Obax anafisa.
Se pedirmos a
um galho que dê frutos ele dará. Imagine então o que fará uma árvore se lhe
pedirmos frut...
- Donde
cessaiu tem água gelada?
Espanta-me
mais uma vez a abordagem, assim, do nada, que os “nóia” frequentemente me fazem
aqui na rua e só lhe olho.
- É difícil
voltar para onde veio e me pegar água gelada? Tô sem água em casa e tenho sede
de água gelada, não muito gelada, mas bem gelada.
Interpretando
a confusão, pergunto se quer uma garrafa ou um copo de água. É só um copo que a
mulher quer. Trago e lhe dou. Não é exatamente uma dos “nóia”. É uma vizinha,
moradora atual da segunda casa da rua. Às vezes ela bebe cachaça três dias e
trabalha outros sete. Outros momentos trabalha três e bebe sete. Seus pés
pretíssimos com rachaduras horríveis sustentam bambos um corpo que já foi
branco. Suas mãos seguram o copo descartável e seus lábios envolvem sua borda,
a cabeça tomba para trás e o líquido desaparece lentamente. Deixo-a e vou à
padaria com minha filosofia, vã filosofia.
Se pedirmos a
um galho que dê frutos ele dará. Imagine então o que fará uma árvore se lhe
pedirmos fruto. Na verdade não sei se há filosofia ou não. Eu sonhei com isso.
O curioso é que não desapareceu no correr do dia, como geralmente acontece nos
sonhos.
Já é tarde,
apesar de ainda ser de manhã. Estou sentado no gramado do barranco que dá para
o kart. À minha esquerda está seu bar, à minha direita, a antiga igreja
Assembléia de Deus, agora reformada e mais bela. Atrás de mim fica a creche e à
sua esquerda o mangueiral do qual Rubem falou no cronto Terror no Mangueiral¹.
Eu sentado com um apertinho no coração e pessoas, pessoas, pessoas, pessoas,
pessoas que se drogam, que vendem drogas, que se prostituem para se drogar, que
traficam para lucrar ou se drogar. Pessoas, pessoas, pessoas, pessoas, pessoas
com suas ideias não se abrem para as ideias dos outros. Pessoas, pessoas,
pessoas, pessoas, pessoas e eu, também uma pessoa, ainda novo para tanto
desânimo.
Se pedirmos a
um galho que dê frutos ele dará. Imagine então o que fará uma árvore se lhe
pedirmos fruto. Eu sonhei com tais orações que se mantiveram no correr do dia,
sem desaparecer como acontece nos sonhos. É interessante a sua beleza, pelo
menos assim acho. Mas serão filosóficas, será que têm conteúdo? Um galho
cortado se esforçando para atender nossos desejos ou necessidade... Uma árvore
se empenhando em nos beneficiar... É bela imagem, quiçá tenha verdade.
- Ô meu! Que
cê tá fazendo aí? Pensando nas mina?
- Ah! Oi!
Você é...?
- Mário
Neto². A gente se conheceu na festa da tia, dona Emília Domingues, não se
lembra?
- É verdade. Você
é novo na cidade, né? Está passeando para conhecer as redondezas?
- Eu vim com
meu parente, Danilo, conhecer Minas. A gente tá hospedado na casa da tia Emília.
- Espero que
esteja gostando. – Falo e olho para as árvores à minha frente. Mário se senta
ao meu lado para vermos juntos e pergunta: Mas o que você está pensando?
Olho para seu
rosto
- Hoje eu me
entristeci com a alegria de um amigo. Gosto dele, mas seus abraços não me
agradaram. Ri para ele, mas chorei sua alegria.
Seu rosto se
vira para mim
- Ele estava
chapado com álcool e craque.
Nossos rostos
se voltam para as flores das árvores. Um minuto de silêncio e Mário me diz: “Benito!
Se pedirmos a um galho que dê frutos ele dará. Imagine então o que fará uma
árvore se lhe pedirmos fruto”.
Logo à frente
garoam pétalas de uma árvore.
Ofereço como presente
de aniversário
Edilaine S. Peres,
Gunther Estebanez, Joubert Moisés, grande poeta Marília S. Lacerda, Luizin
Ribeiro e Joshua Hammer.
Em banto, obax anafisa
significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me
lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre os dias
17 de outubro e 26 de novembro de 2012.
¹ Ver aRTISTA e aRTEIRO
http://artedoartista.blogspot.com.br/2012/10/terror-no-mangueiral.html
² Para saber mais sobre
o Mário Neto veja o blogue http://gordonemeio.blogspot.com.br/
2 comentários:
ironia existentes no cotidiano humano,a [sociedade como um todo]arvore]consciente e desprézivel diante do obvio e da clara realidade existencial e da alma não dos empobrecidos mas daqueles que simples e mortais sobrevivem ao que lhes foi oferecido,ser um galho não e tudo, mas e um tanto uma parte de um todo,invisivel e sentido naqueles que observam com o olhar da arvore parte dela.frutos diversificados de unica fonte de raiz.
É impossível voltar a ser cego depois de enxergar!
E depois de ver as transformações sociais pelas quais passamos e de saber que não voltaremos mais!
Belo texto e triste realidade a que vivemos...
Interessante a forma como conseguiu retratar este problema... tão sutil e cheio de emoção!
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