Obax nafisa.
Sometimes I wanted to be stone, but I’m poet.
É
uma sibipiruna florida. E pássaros cantam sobre ela. Benito e seus amigos José
Silva (morto algumas semanas depois do diálogo e algumas semanas antes da
publicação do cronto)¹ e Eva conversam sob a árvore.
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Vejam a aldravia de Rubem:
cristãos
comemoram
morte
divertem-se
com
sofrimento
comemoram
morte
divertem-se
com
sofrimento
-
É! É triste, mas é verdade. – Fala José e Eva continua:
-
Sei não... Se fôssemos comemorar a morte mataríamos alguém. Abram os olhos e
viva Cristo.
-
Como disse Cristo: “Seus pais mataram e os filhos fizeram o túmulo”. – Responde
Benito. – Significa que concordam... Não sou cristão. Gosto muito de Cristo...
-
Então por que fala estas coisas? Acredita que coelho bota ovo e você fica se
divertindo com chocolate. – Retruca Eva. – Sacrifício não é sinônimo de amor,
Benito. Sinônimo de amor é gentileza.
-
Eva, está difícil entender o que diz. Parece que me perguntou se acredito em
coelhinho da páscoa ou se em Cristo. Não acredito em coelho da páscoa, mas acredito
em Cristo. Não acredito é em cristão.
-
Não se comemora a morte e sim a Ressurreição, a vida nova. É essa a alegria do
momento. Antes disso, apenas reflexão sobre a Paixão e Morte de Jesus.
-
As pessoas, querido amigo Benito, não enxergam Cristo como um ícone de
libertação, mas como um objeto de sacrifício e mazelas. Eu O vejo como um
Iluminado que veio ao mundo para pregar, não uma religião ou um dogma
religioso, mas sim a bondade construída sobre os alicerces do amor.
Eva
olha para uma flor de sibipiruna no solo, próxima ao seu pé direito, e diz: Se
Ele não tivesse se sacrificado nós nem existiríamos. Então me diga a razão de
vocês estarem vivos.
-
Eu lhe diria, Eva, que há controvérsias a esse respeito. A verdadeira história
está encoberta sob um véu... E para muitos deve continuar assim. A verdade tem
muitas faces nesse caso. Eu diria que cada um carrega a sua.
-
Ora, José! Então quem morreu por você? Quem sacrificou a vida dele por você,
Benito? Eim?
-
Ninguém! Acho que há muitas inverdades nisso tudo. Acredito em Cristo e que Ele
veio até nós para nos deixar seu legado de amor, não de morte, tragédia e
sacrifício. Desculpa! Mas é minha opinião.
-
Então você acredita que nossos antepassados são macacos! Não fiquem magoados
comigo... É uma discussão, não uma briga.
-
Não nos ofendemos. – Diz Benito e José continua: Na verdade, acredito na lei de
Darwin, na evolução das espécies.
-
Mas se foi a evolução das espécies... Quem foi Deus para você? Um animal!
-
Deus para mim é energia pura.
-
Mas para você, como Ele surgiu?
-
Estou vendo que você tem muito conhecimento, Eva. E é muito inteligente. Um
pouquinho imatura, mas não é tola.
Momentos
antes chegaram Dândi e Dôni. Após os cumprimentos de praxe eles se sentam,
observando-nos em silêncio se interam do assunto.
-
Eu e Dôni estávamos lendo hoje um poemeto de Willian Delarte. Vejam que
interessante: “PAIXÃO NO ALEMÃO: Chora
Terezinha... Chora Terezinha Maria... O filho Eduardo... O menino Eduardo...
Eduardo de Jesus não ressuscitará no terceiro dia”². Creio que não seja
uma comemoração ou divertimento. Através do sacrifício de Jesus muitas pessoas
se integram ao verdadeiro sentido da vida, remindo seus pecados no Amor de Deus.
Jesus morreu, mas Cristo venceu a morte e está vivo. Prestes a resgatar àqueles
que clamam o santo nome. Não há inverdade nem várias verdades, mas existe fé.
Contudo, Deus é Amor e para enxergamos o Amor temos que reconhecê-lo. Cristo
morreu por nós e para opinarmos corretamente temos que nos pautar em fatos.
-
Só mesmo a poesia para nos ajudar. – Diz Dôni e em um minuto de silêncio
olhamos para as flores amarelas na árvore, para as pessoas que passam por nós e
para o vento. – Estou meio doído esta semana, mas foi maravilhoso perceber que mesmo
com os cristãos se divertindo ou justificando sofrimentos, Cristo ainda dá
esperança. Então, mesmo que eu veja tanta desordem, mesmo que “os fundamentos
do mundo se abalem”, eu prossigo feliz. Divirto e creio que Ele me ajuda a
fazer alguma diferença.
-
Já eu – diz Benito – me encanto com as flores da sibipiruna acima de nós. Mas ao
mesmo tempo vejo crianças sírias se rendendo diante de uma máquina fotográfica
pensando que é uma arma. Vejo a polícia brasileira matando crianças de dez
anos. Vejo a preferência de muitos e muitos em punir crianças e adolescentes no
lugar de investirem em escolas, bibliotecas, arte, cultura. Vejo templos
indígenas sendo queimados em nome de Cristo. Cachorros sendo abandonados.
Vereadores indo para lindas cidades costeiras dizendo que vão se aprimorar. Políticos
e religiosos pregando o ódio. – Pausa para um suspiro. – Estou tão descrente.
Quase tenho vontade de nem sei.
E
pássaros cantam na sibipiruna florida enquanto o vento brinca com nossos
cabelos e com as páginas dos livros que levamos. E os amigos se levantam e vão.
Um
pássaro no telhado marrom
Tem
atrás nuvem vermelha
Por
cima o céu está azul-cinza
Abaixo
a grama verdeja.
Ofereço
aos aniversariantes
Roberta
Bragança, Mithswillian Paiva, Delsyn Carvalhais, Marcone Alvarenga, Carlos
Passos, Malu Ricardo, Mel de Faria, Sadd Nunes, Nívea Paula, Carmen L. Souza, Lída
Mª F. da Cruz, Arlete Santos, Marcos Inter, Tamara Oliveira, Cleria E. Dutra, Ricardo
Tulio e ao casal Bruno Grossi e Diane Mazzoni em suas bodas de lã.
¹
http://artedoartista.blogspot.com.br/2015/03/terra-tingida.html
e http://artedoartista.blogspot.com.br/2015/03/olhares.html
²
Willian Delarte – facebook – 03-4-2015.
Em
banto, obax nafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas
flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito
entre 17 de abril de 2014 e 06 de abril de 2015.
Um comentário:
Interessante esse seu texto amigo Rubem Leite. Como sempre belos textos.
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