domingo, 13 de janeiro de 2019

JANELA PARA AS NUVENS



En el mundo de los libros de lectura […] las mayorías de las veces el pobre aparece solo para que sea afirmada en voz alta su condición privilegiada, su serena felicidad, su proximidad a Dios. (BONAZZI, ECO, 1974)


Da paisagem vista pela janela, metade da parte superior é perdida pelo toldo cinza; um terço da parte de baixo é o telhado da vizinha; e um quarto da visão lateral esquerda é a parede de outro vizinho. Tudo em sujos tons de cinza, marrom e vermelho. E do que sobra, hoje se vê nuvens claras em um céu azul esbranquiçado.
Vozes da casa do vizinho chegam altas, mas incompreensíveis.
Pensa no que disse ontem: Quem quer ser famoso não consegue porque investe na forma, na propaganda; não no conteúdo, na qualidade.
Mas ele próprio quer reconhecimento. Reconhecimento e respeito em vida; não depois de morto... Reconhecimento, respeito e dinheiro vindo de seu trabalho. Por isso investe mais na qualidade do que na propaganda. Crê no que diz. Incomoda-lhe a injustiça de outros se fartarem do esforço do artista.
- E o que tem de mal em seus parentes lucrarem? Ele é um egoísta, isso sim.
- Parentes que quase sempre nunca lhe apoiaram e mais comumente ainda lhe criticaram, agrediram, prejudicaram, zombaram.
- Parente é tudo; não importa se apoia. A utilidade do artista é dar satisfação; seja ao público, seja aos parentes... Não importa a quem.
- Parente não é família e familiar não é sangue.
- Mas é como o pobre, cuja utilidade é permitir a caridade que satisfaz os em melhor posição... Políticas públicas impedem o bem estar das elites em sentir-se o quão boas são. Já que os artistas só têm para vender a sua arte e os pobres, os seus braços, que aceitem então o intelecto de quem possui mais.
- Suas ideias são acéfalas. O topo da elite sabe que a “função” do pobre não é essa, mas sim mantê-la. Contudo, essa é a ideia que passam para classe média, que não passa de pobre iludido, achando ser elite. Mas os artistas – os artistas de verdade – não se deixam enganar e proclamam em suas escritas, pinturas, danças.
Os interlocutores em sua cabeça discutem enquanto ele olha pela janela a ver as nuvens.


Ofereço aos meus mais recentes contatos no caralivro:
Jacomar A. Braulio, Alcides Ramos, João Gabriel, Tiago Bastos, Ju Ferraz, João R. Laque.

Recomendo a leitura:
“Tipos de Escritores: os ensimesmados e os conversadores”, de Caio Riter:

BONAZZI, Marisa; ECO, Humberto. Los Pobres. Las Verdades que Mienten. Buenos Ayres: Editorial Tiempo Contemporaneo, 1974. P. 21-22.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Janela toldo paredes – Foto do autor.
Rubem dando bandeira – Foto de Vinícius Siman.

Manuscrito em 31 de agosto de 2018. Digitado dois depois; trabalhado nas duas línguas entre os dias 07 e 13 de janeiro de 2019.

Um comentário:

MM disse...

Bravo x os artistas de verdade,que nâo se dexam enganar e proclaman em suas escritas seus ideas.