Obax anafisa.
No domingo às
onze horas da manhã no camelódromo o homem magro, barba grisalha bem aparada,
camisa azul celeste de mangas compridas, gravata com estampa em seda vermelha,
terno azul marinho sem o paletó, sapatos pretos engraxados e meias também
pretas.
O homem não
feio passeia com um garotão bonito.
O rapaz de
musculatura definida, imberbe, camiseta branca, calça dins rasgada no joelho
esquerdo, botas parecendo coturnos marrons.
Os dois riem
do que falavam.
- O senhor
pode comprar amendoim pra mim?
- Sim, claro!
Param numa
barraca e o adolescente pega um pacotinho.
- Quanto é?
- É seu
filho? – Pergunta a camelô com olhar irritado.
- Não! –
Responde rindo.
- É um real.
– Diz a mulher com raiva pouco disfarçada.
O homem paga,
o jovem come e saem olhando as árvores da João Valentim Pascoal sem dizerem que
são amigos, são professor e aluno. E discutindo as coisas da vida, a língua
portuguesa e nossa literatura. Falando do 7º Salão do Livro de Ipatinga (2013)
e comentando o livro ilustrado que o homem lá ganhou: “Os Lusíadas: episódios
fabulosos”, de Luís de Camões.
“As ninfas do
rio Mondego por longo tempo choraram a morte de Inês, e para que a sua memória
para sempre perdurasse, transformaram as lágrimas em fonte pura, e puseram-lhe
o nome dos amores de Inês”¹. Recita o professor e o aluno responde “Pedro
continuo a amá-la para lá da morte, e quando se tornou rei, mandou que o corpo
de Inês fosse sentado no trono; e ali, depois de morta, a fez rainha”¹.
Enquanto os
dois conversam pela cidade penso nas pessoas que plantam azáleas para e por
aqueles que se vão. E penso também nos que escrevem. Ambos, creio, não fazem em
vão.
Ofereço o cronto à Nena de Castro, grande jardineira das palavras e
amiga melhor ainda. Força para superar o passamento de sua mãe e coragem para
transformar suas dores em flores e folhas.
Ofereço também ao meu tio Du (Sebastião M. Weber), que retornou ao
mundo espiritual na noite de 08 de maio de 2013. E ofereço aos seus irmãos [Mª
Ettiene (minha mãe) e aos tios Beto, Celeste e Belinha] e à sua esposa, tia do
Carmo.
Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. Os versos
e a ilustração são nossas flores para você, que me lê, e fazemos votos de que
encontre neles pedras preciosas.
¹ CAMÕES, Luís de (seleção e adaptação de Elsa P. Magalhães). OS
LUSÍADAS. Rio de Mouro (Portugal): Girassol Edições Ltda. Canto III.
Escrito entre 16 abril e 09 de maio de 2013.
Um comentário:
Mas não mesmo Rubem. Pode ter certeza absoluta disso. E é mesmo fundamental que a gente se dê conta da nossa existência fugaz. Reverberar no outro, no mundo é algo que nos cabe. E quando o fazemos, somos invadidos por uma enorme alegria. Não é? Adorei vc ter levantado essa questão. Vc é mesmo um rapaz sensível e amoroso. O mundo agradece.
Postar um comentário