Sugiro a
leitura deste cronto ouvindo a música
“1965 (Duas
Tribos)”, do Legião Urbana:
A tarde no Parque Ipanema está quente, mas debaixo destes
pés de eugênia parecem vir uma suave salvação. Menos acalorados, Benito Bardo
Junior, Girvany de Morais, Lizardo de Assis, Julian Cabral e Vinícius Siman discutem
a sociedade.
- Estudiosos da Bíblia usam de eufemismo ao se
referirem a certos trechos delas. – Diz Benito. – Como chamar de “serva” a
escrava de Sara que fora violada por Abraão. Afinal, ‘escrava’ mostra melhor
que ela fora estuprada, enquanto ‘serva’ sugere que Agar dormira com ele porque
quis...
- O mesmo se pode dizer das nações. Os países,
principalmente os mais poderosos, usam de eufemismo quando mencionam seus erros
ou malfeitos; diz Chomsky. E usam disfemia quando mencionam os erros ou malfeitos
contra eles. – Girvany partilha suas ideias. – O mesmo fazem os indivíduos. E
quanto mais poderosa é a pessoa, mas a culpa recai sobre o outro. Para a elite
o bom inimigo é a que lhe dá lucro. Entenda quem tem cérebro.
Benito e Girvany discutem enquanto Vinícius, Lizardo
e Julian refletem.
- O que as nações comemoram é amostra do que
provavelmente virá a ocorrer. O que se semeia germina quando dela se cuida. –
Interpõe Vinícius. – Estados Unidos, por exemplo, comemora o Pearl Harbor, mas “esquece”
o que fez com a Indochina, Vietnã do Norte, Camboja e o Vietnã do Sul; e este
último, mesmo passado cinquenta anos, ainda tem perdas de vida provocadas pelos
cancerígenos lançados por USA.
Julian modifica levemente o assunto ao falar da força
do corpo em relação à ética, à educação e à moral:
- El
cuerpo humano, como torrente colina abajo, despeña semen y óvulo. Quiero decir,
el poder del sexo es el poder de la carencia física y esta es destructiva.
- Eufemismo... Como lembrou Vinícius, transformamos
em datas comemorativas os dias horríveis. Sobre o pretexto de relembrar para
não repetir. Talvez tenha sido esse o objetivo de alguns dos muitos que criam
tais datas. Mas não é o que o ser humano faz na prática do cotidiano. O oito de
março é um exemplo mundial. O dezesseis de agosto é um exemplo Latino-americano.
E o vinte e um de abril é um exemplo brasileiro.
- Día
de los Niños en Paraguay… En el año de 1869 la Guerra del Paraguay estaba cerca
del fin; lo sabemos hoy. En aquél 16 de agosto el ejército brasileño asesinó
tres mil quinientos niños paraguayos. Y el Tiradentes es solo para divertir y
no para hacer de Brasil la gran nación que idealizó.
- Triste o motivo de um país ter como data
comemorativa um mal feito brasileiro. Partindo disso e pensando no que Julian
falou sobre sexualidade, mudo um pouco o assunto. Falarei sobre a violência de
gênero na adolescência. – Lizardo não mais mantém para si seus raciocínios. – O
jovem tenta desempenhar alguns papéis sociais para construir sua identidade,
mas quando não consegue bom desempenho fica confuso em sua identidade. Assim, o
estresse, por ser inevitável, afeta a maneira como o adolescente enfrentará sua
compreensão do mundo, como reagirá ao outro e...
- Que livro é esse?
Um menino interrompe a conversa. Ele vira a capa do
livro “A Lógica dos Devassos”, de Ezio Flavio Bozzo e ficou curioso. Por ser ele
muito pequeno Benito recorre também a um eufemismo... A questão que me surge é:
o propósito deste eufemismo e dos acima discutidos são os mesmo?
- Este livro fala do que não se deve fazer com as
crianças. Este outro, que se chama Pedagogía del Oprimido, ensina como um
professor deve ensinar para que os alunos se tornem pessoas melhores e livres
de verdade. Os outros dois são Quem Manda no Mundo? E Um Norte para a
Psicologia.
- Como você se chama?
- Sou Benito, e estes são Julian, Vinícius, Girvany e
Lizardo. E qual é o seu nome?
- Arthur, com dois “r”, um no início e outro no fim;
mais um “h” no meio do “t” e do “u”...
A mãe do garoto o chama para irem a algum lugar que
não interessa a essa história e que para aqui porque a vida continua e cada
qual tem que pensar e agir.
Ofereço aos meus
mais recentes contatos no “caralivro”:
Adinagruber C.
Lima, Wilson Filho, Bárbara Brasil e Marcus Stymest.
Fontes de
informação para este cronto:
CHOMSKY, Noam. Quem Manda no Mundo?. Renato Marques
(trad.). São Paulo: Planeta, 2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogía del Oprimido. 3ª ed. Buenos
Ayres: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2009.
LIZARDO DE ASSIS,
Cleber. “Entre Tapas e Beijos”: representações sociais sobre a violência de gênero
entre adolescentes. Um Norte para a
Psicologia: estudos psicossociais na Amazônia Ocidental. Organização:
Cleber Lizardo de Assis. Curitiba: Editora Prismas, 2018.
“Essa música que a gente vai tocar agora é do Quatro
Estações, se chama 1965 – Duas Tribos e assim, eu nunca vi ninguém falando
sobre essa música, mas, basicamente, a música é sobre o um momento no nosso
país que de repente fechou tudo. / E eu acho sempre importante lembrar, eu pelo
menos gosto sempre de me lembrar que hoje a situação pode tá difícil pra
caramba mas, temos uma coisa muito preciosa que é liberdade, então, eu posso
vir aqui cantar, vocês podem vir aqui, vocês podem fazer a pergunta que
quiserem. Isso eu acho uma coisa muito, muito importante, por que a gente se
esquece que até pouco tempo atrás, de repente dependendo das ideias que seu pai
tivesse, seu irmão, sabe, seu namorado, iam bater na sua casa, eles iam pegar
essa pessoa e você nunca mais ia saber o que tinha acontecido com essa pessoa e
ficou por isso mesmo, e não se fala nisso. É uma coisa muito perigosa de tipo
assim: ‘não, a gente era feliz naquela época.’
/ Gente, eu não me lembro de ser
feliz naquela época, não. Fazer redação dizendo que o presidente é maravilhoso,
quando muito tempo depois, a gente descobre que pessoas estavam sendo mortas em
nome de uma grande coisa que não se sabe o que é, então eu acho isso muito
péssimo. E a música é sobre isso. / A música fala especificamente de tortura e fala
dessa ideia toda do Brasil ser um país do futuro. E é sobre como seria legal se
a gente encaminhasse o Brasil pra ser um lance legal por que chega de ser o
país do futuro! A gente tem que ser o país do presente! Temos que viver agora.”
Blog de Geografia. Renato Russo fala sobre a música
1965 (Duas tribos) e a ditadura militar. Disponível https://suburbanodigital.blogspot.com/2018/04/renato-russo-fala-sobre-musica-1965-duas-tribos-e-a-ditadura-militar.html?m=1 . Acesso 31 Ago 2018.
Blog de Geografia. Exercícios, atividades, mapas,
vídeos, reportagens e dicas educacionais. Este é um blog geográfico de
divulgação do conhecimento e de ideias. Texto postado em 30 de abril de 2018. O
discurso de Renato Russo foi feito na década de 1990, no entanto, ainda e
infelizmente, bem atual.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também
professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Eugênia Sombrosa – foto do autor.
Vendo-me Além da Janela – foto de GirvOli.
Manuscrito na manhã
de 03 de setembro de 2018 e digitado no início da tarde daquele mesmo dia.
Trabalhado entre os dias 31 de dezembro e 06 de janeiro de 2019.
4 comentários:
Muito bom como sempre!
Simplesmente brilhante! Abordagem atual e "polêmica" de contextos tão necessarios e que não devem ser esquecidos e ainda poetizada com tanta leveza! ❤
Sensacional!
Gostei muito!
Parabéns!
Gostei Rubem.Más de Una cosa no estoy de acuerdo del supuesto estupro de Agar cometido por Abraham ya que es palabra de Dios escrita por el Espíritu Santo.Del hijo de Agar Dios le prometió multiplicar en multitud su descendencia y así lo hizo.Ahora si de acuerdo que hay políticos que usan a Dios y en nombre de él cometen atrocidades.Mi humilde opinión espero no ofenter🙏🙏
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