Pedro atirava borracha escolar nos cabelos
de Máximo porque achava engraçado o quique da borracha nos cabelos do negro.
Pedro ria sem ver sua maldade. O negro ria
escondendo sua dor no mundo onde são, na melhor da “hipotecrisias” piadas.
Mariano ajudava na missa e depois ia à casa
do padre estudar. Este bem sorria na chegada e na saída do coroinha.
Religiões são boas para nos levar ao bom
caminho... Não há mais o que saber.
Rodolfo era o filho malquisto, o aluno
malquisto, o colega malquisto. Todos riam de sua “inocente burrice”.
A professora Helen Keller via mal o garoto;
a princípio. Mas mudou a estratégia. Não mais via nem ouvia os malfeitos.
Rodolfo desenhava e representava em imagens
o conteúdo aprendido em Português. Ó! Tão banal... pior, clichê dizer isso. Mas
com auxílio das pedagogas os demais professores aceitaram as ilustrações como
demonstrativo de conhecimento.
Com o tempo, já adultos.
Pedro, de “família boa” se tornou advogado
e preto Máximo, “Puliça”.
Mariano se tornou neurótico e o padre
aposentou-se tranquilo.
Sem a pressão escolar – mesmo que ainda a familiar
– Rodolfo logrou a ler, escrever, expressar e compreender. É artista; não rico,
mas vive bem de seu trabalho.
Pedro e sua família, a família de Mariano e
o padre não eram ignorantes; eram imbecis; eram maus. Assim como era má a
família de Rodolfo.
Máximo, Mariano e Rodolfo não tinham
liberdade de escolhas assim como ninguém – bom ou mau, intelectual ou
analfabeto – possui real livre arbítrio; essa linda fantasia que amansa a
insatisfação de ter que aceitar a religião que lhe impuseram, a educação do lar
em que caiu, a variação linguística de sua comunidade, a comida que lhe dão, as
roupas que lhe deixam vestir, os cabelos, o estudo, o trabalho que conseguir e
raramente quis.
Ignorância tem cura. Ignorar é desconhecer.
Basta estudar, ler, dialogar para saber.
Rodolfo se curou.
E Pedro, Máximo, Mariano, o padre, famílias...
Há cura?
Imbecilidade e maldades não têm cura. Há tratamento:
tirar-lhe a voz. Liberdade de expressão não é dizer o que quer, fira a quem
for.
Minha liberdade termina quando começa a do
outro. - Mais um tão conhecido dito a me fazer pensar que se desconhece o que (acha) conhecer.
Pensado detalhadamente nas últimas duas
semanas e escrito em 13 de fevereiro de 2022.
Imagem: https://luizmuller.com/2019/08/14/charges-em-jornais-pelo-mundo-mostram-imagem-do-brasil-se-deteriorando-rapidamente/
Nenhum comentário:
Postar um comentário