Van Gogh e seu campo de girassóis
Eu e meu morro de flores amarelas
Não vejo coisas invisíveis
Vejo a realidade que corrói
Com livros combato as esparrelas.
O quanto e quanto já foi dito "amanhece, entardece e anoitece; janeiro, fevereiro ... novembro e dezembro; tempo de chuva com calor e tempo de seca com frio; tudo que é vivo morre".
Tudo repetindo.
Nada, surgimento, vida, morte, ressurgimento, vida, morte, ressurreição...
O rio corre entre a terra até chegar a outro rio ou ao mar. A terra se move entre os oceanos.
- E o que tem isso, meu Deus?!?
- Tem que numa mesa cinco discutem se o correto é dizer negro, preto ou moreninho. E todos os cinco são bem branquinhos. É outra vez o eurobrasileiro querendo definir a sorte do afrobrasileiro.
Silêncio para olhar nos olhos.
- Tem que outra vida é corrompida pelo desafeto familiar, pelo desinteresse político-social até ser interrompida pelo traficante ou policial.
Olhos nos olhos silenciosos.
- Tem que ao dizer "Umbanda, Candomblé, Macumba, orixás" ainda se ouve "credo; tá queimado, sangue de Jesus tem poder... são do diabo, são demônios". E quando perguntados se já assistiram alguma cerimônia ou leram suas doutrinas negam. Alguns afirmam que sim, conhecem ou viram. E quando se questiona como são as cerimônias e o que dizem suas doutrinas se calam ou respondem mentiras. Tal qual boçalnarianos "e o Lula, hem?!?".
- Ééé. A Terra não é plana, mas o mundo é chato.
- Enquanto gira o planeta e circula o cotidiano a gente lê, bebe, escreve, dorme, trepa, trabalha, canta, dança, encena, pinta.
- Desses, muitos tecnisam e vegetam.
- E desses, poucos artistam em protestos:
Uma boca morta abre centímetro a centímetro.
É o globalismo capitalista investindo.
Diverte-se o pobre com sua tranqueira nova.
Ignorante ignorado caminha centímetro a centímetro para sua cova.
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Rubem Leite
Foto do autor: vista da janela da cozinha.
Escrito entre 12 e 15 de maio de 2022.
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