Olho para o que tenho e não dá nem para duas colherinhas. Olho melhor para ele e vejo uma calça vermelha com lista amarela, uma camisa preta e um colete rubro na grama aos seus pés. Um palhaço, um artista.
- Vou lá comprar um para você.
- Oba! Ele vai comprar pranóis.
Algo marrom-terra se mexe. Deve ser um ser humano, talvez um homem, não tenho certeza. Compro duas saladas, dois quibes e entrego para o rapaz que se torna todo sorriso. “Ôôba! Ele trouxe mesmo. Varão! Que Deus lhe abençoe. – Pega a sacolinha. – E tem salgadinho também. Varão, que Deus lhe dê em dobro. Qual é seu nome? Eu sou Guebel Stevanovich. – Pega na minha mão. – E tem pra nós dois. Varão, que o Salmo 73 lhe ilumine. ‘Deus é bom para os puros de coração’.” No chão, ainda deitado e enrolado por sua coberta, um bigode preto numa cara comprida. Agradeço as bênçãos e me afasto tendo em meus pensamentos o termo “varão” e a supervalorização de um gesto simples.
Varão é um modo de designar o homem do gênero masculino. Porém, em meu entendimento é esquisito, mesmo sendo bíblico e tudo mais. E no contexto tinha um quê de elogio por gesto que nada tinha de especial. Interessante mesmo é pensar em Jeová Aguiar, que sozinho e com recursos próprios, escassos, busca a memória de Ipatinga e região, mostrando em suas duas mil peças que apesar da história municipal se confundir com a da Usiminas existe muito mais. Antes já haviam os tropeiros, carvoeiros, ferroviários, índios.
Hoje existem usuários de drogas. Caminho com meus cachorrinhos e um motociclista pára no cruzamento da Uberaba com Sabará e fala “Benito?!”. Levanto a destra em cumprimento, reconheci a voz. Ele se aproxima, abre o capacete e no seu olhar tristeza e dor. Quer parar, mas não consegue. Em seus lábios sorriso por me ver. Em seus ombros meu abraço. Um rapaz bonito que virou, exageros à parte, um homem carcomido.
Hoje existem usuários de craque e políticos. E existem varões e viragos – homens dos dois gêneros – que são piões da Fábrica e há os que resgatam a memória, trabalham arte, educação, cultura, religião. Dos últimos me refiro àqueles que realmente trabalham para Deus. Existem eu, você e outros. E também têm cachorrinhos. Criaturas sempre pré dispostas à curtir a vida; que sabem ser feliz.



Ofereço aos aniversariantes
João V. Maciel, Carlos Glauss, Marilda Lyra, Simone Penna, Guilherme Costa, Rubem Junior, Simone A. Souza.
E ofereço aos jogadores, administradores, funcionários e, principalmente, torcedores do Clube Atlético Mineiro. Viva o GAAALOOOOO! VIIIVAAAAA!
Aliás, no Atlético tem poucos torcedores; o que existe é Atleticano.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 10 e 20 de agosto de 2012.

2 comentários:

Otávio M. Silva disse...

uma bela crônica Rubem, realmente os tempos mudam e sempre temos um leve percepção de que tende para a pior. Mas como O Varão que ajudos aqueles que precisavam sempre existirão pesoas boas.

A Ultima postagem do meu blog, não sei se já viu http://www.surfistadebanzeiro.com/2012/08/e-eu-tambem-sou-unico-para-ti.html

e esse texto que fiz e postei no face. Espero que goste. https://www.facebook.com/notes/ot%C3%A1vio-m-silva/vendido/3519493478207

Otávio M. Silva disse...

Meu ultimo post, dessa vez é uma crônica, espero que goste: http://www.surfistadebanzeiro.com/2012/08/vendido.html